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Um comboio e uma torre branca

por Teresa Power, em 01.09.14

No sábado, enquanto brincava com a Sara debaixo da figueira, como contei aqui, vi passar vários comboios, pois o Santuário fica ao lado da estação ferroviária. A cada comboio que passava, os meninos paravam de comer figos e ficavam a olhar, fascinados com o barulho, a cor e o movimento. Então, na minha mente, recordei-me dos meus tempos de infância, adolescência e juventude...

Por diversas razões, fiz muitas vezes o percurso de comboio entre o Porto e Lisboa. Os meus avós viviam em Aveiro, nós vivíamos em Castelo Branco, mais tarde fui estudar para Coimbra, e a linha do norte acompanhou-me sempre. De tanto fazer a viagem, memorizei as estações e apeadeiros entre Aveiro e Coimbra, bem como o recorte da paisagem. A torre branca e a imagem de Nossa Senhora surgiam mais ou menos a meio, e eu lembro-me perfeitamente de sempre rezar uma Ave-Maria quando por elas passava. E sempre me perguntava: O que farão uma torre tão bonita e uma imagem tão bonita no meio deste descampado? Que igreja tão especial existirá aqui, nesta estação pequenina chamada Mogofores?

Os anos passaram. Nunca descobri o que fazia a torre branca junto à linha do norte, mas pensava nela muitas vezes. Casei, vivi alguns anos em Aveiro, depois mudámo-nos para a Gafanha, nos arredores de Aveiro, e finalmente comprámos a casa que hoje temos, na pequena aldeia de Mogofores. E foi só então que reparei... Estava a viver à sombra da torre branca, com a sua belíssima imagem de Maria! Finalmente iria poder visitar a igreja que me acompanhava desde pequenina e que me fazia rezar uma Ave-Maria nas minhas viagens de comboio. E finalmente iria saber o porquê desta igreja tão bonita junto à linha!

Contei aqui como foi a minha primeira visita ao Santuário. Levei mais algum tempo a conhecer a sua história e a descobrir a devoção do povo e dos salesianos a Nossa Senhora Auxiliadora. Hoje, a Senhora Auxiliadora da torre branca da minha infância é também a Mãe de Caná. A Ela nos consagramos todas as manhãs:

 

Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná,

Consagramos-te hoje e sempre a nossa família.

Confiamos na tua intercessão de Mãe,

para que o vinho da fé, da esperança e do amor

nunca acabe em nossa casa.

Faz de nós servos do Senhor, como tu,

e ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser!

Amen.

 

O Livro do Deuteronómio repete muitas e muitas vezes uma pequena palavra: "Lembra-te":

 

"Lembra-te de todos os caminhos que o Senhor teu Deus te fez andar nestes quarenta anos pelo deserto..." (Deut 8, 2)

 

O Papa Francisco, ao falar da sua oração pessoal, referiu que grande parte dela é feita de memória, no sentido bíblico: recordação das maravilhas de Deus, da forma como Deus conduziu o fio da nossa vida até ao bordado presente:

"A oração para mim é também sempre memoriosa, cheia de memórias, recordações, memória da minha história ou daquilo que o Senhor fez na sua Igreja..." (Entrevista à Revista Broteria, Agosto 2013)

 

A torre branca e a imagem de Nossa Senhora junto à linha de comboio são para mim hoje sinal da presença amorosa de Deus ao longo de toda a minha vida. Imagino o seu sorriso maroto quando eu rezava uma Ave-Maria dentro do comboio, aos dez, aos quinze, aos vinte anos. Imagino o seu olhar pousado sobre mim e o seu pensamento: "Espera e verás... Um dia entrarás nessa igreja, vais ver... As maravilhas que então Eu farei..."

Há alguns anos atrás, a minha família subiu à torre branca, para de lá contemplar a linha de comboio da minha vida, e a imagem da Senhora dos meus sonhos:

 

 

 

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publicado às 06:30

Vocação de leigos

por Teresa Power, em 26.08.14

Entre os 124 mártires coreanos que o Papa Francisco acaba de beatificar, apenas um era sacerdote chinês. Os restantes 123 eram, portanto, leigos coreanos! O Papa Francisco não se cansou de exaltar a beleza, a dignidade e a grandeza desta vocação no seio da Igreja. Na verdade, foram os leigos que introduziram o cristianismo na Coreia e que permitiram o seu crescimento até hoje! Já várias vezes antes o Papa Francisco se referira ao papel dos leigos na Igreja:

 

"Mas os leigos têm uma potencialidade nem sempre bem aproveitada. Basta pensar que o Batismo pode ser suficiente para ir ao encontro das pessoas. Faz-me lembrar aquelas comunidades cristãs do Japão que ficaram sem sacerdotes durante mais de 200 anos. Quando os missionários voltaram, encontraram todos os fiéis batizados, catequizados, validamente casados pela Igreja. Além disso, vieram a saber que todos os que tinham morrido tiveram um funeral católico. A fé tinha permanecido intacta pelos dons da graça que alegraram a vida dos leigos, que só tinham recebido o Batismo e viveram a sua missão apostólica." (Papa Francisco - Conversas com Jorge Bergoglio, ed. Paulinas)

 

Como sei que a História é conduzida por Deus, não me surpreendo nada com a crise actual das vocações sacerdotais. Sei que nunca nos faltarão sacerdotes, pois Jesus prometeu estar connosco até ao fim dos tempos, e sem sacerdotes não há Eucaristia, ou seja, Jesus entre nós; mas sei também que, se não fosse a escassez de sacerdotes, os leigos não teriam arregaçado as mangas e lançado a mão ao arado!

 

Faz este mês sete anos que deixámos os arredores de Aveiro para virmos morar em Mogofores. Nessa altura andávamos cansados - O Tomás morrera há um ano, o David era bebé, a minha profissão de professora fazia-me cirandar de escola em escola. Antes de irmos pela primeira vez à missa aqui em Mogofores, o Niall sugeriu-me:

- Teresa, acho que estamos a precisar de umas "férias paroquiais", ou seja, acho que não nos devemos envolver já nesta nova paróquia. Por favor, não te ofereças já para trabalho nenhum! Vamo-nos dar um tempo e ganhar algumas raízes aqui primeiro, OK?

 Prometi-lhe que sim.

No final da missa, dirigi-me ao sacerdote para lhe apresentar a minha família.

- Bem-vindos! - Respondeu-me o padre José Fernandes. - Vejo que têm três filhos... E vão frequentar a catequese?

- Sim, senhor padre. O Francisco acaba de fazer a primeira comunhão!

- Ah, que bom! O que nós precisávamos mesmo era de catequistas. Por acaso não estão interessados...?

- ... Bem... Acho que não...

- Que pena! É sempre assim. Quem pode não sabe, quem sabe não pode...

Respirei fundo:

- Está bem, senhor padre, seremos catequistas se assim deseja!

- Ótimo. Para a semana teremos a nossa primeira reunião. E por acaso sabem tocar algum instrumento, cantar...? O nosso coro está tão fraquinho!

Respirei fundo novamente, e nem me atrevi a olhar para o Niall:

- Bem, senhor padre, eu estou habituada a conduzir coros infantis... Toco guitarra, canto, isso tudo!

- Fantástico! Então domingo conto já consigo aqui na condução do coro e da assembleia!

Quando saí da igreja olhei pela primeira vez para o Niall. Ele abanava a cabeça, mas tinha um sorriso nos lábios:

- Tu nunca ouves nada do que te digo, pois não?

E cá estamos hoje ainda, na catequese, no coro, no trabalho com as famílias, no grupo de oração, onde for necessário!

 

"Fazei tudo o que Ele vos disser" (Jo 2, 5) disse Maria aos serventes, nas Bodas de Caná...

 

 

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publicado às 07:15



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