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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Na próxima semana, o Francisco vai de bicicleta a Santiago de Compostela, juntamente com alguns colegas e professores do colégio. Irão em peregrinação e em passeio, e serão com toda a certeza cinco dias memoráveis. Pode ser que ele vos conte depois!
Assim, o Francisco tem aproveitado as férias para se tornar um verdadeiro ciclista, praticando todos os dias um pouco, geralmente na companhia dos seus amigos. Na quarta-feira passada saiu de casa com um amigo pelas oito da manhã:
Duas horas e trinta quilómetros mais tarde, os dois amigos chegaram à praia, e têm uma selfie a prová-lo:
Mais duas horas e trinta quilómetros, e chegaram a casa ao mesmo tempo que nós, vindos também de uma outra praia, mas no conforto do nosso carro! Almoçámos todos juntos, partilhando histórias e gargalhadas. Sessenta quilómetros numa manhã! Acho que estão preparados para a grande aventura...
De vez em quando, na nossa vida, somos confrontados com desafios maiores do que nós mesmos, capazes de testar até ao limite a matéria de que somos feitos. Para uns, é uma mudança de país, para outros, uma doença, para outros ainda, a perda de um ente querido, ou uma situação de desemprego, ou uma gravidez indesejada. De vez em quando, na nossa vida, somos desafiados a "partir de bicicleta" rumo ao desconhecido. E porque estas "peregrinações" forçadas não costumam fazer-se anunciar, é preciso estar preparados... Jesus não se referia apenas ao momento da morte, mas a todas as situações de batalha na nossa vida, quando contou aos seus discípulos esta parábola sobre a vigilância:
"Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais." (Mt 24, 42-44)
Que seria do Francisco para a semana, se não estivesse em boa forma física? Que será de nós, quando a grande prova chegar - porque chegará para todos, alguma vez na vida - se não estivermos em boa forma espiritual? O ideal mesmo é começar a treinar em criança - como o Francisco em relação à bicicleta -, trabalhando o carácter, praticando a virtude, adquirindo bons hábitos. Mas para Deus, nunca é tarde para começar!
Controlar a fúria perante uma situação enervante no trabalho, calar uma resposta à provocação do conjuge, aguentar uma dor de cabeça sem um queixume, não fazer as conversas girar à volta de si mesmo, aceitar uma injustiça na escola ou um professor implicante, desligar o televisor à primeira chamada da mãe, repetir vezes sem conta o "Nós, Jesus", ou "Tu queres, Senhor? Então eu também quero!" Tudo isto são pequenas pedaladas, aparentemente insignificantes. Mas são estes "passeios curtos" que nos vão permitir, de um momento para o outro, arrancar na grande peregrinação da nossa vida!
Ofereçamos aos nossos filhos muitas ocasiões de treino, educando-os com carinho, mas com firmeza. Quanto a nós... Porque não começamos hoje mesmo a treinar?
Num dos cruzamentos da estrada nacional, que todos os dias percorro, esteve durante toda a semana passada esta bela tenda branca:
Há quatro décadas que os peregrinos de Fátima encontram aqui uma sombra fresca, água abundante e os primeiros socorros necessários, especialmente todo o cuidado dos pés e das pernas. Os bombeiros de Anadia e outras pessoas de boa vontade disponibilizam-se todos os anos para este trabalho tão bonito e necessário de serviço aos peregrinos, e a tenda branca levanta-se na estrada como símbolo concreto e real do amor cristão. Na verdade, ao ver os peregrinos descalços, com os pés dentro de bacias de água, e os voluntários ajoelhados a seu lado, tratando as bolhas dos seus pés, não pude senão lembrar-me das palavras de Jesus:
"Se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros."
(Jo 13, 14)
Pensei também na parábola do Bom Samaritano:
"Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele." (Lc 10, 33-34)
Foram estas imagens do verdadeiro amor cristão que inspiraram naturalmente o Papa Francisco e oferecer-nos uma imagem da Igreja - uma imagem nova, mas antiga, tão antiga quanto o Evangelho:
«Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo».(Entrevista à Revista Brotéria, Setembro 2013)
“Essa é a missão da Igreja, que cura e cuida. Algumas vezes, eu falei da Igreja como um hospital de campanha. É verdade: quantas feridas há, quantas feridas! Quanta gente que tem necessidade de que suas feridas sejam curadas! Essa é a missão da Igreja: curar as feridas do coração, abrir portas, libertar e dizer que Deus é bom, que perdoa tudo, que é Pai, é terno e nos espera sempre”. (Homilia de 5-2-15)
A tenda branca à beira da estrada, os peregrinos a caminho de Fátima...
A Igreja à beira da estrada da vida, e cada um de nós, peregrino a caminho da verdadeira Pátria...
Não tenhamos receio de nos aproximar da Igreja, de descalçar os sapatos e de deixar que nos cuidem das feridas. Não hesitemos em estender a mão para receber o alimento, beber da Água da Vida, recuperar as nossas forças! Os sacramentos que Jesus nos deixou são os remédios mais eficazes para quem peregrina pelas estradas da vida.
Depois, assim curados e alimentados, sejamos também nós capazes de nos ajoelhar diante do irmão e de lhe lavar os pés...
Ao longo destes últimos dias, a minha vista, durante os curtos trajetos de carro entre a casa, a escola e o colégio foi esta:
A fila de peregrinos foi constante e ininterrupta, ao longo de todo o dia. Caminhavam com alegria e entusiasmo, acenavam quando lhes sorriamos. Nestes dias que antecedem o dia treze, todos os caminhos parecem ir dar a Fátima.
Enquanto os via passar, sentia os olhos molhados. Durante toda a semana anterior, os meus alunos escuteiros trouxeram ao pescoço o lenço que os identifica, em homenagem aos dois jovens escuteiros falecidos no caminho de Fátima, no trágico acidente que vitimou cinco peregrinos, às quatro horas da madrugada. A morte não pareceu, contudo, assustar os peregrinos, que continuaram a caminhar, e que hoje, dia treze, devem estar cansados, transpirados, esgotados - felizes, louvando Jesus e Nossa Senhora, em Fátima.
O caminho dos peregrinos é frágil. Nele, a morte e a vida parecem separadas por um fino véu, por uma fração de segundo, por um passo a mais fora do tracejado.
Como o caminho dos peregrinos, também o caminho da vida é frágil. O perigo espreita a cada esquina, e a morte surge de improviso tantas e tantas vezes.
Porque não protege Nossa Senhora os seus peregrinos? Porque não protege Nosso Senhor os seus fiéis? E no entanto, o Evangelho assegura-nos:
"Nenhum passarinho cai por terra sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados." (Mt 10, 29-30)
Talvez a proteção divina seja um conceito bem diferente do nosso... Talvez Deus nos proteja e nos guarde, mesmo quando permite o mal, a doença, a morte... Talvez o amor de Deus seja tão grande, tão poderoso, tão infinito e tão profundo, que nada, nada mesmo, nem a morte, nem a doença, nem sequer o pecado sejam capazes de o beliscar. Talvez o verdadeiro perigo mortal não seja morrer à beira da estrada, mas caminhar nela sem amor...
Disse S. Paulo:
"Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?
A tribulação, a angústia, a perseguição,
a fome, a nudez,
o perigo, a espada?
Estou convencido de que nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados,
nem o presente, nem o futuro,
nem a altura, nem o abismo
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus!"
(Rm 8, 35-39)
Depois de verem Nossa Senhora, os pastorinhos nada mais desejavam do que estar eternamente junto dela. Diz-se que a Irmã Lúcia, velhinha, no Carmelo de Coimbra, suspirava muitas vezes: "Mãe querida, disseste-me que tinha de ficar na terra mais um bocadinho... É a isto que chamas "mais um bocadinho"?" Um pequeno vislumbre do céu é suficiente para reorientar todas as prioridades de uma vida!
Não somos senão peregrinos nesta Terra, caminhando à beira da estrada em direção ao Céu. Que o nosso caminho seja feito de amor concreto, simples e alegre, como o caminho de tantos peregrinos de Fátima; e que a morte, ao colher-nos por fim numa qualquer curva da nossa peregrinação, não faça senão lançar-nos mais depressa na meta.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós!
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