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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Mamã, se não fosse o pecado das macieiras, agora vivíamos no paraíso?
- O quê?
- O pecado das macieiras! Sabes, aquela história da Bíblia!
Gargalhada geral. Estamos na hora da oração e da catequese familiar diárias, e falávamos da guerra do mundo e da paz que Jesus quer trazer a todos os homens de boa vontade.
- Quem te disse que eram macieiras? Na Bíblia só fala em árvore de fruto!
- Vá, não gozes, responde-me!
Ficamos mais sérios. É preciso responder... Todos olham para mim, com muita curiosidade. Eu também estou curiosa, claro! Como posso eu falar de pecado original a uma criança de nove anos? Bem, pelo menos o dogma do pecado original é o dogma mais simples de comprovar. Basta olhar à nossa volta para entender que o pecado nos é anterior, que o pecado atinge todas as pessoas nas suas consequências como uma onda que, na praia, engole justos e injustos. Os atentados de Paris e as guerras do mundo inteiro estão aí como sinais evidentes do poder do mal.
- David - Começo - a origem do mal é um mistério muito grande, que ninguém pode explicar totalmente. Mas a grande notícia é que já conhecemos o fim da história! Vês a Bíblia? Eu já li o fim do livro. O fim do livro diz que a paz vai triunfar, que Jesus vai ser aclamado Rei por toda a Terra. O Advento não recorda apenas a vinda de Jesus, há dois mil anos atrás; é também a nossa preparação para a sua vinda em cada dia, na Igreja, e para a sua vinda no fim dos tempos, esses tempos que Deus já visitou e que nos promete serem felizes! A Bíblia, David, é um livro com um final feliz!
O David, que tem alguma tendência para o medo, parece mais descansado.
- Mas se não fosse a história das macieiras...
- Se não fosse o pecado de Adão e Eva, não teríamos tido a história maravilhosa de Maria e de Jesus. Logo no início da Bíblia, Deus promete-nos Maria e Jesus para que Eles possam vencer o mal na nossa vida. Ora lê:
"Farei reinar a inimizade entre ti (a serpente) e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Ela esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar." (Gn 3, 15)
- Há uma oração muito antiga que diz: "Bendito o pecado de Adão, que nos mereceu um tão grande Redentor!" Sabes, David, se Deus não fosse capaz de fazer o bem triunfar, não teria permitido o mal! Deus é capaz de tirar o bem mesmo do que é mau. Da humanidade pecadora, Deus foi capaz de fazer surgir Maria, sem qualquer mancha de pecado...
- É por isso que dizemos que Maria é conseguida sem pecado?
- Lúcia, quantas vezes te dissemos que não é conseguida, mas concebida?
- Não é a mesma coisa?
- Não: concebida quer dizer que Maria foi formada totalmente pura já na barriga da sua mamã.
- Ah!
Luís e Zélia Martin, pais de santa Teresinha, recentemente canonizados em conjunto, rezavam diariamente em família diante de uma belíssima imagem de Nossa Senhora das Vitórias. A Imaculada Conceição é verdadeiramente a grande vitória do povo cristão, Aquela que nos oferece a vitória divina do bem sobre o mal. Num dia treze de maio, muito tempo antes de Fátima, esta imagem sorriu a Teresinha, curando-a milagrosamente da sua doença. Desde então tem sido venerada como a Virgem do Sorriso:
(imagens tiradas da net)
Lembrei-me do sorriso de Maria perante esta divertida catequese familiar que tivemos. Certamente que, no céu, escutando a nossa conversa sobre macieiras, Maria nos sorri e nos abraça com carinho, enquanto esmaga a seus pés o nosso pecado!
No ano passado compus uma novena bíblica para prepararmos juntos o grande dia da Imaculada Conceição. Deverá começar hoje, dia 30 e terminar no dia 8. Querem voltar a fazê-la connosco? Aqui fica pois, com a promessa da nossa oração por todos vós nestes dias santos. E que a Senhora do Sorriso nos ajude a vencer sempre o mal com o bem, a guerra com a paz, o ódio com o amor! Novena da Imaculada Conceição.pdf
Esta semana ainda, fica prometido um post sobre o nosso Canto de Oração de Advento...
Há 417 anos que a paróquia de Mogofores faz a sua peregrinação anual, no primeiro sábado de setembro, a Nossa Senhora da Paz, na aldeia do Beco, a trinta quilómetros. A história desta peregrinação é muito curiosa e vem contada no blogue da Lena Barros, As Surpresas de Deus, aqui.
Nas últimas semanas, todos nós, europeus, temos experimentado sentimentos de profunda tristeza perante as imagens chocantes que nos chegam dos migrantes que fogem da guerra. E temos dentro do peito uma pergunta constante: como poderemos transformar as nossas lágrimas e a nossa dor em algo de útil para quem tanto sofre? A Renascença sugeriu aqui várias coisas que talvez muitos de nós possamos fazer. Vale a pena refletir sobre elas e deixarmo-nos desafiar! Mas faltou sugerir - tratando-se de uma emissora católica - duas coisas essenciais: a oração e o sacrifício.
Que poder têm a minha oração e o meu sacrifício para combater a miséria, a guerra, a perseguição, a fome, a dor? O poder que Deus lhes quis atribuir, e que é imenso... Sim, quando unimos a nossa oração e a nossa dor à Cruz de Jesus, o que em nós é pequeno torna-se grandioso, o que é frágil torna-se poderoso, o que é nada torna-se tudo n'Aquele que é Tudo em todos. A pequenina gota de água da nossa oração e do nosso sacrifício, derramada no cálice do Sangue do Senhor, torna-se verdadeira bebida, capaz de dessedentar os nossos irmãos mais necessitados. É afinal o mistério que proclamamos na recitação do Símbolo dos Apóstolos: "Creio na comunhão dos santos". Que boa notícia! Quer dizer que a minha oração sincera e aliada a um profundo esforço de santidade pode frutificar lá longe, junto dos migrantes que atravessam o Mediterrâneo em busca de felicidade!
Bem, e o que tem a peregrinação ao Beco a ver com a triste história dos migrantes e o mistério da comunhão dos santos? Essa é a parte interessante deste post:
Este ano, pela primeira vez, a nossa família decidiu participar nesta peregrinação; e decidiu desafiar, em particular, a Aldeia de Caná de Mogofores e os jovens crismados que o Niall acompanha, para juntos fazermos uma peregrinação diferente: de bicicleta, pelos migrantes, a Nossa Senhora da Paz!
Sete da manhã. No santuário, junto à imagem de Nossa Senhora Auxiliadora em Saída, os nossos ciclistas rezaram o Shemá e a Consagração à Mãe de Caná e ofereceram a sua peregrinação pelos migrantes. Depois de uma curta meditação orientada pelo Niall, estavam prontos a partir, cheios de entusiasmo!
O caminho foi feito de risos, de partilha, de algum esforço e de alguma meditação pessoal, como combinado:
Quase a chegar ao Beco, numa descida acentuada, uma das jovens ciclistas perdeu o controlo da bicicleta durante uns breves segundos que a todos fez gelar o sangue, e com grande aparato, lançou-se em voo picado até ao chão, magoando uma mão e um joelho. Não vinha nenhum carro em sentido contrário... Mais uns metros à frente teria galgado um pequeno muro, precipitando-se numa ravina até ao rio... Bendita sejas, Mãe de Deus e nossa Mãe!
Entretanto, em casa com os quatro mais novos, eu preparei o piquenique, e por fim fizemo-nos também à estrada, mas de carro. Pelo caminho, rezámos o terço, e chegámos ao Beco precisamente ao mesmo tempo!
Ao redor da pequena igreja, foram-se reunindo os peregrinos, vindos uns a pé - entre os quais o nosso pároco -, outros de carro e autocarro, e outros, claro, de bicicleta. Depois, fizemos uma pequena procissão, rezando a Ladainha de Nossa Senhora e o Angelus:
Por fim, entrámos na igreja, para celebrar a Eucaristia, em grande festa. Que alegria! O coração de todos exultava no Senhor, que nos desinstalara, que nos fizera sair de casa e do nosso conforto, e que nos reunia no seu amor.
Como é bonita, a igreja do Beco! Tudo nela respira luz, cor e beleza. De entre todas as imagens, uma em especial tocou o meu coração:
Nossa Senhora com o Menino, sentada num burrinho e conduzida por S. José... Foi há dois mil anos atrás, quando também a Sagrada Família foi uma família migrante e refugiada, fugindo a um rei louco e sanguinário. S. Mateus fez a reportagem de então:
"José levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes. (...) Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo..." (Mt 2, 10-18)
Dois mil anos passados, e a Sagrada Família continua migrante, escondida em cada mulher, em cada homem, em cada criança que procura asilo junto de nós...
Nossa Senhora da Paz, dai-nos a paz!
Num dia de manhã cedo, nas nossas férias na serra do Gerês, fizemos, como costume, a viagem até à barragem de Vilarinho das Furnas, rezando o terço no carro. O dia estava luminoso, tranquilo e quieto, e tudo respirava paz. Ao chegar, também nós ficámos sem palavras diante desta paisagem:
A montanha não parecia uma, mas duas, tal a nitidez e a tranquilidade do reflexo sobre a superfície das águas! Que maravilha! Até fazia pena mergulhar ali, quebrando o espelho em mil estilhaços... Bem, com pena ou sem ela, não resistimos:
Apeteceu-me ficar ali para sempre, quieta como a montanha, silenciosa como a água antes de nela mergulharmos. Depois lembrei-me do texto de S. Paulo:
"Todos nós que, com o rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor como um espelho, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória..." (2Cor 3, 18)
O lago só reflete a montanha se se mantiver sereno e tranquilo. A minha alma só refletirá a glória do Senhor se não se deixar perturbar por coisa alguma... Serei eu capaz de tal tranquilidade, diante das tempestades que a vida vai trazendo? Estarei eu totalmente abandonada à vontade do Pai, confiante no seu amor infinito e absoluto? Escrevia Santa Teresa de Ávila:
"Nada te perturbe,
nada te espante.
Tudo passa,
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem,
nada lhe falta.
Só Deus basta!"
Ah! No dia em que nos abandonarmos assim, a glória do Senhor refletir-se-á como num espelho, e seremos transfigurados, renovados, recriados no seu amor... Que felicidade! Custa assim tanto deixarmo-nos amar?...
Ontem, ao contemplar o presépio, algo estranho chamou a minha atenção: misturados com as ovelhinhas, os pastores, as conchinhas da praia e os restantes elementos bucólicos que se espraiam pelo musgo, estavam duas ferozes criaturas...
Como terão o leão e o tigre ido parar ao presépio? Fiquei em pânico, com medo que algo pudesse acontecer ao Menino Jesus, tão frágil, deitado numa manjedoura pequena demais para Ele, e já com um pezinho partido à custa de beijinhos desajeitados... Mas depois lembrei-me de que talvez o leão e o tigre conhecessem a profecia de Isaías, e daí o terem arriscado caminhar até à gruta de Belém:
"Então o lobo habitará com o cordeiro e o leopardo deitar-se-á com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o animal cevado estarão juntos, e um menino os conduzirá. A vaca e o urso pastarão lado a lado, as suas crias deitar-se-ão juntas, e o leão comerá feno como o boi. A criança de peito brincará junto à toca da víbora, e a criança desmamada porá a mão na cova da serpente." (Is 11, 6-8)
Um urso a pastar ao lado de uma vaca e um leão a comer feno como um boi é verdadeiramente uma revolução grandiosa, difícil de imaginar. Num dia da semana passada, conversando com um aluno da minha direcção de turma, perguntava-lhe:
- Como queremos nós que haja paz na Terra, se vocês, jovens, não conseguem relacionar-se no espaço de uma turma? Escrever insultos no Twitter sobre as tuas colegas não parece uma estratégia muito apropriada para se conseguir ser aceite...
Ele ficou pensativo. Depois assentiu:
- Tem razão, professora. - E acrescentou: - Mas mesmo que eu tente mudar e voltar a ser amigo delas, elas já não acreditam em mim. Ninguém, nem os professores nem os meus amigos, me quer dar outra oportunidade!
Quando ele saiu de junto de mim, fiquei a pensar no que significa isto de fazer a paz. Às vezes, somos nós os leões que precisam de aprender a comer feno; outras, somos o menino que precisa de não ter medo de meter a mão na toca da víbora...
Fazer a paz implica trabalhar o nosso carácter, dominar os nossos instintos e converter o nosso coração; mas também implica dar ao outro a oportunidade de provar que está mudado! Precisamos - na família, no casamento, nas amizades - de muita humildade e de muita confiança em Deus para colocarmos a mão na toca da víbora, acreditando que, desta vez, ela não nos morderá.
Ah, a paz de Jesus é tão exigente!...
O início do ano lectivo cá em casa é sempre muito atarefado, pois coincide com um dos momentos mais atarefados também da minha vida profissional enquanto professora - conhecer as turmas, planificar aulas, adaptar planificações para alunos especiais, preparar materiais, etc etc etc. Se a tudo isto juntar a preparação e a realização de um retiro Famílias de Caná, a preparação da catequese e algumas outras coisas, fico com um volume de trabalho bem mais elevado do que seria desejável. Felizmente que esta montanha de tarefas se irá simplificar nas próximas duas semanas, até me permitir entrar no meu ritmo normal da vida, que é geralmente muito preenchido, mas muito tranquilo. Contudo, entre o "agora" e o "finalmente", ainda ficam uns "entretantos" por resolver...
Quando o volume de trabalho é mesmo demasiado; quando estou tão cansada, que já não tenho forças para continuar a apanhar brinquedos e lixo do chão; quando a paciência parece escoar-se mais depressa do que as birras dos filhos; quando o barulho na sala de aula custa a controlar; quando só me apetece fugir de volta para o verão... - então eu uso uma fórmula infalível: "Nós, Jesus, Tu e eu!"
"Nós, Jesus, vamos juntos dar mais esta aula."
"Nós, Jesus, vamos lavar a louça."
"Nós, Jesus, vamos estender a roupa enquanto a sopa ferve, e dar comida às galinhas enquanto o assado não termina."
"Nós, Jesus, vamos enfrentar o cesto de roupa para passar a ferro, que quase toca o tecto (acho que estou a exagerar, mas só um pouquinho...)"
"Nós, Jesus, vamos procurar na net actividades giras para os alunos daquelas turmas difíceis."
"Nós, Jesus, vamos controlar as birras do António, verificar os trabalhos de casa da Lúcia e do David, limpar o chichi no chão da Sara."
Também os apóstolos falavam sempre no plural, incluindo Deus nas suas decisões e nos seus trabalhos:
"O Espírito Santo e nós decidimos..." (At 15, 28)
Penso que é isto que Jesus nos pede, quando nos convida a rezar sem cessar: Jesus quer que transformemos todo o nosso dia em oração, todas as nossas decisões em oração, todas as nossas actividades em oração. A nossa vida deixa então de estar nas nossas mãos e aninha-se inteira nas mãos do Senhor.
Há por aí tantas propostas de exercícios psicológicos ou oriundos de religiões pagãs, sobre métodos para alcançar a paz interior... Eu ainda não descobri nenhum mais poderoso do que esta simples oração!
O David nasceu três meses depois da morte do Tomás. Nasceu com baixo peso, zangado com o mundo e um bocadinho triste, pois acompanhara a doença do irmão desde as doze semanas de vida, dentro de mim... Instintivamente, percebi que só havia uma maneira de o ajudar a recuperar do seu pequeno trauma, e de me ajudar a mim também: trazê-lo o dia inteiro encostado ao meu peito. Encomendei online um "pano" típico da América Latina, aprendi a usá-lo e "enfiei" o David dentro dele. E assim passávamos o dia!
Com o David no pano, eu cozinhava, aspirava, dava banhos, rezava, escrevia no computador, passeava à beira-mar...
Descobri que não havia melhor remédio para acalmar um choro, para recuperar o peso, para devolver a alegria. No pano, o David foi crescendo...
A nossa experiência com o pano foi tão deliciosa, e deu tantos frutos, que decidi repetir com todos os manos mais novos do David. A Lúcia escutou muitas histórias no pano...
A última bebé com sorte foi a Sara:
Escrevi alguns capítulos de Os Mistérios da Fé com ela assim!
Reparem na foto que eu tirei um dia, ao chegar a casa com os mais velhos, depois de ter deixado o Niall sozinho com a Lúcia recém-nascida e o David com dois anos:
Ele explicou-me que, perante o choro insistente da Lúcia, decidiu experimentar a minha técnica... E resultou! Depois começou o David a chorar com sono e...
Há um ditado africano que diz assim: "As costas da mãe são o remédio do bebé." No meu caso, não terão sido as costas, mas o peito. Escutando o bater do meu coração, os meus bebés acalmavam de imediato. E eu ficava tão reconfortada! Se há coisas de que já tenho saudades, é de trazer um bebé no pano. Recordei-me desta sensação única no outro dia - e por isso escrevo sobre ela agora - ao emprestar o pano a uma amiga, para que também a sua bebé pudesse usufruir deste colo tão especial.
Mas eu não estou a escrever este post apenas para partilhar alguns dos momentos mais intensos da minha experiência materna. Estou a falar do Coração de Jesus! Imaginem todas as consequências práticas da nossa vida se decidíssemos caminhar por ela assim, bem encostados contra o peito do Senhor!
Um dos salmos mais belos que os judeus cantavam nas subidas, a caminho de Jerusalém, é o salmo 130/131. Diz assim:
"Senhor, o meu coração não é orgulhoso
e os meus olhos não são arrogantes.
Não me envolvo com coisas grandiosas
nem maravilhosas demais para mim.
De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma.
Sou como uma criança
recém-amamentada por sua mãe;
a minha alma é como essa criança.
Põe a tua esperança no Senhor, ó Israel,
desde agora e para sempre!"
Pois é... Deixarmo-nos pegar ao colo por Deus, deixarmos que Ele nos aperte contra o seu Coração (quantas vezes fugimos deste abraço?)...
Querermos tudo o que Ele quiser, ir aonde Ele nos levar... Não correr atrás de grandezas (ou de dinheiro, ou de fama, ou de sucesso!)...
Secar as nossas lágrimas no "pano" do seu amor, dispormo-nos a escutar o bater do seu Coração, de ouvidos bem atentos...
A isto, eu chamo Paz!
E já agora... Enviem fotos dos vossos Sagrados Corações!
No domingo passado teve lugar um encontro histórico entre o Papa Francisco, o presidente de Israel e o presidente da Palestina, acompanhados pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu. Nos Jardins do Vaticano, durante duas horas e meia, os três chefes de estado rezaram. Estavam presentes judeus, cristãos e muçulmanos, e no mundo inteiro, certamente milhares de pessoas uniram os seus corações e rezaram com eles pela paz.
Liguei a televisão para poder acompanhar a oração, mas nenhum canal a transmitiu na íntegra. Assim, acabei por o fazer através da net. Enquanto escutava belíssimos cantos israelitas e a repetição constante da palavra Shalom (paz em hebraico), fui cozinhando, passando a ferro e brincando com os meninos. De vez em quando, lembrava-lhes: "Vamos rezar um bocadinho com o papa!"
Nos poucos minutos em que tive a televisão ligada, antes de optar pela net, pude escutar os comentários politicos de alguns "sábios e entendidos" (Mt 11, 25). Diziam eles que é preciso muito mais do que uma oração para se alcançar a paz, e também diziam que os políticos não depositam qualquer esperança neste acto. Santa ignorância! Não há nada na Terra mais poderoso do que a oração. E se somos capazes de gestos de paz, é porque rezamos, ou porque alguém reza por nós!
Na entrada da nossa casa, está este quadro com a Oração de S. Francisco de Assis:
"Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz:
onde houver ódio, que eu leve o amor;
onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
onde houver discórdia, que eu leve a união;
onde houver dúvida, que eu leve a fé;
onde houver erro, que eu leve a verdade;
onde houver desespero, que eu leve a esperança;
onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com que eu
procure mais consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido;
amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe;
é perdoando que se é perdoado;
e é morrendo que se ressuscita para a vida eterna."
Temos este quadro na entrada da casa, bem visível quando abrimos a porta da rua para entrar ou sair. De manhã, quando é preciso ir trabalhar e ir ao encontro do outro, precisamos destas palavras. Mas quando regressamos a casa tantas vezes cansados e levemente irritados com o dia, precisamos delas também, para que a nossa família possa permanecer em paz.
O Papa Francisco rezou esta oração na presença dos chefes de estado de dois países em guerra. Quero hoje rezar esta oração, recordando uma família que eu conheço, onde a mãe e a filha, já casada, não se falam. Se não conseguimos viver a paz na nossa casa, como queremos que o mundo a viva?
Pelo contrário, uma outra mãe, mãe de uma das muitas Famílias de Caná que já fizeram um dos nossos retiros, escreveu-me há uns tempos atrás: "Um dos mais belos frutos do retiro foi que, desde então, o meu marido reza connosco diariamente e escuta as histórias da Bíblia connosco. Graças ao retiro, re-aproximou-se da Igreja e, consequentemente, da família".
E a Liliana escreveu num maravilhoso comentário ao post O carteiro:"Graças ao seu blog já não ralho tanto com os meus filhos, o que acontecia diariamente..." Permitam-me corrigir apenas uma coisa ao comentário da Liliana: não é graças ao blog, mas graças à Palavra de Deus, claro!
Estas duas mães e esposas já perceberam que, ao aproximarmo-nos de Deus, nos aproximamos também dos irmãos, sejam eles o marido, a mulher, os filhos ou os pais. Por isso, o ditado já velhinho "Família que reza unida permanece unida" é profundamente verdadeiro! A oração, levando-nos ao encontro de Deus, leva-nos sempre também ao encontro do irmão. Rezar é o começo da paz.
Ajuda-me hoje, Senhor, como escreveu S. Francisco, a dar o primeiro passo, perdoando o outro e morrendo para o meu orgulho e a minha satisfação pessoal... Ajuda-me hoje, Senhor, como disse o Papa Francisco no domingo, a ter a coragem de fazer a paz, pois é preciso muito mais coragem para fazer a paz do que para fazer a guerra... Faz de mim um instrumento da tua paz, na minha casa, na minha rua, na minha terra, no meu trabalho, no mundo inteiro! Ámen.
Oração familiar, sexta-feira à noite.
- Hoje vamos rezar pela libertação de uma mãe sudanesa, uma grande mulher que está presa, juntamente com o filho pequenino e com a bebé que nasceu na prisão!
- Na prisão? Os bebés podem nascer na prisão?
- É verdade, David, esta bebé nasceu na prisão.
- E porque está essa mãe presa? Fez coisas más?
- Não, Lúcia. Simplesmente, ela acredita em Jesus, e na sua terra, as pessoas estão proibidas de acreditar em Jesus.
- Porquê? Jesus é tão bom! Faz mal acreditar em Jesus?
Neste ponto da conversa, eu já estava arrependida de ter levantado o assunto diante dos filhos mais novos. Agora tinha de me desenrascar.
- Lúcia, há homens maus em todo o lado, que querem mandar naquilo em que os outros acreditam. Como se pudéssemos obrigar alguém a acreditar seja no que for!
- Pois é, só acreditamos se o nosso coração mandar, não é, mãe?
- É, David.
- E essa terra da prisão é muito, muito longe daqui?
- Sim, Lúcia.
- Eu nunca quero ir lá! Gosto muito de rezar. Gosto muito do Jesus! E não quero que me proíbam de rezar.
- E se nós rezarmos muito, vai acontecer como aconteceu com Paulo e o outro amigo dele? (At 16, 22-34)
- Lembras-te dessa história, David?
- Sim. Paulo e um amigo estavam dentro da prisão, e depois um tremor de terra abriu-lhes a porta!
- Então vamos lá todos rezar, rezar com muita fé para que um tremor de terra venha abrir as portas da prisão de Meriem!
A oração é verdadeiramente o tremor de terra que pode abalar os fundamentos do nosso mundo. A oração tem um poder imensurável, muito superior ao que nós imaginamos! Em Fátima, o Anjo de Portugal assegurou aos pastorinhos que a sua oração era suficiente para atrair a paz sobre a sua pátria; e em Medjugorge, Nossa Senhora disse um dia:
"Os homens esqueceram-se que com o jejum e a oração podem evitar as guerras e suspender as leis da natureza" (25/12/1982).
O Anjo e Nossa Senhora não estão a dizer-nos nada que Jesus e toda a Palavra de Deus não diga:
"Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á." (Lc 11, 9-10)
Um dos mais belos e luminosos frutos desde blogue é a oração. Neste momento, há várias famílias no país em união de coração connosco, através da Novena de Pentecostes (novena do pentecostes)que há nove dias publiquei; e há muitos leitores que, como nós, rezam insistentemente para que esta pobre mãe sudanesa e tantos outros cristãos perseguidos possam viver a sua fé em paz.
Nem todos nos encontraremos nesta vida. Mas todos nos encontraremos no Céu. E então iremos descobrir o imenso poder da nossa oração! No Céu encontraremos Meriem, e ela agradecer-nos-á as nossas orações; no Céu perceberemos como a nossa oração silenciosa e por vezes solitária atraiu a paz sobre a nossa família; no Céu veremos o brilho dos fios de luz que nos unem uns aos outros, em Deus. Rezar nunca, nunca é tempo perdido. Rezar opera sempre maravilhas, mesmo que não as vejamos deste lado da vida...
Hoje, no Vaticano, pelas 18 horas de Lisboa, os Presidentes de Israel e da Palestina encontram-se com o Papa Francisco para rezar, implorando ao Senhor o dom da paz. "Todos os homens e mulheres desta Terra e do mundo inteiro nos pedem para levarmos à presença de Deus a sua ardente aspiração pela paz", disse o Papa em Israel. Ele conhece o poder da oração.
É Pentecostes. Que "tremor de terra" virá abalar a nossa vida e abrir as nossas prisões? Unamo-nos em oração uns aos outros, ao Santo Padre e ao mundo inteiro, e supliquemos ao Espírito Santo que venha renovar a face da Terra. Ámen!
Os três mais novos tinham trabalho de casa do infantário: construir, em família, uma pomba da paz, e conversar sobre o que é isso da paz. O desafio estava lançado para mais uma evangelização familiar!
Pedi ao Francisco, o nosso "mestre do origami", que procurasse na net uma pomba da paz em origami e a construísse connosco. Os mais pequenos adoram os origamis do irmão, que faz nascer cavalos, borboletas, sapos e macacos de um pedaço de papel branco. A pomba da paz ficou linda!
Sentei-me junto da lareira com eles, enquanto os mais velhos, por perto, iam fazendo as suas coisas e mantendo um ouvido atento à nossa conversa.
- O que é isso de estar em paz?
- Eu sei! É ficar sozinho!
- Pois é, a mamã diz que quer ficar em paz e nós vamos para os quartos fazer barulho!
Dei uma gargalhada.
- Isso sou eu que digo palavras tolas. Estar em paz não é estar sozinho, pois para haver paz é preciso haver outras pessoas. Por exemplo, o que é "fazer as pazes"?
- É fazer a paz!
- Isso mesmo: a paz nasce do perdão. Quando desculpamos o outro, quando somos bons até para quem é mau, isso é a paz. Sabem o que diz a Bíblia sobre a paz?
Eles quiseram ouvir. Abri o Livro do Profeta Isaías e li:
"Então o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito;
o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá.
A vaca pastará com o urso, e as suas crias repousarão juntas;
o leão comerá palha como o boi.
A criancinha brincará na toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente." (Is 11, 6-9)
Quando acabei de ler, eles estavam fascinados e pediram para repetir. Depois ficaram a conversar sobre ursos, leões e víboras, enquanto eu fui cuidar da Sara, que acordara da sesta.
Chegou a hora da nossa oração familiar. Na sua vez de partilhar a oração, o David rezou assim:
- Jesus, quando for o Dia Mundial da Paz vou pegar numa víbora com as mãos e vou ser o maior!
E sem esperar que ele acabasse, a Lúcia acrescentou:
- Jesus, e eu vou fazer festinhas a um ursinho branquinho do Pólo Norte!
- Esse era para mim! - Gritou o António.
O Niall abanou a cabeça, a rir:
- Que é que tu lhes estiveste a ensinar sobre a paz?
E o Francisco, num tom brincalhão: - Isso é interpretação literal da Bíblia!
Procurar o sentido profundo da Palavra de Deus é sinal de maturidade espiritual. Mas interpretar a Bíblia à letra é privilégio das crianças. Para elas, a Bíblia é um livro de histórias fantástico, cheio de príncipes e princesas, reis e raínhas, guerreiros, cavaleiros e gigantes, jardins zoológicos dentro de navios e tsunamis que transformam o mar em muralhas. Uma história da Bíblia antes de dormir é um bilhete para sonhos felizes.
Bem, interpretar a Bíblia à letra na nossa casa faz bastante sentido, se pensarmos em cenas como esta, repetidas a cada novo bebé e a cada novo gato, num breve instante de distracção:
Graças a Deus e à sua paz, nenhum dos nossos filhos alguma vez sofreu o mais pequeno arranhão!
Mas o sentido profundo da Palavra é mais exigente. Nas alturas em que todos gritam e ralham, a começar por mim, os mais velhos se insultam, os mais novos se batem, e até a bochecha do David aparece mordida pela Sara, pergunto-me por onde andará a paz!
Depois escuto, muito baixinho, as palavras de Jesus, repetidas a cada geração, a cada família, a cada um de nós... As palavras que ordenaram ao vento que se calasse e ao mar que acalmasse; as palavras que perdoaram ao paralítico e à mulher adúltera; as palavras que ressuscitaram Lázaro e fizeram Zaqueu descer da árvore. E sei...
... que o nome da paz é Jesus! N'Ele estão todos os "dias mundiais da paz" a que se referia o David. N'Ele estão também todas as "pazes" da nossa família, que depois de cada discussão se refaz uma e outra vez...
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