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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Meninos, depressa, saltem da cama! Já se ouvem os sinos! Depressa!
Os mais novos já estão a pé, mas os mais velhos, que vieram da Vigília Pascal de madrugada, ainda esfregam os olhos com sono. Isto da hora adiantar na manhã de Páscoa não está certo!
Ou estará? Afinal, a Páscoa judaica era uma refeição apressada, como nos conta o Livro do Êxodo:
"Comê-la-eis desta maneira: os rins cingidos e o cajado na mão. Comê-la-eis à pressa. É a Páscoa em honra do Senhor." (Ex 12, 11)
Uma das mensagens que me ficou do vídeo-testemunho dos cristãos perseguidos foi mesmo a pressa - a pressa com que os cristãos perseguidos se santificam, sabendo que a morte os espreita a cada esquina; a pressa com que o cristianismo precisa de ser vivido, se o quisermos viver a sério... A pressa que levou Maria a casa de Isabel, a pressa que levou as santas mulheres ao sepulcro ao romper da aurora, a pressa que fez João e Pedro correr ao despique à notícia da ressurreição. A mensagem do Evangelho não espera. Se a quisermos viver, tem de ser agora, tem de ser com intensidade, tem de ser com pressa.
Os meus filhos saltaram da cama, bocejando, vestiram-se rapidamente e correram para a porta da casa. A cruz do Senhor surgiu no horizonte e, juntos, começámos a entoar aleluias jubilosos...
Que a Páscoa do Senhor nos encontre com os rins cingidos e o cajado na mão!
Que a Páscoa do Senhor nos tire da cama dos nossos confortos e nos lance na rua, para cantarmos aleluias junto dos irmãos!
Que a Páscoa do Senhor nos faça partir em missão, jubilosos, cheios de santa pressa, como testemunhas da Vida e do Amor!
Aleluia! Aleluia!
Chegou, finalmente, a noite mais santa do ano! O Senhor Jesus ressuscitou, tal como havia prometido, e precede-nos a caminho de Casa! Cantemos aleluias sem fim, exultemos de alegria e festejemos!
Ao fim da tarde, à lareira, conto aos mais novos as histórias das leituras bíblicas desta noite santa, e que os mais velhos irão escutar pela noite dentro, na Vigília Pascal. Uma pequena Bíblia ilustrada fornece-nos as imagens, e todos recordam as histórias já bem conhecidas: A Criação do Mundo, Abraão, Moisés... Por fim, contamos com entusiasmo a história da ressurreição. Que maravilha!
- Agora conto eu, mamã - Diz-me a Sara, tirando-me a Bíblia ilustrada das mãos e sentando-se num banquinho. É a minha vez de escutar com atenção!
Entretanto, o Canto de Oração vestiu-se de festa: é a Páscoa do Senhor!
Depois de jantar, reunimo-nos para fazer a nossa "vigília pascal caseira", como todos os anos. Os meninos apressam-se a ir buscar as suas velas batismais e acendem-nas à entrada da sala, para a nossa breve procissão.
De pé, cantando aleluias, levantamos bem alto as velas acesas dos nossos batismos. A luz que um dia se acendeu dentro de nós ilumina a noite, ilumina a vida, ilumina o mundo...
Há sempre muita competição para ver quem segura a vela do batismo do Tomás!
Depois, ajoelhados, fazemos a Novena da Divina Misericórdia, com especial empenho neste Ano Santo.
O Niall e os mais velhos saem para a Vigília Pascal. Os quatro mais novos vão para a cama, e em breve dormem a sono solto, cansados das longas noites da Semana Santa e da muita brincadeira com os primos. A casa fica mergulhada em silêncio...
O silêncio do túmulo vazio.
"Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou, como havia dito!" (Lc 24, 5)
Amanhã de manhã - muito, muito cedo - acordaremos com o repicar dos sinos, anunciando a visita pascal, que começa às nove horas no início da rua, praticamente em nossa casa. Sim, Ele ressuscitou, não podemos ficar a dormir! Anunciemos por todo o mundo que Ele está vivo, que Ele nos dá a Vida, que n'Ele vivemos para sempre!
Uma Santa Páscoa para todos, todos vós! Aleluia! Aleluia!
- Mãe, tens de me ajudar a desenhar coelhos.
- Sim, Lúcia, ajudo, mas para quê?
Estamos no carro, a caminho de casa, e os meninos atropelam-se para falar e contar as novidades do seu dia de escola.
- Porque o trabalho de casa é fazer um desenho sobre a Páscoa.
- E o que é que a Páscoa tem a ver com os coelhos? Não entendo, Lúcia! - Digo, fingindo-me realmente surpreendida.
- Ora, na Páscoa há coelhinhos que põem ovos de chocolate!
- Que tolice! Tu não sabes que os coelhos são mamíferos? - Pergunta o David, abanando a cabeça em jeito de censura.
- Lúcia, a Páscoa é a maior festa dos cristãos, a festa da morte e da ressurreição de Jesus. Por que não fazes tu um desenho lindo sobre a Cruz de Jesus?
- Tenho vergonha.
- Vergonha? Mas vergonha de quê?
- Vergonha que os meus amigos se riam quando eu apresentar o desenho à turma. Eles vão todos desenhar coelhos...
- Isso é que é tolice! A cruz de Jesus é muito mais bonita - Atalha a Clarinha, divertida com a conversa. - Os teus amigos fazem coelhos e ovos porque se estão a referir à festa da Primavera, não à festa da Páscoa. Como a Páscoa se celebra na Primavera, às vezes as pessoas confundem as duas coisas.
- Ah!
- Lúcia, a vida passa muito depressa, sabes? - O David parece um pequeno padre pregador, e nós escutamo-lo com gosto - O que conta mesmo é a vida eterna. E a vida eterna demora muito, muito! Nunca acaba. Se desenhares coelhos, isso não vai valer nada para a tua vida eterna. E nessa altura nem te vais lembrar de teres passado ou não vergonha! Jesus disse qualquer coisa sobre sermos capazes de falar dele... Como é mesmo a frase, mãe?
- A frase é do Evangelho. Diz assim:
"Todo aquele que se declarar por Mim, diante dos homens, também Me declararei por ele diante de meu Pai que está no céu. Mas aquele que Me negar diante dos homens, também o hei de negar diante de meu Pai que está no céu." (Mt 10, 32-33)
Chegamos a casa. A Lúcia dá-me um grande abraço e senta-se na mesa da sala, a fazer o seu desenho enquanto eu, a seu lado, escrevo este mesmo post. Terminamos quase ao mesmo tempo.
- Lúcia, não guardes sem antes eu fazer uma digitalização, sim? Vou mostrar o teu desenho no blogue...
Guardamos as duas o nosso trabalho. Amanhã, a Lúcia dará testemunho da Cruz do Senhor. Agora, se nos permitem, vamos brincar para o jardim!
Na semana santa, o Niall e eu fomos a celebrações penitenciais diferentes, para que estivesse sempre um em casa com os mais novos. Assim, na quarta-feira santa à noite, foi a vez do Niall e do Francisco irem ao santuário confessar-se.
- Eu também preciso de ir - Disse o David, à hora de jantar.
- Precisas, David? Pensei que te tinhas confessado há duas semanas, na catequese!
- Pois foi, mas já fiz pecados muito feios depois disso e tenho de os confessar antes da Páscoa.
- OK, então vai com o pai e o Frankie. Come depressa, que as confissões começam às oito e meia!
O santuário, segundo contou o Niall, estava cheio. O David precisou de esperar pela sua vez, até finalmente conseguir confessar os seus pecados. Chegou a casa cheio de alegria.
- Então, David, confessaste tudo o que querias?
- Confessei. Agora estou prontinho para a Páscoa! O senhor padre que me confessou foi muito simpático. Ele disse para eu rezar o salmo do Rei David. Disse que era o salmo 50. Sabes qual é?
- Sei. Anda, vamos rezar os dois. Melhor: chama o pai e os manos, e rezamos todos!
O David assim fez. Então abri a Bíblia e pedi-lhe para ler:
"Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade;
pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.
Lava-me de toda a iniquidade;
purifica-me dos meus delitos.
Reconheço as minhas culpas
e tenho sempre diante de mim os meus pecados.
Lava-me e ficarei mais branco do que a neve.
Faz-me ouvir palavras de gozo e alegria
Desvia o teu rosto dos meus pecados
e apaga todas as minhas culpas...
Dá-me de novo a alegria da tua salvação!" (Sl 50)
- Cada um pode partilhar o versículo que mais o tocou - Sugeri.
- Eu gostei da parte da neve - Disse o David. - Os pecados podem ser muito sujos, mas ficam brancos como a neve depois da confissão.
- David, os teus pecados eram assim tão graves? - Eu começava a ficar preocupada.
- Eram. - O David pôs a sua cara mais marota - Posso contar-te, ou é segredo?
- É segredo para o padre! Eu explico: os sacerdotes não podem contar a ninguém o que ouvem em confissão, nem que os matem. Não podem mesmo! Isso seria um pecado gravíssimo. Por exemplo, não podem denunciar um criminoso a partir do que ouviram em confissão. Agora tu não és obrigado a fazer segredo dos teus pecados! Claro que também não tens de mos contar.
- Mas eu quero. O meu pecado foi ter enganado a Lúcia... E o outro ainda foi pior: bati no António! Mas eu já lhes pedi desculpa, e agora fui pedir a Jesus. Por isso agora estou perdoado.
- Pois estás. Que bom! Mais algum versículo que te recordes do salmo?
- Sim, aquele da alegria. Quando saí do confessionário senti-me tão, mas tão feliz! Sentia uma alegria muito grande no coração. Não, não era bem no coração, era no corpo todo, mas sobretudo nas pernas.
- Nas pernas?
- Sim: apetecia-me saltar de alegria!
Lembrei-me deste episódio nesta quarta-feira, ao ler a passagem dos Atos dos Apóstolos. Pedro e João cruzaram-se com um coxo que pedia esmola. E em vez de lhe darem uma moeda, que fizeram eles?
"«Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.» E tomando-o pela mão, levantou-o. Nesse instante fortaleceram-se-lhe os pés e os tornozelos, levantou-se de um salto, pôs-se de pé e começou a andar; depois entrou com eles no Templo, caminhando, saltando e louvando a Deus." (At 3, 1-10)
Cada vez que entramos no confessionário, Jesus toma-nos pela mão e levanta-nos. Nesse instante, fortalecem-se as nossas pernas, como as do David, e podemos de novo saltar de alegria... Ámen! Aleluia!
Aleluia! Aleluia!
"Porque buscais entre os mortos aquele que vive? Não está aqui; ressuscitou, como havia dito!"
(Lc 24, 5-6)
Acordámos cedo, porque a visita pascal não se faz esperar. Logo pela manhã, depois de procurarem ovos pintados e ovos de chocolate escondidos pela casa, os meninos correram para o jardim, atentos ao som dos sinos:
E eis que eles chegam, primeiro ao longe, depois mais perto... Sim, a visita pascal!
O senhor padre entrou em nossa casa, trazendo-nos a bênção do Senhor. Com o Francisco a tocar guitarra, cantámos todos juntos cânticos de ressurreição. Que alegria!
Perto da hora de almoço, chegaram a avó, os tios e os primos. De repente, a casa ficou cheia!
O sol, o calor e a felicidade da reunião familiar prolongaram-se durante toda a tarde. Na nossa bela quinta de Náturia, as crianças entretiveram-se a brincar, explorando, construindo passagens secretas... Que é aquilo que as primas construíram?
Vamos ver mais de perto...
Uma cabana! Os primos mais pequeninos não perderam a oportunidade de ali brincar:
Ena, tanta brincadeira!
Ao fim do dia, depois da avó, dos tios e dos primos irem embora, fomos todos juntos à missa, celebrar em família a ressurreição de Jesus. Afinal, apenas metade da família tinha participado na vigília pascal, e não queríamos deixar passar o dia mais belo do ano sem celebrarmos juntos a entrega de Jesus por nosso amor!
Por fim, no nosso canto de oração bem iluminado, cantámos aleluias ao Senhor e rezámos o Terço da Misericórdia, fazendo a novena em família.
- Mamã, contas a história da Páscoa? - Pediu o António, antes de dormir. Hesitei, porque o cansaço - dele e meu - já era grande. Mas depois pensei... Como é que as crianças cristãs hão de aprender as histórias da Páscoa, as verdadeiras histórias da Páscoa, aquelas que os evangelistas recolheram nas últimas páginas dos seus livros, se ninguém lhas contar?
- Claro que conto! David, Lúcia e António, sentem-se no sofá que eu conto a história.
Escutaram muito atentos, enquanto lhes falei do espanto da Madalena na manhã de Páscoa, da confusão de anjos e jardineiros, da surpresa dos discípulos, da corrida a ver quem ganha entre Pedro e João, das dúvidas de Tomé, da paz que Jesus a todos trouxe. Para hoje à noite guardei a história de Emaús, e para os próximos dias, o encontro com Jesus à beira do lago...
Que Jesus ressuscitado nos inunde da sua paz. Aleluia! Aleluia!
Com as imagens da nossa "vigília pascal caseira", com os mais novos já de pijama, uma hora antes dos mais velhos e do pai partirem para a sua grande e bela Vigília Pascal, desejo-vos a todos uma Santa Páscoa! Aleluia! Aleluia!
No domingo passado entrámos em cheio na maior semana dos cristãos, a mais bela, a mais santa, a mais solene e a mais misteriosa: a Semana Santa.
Para nós, foi uma entrada um pouco abrupta! Eu explico: acordámos de manhã com os saltos da Sara e do António sobre nós. Queriam entrar na nossa cama para um miminho. Acedemos e deixámo-nos ficar ainda mais um pouco, sem pressas, porque era bastante cedo (pensávamos nós...). Por fim, o Niall levantou-se para fazer as famosas panquecas, mas desistiu, porque não tinha farinha suficiente.
- Vou comprar pão. Vai levantando os meninos! - Disse-me, enquanto pegava nas chaves do carro para sair. Eu fui dar o pequeno-almoço à Sara e ao António, com muita calma, e deixei os outros dormir mais um pouco. Alguns minutos mais tarde, o Niall entrou em casa a gritar:
- Despachem-se! Teresa, larga tudo e vai para a igreja, que já devem estar à tua espera para a música! Corram!
- Calma, Niall, são oito e um quarto, temos tempo!
- Não são nada! A hora mudou, e já são nove e um quarto! Ouvi no rádio!
É o que faz não ver televisão! A missa de Domingo de Ramos começa às nove e meia com a bênção dos ramos...
Poupo-vos os pormenores dos dez minutos seguintes, com crianças a saltar das camas, estremunhadas, meninas a sair de casa sem se pentearem (só dei conta a meio da missa...), meninos a comer o pão pelo caminho.
- Ai o meu ramo! Não me posso esquecer do meu ramo!
- E eu queria levar um vestido!
- Não há tempo de escolher vestidos. Depressa, todos para o carro!
- Quero fazer chichi!
- E eu! E eu!
- Sim, Sara, e tu. Carro!
Às nove e meia em ponto, estávamos em frente da pequena igreja paroquial, onde se daria início à belíssima festa dos ramos. O David, todo orgulhoso, segurava a caldeirinha da água benta, ao lado do senhor padre. Respirei fundo, e procurei no meu coração a tranquilidade necessária para o que se iria seguir, pois apesar da minha confusão horária,
"Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem."
(Jo 12, 23)
Conseguem identificar o meu pequeno acólito?
Ao som de cânticos e ao ritmo da oração, fizemos uma pequena procissão entre a igreja paroquial e o santuário. Por fim, e com grande alegria, entrámos no santuário, proclamando a realeza de Jesus, como já o profeta Zacarias profetizara tantos séculos antes:
"Exulta de alegria, filha de Sião!
Solta brados de júbilo, filha de Jerusalém!
Eis que o teu rei vem a ti;
Ele é justo e vitorioso;
vem, montado num jumentinho, filho de uma jumenta!"
(Zc 9, 9)
Dentro da igreja, de ramos levantados em aclamação, cantámos e tornámos a cantar: "Deus é Rei!"
Obedecendo às palavras de Jesus, que gostava das crianças à sua volta e não admitia que as afastassem, na nossa paróquia os mais pequeninos sentem-se em casa e vão passeando pelos bancos e pelas coxias laterais, felizes. No domingo estavam especialmente contentes, de ramos na mão!
Pouco a pouco, a alegria dos ramos vai cedendo lugar ao mistério da Paixão, tal como aconteceu naquela primeira semana santa da História. A longa proclamação do Evangelho, relatando passo a passo a entrega de Jesus por nós, cai pesada no nosso coração silencioso. A solenidade destes dias instala-se, e toda a liturgia se adensa. Somos convidados a estar lá, em Jerusalém, no Templo escutando Jesus, no Jardim das Oliveiras fazendo-Lhe companhia, no Caminho da Cruz ao lado de Maria, Verónica e João, diante da sua imensa Cruz, a seu lado na nossa talvez, como o Bom Ladrão.
Jesus morreu por nós, e graças à liturgia, nós podemos estar junto d'Ele, sem barreiras de tempo e de espaço, no preciso momento em que Jesus nos dá a sua Vida. Na missa, todos os dias, mas com maior solenidade nestes dias santos, a Páscoa acontece aqui e agora. Nunca poderemos agradecer suficientemente ao Senhor a graça da Eucaristia!
Feliz Semana Santa para todos vós, queridos leitores! E se ainda não se deram conta de que "a hora chegou" e a Semana Santa está aqui, façam como nós: "saltem da cama" e apressem-se a correr ao encontro do Senhor...
E cá estão eles de novo, como em todas as primaveras!
Ontem, enquanto comíamos umas tangerinas na cozinha, olhei pela janela e soltei um grito: chegaram! Os meninos quiseram logo ver, e empoleiraram-se em cadeiras para conseguirem espreitar. Eles sabem que, no momento em que abrirem a porta da cozinha, os chapins azuis desaparecem à velocidade de um relâmpago, para só regressar quando a "costa" estiver livre... Fui buscar a máquina fotográfica e, sempre através da janela, consegui fotografar a sua azáfama:
O papá e a mamã chapim entram e saem do buraquinho da árvore, decididos a reconstruir o ninho dos anos anteriores - ou será o ninho dos pais? Sabemos apenas que é o mesmo ninho e a mesma espécie de aves, e a fidelidade dos chapins azuis encanta-nos. O profeta Jeremias também exaltou a fidelidade da Criação ao seu Criador:
"Até a cegonha no céu conhece o seu tempo, a pomba, a andorinha e a garça observam o tempo do seu retorno. Mas o meu povo não conhece o julgamento do Senhor." (Jr 8, 7)
Mas a vida de um passarinho é muito, muito frágil. Todos os anos esperamos ansiosos pelo regresso dos chapins, pois bem sabemos que cada primavera pode ser a última.
A maior e mais bela semana dos cristãos está aí, como todas as primaveras, ano após ano desde há mais de dois mil anos. Talvez sejamos tão frágeis como os passarinhos... Olhando à nossa volta e escutando as notícias do mundo damo-nos conta de que cada primavera pode ser, para nós, a última.
Mas cada primavera pode também marcar o nosso retorno ao ninho do Pai, nas grandes celebrações da Páscoa. Como os chapins-azuis, as cegonhas, as pombas, as andorinhas e as garças, observemos o tempo do nosso retorno, e não deixemos fugir esta bela oportunidade, pois não sabemos se será a última! Na grande árvore da Igreja, o nosso pequeno "ninho" estará vazio enquanto não o ocuparmos e o enchermos de amor...
Uma das qualidades que sempre adorei nas crianças muito pequeninas é a facilidade com que acordam. Mal abrem os olhos, já estão de pé e aos saltos na cama, e assim que as colocamos no chão, correm ou gatinham por todo o lado como se já estivessem acordadas há horas e tivessem tomado vários cafés. Quando a Sara entra no nosso quarto a correr com o seu passinho trôpego, às seis e meia da manhã (ela já deixou a cama de grades por falta de espaço no quarto das meninas...), eu e o Niall ficamos cheios de inveja de tamanha energia. Seis e meia da manhã, e a Sara está pronta para um ataque de cócegas, para saltar sobre os papás, para atirar com o saco das fraldas para o chão, para esconder os nossos chinelos e, se não nos despachamos, para abrir as torneiras na casa-de-banho e causar uma inundação. Caramba, só queria um bocadinho da sua energia matinal!
Há uma palavra que percorre a Bíblia do início ao fim: "Levanta-te!" Foi assim que Deus disse a Abraão logo no começo da História de Israel:
"Levanta-te, percorre esta terra em todas as direcções, porque Eu ta darei." (Gen 13, 17)
"Levanta-te", repetiu a Moisés, quando Moisés, prostrado, O adorava na sarça-ardente; e enviou-o ao Egipto para de lá trazer o seu povo.
"Levanta-te", disse Jesus ao paralítico, à menina morta, ao cego.
"Levanta-te", disse mais tarde Jesus Ressuscitado a Paulo, apanhando-o de surpresa na estrada de Damasco.
"Levantar-me-ei", decidiu o Filho Pródigo quando se apercebeu de que chegara a altura de regressar a casa.
A atitude fundamental do crente, do Antigo ao Novo Testamento, é portanto uma atitude muito semelhante à da minha Sara e à de cada um dos meus outros filhos durante a sua primeira infância: pôr-se de pé de imediato, sem um momento de hesitação, e fazer-se à estrada.
Mas a nossa fé assemelha-se muito mais à atitude de um adolescente ensonado... Por muitos "Levanta-te!" que lhe repitamos, ele continua a dormir e finge que não ouve! Aí em casa também conhecem o "espera" enervante que os adolescentes são capazes de repetir vezes sem conta quando lhes pedimos alguma tarefa? Como será que Deus se sente cada vez que lhe respondemos com um bocejo e nos viramos para o outro lado?...
Páscoa significa "passagem". Os judeus tinham indicações precisas sobre a refeição pascal:
"Comereis com os rins cingidos, as sandálias nos pés, e o cajado na mão. Comereis a toda a pressa. É a Páscoa do Senhor." (Ex 12, 11)
Só celebra a Páscoa quem se levanta de um salto à passagem do Senhor e se aventura a percorrer o caminho que Ele indicar. Vou lembrar-me disto amanhã de manhã, quando a Sara abrir a porta do meu quarto com estrondo...
... E já agora: porque não se levantam com um salto e se inscrevem no retiro para famílias?...
Nos primeiros dias depois das férias escolares, passo quase todo o tempo "livre" que tenho a arrumar a desarrumação que eles causaram cá em casa. A esta tarefa já por si bastante aborrecida, junta-se a necessidade de trocar a roupa de inverno pela roupa de verão, se bem que este ano ainda não seja uma tarefa tão urgente quanto desejável. Foi no meio desta minha azáfama que o Niall e eu nos cruzámos no corredor, eu com os braços cheios de roupa, ele com os braços cheios de brinquedos, e ficámos alguns minutos a conversar. Ter seis filhos tem-nos ensinado muita coisa, e uma das mais importantes é a aproveitar qualquer meio minuto para conversar. É que a soma de todos estes meios minutos traduz-se numa intimidade cada vez mais profunda entre nós, e naturalmente, na maioria dos tópicos destes posts. Sim, embora seja eu a "escritora", a reflexão é sempre conjunta e feita aos bocadinhos soltos durante o dia!
Voltemos então à nossa conversa:
- Devias ter visto a fotografia do interior de uma casa que encontrei num blog! Tudo tão arrumado, tudo tão moderno! E eu aqui, com os bolsos cheios de lixo...
O Niall riu-se:
- Ai sim? E tu devias ter ouvido um grupo de pessoas que encontrei, a falar das noites fabulosas que passaram a dançar durante as férias!
Rimo-nos juntos. À noite, depois de todos se deitarem, continuámos a conversar:
- Sabes, um dos problemas da nossa sociedade é a crença de que, para sermos modernos e felizes, temos de ser pais e mães bem vestidos, com casas de capa de revista, com vida social digna dos VIP, e com uma profissão de sucesso. Quanta frustração as revistas e os programas de televisão criam nas pessoas!
- Uma das grandes maravilhas de se ser cristão é aprendermos a valorizar o que realmente importa - continuei. - No limiar da vida, seremos julgados pelo amor.
- Claro! Deus não vai perguntar: "De que tamanho era a tua casa?" Mas sim: "Quantos acolheste lá dentro?"
- Nem vai perguntar: "Realizaste-te? Tiveste sucesso? Tornaste-te famoso?" Mas antes: "Aprendeste a esquecer os teus projectos pessoais para valorizar os da tua mulher, do teu marido, dos teus filhos?"
- Deus não perguntará: "Compraste roupas bonitas e caras? Andaste sempre bem vestido? Perdeste tempo com o supérfluo, a televisão, a moda, as compras, o mundo?" Mas antes: "Ofereceste-Me o teu tempo servindo os outros?"
- Deus não perguntará: "Descansaste muito nas férias?" Mas perguntará de certeza: "Encontraste tempo para Mim nas férias?"
- Tudo aquilo que o mundo valoriza, não tem valor nenhum para Deus... Tudo aquilo que para nós parece importante - títulos académicos, lugares sociais, bens e aparências - não valem absolutamente nada na eternidade! Diz o Senhor:
"Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, os vossos caminhos não são os meus caminhos - oráculo do Senhor! Tanto quanto os céus estão acima da terra, assim os meus caminhos são mais altos que os vossos, e os meus pensamentos, mais altos que os vossos pensamentos." (Is 55, 6.8-9)
- Sim, mas o mais giro é que, com a prática, começamos a encontrar verdadeiro prazer nos caminhos de Deus, e deixamos de achar graça áquilo que antes valorizávamos tanto!
- Deus quer que amemos a vida de verdade e tenhamos gosto nela. Por isso, quando O procuramos a sério, Ele ajuda-nos a desejar o que nos quer dar.
- E faz-nos perder o interesse no que não serve para a nossa santificação... É por isso que os santos são sempre tão felizes!
- Lembras-te de como tu gostavas de ver telenovelas?
- Lembro. E hoje, seria incapaz de as ver! Ninguém mo proíbe, mas deixei de sentir prazer nisso. E descobri que me dá imenso prazer estar simplesmente aqui, agora, a conversar contigo; ou lá fora a empurrar a Sara no baloiço, por muito monótono que isso seja! Acho que é isto a felicidade.
- Pois é. Já reparaste que somos mais felizes quanto menos procuramos a nossa própria felicidade? Quando procuramos simplesmente o amor? Afinal, a grande mensagem da Páscoa é esta:
"Aquele que conservar a vida para si, há-de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de Mim, há-de salvá-la." (Mt 10, 39)
Ficámos em silêncio um bom bocado, já deitados. No silêncio, saboreámos este dom gratuito do amor de Deus, a felicidade que Ele dá de graça a quem Lhe entrega a vida...
(... e na nossa macieira, as flores continuam a brotar...)