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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Quando viemos viver para Mogofores, em agosto de 2007, a nossa casinha estava acabada de construir, mas o jardim ainda era um monte de pedras e silvas. Trabalhando arduamente, o Niall limpou o terreno, encomendou a terra, semeou a relva, plantou árvores de fruto e flores. Que alegria, ver o jardim a ganhar forma pouco a pouco!
Entretanto, uns amigos ouviram-me falar de um dos meus sonhos: ter uma oliveira no centro do jardim. Eu cresci na Beira Baixa, e as oliveiras evocam em mim as recordações mais autênticas e doces da minha infância. A minha casinha só estaria pronta quando a oliveira chegasse...
E chegou: os nossos amigos tinham um olival, e decidiram oferecer-nos uma das suas oliveiras, frondosa e bela, com mais de duzentos anos. Que maravilha!
Mas quando o trator, em outubro, deixou a oliveira no nosso jardim, na cova que, entretanto, o Niall cavara noite após noite para a receber, a minha desilusão foi grande: a oliveira alta e frondosa era simplesmente um tronco! Nem ramos, nem folhas: um tronco castanho e seco.
- Que aconteceu, Niall? - Perguntei, aflita. Ele riu-se:
- É assim mesmo! Para transplantar a oliveira foi preciso cortar os ramos, pois de outra forma, ela morria. Agora temos de esperar que voltem a crescer!
- E vão crescer?
- Claro! O senhor disse-nos que a próxima primavera será o exame final: ou a oliveira rebenta por todos os lados, lançando pequenos ramos que logo crescerão, ou não rebenta, e nesse caso, está morta.
Durante todo o inverno, cuidámos da oliveira, na esperança de que tivesse aguentado bem a mudança de habitat. Mas eu estava impaciente pela prova final: estaria ela verdadeiramente viva?
Durante todo o inverno também, parecia-me escutar a voz de Deus, pedindo-me que acolhesse um novo filho. Era um chamamento distinto, persistente, percebido no mais íntimo do meu ser. O Niall e eu estávamos abertos à vida, e esperávamos, com curiosidade, a visita do Senhor.
Manhã de fevereiro, 2008. É sábado, e por isso não há pressa em sair de casa. Já é quase primavera... Haverá sinais de vida, na nossa oliveira? Espreitar o seu tronco rugoso tornou-se um hábito matinal: dirijo-me ao jardim, e observo.
E eis que, de repente, sou tomada pela visão de uma folhinha minúscula a espreitar do tronco. Sim, é o primeiro rebento! A oliveira está viva!
Então, antes de gritar de alegria, antes de correr a anunciar a boa notícia, vem-me à memória o versículo de um salmo:
"Teus filhos serão como rebentos de oliveira ao redor da tua mesa." (Sl 128, 3)
Instintivamente, levo a mão ao ventre: não preciso de teste de gravidez. Aquele rebento de oliveira faz-me saber, com uma certeza inusitada, que o meu ventre já está habitado... Não sei que notícia dar primeiro.
Foi assim que a Lúcia se fez anunciar, há sete anos atrás. Dia 2 de outubro, dia do Anjo da Guarda, ela nascia, rebento de oliveira em flor, para encher a nossa casa de risos. Hoje, celebrando o seu aniversário, vendo-a saltar de alegria ao desembrulhar as prendas, recebendo os seus abraços, fazendo-lhe as tranças marotas, eu recordo o tronco rugoso, a espera impaciente, o rebento minúsculo a anunciar a primavera, e a Palavra surgindo cá dentro... Quem, senão o Senhor, faz milagres assim? Ele enche a Terra de sinais do seu amor, e nós andamos tão distraídos...
Parabéns, querida filha!
A nossa casa é uma casa extremamente barulhenta, entre crianças, galinhas, gatos e cães; mas é também uma casa extremamente pacífica. Senão vejam:
Sim, os cães e os gatos gostam de se enroscar uns nos outros e de brincar em grande grupo!
Se repararem bem nestas fotos, verão como os gatinhos se entretêm a observar os franguinhos, sem um único gesto ofensivo. Afinal, nasceram quase ao mesmo tempo!
Mais ainda: numa noite de inverno, no ano passado, descobri que a Tiger - a mãe dos gatinhos - dormia encostada às galinhas, provavelmente à procura de calor... A sério!
Já observaram esta oliveira florida? Aposto que não conheciam esta espécie, capaz de produzir flores brancas tão belas...
Ora aqui fica a solução deste enigma: não, as flores não são da oliveira, mas de uma lindíssima trepadeira que decidiu abraçar a nossa oliveira, casando-se com ela vestida de alvura!
Às vezes, também os nossos filhos experimentam momentos de intensa harmonia. Vejam, por exemplo, a felicidade dos mais novos, quando o Francisco se oferece para os ajudar a construir objetos especiais em lego:
Ou a alegria da Sara, aos saltos nas ondas com os mais velhos:
O David só se aventura nas ondas grandes se a Clarinha ou o Francisco estiverem por perto...
E o António também!
Reparem neste trabalho conjunto na cozinha, enquanto a mãe escreve um "post"... O David lê a receita a partir do tablet da Clarinha, a Lúcia vai encontrando o material necessário, a Clarinha faz o bolo e a Sara, claro, rapa as tigelas!
Depois, o piquenique no jardim sabe bem melhor:
- Lúcia, a Sara quer uma história, mas eu tenho de ir levar a Clarinha ao treino! Contas-lha tu?
- Sim, mamã!
Os cães, os gatos e as galinhas não têm alternativa senão dar-se bem. A nossa casa não permite que vivam separados, e a porta do galinheiro está constantemente a ser aberta por mãozinhas pouco cuidadosas, que se esquecem de a fechar... A oliveira e a trepadeira também não têm alternativa: o espaço é pouco e ambas precisam de crescer!
Quanto aos nossos filhos... Bem, talvez o segredo não seja muito diferente! Um mesmo espaço continuamente partilhado por uma família numerosa, e multiplas ocasiões para se servirem uns aos outros e para cuidarem uns dos outros...
As férias são tempo privilegiado para que os irmãos brinquem juntos, trabalhem juntos, se aborreçam juntos, discutam juntos, e se ajudem uns aos outros. Nos dias que correm, é frequente as férias separarem as famílias: os mais novos têm de frequentar o ATL, porque os pais trabalham; os jovens participam em inúmeras atividades longe de casa... Tudo faz parte e tudo é bom, claro! Mas corremos o grande risco de transformar as férias em mais uma sessão de "cada um por si".
Para que os irmãos aprendam a ser irmãos, é necessário que nós, pais, lhes ofereçamos contínuas oportunidades de cuidarem uns dos outros, dando-lhes responsabilidades de acordo com as suas idades e capacidades. Que não falte, nas férias, um tempo largo para unir pais e filhos e para unir os irmãos entre si!
"Como é bom e agradável os irmãos viverem em harmonia!" (Sl 133)
João Paulo II declarou um dia que a Árvore de Zaqueu da Igreja é o sacramento da Confissão. O papa Francisco deu na semana passada o exemplo, durante uma celebração penitencial: levantando-se da Presidência, dirigiu-se a um confessionário e, de joelhos, confessou-se. Depois entrou noutro confessionário e preparou-se para oferecer aos irmãos o perdão de Jesus.
Empoleirados na nossa oliveira o melhor que pudémos, cantámos um cântico sobre Zaqueu (Lc 19, 1-10) e várias outras personagens dos evangelhos, que escrevi há algum tempo e que gostamos de cantar na nossa paróquia. Aqui fica o vídeo com a primeira estrofe e o refrão. Deixo também a letra do cântico completo, para poderem aprender e cantar connosco!
CONVERSÃO
Lá Ré Mi Lá Ré
DESCE DEPRESSA! HOJE VOU FICAR EM TUA CASA!
Mi Lá
TAMBÉM PARA TI CHEGOU A SALVAÇÃO! (Lc 19, 5.9)
Lá Ré Mi Lá
1 – Eu ouvi dizer que ias passar
Ré Mi Lá
E fui a correr p’ra ver-Te chegar
Fá#m Sim Mi
Pensava esconder-me no meio da multidão
Lá Fá#m Sim Mi
Mas Tu me chamaste, tocaste o meu coração! (Lc 19, 1-10)
2 – Vieste chamar quem é pecador
Vem pois ao meu lar falar-me de amor.
No Reino de Deus também eu quero entrar!
Dá-me o Teu perdão, ajuda-me a não pecar! (Lc 5, 29-32)
3 – Queria Te ver e encontrei-Te aqui
O meu coração tem sede de Ti
Eu quero chorar o meu pecado, Senhor!
Teus pés vou lavar com lágrimas de amor! (Lc 7, 36-50)
4 – Lembra-Te de mim, ó meu bom Jesus
Quando regressares na glória e na luz
Do mais fundo abismo, Senhor, peço perdão!
E na Tua cruz encontro a salvação! (Lc 23, 40-43)
Uma das famílias que estiveram neste retiro veio dos lados de Proença. Traziam três filhos pequeninos e muita vontade de conhecer de perto as histórias e os protagonistas deste blogue. No domingo, depois da missa, almoçaram em nossa casa. O sol brilhava sorridente, o que permitiu às crianças brincar toda a tarde em Náturia, enquanto nós, os pais, conversavamos como se nos conhecessemos desde sempre. No final do dia, ao olhar para os seus filhos sujos, molhados, rotos e felizes, os nossos novos amigos entenderam melhor aquela história dos ciganitos... e decidiram que, de futuro, à casa dos Power virão com roupa velha!
Antes de partir, ofereceram-nos um garrafão com cinco litros do seu azeite. Ontem cozinhei com este azeite tão puro e tão raro, e com ele temperei a nossa salada. Delicioso! Fez-me lembrar tempos antigos, quando comia em casa dos meus avós e me deleitava com os seus pratos beirões. Depois procurei uma velha lamparina, que costumo acender no Natal. Deitei nela um pouco deste azeite e acendi o pavio.
Os nossos novos amigos iluminaram a nossa casa com a sua alegria e a sua partilha; a luz do seu azeite iluminou o nosso Canto de Oração.
Fiquei a pensar no significado bíblico do azeite.
E imaginei Maria e José na apanha da azeitona. Quanto trabalho! Apanhar, escolher, curtir, tratar, esmagar, prensar. Tudo para que, daquelas bolinhas pretas e ácidas, pudesse nascer o azeite, e do azeite, pudesse nascer a luz.
A luz que brilha nas trevas tem por detrás uma longa história de trabalho, dedicação e amor.
Como esta família, precisamos urgentemente de nos empenhar na elaboração do nosso "azeite" familiar. Precisamos de tempo, de entrega, de esforço; precisamos de oração simples mas constante; precisamos da Eucaristia; precisamos da Confissão; precisamos de gestos de amor e partilha. Do nosso compromisso fiel como Família de Caná, nascerá um azeite puro e único, diferente de todos os outros - o nosso. Com ele iluminaremos a nossa casa; e se o partilharmos, iluminaremos as casas de muitos à nossa volta...
Ontem foi dia de poda. A nossa querida oliveira precisa de perder alguns ramos durante o inverno para que na primavera possa rebentar com mais força e, no verão, possamos ter a sombra que precisamos no jardim!
O Francisco, felizmente, já tirou a tala da mão, e por isso acompanhou o pai durante todo o trabalho de poda:
A Clarinha, a Lúcia,o David e o António procuraram salvar algumas azeitonas que ainda davam para tratar e comer, esquecidas nos ramos que, entretanto, o pai e o irmão iam cortando e atirando ao chão:
Mas eu acho que o que eles estavam mesmo a fazer era uma batalha de azeitonas, com armas de paus e de ramos...
...E até a Sara se divertiu a valer!
A oliveira ficou bem podada. O Niall já podia descer da árvore... Mas como é que se faz isso? No meio de muitas gargalhadas, o David, a Clarinha e o Francisco ensinaram ao pai como descer e indicaram-lhe exatamente onde colocar os pés. Afinal, eles têm bastante mais prática!
A nossa oliveira perdeu bastantes ramos e parece muito despida. Mas sabemos que os ramos que ficaram, aqueles que nos vão dar a desejada sombra durante o verão, vão crescer mais fortes, mais grossos e mais belos depois desta poda.
Jesus diz-nos no Evangelho:
"Meu Pai corta todo o ramo que não dá fruto em Mim e poda o que dá fruto para que dê mais fruto ainda." (Jo 15, 2)
Se queremos que a nossa vida dê fruto abundante, se queremos que a nossa família cresça feliz, precisamos de estender os nossos ramos à tesoura da poda, ou até ao serrote de poda, para que Deus faça o que achar melhor.
A poda chega frequentemente em forma de dificuldades, sofrimentos, doenças, perda de capacidade financeira para o estilo de vida a que nos habituámos.
A poda pode também assumir a forma de uma rotina mais difícil, aceitando tempo de oração, missa dominical, tempo para servir os irmãos.
A poda é tudo aquilo que magoa o nosso eu e, quando necessário, o corta e o faz diminuir, para que Jesus possa crescer. Disse João Baptista:
"Ele é que deve crescer, e eu, diminuir!" (Jo 3, 30)
Mas a poda não deve ser triste, pelo contrário! Antes desta afirmação, o mesmo João Baptista disse também:
"Esta é a minha alegria! E tornou-se completa!" (Jo 3, 29)
Bem, cá em casa, a poda foi mesmo muito divertida!...
No centro do nosso jardim há uma oliveira. Velhinha, com mais de duzentos anos, foi-nos oferecida quando nos mudámos cá para casa, há seis anos atrás, e aqui voltou a rebentar, a dar sombra e a dar frutos. Os meninos adoram subir aos seus ramos, sentar-se lá em cima a sonhar ou a ler um livro, brincar às escondidas por detrás do seu tronco forte. Na primavera, os passarinhos fazem ninhos num pequeno buraco no tronco, e é uma delícia observá-los a entrar e a sair para alimentar os filhotes!
Cada vez que observo os meus filhos a brincar na oliveira, vem-me à memória o belíssimo versículo do salmo 128 (127):
"Teus filhos, como rebentos de oliveira ao redor da tua mesa!"
No sábado passado fizemos a apanha da azeitona. Com uma só oliveira, passámos a tarde inteira à volta das azeitonas... Imagine-se quem tem dez! Enfim, tentámos todas as técnicas: abanar a árvore a ver se as azeitonas caem ao chão (não resulta!); subirem todos à árvore (muito giro, mas os ramos vão-se partindo!); construir um sistema de roldanas com baldes da praia e cordas de saltar (muito divertido, os mais velhos constroem e os mais novos destroem, mas pouco eficaz!); finalmente, quando os meninos se cansam da tarefa e decidem ir patinar, o pai sobe à oliveira e apanha as azeitonas (única técnica que realmente resulta!). Foi uma fantástica tarde de outono em família!