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S. José, uma bicicleta, um pai e os amigos

por Teresa Power, em 09.01.15

Na quarta-feira passada, a nossa carrinha estava na revisão, e portanto restava-nos o carro de cinco lugares para transportar os meninos. O Niall foi a pé para a estação e de comboio para o trabalho, o Francisco foi de bicicleta até ao colégio, e eu encaixei os restantes cinco no carro - em contra-ordenação, eu sei, porque no banco traseiro viajavam quatro crianças, duas partilhando o mesmo cinto de segurança. Teríamos assim dois quilómetros de apertos até ao colégio, por estradas de campo, e tudo se devia resolver a bem.

Mas não resolveu: a meio caminho, cruzámo-nos com o Francisco, parado ao lado da sua bicicleta.

- Que se passa, Francisco? - Perguntei, descendo a janela do carro.

- Um furo!

Fiquei sem saber o que fazer. Como ia agora conseguir enfiar no carro o Francisco e a sua bicicleta? Entretanto, ao nosso lado iam parando outros carros que se dirigiam para o colégio, preocupados connosco. A fila de carros não parava de aumentar, parecendo uma imensa caravana de amigos.

- Precisam de ajuda? - Perguntou uma mãe solícita.

- Sim! Pode-me levar algumas crianças no carro até ao colégio? Obrigada!

Distribuí os meus atarantados filhos, o Francisco enfiou a bicicleta - com bastante dificuldade - no banco traseiro e sentou-se ao meu lado, no carro, enquanto outros carros iam parando e os condutores perguntando se precisávamos de ajuda. Chegámos ao colégio sãos e salvos, com uma história bastante divertida para contar, e com o coração agradecido por termos tantos amigos e por haver tanta gente boa no mundo!

 

Nessa noite, sentada no sofá com o Niall, reparei no seu ar pensativo. Ele escutara a nossa história com um sorriso, mas também com bastante preocupação:

- Eu não vos pude valer... Que aborrecimento!

- Já passou, Niall!

- Pois já. Mas eu devia ter lá estado para recolher a bicicleta e ter facilitado tudo. Pensei em todos os pormenores ao levar a carrinha à revisão, e estava convencido de que não me iria escapar nenhum detalhe...

- És um pai e um marido precioso. Tomas muito bem conta da tua família!

O Niall sorriu:

- Sabes, eu procuro ser como S. José: cuidar de ti e das crianças com a mesma atenção ao pormenor e à vontade de Deus com que ele cuidou de Maria e de Jesus, e esquecer-me de mim o mais possível.

Dei-lhe um abraço de gratidão. Na verdade, e mesmo sem nos ter podido valer na quarta-feira, o Niall tem sido mesmo assim...

carpinteiros 1.JPG

                        (Niall carpinteiro...)

 

S. José foi o guardião da Sagrada Família, como tão bem lhe chamou o Papa Francisco na homilia inaugural do seu pontificado. S. José é a imagem do pai atento, cuidadoso e orante, o pai cristão.  Imagino o cuidado de S. José a preparar a caravana que devia levar Maria grávida a Belém... Imagino a preocupação de S. José, levantando-se durante a noite para acordar Maria, que dormia com Jesus nos braços, e a conduzir ao exílio, sem a assustar... Imagino o cuidado contínuo de S. José em fazer com que o sustento nunca faltasse na casa de Nazaré...

 

"Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor." (Mt 1, 24)

 

E quando penso em S. José, instintivamente penso no Niall.

 

Quero hoje rezar para que os pais cristãos não se demitam da missão de guardiães das suas famílias, e saibam sempre, como S. José, escutar a voz de Deus, esquecendo-se de si para servir aqueles que lhes foram confiados.

Rezo também por aqueles que não têm na terra um pai disponível como S. José, para que nunca lhes faltem caravanas de amigos, capazes de parar à beira da estrada das suas vidas e de os socorrer prontamente...

Ámen!

 

 

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publicado às 06:32

Vem, Senhor Jesus!

por Teresa Power, em 27.11.14

"Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas, e na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. (...) Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima." (Lc 21, 25-28)

 

As leituras da missa destes últimos dias do ano litúrgico falam-nos da última vinda de Jesus, na glória, como Rei e Senhor de todo o universo, e desafiam-nos a estar vigilantes, bem despertos, atentos aos sinais dos tempos. Só assim seremos capazes de reconhecer os passos do Senhor e o murmúrio da sua voz, quando Ele regressar.

Enquanto escutava o Francisco, a Clarinha ou o David a lerem algumas destas passagens, na nossa oração familiar ao serão, eu observava a Winnie, a nossa querida e velha cadelinha preta. À janela, silenciosa, atenta, o corpo em alerta máximo, o olhar fixo na rua, a Winnie era toda ela a imagem perfeita da sentinela vigilante. Mas porquê esta pose tensa, no final do dia? Porque a Winnie estava à espera do Niall.

 

Como convém a alguém que trabalha em Relações Internacionais, o Niall viaja bastante, passando de cada vez dois ou três dias no estrangeiro. Os meninos suspiram, saudosos do abraço paterno, mas não há como evitar a separação.

- Quantos dias faltam para o papá voltar? - Perguntam, a cada manhã e a cada noite. E eu vou respondendo.

Mas a Winnie não sabe contar os dias, e acho que não iria entender se eu lhe explicasse... Assim, não lhe resta outra alternativa senão estar vigilante, atenta ao mais pequeno sinal do regresso do seu dono e senhor, a quem ela adora acima de tudo. E mesmo velhinha, a Winnie não desiste de esperar de pé...

Winnie.JPG

O Evangelho assegura-nos de que o Senhor virá, em glória, para recolher o que semeou. Virá no final dos tempos, e virá no final do tempo de cada um de nós...

O nosso mundo não gosta de falar na morte. Mas nós sabemos que a morte nos pode surpreender a qualquer momento, no meio de qualquer actividade do nosso dia. O Senhor está perto, sim! Estaremos nós verdadeiramente em alerta máximo, conscientes de que o seu regresso é iminente? Estaremos nós verdadeiramente centrados no essencial? Ou andaremos distraídos, perdendo tempo com futilidades, desperdiçando as oportunidades que a vida nos oferece para amar, para servir, para perdoar, para dar?

Como passamos o nosso serão? Será que o ocupamos apenas com as novelas políticas ou fictícias que a televisão nos oferece? Ou, à semelhança da Winnie - mas com muito mais razão - sabemos guardar alguns momentos para nos colocarmos de pé, vigilantes, de olhos fitos na noite estrelada, à espera do nosso "Dono"?

 

Como sempre, a Winnie foi a primeira a perceber que o Niall chegara. Eram onze e meia da noite! Com grande alarido, a Winnie correu e saltou à sua volta, feliz.

O Senhor vai chegar, sim. Não deixemos que os animais nos ultrapassem em vigilância e esperança! Está na altura de nos erguermos e levantarmos a cabeça, porque a nossa libertação está próxima. Ah, a festa que vai ser...

 

 

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publicado às 06:35

Cansados, mas santos!

por Teresa Power, em 26.11.14

- Niall, acabei de ler uma história fascinante de um casal de santos.

- É do novo livro?

- Sim, do livro que os nossos amigos nos enviaram por correio: Esposos e Santos. Posso contar-te?

- Agora? Não pode ser depois de eu lavar a louça?

- Não. Depois de lavares a louça tens de ir limpar a garagem, que os gatos portaram-se mal, e arrumar os brinquedos do jardim, que esta noite vai chover. E eu tenho de ir passar a ferro e fazer um teste para o nono ano.

- Bem, então conta lá!

IMG_6722.JPG

Giovanni Gheddo e Rosetta Franzi, que se casaram em 1928, viveram uma vida comum, de esposos e pais, em Itália. Rosetta morreu de parto com 32 anos, deixando três filhos pequeninos, e Giovanni morreu durante a Segunda Guerra Mundial, num acto de heroísmo caridoso, ao oferecer-se para tomar o lugar de um colega condenado.

Em tão pouco tempo de vida em conjunto - seis anos -, como puderam Giovanni e Rosetta alcançar a santidade, que lhes é reconhecida por todos quantos com eles conviveram?

Ambos pertenciam à Acção Católica e ambos trabalharam activamente na sua paróquia e na sua aldeia. O seu curto namoro foi vivido num clima de pureza e simplicidade invulgares. Depois de casarem, iam todos os dias juntos à primeira missa da manhã; e ao serão, rezavam o terço com os filhos e faziam a sua leitura espiritual. Os pobres e infelizes tinham lugar privilegiado nas suas atenções, e são muitas as histórias que as pessoas da aldeia contam sobre isso!

 

- Niall, o que eu te queria dizer sobre este casal é... Bem, era uma nota de esperança para ti!

- Não te estou a entender.

- Bem, vou ler-te um bocadinho do texto, escrito pelo seu filho sacerdote:

 

"Giovanni, desenhador técnico, durante o dia trabalhava muito, visitando as quintas e as aldeias vizinhas de bicicleta, mas de manhã acordava-nos às cinco e meia para nos levar à primeira missa na paróquia, que era às seis. E às sete, começava o seu trabalho nas quintas. Nós, os dois mais velhos, ajudavamos à missa, e o Mário ficava com o pai no coro, atrás do altar. Uma recordação maravilhosa daquelas missas de madrugada é que eu fora incumbido pelo pai, se ele não aparecesse, de ir ao coro chamá-lo para a comunhão, pois às vezes, ele adormecia! Vinha imediatamente e, depois da missa, ia a sacristia, pedir desculpa ao sacerdote."

 

O Niall riu-se, e eu pisquei-lhe o olho.

- Vês, Teresa, não sou só eu que adormeço a rezar! - Disse-me, divertido.

Na verdade, de vez em quando o Niall adormece enquanto rezamos o terço em família, pois tal como Giovanni, também trabalha muitas horas e viaja muito. O cansaço, por vezes, é mais forte... A partir de agora, ele já sabe quem invocar quando todos o atacarmos por se deixar adormecer!

 

Com demasiada frequência, acusamos as circunstâncias da vida moderna de não nos permitirem uma oração familiar digna do nosso nome de cristãos. O trabalho, as viagens, os horários, as actividades dos filhos, o cansaço e o direito legítimo ao descanso, tudo nos parece desculpa suficiente para não procurarmos, criativamente, formas de nos aproximarmos de Deus em família. É por isso que nos faz bem conhecer os exemplos de santidade do passado mais recente, em que o amor maior tudo tornava possível! E mesmo que passemos pelo sono durante a oração, vencidos pelo cansaço, saibamos que

 

"aos seus amigos, Deus dá o pão até durante o sono..." (Sl 127/126)

 

 

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publicado às 06:32

A última fatia do "crumble" de maçã

por Teresa Power, em 05.01.14

Uma destas noites, antes de me deitar, abri a porta do frigorífico e deparei com este bilhetinho, pousado sobre a última fatia de crumble de maçã:

 

 

"Querido Francisco: esta fatia de crumble de maçã é para a mãe. Um abraço, Pai" (O Niall exprime-se sempre com os filhos em inglês, sua língua materna)

 

Sorri. Mais uma brincadeira entre pai e filho mais velho! O Francisco costuma "assaltar" o frigorífico todas as noites antes de se deitar, e de manhã, os efeitos do "assalto" fazem-se notar. Desta vez, o pai quis ter a certeza de que o seu querido filho não iria engolir de uma só vez o que restava da sobremesa preferida da mãe.

 

As mães deixarem a melhor fatia aos filhos, é instintivo e absolutamente natural. Até as minhas galinhas, quando têm pintaínhos, o fazem, e é ternurento observar como a mãe-galinha escolhe com o bico os grãos mais tenros para depois os colocar aos pés dos pintaínhos mais frágeis.

Mas os filhos deixarem a melhor fatia para as mães, é algo que precisa de ser treinado, e pode ser treinado a brincar.

Cresci a ver a minha avó cuidar da sua mãe até ao fim, na sua própria casa. E agora vejo a minha mãe cuidar da minha avó, já muito enfraquecida de mente e de corpo, com toda a ternura do mundo. Quando a minha vez chegar, quero estar à altura. E quando for a vez dos meus filhos, desejo de todo o coração que sejam capazes de um amor que dá até doer.

 

O quarto mandamento da Lei de Deus diz-nos assim:

"Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o Senhor te dá." (Ex 20, 12)

Ou seja: honra teu pai e tua mãe, se queres ser feliz. O amor é a única fonte de felicidade.

 

Depois de ler o bilhete, e de reparar que a fatia estava mesmo intacta - o Francisco tinha uma piada divertida na ponta da língua, na manhã seguinte - sentei-me calmamente na mesa da cozinha, com uma chávena de chá e a dita fatia à frente. Sem complexos de culpa, deliciei-me com a minha sobremesa preferida.

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publicado às 07:58



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