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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Durante as férias da Páscoa, fomos ao parque da Curia, como já é habitual. O Francisco, a Clarinha e o David fizeram de bicicleta os dois quilómetros que nos separam da Curia, e eu segui no carro com os três mais novos.
O parque estava lindo, cheio de luz e de sombras, de caminhos enlameados onde se refletiam os raios de sol, que teimavam em espreitar pelas altas copas das árvores.
- Vamos explorar, mãe! Até já! - Disseram quase todos ao mesmo tempo, deixando-me com a Sara pela mão. Mas a Sara também quis explorar, claro, e obrigou-me a correr pelos carreiros atrás dos meus filhos.
- Mãe, vem cá ver! Encontrámos uma coisa maravilhosa!
- Maravilhosa! A melhor brincadeira do mundo!
- Nem imaginas! Dá para fazer coisas fantásticas!
- Já subimos e descemos e já andámos de baloiço ali e tudo!
Fiquei cheia de curiosidade. O que seria? Cheguei a uma clareira, e vi... Bem, vejam vocês comigo:
Julgo que terá sido uma das recentes tempestades a lançar por terra estas árvores grandiosas e belas, que fazem do parque da Curia um lugar tão especial...
Árvores caídas. Árvores arrancadas pela raiz. Árvores que já não se elevam para os céus, mas se misturam com a lama e a terra. Árvores que em vez de raizes, enterram as folhas e as flores. Para nós, adultos, a visão de uma árvore tombada é desoladora.
Mas os meus filhos não vêem as coisas assim...
Para eles, as árvores tombadas transformaram-se em baloiços, labirintos, paredes de escalada, lugar de brincadeira. Foi ali mesmo, ao lado daquelas pobres árvores, que lanchámos e que passámos a maior parte da tarde.
De regresso a casa, dei comigo a sorrir sozinha. É tão giro ver as crianças a tirar proveito de tudo! A árvore já não nos dá oxigénio? Sempre nos pode servir de baloiço. A árvore já não abriga os passarinhos? Mas agora abriga as centopeias... Razão tem o Senhor ao dizer que precisamos de um coração de criança para sermos verdadeiramente felizes!
Fiquei a pensar na quantidade de coisas e acontecimentos da vida que podemos, como as crianças, explorar de forma diferente daquela com que foram planeados ou desejados: o emprego que tenho não me dá a riqueza que eu merecia? Talvez me torne rico em humildade... O namoro não correu bem? Quantas lições me ensinou! Os filhos não aprendem com facilidade? Vão certamente aumentar a minha paciência. Os professores não explicam como deveriam? Se explicassem, nunca me teriam feito procurar as respostas por mim mesmo. Sofri uma injustiça? Que ótima oportunidade para unir o meu coração ao de Jesus! Não encontro ninguém com quem casar, ou não consigo engravidar? Talvez esta "árvore caída" me ofereça uma oportunidade novinha em folha de responder a uma vocação diferente e especialíssima do Senhor! A reunião de trabalho parece interminável? Espero que me poupe pelo menos meia hora de purgatório :)
Através de Isaías, o Senhor assegura-nos que é no deserto que brotam os seus rios divinos, e da terra queimada que surgem os seus lagos:
"As águas jorrarão do deserto e a terra queimada mudar-se-á em lago, as fontes brotarão da terra seca." (Is 35, 6-7)
Cada vez que recordo as gargalhadas no nosso piquenique na Curia, vem-me ao pensamento uma oração... Rezem-na comigo: "Jesus, dá-me um coração de criança, para que eu saiba sempre brincar em cima de qualquer árvore caída na minha vida! Ámen."
O verão está quase a terminar. Os dias longos na praia e na montanha estão a chegar ao fim... Com a ânsia de não desperdiçar a mais pequena parcela do verão, temos multiplicado as manhãs de praia e os piqueniques no Caramulo, pelo menos ao fim-de-semana. Assim, no sábado passado lá fomos nós até ao nosso lago preferido.
Mas o lago não estava com a transparência do costume:
- Mãe, olha, a água está cheia de folhas e algas!
- Vamos apanhar o lixo todo com as nossas redes antes de mergulharmos!
- Sim, vamos!
- Não se preocupem, meninos, que este lixo não é lixo humano - Apressei-me a explicar - É simplesmente o resultado da falta de chuva.
- Nós sabemos! Anda, David, vem mergulhar!
E lá fomos todos!
Enquanto os meninos brincavam na água, aproximei-me da fonte que alimenta o lago. Que diferente estava! Em vez de correr em bica, abundante, transparente e fresca, a água pingava vagarosamente no pequeno tanque, onde adormecia numa poça de musgo e algas.
As águas que deixam de correr tornam-se pouco a pouco num charco lamacento e mal cheiroso... Sem força para rebentar os diques e transbordar, as águas paradas perdem a frescura, a novidade e a beleza. Lembrei-me de Isaías:
"Assim como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, o mesmo sucede à Palavra que sai da minha boca. Não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha vontade e sem cumprir a sua missão." (Is 55, 10-11)
A Palavra do Senhor é chuva que faz as fontes romper a terra e os rios transbordar. A Palavra do Senhor é água de torrente, capaz de romper os diques e inundar os campos. A Palavra do Senhor desimpede charcos e desinstala vidas, incapaz de se deter.
Não tenho qualquer dúvida de que as torrentes de migrantes que chegam às praias do Mediterrâneo todos os dias são, para nós Europa, Palavra do Senhor, a única capaz de nos desinstalar e de nos desafiar ao amor... Como o pequeno lago do Caramulo, também o nosso continente e os nossos corações precisam de se deixar inundar, derrubando todos os muros, para que a Água Viva nos limpe, nos liberte, nos purifique e nos salve.
Queremos escutar a voz de Deus no conforto de um sofá, mas Ele só Se faz ouvir na torrente que desinstala...
Na quarta-feira fomos passar a tarde ao pequeno refúgio da serra do Caramulo, onde gostamos de fazer piqueniques e de nadar. Pela primeira vez desde que conhecemos este lugar paradisíaco, há três anos, partilhámos o "nosso" lago com desconhecidos: duas crianças, talvez da idade do David, brincavam alegremente na água. A sua conversa em francês permitiu-nos concluir que se tratavam de filhos de emigrantes, de férias na sua aldeia natal.
Surpreendidos com estes companheiros inesperados de brincadeira, o David, a Lúcia e o António tentaram uma aproximação. As crianças eram simpáticas e bem dispostas, mas estavam a fazer algo que horrorizou os nossos filhos: pegavam em pequenas rãs e apertavam-nas entre os dedos.
- Deixa-a em paz! - Gritava o David, muito aflito. - Não vês que vais matar a rã?
- Mas ela é venenosa! - Respondia o rapazinho, num português trapalhão. - Sabes que as rãs são venenosas?
Os nossos filhos abriam os olhos de espanto:
- Venenosas? As rãs?
- Sim! Elas têm uns furinhos na cabeça por onde ejetam um veneno que te pode cegar para sempre! Para sempre! São muito, muito más!
E com um gesto propositado, o rapazinho estendia o punho cerrado com a rã lá dentro diante do narizito da Sara, tentando assustá-la. A Sara, claro, ficava impávida e serena.
Observando a interação entre as crianças, passaram-me muitas perguntas pela mente.
Como terão aquelas crianças chegado à conclusão de que as rãs são animais perigosos e merecedores da morte? E da mesma forma - como terão os meus filhos descoberto a beleza das rãs, a sua fragilidade e a sua riqueza? (Bem, esta é fácil...)
De que forma olhamos nós para o mundo que nos rodeia, em particular os nossos vizinhos, as nossas escolas, os nossos locais de trabalho? Vemos veneno em toda a parte, ou procuramos encontrar em tudo a beleza escondida de Deus? Há tantas "teorias da conspiração" a sugar-nos a alegria de viver!
Deverei eu afastar os meus filhos dos locais onde convivem meninos "maldosos"? Serão eles más companhias? De novo, prefiro a perspetiva oposta: os meus filhos é que são boas companhias para essas crianças... Serão as escolas locais seguros? A esmagadora maioria dos professores são pessoas bem intencionadas, procurando educar as crianças nos valores humanos universais.
Quem poderá destruir os nossos filhos e roubar-lhes a inocência? Bem, muita gente, mas apenas - e esta é a grande questão - se nós, pais, deixarmos brechas abertas por onde os ladrões assaltem. Pais que abandonam os seus filhos em frente do televisor ou do computador, ou por horas sem fim no ATL ou na escola; pais que não têm tempo para escutar e observar, conversar e ensinar, são pais que deixam assaltar o seu castelo.
Há um caminho seguro para educarmos uma criança. Tem sido percorrido pelos crentes desde o tempo de Moisés:
"Estes mandamentos que hoje te imponho estarão no teu coração. Repeti-los-ás aos teus filhos e refletirás sobre eles, tanto sentado em tua casa, como ao caminhar, ao deitar ou ao levantar. Escrevê-los-ás sobre as ombreiras da tua casa e nas tuas portas." (Dt 6, 6-9)
Na sua catequese nesta mesma quarta-feira, 26 de agosto, o Papa atualizou esta Palavra:
"Na vida da família, além das horas de trabalho e dos momentos de festa, há também o tempo da oração. Sabemos como o tempo é sempre pouco; nunca chega para tudo. É frequente ouvir este lamento: «Devia rezar mais…, mas não tenho tempo». Quem tem uma família, aprende a resolver uma equação que nem os grandes matemáticos conseguem: dentro das vinte e quatro horas do dia, fazem entrar o dobro. Há pais e mães que merecem o Prémio Nobel por isso! O segredo está no afecto que provam pelos seus.
É belo ver as mães ensinando aos filhos pequeninos a mandar um beijo a Jesus ou à sua Mãe bendita. Está aqui o espírito da oração, que nos leva a arranjar tempo para Deus, fazendo-nos sair da obsessão duma vida onde sempre falta tempo, para encontrar a paz das coisas necessárias. E a coisa verdadeiramente essencial, a «parte melhor» do tempo é aquela em que se escuta o Senhor, como fez Maria de Betânia. O Evangelho, lido e meditado em família, é como um pãozinho bom que nutre o coração de todos."
Sejamos então capazes de resolver a grande equação que nos propõe o Papa e, nas vinte e quatro horas de cada dia, dar à catequese e oração familiares o primeiro lugar! A Palavra de Deus, escutada, meditada, partilhada compensará qualquer outra influência que os nossos filhos possam ter recebido durante o seu dia e moldará os seus corações e as suas vidas. Olhemos para Santa Mónica e Santo Agostinho, que a Igreja celebra nos dias 27 e 28 de agosto: a oração da mãe obteve do céu a santidade do filho...
Uma das coisas que gostamos de fazer nas tardes longas de verão é apanhar amoras. Fazemo-lo por detrás da nossa casa, em Náturia (para quem ainda não sabe o que é Náturia, por favor cliquem aqui), e fazemo-lo nas caminhadas que vamos dando.
Outro dia, numa pequena aldeia da serra do Caramulo, onde fizemos um belo piquenique na companhia de amigos, fomos surpreendidos com uma abundância inusitada de amoras ladeando as ruas e preenchendo as ruinas de granito. Que maravilha! Bastava esticar o braço, para logo se poderem saborear as mais deliciosas amoras, escuras e doces.
Bem, esticar só o braço não chegava... Era preciso também afastar os espinhos que envolviam os arbustos! Por cada amora saboreada, aguentávamos várias picadas nos dedos e nas pernas...
- Abre a mão, Sara! Toma uma amora docinha!
- Cavalitas! Cavalitas!
- Sim, Sara, eu sei, às cavalitas é mais fácil!
Enquanto me saciava de amoras e as partilhava com a minha família, lembrei-me do salmo 33/34, que nos três últimos domingos temos cantado na missa:
"Saboreai e vede como o Senhor é bom!"
Caminhando pelas majestosas ruinas de uma aldeia passada, eu saboreava amoras - e saboreava a bondade do Senhor, de Quem recebo todos os bens: a vida, a família, a casa, o trabalho, os amigos, o amor, o Pão Vivo, a fé, o alimento, a saúde... Tanto a agradecer!
Mas quantas vezes deixo de receber algum bem que Deus me quer oferecer, simplesmente porque tenho medo de me picar nos arbustos que o envolvem?... Ah, o que o medo pode fazer!
Senhor, não deixes que o medo do sofrimento me impeça de saborear o teu amor! Senhor, não deixes que a dor me faça encolher os dedos e fechar a mão diante dos bens que me queres dar... Ámen.
O nosso piquenique na semana passada teve a agradável companhia de amigos. O tempo estava encoberto, a água estava fria, mas os meninos não pareciam cansar-se de mergulhar e apanhar rãs! Por fim, decidimos que eram horas de todos se vestirem e de fazermos uns passeios pela aldeia. E foi assim que os nossos seis filhos e o seu pequeno amigo tiveram a alegria de explorar uma aldeia de granito, com casas lindíssimas, ruas estreitas e íngremes, e muitas, muitas ruinas. Haverá alguma coisa mais interessante para se fazer aos cinco, aos seis, aos nove anos do que explorar casas em ruinas e imaginar aventuras fantásticas no seu interior?
Ou aos aos catorze, ou aos dezasseis anos, claro!
Espreitando por entre os pilares de um espigueiro abandonado, vislumbrei a torre da igreja paroquial, envolvida em nuvens...
Enquanto os meninos exploravam as ruinas com alegres gargalhadas, a minha imaginação fértil pôs-se a recriar esta mesma aldeia há muitos anos atrás, quando as famílias tinham dez, doze filhos, e as crianças brincavam em bando, rua acima, rua abaixo... Ao domingo, o sino da igreja congregava as famílias para a festa da eucaristia, e aos serões, rezava-se o rosário...
Talvez não fosse tudo assim tão cor-de-rosa como no meu sonho, ou talvez o meu sonho ainda esteja por realizar. Recordo-me das palavras poderosíssimas do Papa Francisco na homilia sobre as Bodas de Caná, que fez no dia 6 de julho de 2015:
"O melhor dos vinhos aguardamo-lo com esperança, ainda não veio para cada pessoa que aposta no amor. O melhor vinho ainda não chegou para aqueles que hoje vêem desmoronar-se tudo. Murmurai isto até acreditá-lo: o melhor vinho ainda não veio. Murmurai-o cada um no seu coração: o melhor vinho ainda não veio. Deus sempre Se aproxima das periferias de quantos ficaram sem vinho, daqueles que só têm desânimos para beber; Jesus sente-Se inclinado a desperdiçar o melhor dos vinhos com aqueles que, por uma razão ou outra, sentem que já se lhes romperam todas as talhas."
Afinal, o nosso Deus é um Deus acostumado a restaurar ruinas. Ao longo da História de Israel, não fez Ele outra coisa! Com grande entusiasmo, os profetas ensinam-nos a exultar de alegria, mesmo quando a nossa vida não passa de um monte de ruinas:
"Ruinas de Jerusalém, irrompei em cânticos de alegria, porque o Senhor consola o seu povo, com a libertação de Jerusalém!"
(Is 52, 9)
"As velhas ruinas serão restauradas, levantarão os antigos escombros, restaurarão as cidades destruídas e os escombros de muitas gerações!" (Is 61, 4)
E Jesus não hesita em transformar a nossa água em vinho, se Lhe oferecermos as nossas bilhas, as nossas talhas, os pequenos tanques da nossa vida...
Talhas rotas, escombros de muitas gerações, casas abandonadas, ruinas de vidas inteiras... Ah, se tivermos a coragem de tudo oferecer ao Senhor, e nos abrirmos à sua ação libertadora, irromperemos em cânticos de alegria!
Um dia, a nossa vida ressurgirá dos escombros e seremos plenamente felizes!
Um dia - e não é só um sonho lindo - as antigas aldeias ressurgirão renovadas, brilhantes como pérolas preciosas, transbordando de crianças e de vizinhos que se entreajudam. Não estarão já entre nós, como Aldeias de Caná?...
No domingo passado, fomos fazer um piquenique a um dos nossos "paraísos" preferidos: uma pequena aldeia na serra do Caramulo, onde podemos nadar, passear e contemplar a Criação sem pressas e sem ruídos, para além do cantar dos grilos, do coaxar das rãs ou do balir das ovelhas.
- Mãe, já viste aquela ovelhinha tão pequenina?
- Sim, Lúcia, olha, ela vai mamar!
Nalguns dos nossos piqueniques neste refúgio natural, o coaxar das rãs é tão intenso, que abafa o som da nossa própria conversa. Os meninos adoram procurar rãs e sapos no charco junto ao lago.
- Olha, papá, vês aquela rã?
- E a outra ali? Se olharem com atenção, verão dezenas... talvez centenas de rãs, que se confundem com o verde do charco!
Com as suas redes, apanham rãs que logo depois voltam a libertar na água fresca.
- Cuidado, António, não magoes essa rã!
- Liberta-a, David, que essa já foi apanhada duas vezes. Agora vamos para outro lado!
- Mamã, olha só que linda rã!
O Francisco, armado com a máquina fotográfica, dá alguns passeios pelos trilhos da montanha, captando imagens como esta:
Apesar de sermos oito, as únicas marcas da nossa passagem neste local de sonho são as migalhas do nosso piquenique. Ah, e provavelmente algum incómodo causado à população animal pelo nosso nível de ruído natural... Ou pelo tocar da guitarra, pois geralmente é em sítios como este que eu escrevo os meus cânticos!
No último domingo, enquanto os meninos brincavam na água e descobriam rãs, eu pensava na Laudato Si, a encíclica do nosso querido Papa Francisco. O papa relembra-nos o belíssimo texto o Génesis:
"O Senhor levou o homem e colocou-o no jardim do Eden, para o cultivar e, também, para o guardar." (Gn 2, 15)
Depois, o papa aprofunda a sua meditação:
"Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras." (LS 67)
Ao ver o cuidado com que os meus filhos protegem a mais pequenina rã e observam, sem lhe tocar, na mais breve borboleta, recordo os ensinamentos do Catecismo da Igreja Católica, também citados pelo Santo Padre:
"Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, refletem, cada qual a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus." (CIC nº339)
Senhor, ensina-me a cuidar de cada criatura como Tu queres que eu cuide! Ensina-me a encontrar o teu amor refletido como num espelho em toda a tua Criação...
Louvado sejas!
As Aldeias de Caná estão a nascer em força, um pouco por todo o lado. Olhando para elas tão felizes, pequenos encontros de duas ou três famílias que se juntam para rezar e servir, eu penso naquelas flores da montanha a crescer no meio das rochas... Na verdade, é preciso tão pouco, para uma Aldeia de Caná surgir! Não são necessárias estruturas complicadas, nem regras rígidas, nem "pessoas importantes"; basta querer amar e adorar, em família de famílias. E onde duas ou três famílias estiverem reunidas em nome de Jesus, Ele estará no seu meio, celebrando as Bodas de Caná da nossa vida...
No sábado, tivemos uma imensa alegria: estivemos presentes no nascimento de mais uma pequenina Aldeia de Caná! O convite veio da parte da família da Marta e do João, de Tomar, e da Olívia e do Álvaro, de perto de Almeirim, duas Famílias de Caná ribatejanas. Cheias do Espírito Santo, decidiram que chegara a altura de começarem a rezar juntas e a servir as famílias onde Jesus quiser, e decidiram começar no sábado. Assim, de manhã cedo rumámos até Tomar, a casa da Marta e do João, onde depois de muitos abraços, fizemos uma alegre oração da manhã:
Depois, a pé, dirigimo-nos à belíssima igreja de S. João Batista. Conversámos com o padre Mário, que nos acolheu muito bem e se mostrou disponível para acompanhar a nova Aldeia e estar atento aos frutos!
- Sabem que aqui na igreja temos um tríptico das Bodas de Caná? - Disse-nos o padre Mário, sorridente. Não o pudemos ver, porque está em restauro, mas pareceu-nos um ótimo indício!
- Chamemos à nova Aldeia, Aldeia de S. João Batista, em honra da igreja que nos acolheu - propôs a Olívia, mais tarde. Que lindo nome!
Um pouco adiante, no parque, fizemos o nosso piquenique. Os mais novos, felizes, brincaram à sombra, enquanto os mais velhos conversaram sobre a nova Aldeia e partilharam ideias. As Bodas de Caná serviram-nos de meditação e de oração...
- Vamos subir ao castelo?
- Vamos!
- Será que a Olívia aguenta, com aquela barriguinha tão jeitosa?
- Parece que a pequena Lúcia é uma menina muito forte e corajosa! Na barriga da mamã aguenta tudo...
- Vamos então!
Houve quem se aventurasse a escalar muralhas...
... E depois, claro, precisasse de ajuda para descer...
... enquanto outros assistiam a tudo, sem saber se haviam de rir ou de chorar!
- Não era bom se fossemos vizinhas?
Também houve quem preferisse fazer uma sestinha ao colo...
O dia estava quase a chegar ao fim. Faltava uma coisa: a oração do terço! Subimos então à Ermida da Senhora da Piedade, onde fizemos novo piquenique - as Famílias de Caná têm sempre muita fome, ou não nascessem elas em clima de Bodas!
E finalmente, rezámos o terço e louvámos o Senhor, cantando, no cimo do monte, rodeados de beleza...
Despedimo-nos, e enquanto o fazíamos, escutávamos o diálogo das duas famílias fundadoras desta nova Aldeia: alegres e entusiasmadas, marcavam novo encontro, propunham formas de chamar mais famílias e partilhavam sugestões de oração. Que alegria, quando uma Aldeia de Caná se faz ao caminho!
E não é a única! No norte, a Aldeia de Caná de Santa Isabel (assim chamada porque nasceu no dia da Rainha santa) está cheia de entusiasmo. Famílias de Braga, Viana, Famalicão - querem juntar-se a eles? Contactem-me para o mail! Em Proença e aqui em Mogofores, as Aldeias de Caná (ainda por batizar) também vos desafiam a vir e ver...
E se vivem na zona de Cascais e arredores, não faltem ao primeiro encontro da nova Aldeia de Caná que aí vai nascer, no dia 16 de agosto, das 15h às 17h, na Paróquia da Abóboda, Cascais. O padre Miguel fará um pequeno ensinamento de acolhimento a todas as famílias que queiram estar presentes, e como é costume nos encontros das Famílias de Caná, haverá atividades de evangelização para pequenos e grandes. Todos são bem vindos, mesmo que ainda não sejam "formalmente" Famílias de Caná! Nós não estaremos lá, mas estará a Família da Rute e do Serge, bem como a família responsável por esta nova Aldeia, que é a família da Sónia e do João Miranda Santos.
E em Coimbra? Aveiro? Lisboa? Almada? Évora? Algarve? ... Para quando, novas Aldeias de Caná?
"Fazei tudo o que Jesus vos disser!" (Jo 2, 5)
Que seja este, sempre, o nosso lema! Ámen.
... E a semana sem net já terminou... Tanto, tanto para vos contar! Mas vamos por partes:
A nossa partida para férias coincidiu com o nosso 19º aniversário de casamento, dia 27 de julho. Que grande alegria! Os meninos estavam excitadíssimos, e os cães não paravam de pular – desta vez tinham direito a viajar connosco! O destino era uma pequena aldeia junto ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde alugáramos uma casa de férias pequenina e simples.
- Vamos preparar um piquenique para o caminho? – Perguntou o Niall. Nós somos amantes de piqueniques, como já devem ter reparado.
- Bem, se o caminho é para norte, e se vamos passar por Braga, então sugiro o Sameiro…
- O Sameiro?
- Sim. O Santuário de Nossa Senhora, a sua casa no norte do país. Lembras-te? Fomos lá no Jubileu do ano 2000, quando estava à espera da Clarinha…
- Pois fomos!
- E casámos em Fátima… Faz todo o sentido celebrar o nosso aniversário em terra de Nossa Senhora, não achas?
E foi assim que rumámos ao Sameiro. Que maravilhoso santuário! O céu muito azul, a escadaria, a cidade dos homens lá em baixo sob o olhar atento de Maria, a cúpula a apontar para o céu…
No chão, nas pedras azuis e brancas, uma frase: “Mais bela, só no céu!” Veio-me ao pensamento o texto do Apocalipse:
“Depois apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça…” (Ap 12, 1)
De joelhos diante do altar, renovámos a consagração à Mãe de Caná, e pedimos a sua bênção para as nossas férias e a nossa vida. O nosso coração transbordava de ação de graças e de louvor perante tantas bênçãos, e perante esta bela prenda de aniversário! A paz e a alegria inundaram-nos a jorros. A vida é tão diferente, quando nos confiamos nos braços da Mãe, como crianças de colo que se abandonam sem medo! Com uma Mãe destas, que mal nos poderá acontecer?
Depois, enquanto rezávamos o terço e meditávamos nos mistérios da vida de Jesus, retornámos à nossa viagem, a caminho de umas das mais belas férias de sempre.
Mas sobre isso falamos amanhã :)
Uma dos mais bonitos milagres que Jesus tem operado nas nossas vidas através deste blogue chama-se amizade. Este fim-de-semana tivemos a visita quase surpresa (porque foi decidida muito perto do sábado) de uma família muito querida da diocese de Setúbal. Conheceram-nos "virtualmente" há pouco mais de um ano, e depois fizeram dois retiros Famílias de Caná connosco. Foi, na verdade, graças à sua preciosa colaboração que pudemos fazer o retiro de Almada, em setembro passado. Desde então, temos mantido contacto por mail, e neste fim-de-semana pudemos finalmente reencontrar-nos. Que grande festa! Os nossos filhos puseram a brincadeira em dia e nós, a conversa! Juntos, fizemos um piquenique fabuloso no Caramulo...
Já viram como duas famílias podem ser... tanta gente? Que invasão, nesta pacata aldeia da serra! O rebuliço e a alegria que provocámos fizeram sorrir as pouquíssimas pessoas com que nos cruzámos.
Domingo à tarde, antes dos nossos amigos regressarem a casa, para sul, recebemos um telefonema de uma outra família magnífica, desta vez de Braga, norte de Portugal. Vinham de regresso a casa e estavam a passar na auto-estrada perto da zona dos Power... Daria para fazer uma breve visita, para que a nossa amizade deixasse de ser apenas virtual? Rimo-nos a valer: num só dia, no centro de Portugal iríamos juntar, por breves momentos, uma família do sul e uma família do norte! Quem pode unir assim os corações, lançando pontes inimagináveis entre famílias que, de outra forma, nunca se cruzariam? Onde fica, verdadeiramente, o Centro, o ponto de interceção?
"Eis que alguns virão de longe, outros do norte e do ocidente e outros ainda do país de Sinim. Céus e Terra, entoai cantos de júbilo e alegria, montes, explodi de alegria! Pois o Senhor consola o seu povo e compadeceu-se dos seus pobres." (Is 49, 12-13)
Bendito sejas, Senhor, por assim nos reunires, do norte e do sul, do leste e do oeste, de todas as línguas, cores, povos e nações...
Bendito sejas, Senhor, pelo dom da amizade sincera, pura, verdadeira...
Bendito sejas, Senhor, pelos teus pequenos grandes milagres...
Bendito sejas, Senhor, porque no teu Coração, todos nos encontraremos um dia, e todos nos podemos encontrar desde já...
Ámen!
- Vou contar-vos uma história verdadeira, que descobri outro dia na net.
Estávamos todos sentados num prado florido, a fazer o nosso piquenique em Fátima. A toda a volta, milhares de flores pequeninas e os sons da primavera.
- Conta, mãe, o que foi?
- A história de um casal de imperadores...
- Imperadores?
- Sim, imperadores santos do século vinte.
- O quê?
- Um deles está sepultado, imaginem, na Ilha da Madeira. Sabiam que havia um imperador já beatificado, Carlos da Áustria, sepultado no nosso país?
- Nunca tal ouvi falar!
- Pois nem eu. Carlos e Zita casaram-se em 1911, e em 1914 eram imperadores do império austro-húngaro. Zita cuidava dos pobres desde pequenina. Clarinha, ela também gostava de costurar, como tu. Quando tinha mais ou menos a tua idade, pediu como presente de anos uma máquina de costura. Imagina para quê? Para fazer roupas para as crianças pobres!
- Que lindo!
- Carlos governou sempre com justiça, empregando todos os esforços para alcançar a paz, antes do rebentar da primeira guerra. Ficou conhecido como "O príncipe da paz". Ele e Zita tiveram oito filhos, que educaram na fé católica todos os dias da sua vida.
- Os imperadores tinham tempo para educar os filhos?
- Tinham. Zita ensinava-lhes o catecismo e preparava-os para os sacramentos; Carlos contava-lhes histórias da Bíblia. Vêem, como nós gostamos de fazer cá em casa! Todos os dias rezavam em família.
- E depois, que aconteceu?
- Depois veio a guerra, a queda do império, e o exílio. Em 1921, Carlos e Zita foram exilados na Madeira, primeiro sem os filhos, depois com permissão de terem os filhos com eles. Juntos, conheceram a pobreza e até alguma fome. Mas tudo aceitaram com alegria e simplicidade. Tinham sido ricos e felizes, agora eram pobres mas continuavam felizes, porque queriam acima de tudo cumprir a vontade de Deus. O povo madeirence levava-lhes leite e ovos para ajudar a alimentar as crianças. Eles aceitavam e sabiam que era Deus a cuidar deles. Entretanto, Zita estava grávida do oitavo filho...
- E depois?
- Carlos apanhou uma pneumonia. Naquele tempo não havia antibióticos, e Carlos ficou de cama, gravemente doente, até morrer. Morreu dois meses antes do nascimento da última menina. Morreu com os olhos fixos no Santíssimo, dizendo ora a Jesus, ora a Zita o seu amor por eles.
- Que triste!
- Durante o seu funeral, o povo aglomerava-se para tocar na urna e prestar a sua homenagem a um príncipe que consideravam santo.
- E Zita? Ficou só?
- Zita cuidou dos filhos sozinha, com coragem, numa vida de oração profunda. Dedicou-se aos pobres e às causas da paz, aos orfãos e aos soldados feridos durante a Segunda Guerra Mundial, e até ao fim da vida esteve envolvida em causas humanitárias. Quando o marido morreu, Zita tinha vinte e oito anos, imaginem! Nunca mais voltou a casar, e pouco antes de morrer alegrava-se com o pensamento de em breve voltar a ver o seu Carlos. Morreu em 1989. Há tão pouco tempo!
- E são santos?
- Carlos já é beato; Zita está em processo de beatificação. Em breve teremos um casal de beatos, queira Deus! Precisamos de muitos casais de santos.
- Porquê?
- Porque eles existem, e é preciso que a Igreja no-los dê a conhecer. Jesus disse:
"Não se acende uma lâmpada para colocar debaixo da mesa, mas sobre o candelabro, e assim iluminar todos os que estão em casa." (Mt 5, 15)
- Em História, nós falamos no Império Austro-Húngaro e na dinastia dos Habsburg, mas ninguém nos fala deste casal!
- Tens, razão, Francisco, e eu lamento imenso que não haja em Portugal um punhado de cristãos capazes de editar livros de História, Português, Inglês, Ciências e todas as disciplinas escolares a partir de uma visão cristã, dando a conhecer os santos e divulgando os valores cristãos. Estes manuais fazem falta nas escolas católicas! Esperemos que surjam um dia, como já surgiram nos E.U.A. e noutros países...
- Eu ia adorar, aprender sobre a vida dos santos nas aulas de História!
- Eu sei, Clarinha. Às vezes, ficamos com a ideia de que os imperadores e reis eram todos corruptos, e afinal havia - e há - santos entre eles. Tenho de investigar mais!
O piquenique estava muito saboroso, o sol brilhava, os sinos de Fátima tocavam as Ave-Marias, e os passarinhos cantavam no céu. A toda a volta, flores e mais flores...
Se quiserem ver um dos vídeos que eu encontrei na net, aqui fica: