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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
É com imensa alegria que convidamos todos os leitores deste blogue e todas as Famílias de Caná a virem fazer connosco o Retiro de Natal, no próximo dia 2 de janeiro, sábado, em Fátima! Aqui fica o programa: Programa Retiro Natal 2016
Para podermos decidir qual o tamanho da sala do Centro Paulo VI que reservaremos (gostaríamos que fosse o auditório principal...), pedíamo-vos uma breve inscrição online, aqui.
O almoço é livre, podendo quem quiser trazer merenda ou ir a um dos muitos restaurantes em Fátima. Nós levaremos a nossa merenda habitual. Durante a tarde percorreremos o Caminho dos Pastorinhos, meditando nos mistérios do Natal. Servir-nos-á de meditação o mesmo texto do ano passado, que deverão descarregar e levar convosco: Via Stellae
Como todos os nossos retiros, também este é aberto a todos, bebés, crianças, jovens, adultos. Venham, e aproveitem a ocasião para fazer uma obra de misericórdia espiritual - dar bom conselho - convidando uma família amiga a vir também!
Neste Ano Santo, neste grande Jubileu da Misericórdia, o Santo Padre convida-nos a todos a fazer uma peregrinação a uma das Portas Santas, abrindo o coração à grande indulgência de Deus, ao Grande Perdão. Na Bula de Proclamação do Jubileu, o Santo Padre diz assim: "A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. Também para chegar à Porta Santa, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é connosco."
Depois, na Carta sobre as Indulgências deste ano santo, o Santo Padre especifica: "Espero que a indulgência jubilar chegue a cada um como uma experiência genuína da misericórdia de Deus, a qual vai ao encontro de todos com o rosto do Pai que acolhe e perdoa, esquecendo completamente o pecado cometido. Para viver e obter a indulgência os fiéis são chamados a realizar uma breve peregrinação rumo à Porta Santa, como sinal do profundo desejo de verdadeira conversão. É importante que este momento esteja unido, em primeiro lugar, ao Sacramento da Reconciliação e à celebração da santa Eucaristia com uma reflexão sobre a misericórdia. Será necessário acompanhar estas celebrações com a profissão de fé e com a oração por mim e pelas intenções que trago no coração para o bem da Igreja e do mundo inteiro."
Em Fátima, a Porta Santa foi aberta ontem, dia 8, ao mesmo tempo que o Santo Padre abria a Porta Santa na Basílica de S. Pedro. Assim, ao longo de todo este ano santo, a Porta de S. Tomé - o Apóstolo do Evangelho proclamado no Domingo da Misericórdia - na Basílica da Santíssima Trindade estará aberta para nos acolher nos braços do Pai, oferecendo-nos gratuitamente, por pura misericórdia, a grande indulgência.
Façamos então a nossa peregrinação a esta Porta Santa, entregando-nos ao abraço do Pai! Teremos tempo para confissões, para um ensinamento sobre a Misericórdia, para a Eucaristia, para a meditação na Via da Estrela, a "Via Sacra do Natal", e por fim, para grande e alegre brincadeira, visitando as casas dos pastorinhos e saltitando nos seus montes.
O ano jubilar é uma oportunidade na vida que não podemos desperdiçar! Diz-nos o Senhor, com palavras que ecoam desde os tempos antigos, na Lei de Moisés:
"No dia do grande Perdão, fareis ressoar o som da trombeta através de toda a vossa terra. Este será para vós um jubileu!" (Lv 25, 9-10)
Que o som da trombeta a todos nos reuna, preparando desde já a reunião definitiva, um dia, em casa do Pai. Ámen!
Há 417 anos que a paróquia de Mogofores faz a sua peregrinação anual, no primeiro sábado de setembro, a Nossa Senhora da Paz, na aldeia do Beco, a trinta quilómetros. A história desta peregrinação é muito curiosa e vem contada no blogue da Lena Barros, As Surpresas de Deus, aqui.
Nas últimas semanas, todos nós, europeus, temos experimentado sentimentos de profunda tristeza perante as imagens chocantes que nos chegam dos migrantes que fogem da guerra. E temos dentro do peito uma pergunta constante: como poderemos transformar as nossas lágrimas e a nossa dor em algo de útil para quem tanto sofre? A Renascença sugeriu aqui várias coisas que talvez muitos de nós possamos fazer. Vale a pena refletir sobre elas e deixarmo-nos desafiar! Mas faltou sugerir - tratando-se de uma emissora católica - duas coisas essenciais: a oração e o sacrifício.
Que poder têm a minha oração e o meu sacrifício para combater a miséria, a guerra, a perseguição, a fome, a dor? O poder que Deus lhes quis atribuir, e que é imenso... Sim, quando unimos a nossa oração e a nossa dor à Cruz de Jesus, o que em nós é pequeno torna-se grandioso, o que é frágil torna-se poderoso, o que é nada torna-se tudo n'Aquele que é Tudo em todos. A pequenina gota de água da nossa oração e do nosso sacrifício, derramada no cálice do Sangue do Senhor, torna-se verdadeira bebida, capaz de dessedentar os nossos irmãos mais necessitados. É afinal o mistério que proclamamos na recitação do Símbolo dos Apóstolos: "Creio na comunhão dos santos". Que boa notícia! Quer dizer que a minha oração sincera e aliada a um profundo esforço de santidade pode frutificar lá longe, junto dos migrantes que atravessam o Mediterrâneo em busca de felicidade!
Bem, e o que tem a peregrinação ao Beco a ver com a triste história dos migrantes e o mistério da comunhão dos santos? Essa é a parte interessante deste post:
Este ano, pela primeira vez, a nossa família decidiu participar nesta peregrinação; e decidiu desafiar, em particular, a Aldeia de Caná de Mogofores e os jovens crismados que o Niall acompanha, para juntos fazermos uma peregrinação diferente: de bicicleta, pelos migrantes, a Nossa Senhora da Paz!
Sete da manhã. No santuário, junto à imagem de Nossa Senhora Auxiliadora em Saída, os nossos ciclistas rezaram o Shemá e a Consagração à Mãe de Caná e ofereceram a sua peregrinação pelos migrantes. Depois de uma curta meditação orientada pelo Niall, estavam prontos a partir, cheios de entusiasmo!
O caminho foi feito de risos, de partilha, de algum esforço e de alguma meditação pessoal, como combinado:
Quase a chegar ao Beco, numa descida acentuada, uma das jovens ciclistas perdeu o controlo da bicicleta durante uns breves segundos que a todos fez gelar o sangue, e com grande aparato, lançou-se em voo picado até ao chão, magoando uma mão e um joelho. Não vinha nenhum carro em sentido contrário... Mais uns metros à frente teria galgado um pequeno muro, precipitando-se numa ravina até ao rio... Bendita sejas, Mãe de Deus e nossa Mãe!
Entretanto, em casa com os quatro mais novos, eu preparei o piquenique, e por fim fizemo-nos também à estrada, mas de carro. Pelo caminho, rezámos o terço, e chegámos ao Beco precisamente ao mesmo tempo!
Ao redor da pequena igreja, foram-se reunindo os peregrinos, vindos uns a pé - entre os quais o nosso pároco -, outros de carro e autocarro, e outros, claro, de bicicleta. Depois, fizemos uma pequena procissão, rezando a Ladainha de Nossa Senhora e o Angelus:
Por fim, entrámos na igreja, para celebrar a Eucaristia, em grande festa. Que alegria! O coração de todos exultava no Senhor, que nos desinstalara, que nos fizera sair de casa e do nosso conforto, e que nos reunia no seu amor.
Como é bonita, a igreja do Beco! Tudo nela respira luz, cor e beleza. De entre todas as imagens, uma em especial tocou o meu coração:
Nossa Senhora com o Menino, sentada num burrinho e conduzida por S. José... Foi há dois mil anos atrás, quando também a Sagrada Família foi uma família migrante e refugiada, fugindo a um rei louco e sanguinário. S. Mateus fez a reportagem de então:
"José levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes. (...) Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo..." (Mt 2, 10-18)
Dois mil anos passados, e a Sagrada Família continua migrante, escondida em cada mulher, em cada homem, em cada criança que procura asilo junto de nós...
Nossa Senhora da Paz, dai-nos a paz!
Escrito pelo Francisco:
“Em que é que eu me fui meter???”. Perguntei-me a mim mesmo isto muitas vezes antes e durante o percurso de 350 km de Anadia até Santiago de Compostela que realizei de bicicleta com um grupo de amigos e professores do Colégio. Bem, hoje conto-vos em que é que me meti mesmo.
Há 4 anos um grupo de professores e alunos do Colégio Nossa Senhora da Assunção, onde eu tenho aulas desde o 1º ano, decidiu abraçar a aventura de ir até Santiago de Compostela de bicicleta, desde o Porto, e fazer esse trajeto em 4 dias. Gostaram tanto da experiência que este ano decidiram repetir e eu tive a sorte de poder participar. Muita gente queria participar mas apenas 14 pessoas podiam ir por motivos logísticos. Fomos 7 jovens (entre nós um ex-aluno do colégio) dois encarregados de educação e 5 professores (um dos quais conduzia o carro de apoio). E desta vez decidimos partir de Anadia, fazer mais 100 km no mesmo tempo…
Partimos numa quarta-feira de manhã, às 7 horas, depois de uma oração na capela do colégio:
Começámos a pedalar, seguindo as setas amarelas, que indicam o caminho para Santiago de Compostela. Mas, como era de esperar, os problemas com bicicletas não tardaram a aparecer: logo após 10 km rebentou uma câmara-de-ar de um colega meu. Entrámos todos logo em ação para a substituir o mais depressa possível para não perdermos tempo. Nesse dia houve mais uns três ou quatro problemas com bicicletas e no resto dos dias houve ainda mais… Faz parte!
Chegámos ao final de um dia inteiro a pedalar, 84 km com paragem apenas para o almoço, completamente exaustos, como era de esperar. De facto, o Caminho de Santiago não é um caminho fácil, é um caminho com mais subidas do que descidas, terreno muito mau (maior parte do percurso é feito por trilhos que vão acompanhando a Estrada Nacional e cruzando-a de vez em quando) pelo meio de aldeias e florestas, calçada romana em mau estado, até zonas tão complicadas que nem os melhores ciclistas se atrevem a subir de bicicleta!
O primeiro dia não foi muito mau, excetuando a subida ingreme de 1,5 km de comprimento, que nos matou a todos e mais umas subidas antes e depois. Ao chegar ao albergue só queríamos tomar um bom banho e descansar. Mas havia um problema: o albergue só tinha uma casa de banho minúscula! Fomos todos, um de cada vez, tomar um banho rápido, rezando para que a água se mantivesse quente…
Nos albergues íamos conhecendo outros peregrinos e percebendo os motivos da sua peregrinação. Há pessoas de várias nacionalidades a fazerem o caminho Português: Espanhóis, Brasileiros, Belgas, até Irlandeses! (esses ficaram contentes por me conhecer, por ser semi-Irlandês). Um senhor Belga que conheci estava a fazer o caminho pela 4ª vez! E não era o único. Muitos peregrinos, após fazerem o caminho uma vez, repetem-no várias vezes. É realmente uma experiência fantástica.
Levantávamo-nos todos os dias às 5h30 da manhã e sempre que tínhamos tempo fazíamos uma oração com música, uma passagem do evangelho e a oração do peregrino. Depois começávamos a pedalar e quando chegávamos a um café tomávamos um pequeno-almoço rápido… e recomeçávamos a dar aos pedais.
Durante o caminho, sempre que me isolava para a frente do grupo, aproveitava para rezar um pouco. Numa dessas ocasiões distraí-me de tal maneira a rezar que comecei a avançar demasiado depressa em relação ao resto do grupo sem me aperceber e um professor teve que sprintar para me apanhar e dizer para eu abrandar… A oração é, sem dúvida, o melhor “doping” que pode haver!
A chegada a Santiago é muito bonita. Sentimos uma data de emoções juntas: “Finalmente chegámos”, “nem acredito que já estamos a terminar”, “conseguimos!”, “doem-me as pernas”… Ficámos essa noite num colégio Cluny e no dia seguinte fomos à missa do peregrino na Catedral. Foi uma missa muito bonita, com padres de todo o mundo a concelebrar. Tivemos que nos sentar no chão, mas depois de pedalar 350 km já nada custava. O famoso momento em que se balança o Bota-fumeiro enorme quase até ao teto também é emocionante e toda a gente começa a filmar, com os dois órgãos de tubos lindíssimos a tocar muito alto.
Depois de 4 dias, 350 km, não-sei-quantos problemas de bicicletas, estrada em calçada e terra batida até dizer chega, dezenas de “buen camino” ditos a outros peregrinos, chegámos ao fim da nossa jornada. Mas chegámos diferentes. Chegámos mais unidos como grupo, chegámos com mais experiência, olhando para as coisas de forma diferente. Aprendemos a levar connosco apenas o essencial, para não fazer peso na mochila, deixar os bens materiais que não necessitamos para trás. Já sabemos o que é um terreno difícil de percorrer (de tal modo que já estamos a combinar uma ida à praia de Mira de bicicleta. São só 66 km ida e volta, não é nada!).
Foi uma experiência fantástica e uma experiência que eu quero repetir. Talvez a pé ou a cavalo, para a próxima… quem me acompanha?
Na próxima semana, o Francisco vai de bicicleta a Santiago de Compostela, juntamente com alguns colegas e professores do colégio. Irão em peregrinação e em passeio, e serão com toda a certeza cinco dias memoráveis. Pode ser que ele vos conte depois!
Assim, o Francisco tem aproveitado as férias para se tornar um verdadeiro ciclista, praticando todos os dias um pouco, geralmente na companhia dos seus amigos. Na quarta-feira passada saiu de casa com um amigo pelas oito da manhã:
Duas horas e trinta quilómetros mais tarde, os dois amigos chegaram à praia, e têm uma selfie a prová-lo:
Mais duas horas e trinta quilómetros, e chegaram a casa ao mesmo tempo que nós, vindos também de uma outra praia, mas no conforto do nosso carro! Almoçámos todos juntos, partilhando histórias e gargalhadas. Sessenta quilómetros numa manhã! Acho que estão preparados para a grande aventura...
De vez em quando, na nossa vida, somos confrontados com desafios maiores do que nós mesmos, capazes de testar até ao limite a matéria de que somos feitos. Para uns, é uma mudança de país, para outros, uma doença, para outros ainda, a perda de um ente querido, ou uma situação de desemprego, ou uma gravidez indesejada. De vez em quando, na nossa vida, somos desafiados a "partir de bicicleta" rumo ao desconhecido. E porque estas "peregrinações" forçadas não costumam fazer-se anunciar, é preciso estar preparados... Jesus não se referia apenas ao momento da morte, mas a todas as situações de batalha na nossa vida, quando contou aos seus discípulos esta parábola sobre a vigilância:
"Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais." (Mt 24, 42-44)
Que seria do Francisco para a semana, se não estivesse em boa forma física? Que será de nós, quando a grande prova chegar - porque chegará para todos, alguma vez na vida - se não estivermos em boa forma espiritual? O ideal mesmo é começar a treinar em criança - como o Francisco em relação à bicicleta -, trabalhando o carácter, praticando a virtude, adquirindo bons hábitos. Mas para Deus, nunca é tarde para começar!
Controlar a fúria perante uma situação enervante no trabalho, calar uma resposta à provocação do conjuge, aguentar uma dor de cabeça sem um queixume, não fazer as conversas girar à volta de si mesmo, aceitar uma injustiça na escola ou um professor implicante, desligar o televisor à primeira chamada da mãe, repetir vezes sem conta o "Nós, Jesus", ou "Tu queres, Senhor? Então eu também quero!" Tudo isto são pequenas pedaladas, aparentemente insignificantes. Mas são estes "passeios curtos" que nos vão permitir, de um momento para o outro, arrancar na grande peregrinação da nossa vida!
Ofereçamos aos nossos filhos muitas ocasiões de treino, educando-os com carinho, mas com firmeza. Quanto a nós... Porque não começamos hoje mesmo a treinar?
Num dos cruzamentos da estrada nacional, que todos os dias percorro, esteve durante toda a semana passada esta bela tenda branca:
Há quatro décadas que os peregrinos de Fátima encontram aqui uma sombra fresca, água abundante e os primeiros socorros necessários, especialmente todo o cuidado dos pés e das pernas. Os bombeiros de Anadia e outras pessoas de boa vontade disponibilizam-se todos os anos para este trabalho tão bonito e necessário de serviço aos peregrinos, e a tenda branca levanta-se na estrada como símbolo concreto e real do amor cristão. Na verdade, ao ver os peregrinos descalços, com os pés dentro de bacias de água, e os voluntários ajoelhados a seu lado, tratando as bolhas dos seus pés, não pude senão lembrar-me das palavras de Jesus:
"Se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros."
(Jo 13, 14)
Pensei também na parábola do Bom Samaritano:
"Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele." (Lc 10, 33-34)
Foram estas imagens do verdadeiro amor cristão que inspiraram naturalmente o Papa Francisco e oferecer-nos uma imagem da Igreja - uma imagem nova, mas antiga, tão antiga quanto o Evangelho:
«Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo».(Entrevista à Revista Brotéria, Setembro 2013)
“Essa é a missão da Igreja, que cura e cuida. Algumas vezes, eu falei da Igreja como um hospital de campanha. É verdade: quantas feridas há, quantas feridas! Quanta gente que tem necessidade de que suas feridas sejam curadas! Essa é a missão da Igreja: curar as feridas do coração, abrir portas, libertar e dizer que Deus é bom, que perdoa tudo, que é Pai, é terno e nos espera sempre”. (Homilia de 5-2-15)
A tenda branca à beira da estrada, os peregrinos a caminho de Fátima...
A Igreja à beira da estrada da vida, e cada um de nós, peregrino a caminho da verdadeira Pátria...
Não tenhamos receio de nos aproximar da Igreja, de descalçar os sapatos e de deixar que nos cuidem das feridas. Não hesitemos em estender a mão para receber o alimento, beber da Água da Vida, recuperar as nossas forças! Os sacramentos que Jesus nos deixou são os remédios mais eficazes para quem peregrina pelas estradas da vida.
Depois, assim curados e alimentados, sejamos também nós capazes de nos ajoelhar diante do irmão e de lhe lavar os pés...
Ao longo destes últimos dias, a minha vista, durante os curtos trajetos de carro entre a casa, a escola e o colégio foi esta:
A fila de peregrinos foi constante e ininterrupta, ao longo de todo o dia. Caminhavam com alegria e entusiasmo, acenavam quando lhes sorriamos. Nestes dias que antecedem o dia treze, todos os caminhos parecem ir dar a Fátima.
Enquanto os via passar, sentia os olhos molhados. Durante toda a semana anterior, os meus alunos escuteiros trouxeram ao pescoço o lenço que os identifica, em homenagem aos dois jovens escuteiros falecidos no caminho de Fátima, no trágico acidente que vitimou cinco peregrinos, às quatro horas da madrugada. A morte não pareceu, contudo, assustar os peregrinos, que continuaram a caminhar, e que hoje, dia treze, devem estar cansados, transpirados, esgotados - felizes, louvando Jesus e Nossa Senhora, em Fátima.
O caminho dos peregrinos é frágil. Nele, a morte e a vida parecem separadas por um fino véu, por uma fração de segundo, por um passo a mais fora do tracejado.
Como o caminho dos peregrinos, também o caminho da vida é frágil. O perigo espreita a cada esquina, e a morte surge de improviso tantas e tantas vezes.
Porque não protege Nossa Senhora os seus peregrinos? Porque não protege Nosso Senhor os seus fiéis? E no entanto, o Evangelho assegura-nos:
"Nenhum passarinho cai por terra sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados." (Mt 10, 29-30)
Talvez a proteção divina seja um conceito bem diferente do nosso... Talvez Deus nos proteja e nos guarde, mesmo quando permite o mal, a doença, a morte... Talvez o amor de Deus seja tão grande, tão poderoso, tão infinito e tão profundo, que nada, nada mesmo, nem a morte, nem a doença, nem sequer o pecado sejam capazes de o beliscar. Talvez o verdadeiro perigo mortal não seja morrer à beira da estrada, mas caminhar nela sem amor...
Disse S. Paulo:
"Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?
A tribulação, a angústia, a perseguição,
a fome, a nudez,
o perigo, a espada?
Estou convencido de que nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados,
nem o presente, nem o futuro,
nem a altura, nem o abismo
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus!"
(Rm 8, 35-39)
Depois de verem Nossa Senhora, os pastorinhos nada mais desejavam do que estar eternamente junto dela. Diz-se que a Irmã Lúcia, velhinha, no Carmelo de Coimbra, suspirava muitas vezes: "Mãe querida, disseste-me que tinha de ficar na terra mais um bocadinho... É a isto que chamas "mais um bocadinho"?" Um pequeno vislumbre do céu é suficiente para reorientar todas as prioridades de uma vida!
Não somos senão peregrinos nesta Terra, caminhando à beira da estrada em direção ao Céu. Que o nosso caminho seja feito de amor concreto, simples e alegre, como o caminho de tantos peregrinos de Fátima; e que a morte, ao colher-nos por fim numa qualquer curva da nossa peregrinação, não faça senão lançar-nos mais depressa na meta.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós!
O dia um de maio foi um dia muito especial para o David: ia participar na sua primeira peregrinação anual de acólitos a Fátima! Acordou cheio de energia e, pelas oito da manhã, estava no Santuário, pronto para a viagem. Nós acompanhámo-lo com a nossa oração e o nosso amor, e ao longo do dia fomos imaginando os seus passos. Mas tivemos de esperar pelas oito horas da noite para escutar, da sua boca, o relato de um dia fantástico.
- Mãe, eram seis mil acólitos! Nem imaginas! Tantos, tantos!
- Deve ter sido lindo, David! Como foi na missa? Parecia um manto de neve na basílica, não?
- Sim, parecia mesmo! Tudo branco...
- E sentiste-te bem com o grupo? São todos amigos?
- Muito bem! As crescidas tomaram conta de mim.
- E sabes, mãe, os acólitos são muito animados. Fizemos brincadeiras e cantámos canções de Jesus!
- Mas o mais bonito foi a procissão do Santíssimo. Mãe, tu terias adorado! Eu sei que terias! Nem imaginas como foi bonito, dar a volta ao Santuário atrás de Jesus...
Enquanto escutava o David, pensava no Livro do Apocalipse:
"Depois disto, apareceu na visão uma multidão enorme que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão. E aclamavam em alta voz.
Ele disse-me: «Estes são os que vêm da grande tribulação; lavaram a suas túnicas e branquearam-nas no sangue do Cordeiro.»"
(Ap 7, 9.14)
O David ainda não tinha terminado:
- Mãe, o senhor padre pagou o almoço.
- Ai sim? Então trouxeste de volta os dez euros que te dei esta manhã?
- Não! Quer dizer, trouxe uma moeda.
- Uma moeda? Dois euros?
- Não! Cinquenta cêntimos. Toma!
E estendeu-me a moeda, muito orgulhoso. E antes que eu pudesse reagir, estendeu-me três embrulhos:
- Comprei presentes para o Dia da Mãe. Nem imaginas como são lindos! Eu sei que vais adorar. Abre, abre!
- Mas hoje ainda não é Dia da Mãe, David!
- Ah, mas são tão lindos, vais adorar!
Abri os presentes, depois de trocar um olhar divertido com o Niall e decidir interiormente dar em breve uma lição de economia ao meu filho. Os presentes, contudo, deixaram-me sem palavras:
Abracei o David com força, emocionada com o seu amor.
- Gostas, mãe?
- Lindo, David! Presentes lindos mesmo! Obrigada! Escolheste as prendas mais belas do mundo. Vou colocar o crucifixo e o terço com perfume de rosas na minha mesa de cabeceira, e o anjinho diante da fotografia do Tomás. Pode ser?
- Eu sabia que ias gostar!
- E não compraste nada para ti?
- Comprei. Comprei estes binóculos! O que eu queria mesmo comprar era um avião, mas achei que podia fazer um sacrifício, já que estava em Fátima. Assim comprei os binóculos, que foram mais baratos e fiquei com mais dinheiro para comprar as tuas prendas, e ainda pude oferecer o sacrifício.
Cancelei interiormente a minha lição de economia.
À noite, quem parecia uma criança era eu, adormecendo de terço na mão e com o crucifixo ao lado da almofada. Antes de fechar os olhos, pedi ao Senhor que mantenha sempre limpa a túnica interior do David; e se por acaso ele a sujar na lama do mundo, que tenha a simplicidade de a branquear de novo no Sangue do Cordeiro...
No blogue da Lena podem encontrar alguns vídeos e textos sobre este dia. Espreitem!