Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Na quarta-feira depois de almoço fui rapidamente ao Continente, para comprar uns sumos e uns bolinhos para a festinha do António, nessa tarde. Eu ia realmente cheia de pressa, com passos rápidos, quase a correr (sim, eu corro muito o dia inteiro...). Por isso, foi com surpresa que literalmente esbarrei com um monstruário à entrada da loja, no local de passagem. Forçada a parar a minha marcha, debrucei-me para apanhar do chão o que fizera cair: pacotes de preservativos. Primeiro fui assaltada por um pensamento de espanto: que faziam os preservativos à entrada da loja, a barrar-me a passagem, longe do local de produtos de higiene? Depois lembrei-me que estávamos em véspera do dia de S. Valentim. Tudo explicado!
Ou não... Que têm os preservativos a ver com o Dia dos Namorados? Será que os tempos mudaram, e com eles, os valores? Os meus alunos não usam a palavra "namorar". Para eles, é "andar" ou "curtir". Lembro-me de uma aula há dois anos, com a minha direção de turma de nono ano, num dia em que falávamos das aulas de Educação Sexual que tinha programado:
- Ó professora, educação sexual não! Nós já sabemos tudo sobre o pimba-pimba!
Lembro-me também do espanto de uma menina de dez anos, que acompanhava a mãe a um encontro festivo do grupo de preparação para o matrimónio. A mãe, minha amiga, era uma das orientadoras do curso.
- Mãe, tens a certeza de que estes senhores e senhoras estão a preparar-se para casar? - Perguntava ela.
- Sim, querida, tenho. Agora vai brincar.
- Mas tens mesmo a certeza? - Insistia a menina.
- Já te disse que sim, filha! Vai brincar! Porque perguntas isso tanta vez?
- É que, mãe, todos estes senhores e senhoras têm aqui os filhos! Se vão casar, como é que já têm filhos?
O Francisco está a crescer. De vez em quando, conversamos sobre o tema do namoro. O namoro não é um estado de vida, como o matrimónio ou o celibato. O namoro é por natureza um tempo de passagem, uma ponte entre a amizade e o casamento. A ninguém passaria pela cabeça acampar sobre uma ponte! As pontes são por natureza locais de passagem, que ganham o seu valor das margens que unem.
O namoro é uma ponte. Como tal, não deve ser demasiado longo, porque o cansaço levaria à tentação de acampar ali mesmo. Vale mais prolongar o estádio de amizade anterior, ou apressar o casamento, do que arriscar ter de acampar a meio da ponte.
O namoro é uma ponte. Será possível viver a castidade durante o tempo de namoro? Não só é possível, como é essencial. A castidade ("O que é isso, professora?") é uma virtude que deverá acompanhar a vida inteira, e não apenas o tempo de namoro. Um casal que queira viver a sua sexualidade com verdade, planeando naturalmente a sua família, precisa de estar bem treinado na castidade. Algumas situações de doença de um dos esposos ou de gravidez de risco serão ocasiões em que este treino surgirá como uma estrela luminosa, capaz de fazer crescer o amor em vez de o destruir.
O casal de santos de que falei aqui, Giovanni e Rosetta, fizeram um voto, que cumpriram, de na primeira noite de núpcias dormirem separados, para a oferecer a Nossa Senhora rezando, isto depois de um longo namoro passado sem nunca se terem encontrado a sós (p. 151, Esposos e Santos). Loucura? Não: grandeza de alma, magnanimidade!
- Se tu me amas, prova-mo - Dizem os jovens uns aos outros, cheios do seu ego, com as emoções à flor da pele.
Sim, é preciso provar que se ama - que se ama o outro pelo que ele ou ela é, e não pelo que ele ou ela me dá.
Se me amas, espera por mim... Estende-me a mão e atravessemos juntos esta ponte, para na outra margem podermos construir a família que Deus sonhou para nós!
Conhecem Laranja-Lima, do Padre Zézinho? Escutem então... Está na hora de arrancar com os Noivos de Caná, ou os Namorados de Caná...
"Senhor, não é por luxúria que recebo, como esposa, Sara, minha irmã. Faço-o com o coração sincero. Digna-te ser misericordioso comigo e com ela, e conceder-nos que envelheçamos juntos. Ámen!" (Tb 8, 7)
Eram quase oito e meia da manhã de sábado quando atravessámos a Ponte 25 de abril. Os meninos abriam a boca de espanto perante a beleza azul da água e a imponência da ponte à luz da manhã.
- Olhem o Cristo Rei! - Gritei eu de repente.
- Onde? Onde? Onde?
- Aquela imagem ali ao fundo, vêem? É uma estátua de Jesus!
- Ah, e tem os braços abertos!
- Sim, tem os braços bem abertos!
Ficámos em silêncio durante alguns segundos. E enquanto o carro atravessava a ponte, deixando a margem de Lisboa e aproximando-se cada vez mais da margem sul, a belíssima imagem de Jesus crescia diante de nós, até quase parecer abraçar-nos de verdade.
Ao longo de todo o dia, Cristo Rei abençoou-nos na margem do rio, voltado para a ponte que vem de Lisboa:
Durante uma breve pausa no meu dia, aproximei-me do muro do seminário e contemplei o Cristo Rei, o rio e a ponte. O som dos carros a atravessar a ponte era um zumbido constante e estranho para mim. E eu pensei na quantidade de pessoas que todos os dias, ao cair da tarde, cruzam o seu olhar com o do Cristo Rei, no regresso a casa...
A nossa vida é uma ponte lançada entre duas margens. Vivemos entre a margem do trabalho e a margem do descanso, entre a margem do mundo e a margem da família, entre a margem da evangelização e a margem da oração, entre a margem do nascimento e a margem da eternidade... A toda a hora somos enviados por um Cristo de braços abertos, que nos chama a atravessar a ponte para trabalhar na sua vinha. Mas no fim do dia, como no fim da vida, somos convidados a regressar a Casa, ao Coração de Jesus, que do alto da colina nos chama com intenso amor:
"Vinde a Mim, vós todos que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei!" (Mt 11, 28)
Ámen!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.