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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Mãe, faz um sacrifício e deixa-nos fazer tintas!
Estou quase a responder que não, quando me dou conta de que é mesmo um sacrifício deixá-los trabalhar com tintas, brilhantes, pinceis, papeis, colas e afins, tudo espalhado na toalha de plástico sobre a mesa da cozinha, sobre o chão, sobre as paredes, sobre o teto; e finalmente, quando se cansam e se vão embora, depois de distribuirem os desenhos molhados por todas as superfícies planas para que sequem, sobra para mim...
- Bem, eu deixo, porque está a chover lá fora e há poucas alternativas... Mas depois arrumam tudo!
Arrumam, claro, embora não "tudo", nem sequer "quase tudo". Suspiro e tento um sorriso. Tenho direito a oferecer uma flor no Canto de Oração. E eles sabem disso.
Com o início da Quaresma, duplicam os nossos esforços por oferecer ao Senhor pequenos sacrifícios, pequenos gestos de generosidade e, neste ano especialmente, pequenas obras de misericórdia.
- Mãe, eu consolei a Sara que estava a chorar - Diz-me o António, triunfante, com uma Sara sorridente pela mão.
- Mãe, eu barrei o pão da Sara porque ela não conseguia. Dei de comer a quem tinha fome! - Afirma a Lúcia.
- Eu deixei o António escolher o jogo, e fiquei a contar em vez de me esconder, como preferia - Proclama o David.
- E eu cortei as flores todas em papel para vocês oferecerem - Diz a Clarinha, assertiva.
- Eu, bem, eu evitei entrar na cozinha durante toda a tarde em que a Clarinha fez os bolos para a festa do António, para não cair na tentação da gulodice em quarta-feira de cinzas - Sorri o Francisco, piscando o olho à irmã.
Todos multiplicam "coisas bonitas para Deus" (something beautiful for God), como a Madre Teresa gostava de dizer. Depois, ao serão, durante a nossa oração familiar, os mais novos colam no Canto de Oração uma pequena flor de papel de lustro. Quando chegar a Páscoa, os nossos desertos estarão plenamente floridos.
"Então o deserto e a terra árida alegrar-se-ão. A estepe vai alegrar-se e florir. Como o lírio, ela florirá, exultará de júbilo e gritará de alegria. A glória do Líbano ser-lhe-á dada, o esplendor do Carmelo e de Saron..." (Is 35, 1-2)
Ah, a primavera depois do inverno, a alegria depois do sacrifício, a felicidade depois do sofrimento, a Ressurreição depois da Cruz... Que belo final para o caminho de renúncia, generosidade e penitência que a Quaresma nos oferece!
- Sara, amanhã é dia de Natal! Não chores!
A Sara estava triste porque não queria ir embora. Estávamos na casa das avós, onde passámos toda a tarde e a consoada de dia 24. Depois de um belo jantar, cantámos cânticos de Natal em volta do presépio e agora chegara a altura de ir para casa. Mas a Sara não queria ir embora.
- Amanhã, Sara, quando acordares é Natal! Sabes o que é Natal?
A Sara sabia:
- Jesus vai nascer.
- Pois é, Jesus vai nascer. E para celebrar tão grande festa, tu vais ter prendas!
Por esta não esperava a Sara.
- Prendas?
- Sim! - Os manos conhecem todos os segredos do Natal: - Amanhã, quando acordares, acordas o papá e a mamã, porque eles têm a chave da sala bem guardada debaixo da almofada...
- Claro! Não queremos correr o risco de ter os presentes todos desembrulhados às duas da manhã, como já quase aconteceu! E não se atrevam a acordar-nos antes das seis horas, que nós só abrimos a porta às seis!
A expetativa das prendas de Natal convenceu a Sara a entrar no carro para regressar a casa. A viagem de regresso, pelas estradas desertas, sob a luz das estrelas e ao som dos cânticos de Natal, é em si mesma uma oração.
Sete da manhã, dia de Natal:
E quando a porta se abriu, que alegria! Papel de embrulho por todo o lado, gritos de excitação, a sala transformada em cenário de fantasia...
Depois, entre exclamações de felicidade, ajoelhámos e agradecemos ao Menino todas as bênçãos deste ano e deste Natal.
E depois de um pequeno almoço de festa, com bolos e panquecas, chegou o momento principal do Natal: a missa.
O dia foi de festa, entre muitas brincadeiras com os primos e tempo de conversa calma para os adultos. Natal é também esta disponibilidade para estar com a família alargada, sem pressas.
- Meninos, vamos rezar o terço - Anunciei, na viagem de regresso de Coimbra até casa. Geralmente, o terço leva pouco mais de quinze minutos a rezar, mas desta vez durou a viagem inteira, cerca de meia hora. É que a cada mistério da alegria, aproveitei para contar a história do Natal com todos os pormenores. Há tantos detalhes que as crianças desconhecem, e que tornam a história tão bela! Porque ficou Maria perturbada com o anúncio do anjo? Como se chamava a terra onde vivia Isabel? Porque teve Maria de ir a Belém? Quem estava no Templo à espera de Jesus, quando Maria e José O foram apresentar?
- Vamos para o último mistério da alegria - Anunciei, já muito perto de casa. - Quem sabe qual é?
- Eu sei! Eu sei!
- Então diz lá, António.
- Jesus e os médicos!
- ???????
Pois... Que outros "doutores" conhece o António? Por entre gargalhadas, fui explicando a diferença entre os médicos e os doutores da Lei. A oração do Rosário é para nós a forma mais simples e eficaz de ensinar a Palavra.
Chegou a noite, e com ela, a hora de oração familiar. O dia foi perfeito, e há que agradecer. Agora temos mais dois belos instrumentos a encher de música esta nossa oração:
E apesar de só terem passado doze horas desde que o David e a Clarinha descobriram os seus presentes de Natal, o som já é maravilhoso!
A Árvore de Jessé está pronta, cada símbolo uma história de amor...
Por sobre o Presépio, as estrelinhas das nossas obras de misericórdia iluminam a noite...
Que segredos de misericórdia guardará cada uma delas?
"Anuncio-vos uma grande notícia: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador!" (Lc 2, 11)
Feliz Natal!
Hora de catequese e oração familiares. Nestes dias de advento, este tempo tem vindo a alongar-se alegremente. Em torno do presépio, aquecidos pela lareira, iluminados pelas luzes da Árvore de Jessé, vamos meditando e rezando. A novena da Imaculada Conceição e a Árvore de Jessé têm-nos dado a oportunidade de recordar e recontar várias histórias da Bíblia, no meio de grande animação. Também as leituras da missa do dia, neste tempo de Advento, são particularmente profundas e sugestivas, gerando grandes conversas entre nós. De olhos postos no presépio, vamos falando com o Senhor e deixando que Ele nos fale...
Mas hoje é preciso fazer uma catequese especial, pois o Ano Santo da Misericórdia está à porta.
- Meninos, sabem quais são as sete obras da misericórdia corporais? Há muitas, claro, mas a Igreja fala em sete, para nos ajudar a concretizar alguns gestos que estão ao alcance de todos.
- E quais são?
- Ora escutem: dar de comer a quem tem fome, e dar de beber...
- ... a quem tem sede!
- Mamã, precisamos de levar pacotes de leite para a escola. É para uma campanha para a Casa do Gaiato!
- Ora aí está uma bela ideia. Outra obra: vestir os nus...
- Isso inclui as horas passadas ao ferro ou a dobrar roupa?
Gargalhadas.
- Acho que sim! Outra: visitar os presos, dar pousada aos peregrinos, enterrar os mortos, visitar os doentes...
- Na minha sala, quando um menino está doente na escola e não pode ir ao recreio, um de nós fica na sala com ele. Eu fico muitas vezes a fazer companhia!
- Que boa obra de misericórdia!
- Visitar a bisavó também conta?
- Conta, claro! E agora escutem: a Igreja também nos fala das obras de misericórdia espirituais. E olhem que bonitas: dar bom conselho...
- Eu costumo dar bons conselhos aos meus amigos.
- Então fazes uma obra de misericórdia, David. E aqui vai outra: corrigir os que erram, ensinar os ignorantes...
- A minha professora passa a vida a corrigir os meus erros! Ela faz muitas obras de misericórdia!
Gargalhadas.
- Pois faz, Lúcia. Ser professor pode ser uma bela obra de misericórdia, e eu sei-o bem! Outra: perdoar a quem nos faz mal...
- Eu perdoo aos manos quando eles destroem as minhas construções!
- E eu desculpei a Sara quando ela me rasgou o desenho.
- Escutem esta: consolar os tristes...
- Isso fazemos nós sempre na escola, junto dos amigos!
- E eu faço em casa convosco quando choram! Há outra obra de misericórdia muito interessante: suportar as fraquezas do próximo com paciência.
- Que significa isso?
- Significa que todos nós somos imperfeitos, e por vezes é difícil viver com a imperfeição dos outros. Especialmente se temos de lidar com essa imperfeição várias vezes por dia! É o que acontece na família. E ser misericordioso é ser capaz de aceitar os defeitos do outro, mesmo quando nos incomodam, com paciência...
- Como nós aceitamos quando gritas connosco?
- Ou como eu aceito quando os manos não me deixam estudar em paz.
- Mas nós também aceitamos que ocupes o quarto todo a fazer ginástica!
- E que não arrumes depois...
- Não ouvir à primeira conta?
- Temos de ser pacientes com os gatos e os cães?
- Se formos mais pacientes uns com os outros, estamos a fazer uma belíssima obra de misericórdia. E sabem qual é a última? Rezar pelos outros.
- Essa nós fazemos todos os dias!
- Ouçam então: ao longo do Advento, vamos fazer todos os dias várias obras de misericórdia, em casa, na escola, em todo o lado. Depois, durante a oração familiar, iremos colocar no presépio uma estrelinha. Quando chegar o Natal, o Canto de Oração será um céu estrelado, digno da noite de Natal.
- Podemos começar já?
- Fizeste uma obra de misericórdia hoje?
- Fiz! Deixei a Sara fazer o puzzle comigo, e ela rasgou uma peça...
"«Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede e te servimos, doente ou na prisão e te visitámos, peregrino ou estrangeiro e te acolhemos?» E o Rei responderá: «Sempre que fizestes estas coisas a um dos meus irmãos, a Mim o fizestes.»"
(Mt 25, 37-40)
No encontro de Aldeia de Caná de sábado, o Pedro e a Sandra fizeram-nos um belíssimo ensinamento sobre o Ano Santo e as obras de misericórdia. Para as crianças, levaram desenhos para colorir sobre o tema, que foram buscar a este blog. Os desenhos são realmente sugestivos e permitem-nos aprender de cor as obras da misericórdia. Querem usá-los aí em casa? Aqui ficam: obras de misericórdia
Feliz Ano Santo da Misericórdia para todos!