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O Nuno e a felicidade

por Teresa Power, em 12.07.14

Fui visitar o Nuninho, que felizmente já está em casa. A operação resultou, conseguindo o seu objectivo: endireitar um pouco mais a coluna do Nuno, para que ele possa continuar a sentar-se na sua cadeira e não fique acamado. Foram quinze dias de grande sofrimento para o Nuno e para toda a família. E que grande herói, o pequeno Nuno... A sua mãe pediu-me que agradecesse, em seu nome, a todos os que se uniram a nós em oração. Agora, naquela casa respira-se felicidade.

 

 

Felicidade? Esta palavra pode incomodar muita gente que conhece o Nuninho. A paralisia cerebral profunda, fruto de um nascimento muito prematuro e uma incubadora que correu mal, parece ser um passaporte para a infelicidade. Acreditem que não é! O Nuno tem à sua volta uma família que se ama e que o ama profundamente. E uma mãe sempre a sorrir, que irradia felicidade!

A mãe do Nuno contou-me algumas histórias de vida que presenciou no Hospital Pediátrico e as conversas que teve com os enfermeiros. Estava no hospital um menino lindo, de grandes olhos e sorriso triste, sempre sentado num carrinho de passeio. Depois de o ver ali durante alguns dias, a mãe do Nuno perguntou a uma enfermeira por que razão nunca se via a mãe, e apenas os enfermeiros o passeavam. A resposta partiu-lhe o coração: o menino fora abandonado no hospital pelos pais, e aguardava agora a institucionalização... Também estava no hospital uma adolescente que tentara suicidar-se, aos catorze anos de idade. E muitas outras crianças sem amor. Comparado com elas, o Nuno é um príncipe!

 

Onde reside, afinal, a felicidade? Numa saúde de ferro? Na beleza? Não estará a felicidade... no amor? Só o amor realiza profundamente a vocação do ser humano. Somos criados "à imagem e semelhança de Deus" (Gen 1, 27). Portanto, para sabermos quem somos, temos de saber quem é Deus. E que nos diz a Bíblia? "Deus é amor" (1Jo 4, 8).

Assim, a própria saúde não é um bem absoluto: se a saúde me afastar do amor - se a saúde me afastar de Deus - e se a doença me aproximar do amor - se a doença me aproximar de Deus -, então a doença é superior à saúde... Difícil de aceitar? Mas se só o amor importa! Diz S. Paulo:

 

"Quem nos separará do amor de Cristo?

O sofrimento, a angústia, a perseguição,

a fome, a nudez, o perigo, a espada?

Mas em tudo isso somos vencedores

n' Aquele que nos amou.

Pois estou convencido de que

nem a morte, nem a vida,

nem os anjos, nem os poderes celestiais,

nem o presente, nem o futuro, nem as forças cósmicas,

nem a altura, nem a profundeza,

nem qualquer outra criatura

poderá separar-nos do amor de Deus

manifestado em Jesus Cristo, Nosso Senhor." (Rm 8, 35-39)

 

E podemos continuar este belíssimo hino ao amor de Deus, com as estrofes da nossa vida:

 

"... nem a pobreza, nem o desemprego,

nem a doença, nem a crise, nem a morte,

nem o marido, nem a mulher, nem os filhos, nem os pais,

nem o trabalho, nem o cansaço, nem a solidão,

nem o tempo, nem o espaço,

nada nos poderá roubar a felicidade que encontramos no amor de Deus..."

 

Ámen!

 

 

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publicado às 07:00

Fardos leves e jugos suaves

por Teresa Power, em 18.06.14

Num destes domingos, no final da missa, uma mãe muito querida veio ter comigo. Empurrava a cadeira de rodas do seu filho do meio, um menino lindo, de cabelos encaracolados escuros e olhos grandes, com paralisia cerebral profunda. Debrucei-me sobre o menino, acariciei-lhe os caracóis e afaguei-lhe as faces:

- Como estás, Nuno? Há uns tempos que não te via! Lembras-te de mim?

- Claro que se lembra! - Respondeu-me a mãe - Quando a Teresa começa a cantar, na missa, ele bate logo palmas e faz os seus sons de mimo, a querer dizer que reconhece! - Depois a mãe mudou de tom, os olhos cheios de lágrimas:

- Venho pedir-lhe orações... O meu menino vai ser operado novamente, e desta vez com a coluna aberta de alto a baixo... - Chorou durante alguns minutos, enquanto eu acariciava o rostinho do seu filho. E continuou: - Os médicos têm medo que ele não acorde...

Olhei de novo para a criança, e de novo para a mãe. Conheço bem o amor que circula entre os dois! Em silêncio, dei graças a Deus pelo dom magnífico que Ele nos faz da maternidade. Aquela mãe, numa lógica que é tão divina como materna, estava a pedir a Deus que não a libertasse ainda do seu "fardo"... Que lhe devolvesse o seu menino, esse mesmo menino que a prende em casa, que a impede de "tirar férias dos filhos", como tanto se ouve dizer por aí, que não lhe permite sonhar: "Um dia, quando eles crescerem e saírem de casa, ou quando eles deixarem as fraldas e se tornarem independentes, então vou aproveitar a vida!"

 

Fico a pensar no egoísmo deste nosso mundo ocidental moderno, que aceita com naturalidade as nossas "queixinhas" porque a vida não é fácil e ter filhos é trabalhoso. Lembro-me da mãe sudanesa que tem de cuidar de dois bebés com os pés acorrentados, como referi aqui e aqui. Lembro-me das mães indianas que não têm que dar de comer a seus filhos. Lembro-me das mães sírias, palestinianas, israelitas, que vêem os seus filhos serem mortos na guerra. E lembro-me de todas aquelas que, como a minha amiga, têm filhos diferentes. Com que direito nos queixamos nós?

 

Depois recordei-me do que Jesus nos disse:

 

"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de Coração, e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." (Mt 11, 28-30)

 

Hoje - o amor é um verbo que se conjuga sempre no presente! - não me vou queixar de nada, "pois Deus ama a quem dá com alegria" (2Cor 9, 7).

O amor torna leve os fardos pesados que vão surgindo, e um coração manso e humilde encontra a paz no meio da dor...

Hoje, quarta-feira, é o dia da longa operação do Nuno. Estará na sala de operações o dia inteiro... Rezemos juntos por ele e pela sua família!

 

 

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publicado às 06:41



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