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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Meninos, hoje durante o dia todos preparam uma peça para o sarau de Natal - Anuncia o Niall ao pequeno-almoço.
Grande excitação:
- Uma peça? Pode ser uma canção?
- Um truque de magia?
- Um poema?
- Ou uma história...
- Uma rima!
- O que quiserem. E claro, também vamos fazer a representação completa da história do Natal. Decidam entre vocês as personagens e procurem as roupas apropriadas!
Todos lançam mãos à obra. Não há tempo a perder, e os saraus na nossa casa costumam ser bem divertidos. Ninguém quer ficar para trás! Durante todo o dia, trocam-se segredinhos, procuram-se histórias, o Francisco fecha-se no quarto a preparar a sua magia, a Lúcia escreve a sua peça numa folha de papel e ensaia a Sara a preceito.
Jantamos cedo, para termos tempo para o nosso sarau. Ainda não são oito horas quando a festa começa! Eu sou a narradora:
"Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recensada toda a terra... Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém..." (Lc 2)
- Depressa, Sara, não deixes cair as asas! Anda, sobe para a cadeira! Isso...
"E quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de Maria dar à luz. E ela teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria." (Lc 2)
- Truz-truz! Ó da casa!
O António é um S. José muito compenetrado.
- Olha, Maria, ninguém nos abre a porta! Anda, está ali uma gruta!
"Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles. E tiveram muito medo. O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo. Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.»" (Lc 2)
- Sara, podes voltar para o teu lugar, que a pastorinha já vai visitar o Jesus. Isso, vai batendo as tuas asas!
"Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente..."
(Mt 2)
- Olha o Francisco com o telescópio que a Lúcia recebeu no Natal!
- Achas que os magos tinham telescópio?
- Bem, acho que não tinham cachecóis de Portugal. Mas vamos ouvir a história...
"Os magos puseram-se a caminho. E a estrela seguia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra." (Mt 2)
- O que é "prostrando-se"?
- É adorando com a cabeça por terra, assim...
- Vamos cantar?
- Toca, David, na tua guitarra nova! A Clarinha acompanha no bandolim. Vamos cantar...
- O Menino está dormindo nas palhinhas deitadinho!
Depois desta belíssima representação, chega a hora de cada um fazer a sua peça no sarau. O David explica-nos o significado de algumas palavras bíblicas, como "confins" da terra. Segundo podemos perceber, o seu pequeno missal mensal traz muitas informações interessantes!
A Clarinha canta-nos uma canção de Natal acompanhada do seu novo bandolim, enquanto com os pés toca outros instrumentos, no mínimo, interessantes:
A Lúcia e a Sara leem juntas uma bela história. A Sara está tão bem ensaiada pela irmã, que não falha uma única das suas falas, memorizadas a rigor! Ora vejam como são difíceis as falas da Sara: "Uma história de Jesus" e "Eu sou a Sara, de três anos". Quanto à Lúcia, a sua versão dos acontecimentos de há dois mil e quinze anos atrás é simplesmente fantástica!
O António fala-nos da difícil tarefa de S. José, a bater de porta em porta. Nas mãos tem um belo desenho, que ilustra na perfeição a sua narrativa:
O Francisco conta-nos toda a história do Natal num único truque de magia. Que delícia, ver como a Rainha de Corações dá à luz o Messias, que é o Rei de Corações! Os Corações de Maria e de Jesus também podem ser representados num baralho de cartas, pois então!
Por fim, a mãe e o pai declamam dois poemas de Natal.
O sarau chega ao fim. São nove e meia da noite, e os mais pequeninos têm de dormir. Mas ninguém quer que a festa termine. A Sara vem ter comigo de mansinho e faz-me uma pergunta:
- Podemos fazer tudo outra vez?
- Não, Sara, não podemos fazer tudo outra vez. Mas vamos terminar com uma canção. Queres cantar sozinha, enquanto bates as tuas asas de anjinho?
A Sara concorda. Deixo-vos com a sua canção, e desejos de um 2016 cheio de bênçãos do Senhor!
Venham a Fátima, fazer retiro e passar a Porta Santa connosco! É já no dia 2, e queríamos tanto encher a sala maior do Centro Paulo VI! Ainda faltam muitas famílias para o conseguirmos, mas Natal é tempo de milagres. Inscrevam-se! Na coluna lateral deste blogue têm toda a informação necessária!
- Sara, amanhã é dia de Natal! Não chores!
A Sara estava triste porque não queria ir embora. Estávamos na casa das avós, onde passámos toda a tarde e a consoada de dia 24. Depois de um belo jantar, cantámos cânticos de Natal em volta do presépio e agora chegara a altura de ir para casa. Mas a Sara não queria ir embora.
- Amanhã, Sara, quando acordares é Natal! Sabes o que é Natal?
A Sara sabia:
- Jesus vai nascer.
- Pois é, Jesus vai nascer. E para celebrar tão grande festa, tu vais ter prendas!
Por esta não esperava a Sara.
- Prendas?
- Sim! - Os manos conhecem todos os segredos do Natal: - Amanhã, quando acordares, acordas o papá e a mamã, porque eles têm a chave da sala bem guardada debaixo da almofada...
- Claro! Não queremos correr o risco de ter os presentes todos desembrulhados às duas da manhã, como já quase aconteceu! E não se atrevam a acordar-nos antes das seis horas, que nós só abrimos a porta às seis!
A expetativa das prendas de Natal convenceu a Sara a entrar no carro para regressar a casa. A viagem de regresso, pelas estradas desertas, sob a luz das estrelas e ao som dos cânticos de Natal, é em si mesma uma oração.
Sete da manhã, dia de Natal:
E quando a porta se abriu, que alegria! Papel de embrulho por todo o lado, gritos de excitação, a sala transformada em cenário de fantasia...
Depois, entre exclamações de felicidade, ajoelhámos e agradecemos ao Menino todas as bênçãos deste ano e deste Natal.
E depois de um pequeno almoço de festa, com bolos e panquecas, chegou o momento principal do Natal: a missa.
O dia foi de festa, entre muitas brincadeiras com os primos e tempo de conversa calma para os adultos. Natal é também esta disponibilidade para estar com a família alargada, sem pressas.
- Meninos, vamos rezar o terço - Anunciei, na viagem de regresso de Coimbra até casa. Geralmente, o terço leva pouco mais de quinze minutos a rezar, mas desta vez durou a viagem inteira, cerca de meia hora. É que a cada mistério da alegria, aproveitei para contar a história do Natal com todos os pormenores. Há tantos detalhes que as crianças desconhecem, e que tornam a história tão bela! Porque ficou Maria perturbada com o anúncio do anjo? Como se chamava a terra onde vivia Isabel? Porque teve Maria de ir a Belém? Quem estava no Templo à espera de Jesus, quando Maria e José O foram apresentar?
- Vamos para o último mistério da alegria - Anunciei, já muito perto de casa. - Quem sabe qual é?
- Eu sei! Eu sei!
- Então diz lá, António.
- Jesus e os médicos!
- ???????
Pois... Que outros "doutores" conhece o António? Por entre gargalhadas, fui explicando a diferença entre os médicos e os doutores da Lei. A oração do Rosário é para nós a forma mais simples e eficaz de ensinar a Palavra.
Chegou a noite, e com ela, a hora de oração familiar. O dia foi perfeito, e há que agradecer. Agora temos mais dois belos instrumentos a encher de música esta nossa oração:
E apesar de só terem passado doze horas desde que o David e a Clarinha descobriram os seus presentes de Natal, o som já é maravilhoso!
A Árvore de Jessé está pronta, cada símbolo uma história de amor...
Por sobre o Presépio, as estrelinhas das nossas obras de misericórdia iluminam a noite...
Que segredos de misericórdia guardará cada uma delas?
"Anuncio-vos uma grande notícia: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador!" (Lc 2, 11)
Feliz Natal!
O dia amanheceu luminoso. Os meninos saltaram da cama com grande entusiasmo: é advento! E isso significa o início de um novo ano litúrgico e uma grande azáfama em nossa casa.
Depois da missa e do almoço, o pai foi com os quatro mais novos apanhar musgo.
- Descobri um sítio perfeito - Disse o Niall, antes de partirem. - Vamos de carro para podermos transportar todo o musgo.
Parece que o sítio era mesmo perfeito! Ora vejam as fotos:
Entretanto, em casa, a Clarinha, o Francisco e eu estávamos muito ocupados a preparar o Canto de Oração. Enquanto eu e a Clarinha passávamos a ferro e procurávamos os panos mais bonitos, o Francisco martelava, cortava e colava, porque a cabana do Presépio sofreu um pequeno acidente durante o ano em que esteve guardada...
- Vejam, tanto musgo! - Gritaram os mais novos, entrando de rompante em casa e deixando um trilho de terra e ervas atrás de si.
Abrimos as caixas dos enfeites, a Árvore de Jessé, as caixas com o presépio, e a sala encheu-se de exclamações e risos felizes.
- O que fazemos aos reis magos?
- Fazemos, como?
- Eles só chegaram ao presépio no dia 6 de janeiro, não é?
- Tens razão, David! Vamos fazer assim: vamos colocar um rei em cada quarto. A cada domingo, vamos aproximá-los um bocadinho... Podem passar dos quartos para o escritório, do escritório para a cozinha, até chegarem ao presépio.
- Boa!
E lá fomos nós...
Quando o presépio e a árvore de Natal ficaram prontos, a sala parecia uma cidade arrasada por um terramoto. Era preciso varrer, aspirar, limpar, arrumar. Para facilitar a tarefa, os mais novos tiveram autorização para patinar à luz das estrelas, enchendo a noite de gargalhadas, enquanto o Francisco, a Clarinha, o Niall e eu fazíamos o que tinha de ser feito. Por fim, a nossa casa brilhava à luz do Advento.
- Meninos, depressa, vamos cantar à volta do presépio!
- É para rezar agora?
- Já podemos entrar?
- Está tudo pronto?
- Vamos, vou contar a primeira história da Árvore de Jessé!
Reunidos na sala, acendemos as velinhas no presépio e ligámos as luzes da Árvore de Jessé. Depois, e porque era domingo, o António acendeu a primeira vela da nossa Coroa de Advento. Para a semana, a Lúcia acenderá duas velas, e no terceiro domingo será a vez do David acender três velas...
- Que lindo que está tudo, mãe!
- Olha, este pastorinho está à procura do caminho...
- E esta ovelhinha está mesmo ao lado do Jesus!
Vamos rezando de olhos fixos no presépio. Bem, olhos, mãos, e se nos distraímos, até pés...
- E agora, chegou o momento de colocarmos o primeiro símbolo na Árvore de Jessé.
- Eu!
- Eu!
- Não: o primeiro é para a Sara. Eu leio a frase, e a Sara encontra o símbolo. Podem ajudar, mas ela é que o coloca na Árvore! Ouçam então...
Com um sorriso escancarado, a Sara pegou no símbolo da pomba e colocou-o na Árvore, triunfante.
Por sobre o presépio, eu escrevi a Palavra que este ano nos vai iluminar. É a Palavra que os habitantes de Belém não conseguiram escutar, naquela noite de Natal em que Maria e José procuravam desesperadamente um lugar para Jesus; é a Palavra que o mundo ainda não conseguiu compreender, dois mil e quinze anos passados; é a Palavra do Ano Santo, a Palavra que abrirá a grande Porta da Misericórdia, no próximo dia 8, e que abrirá a porta dos nossos corações...
"Eis que estou à porta e bato. Se alguém abrir, entrarei e cearei com ele, e ele comigo." (Apo 3, 20)
Para todos, um feliz ano novo!
Dia de Reis. Diante do presépio, fazemos a nossa oração, muito animada porque no dia de Reis os mais pequeninos têm direito a coroa real! Depois, com jeitinho, colocamos os Reis Magos junto da manjedoura. Um deles tem a cabeça colada, pois a Sara decidiu passeá-lo um bocadinho pelos montes e prados do presépio, e num segundo de distracção, o Rei tropeçou e partiu a cabeça. Nada que a Clarinha não resolvesse com super-cola.
"Abrindo os seus cofres, os magos ofereceram presentes ao Menino: ouro, incenso e mirra." (Mt 2, 11)
E nós? Que temos nós para Lhe oferecer? No início de um novo ano, é altura de oferecer os nossos presentes. Teremos nós um coração de ouro para Lhe dar? Teremos o incenso da nossa oração? Ou talvez a mirra do nosso sofrimento? Tudo, absolutamente tudo pode ser oferecido ao Senhor.
Recordo aqui um livro que li há muitos anos atrás: Do Robbins Cough?
Conta a história verídica de uma mulher inglesa, casada e mãe de um filho já quase adulto, com uma vida estável e em tudo vulgar. Esta mulher tinha quarenta anos quando viu na televisão a reportagem chocante sobre os orfanatos romenos, depois da queda do ditador Ceaucesco. Eu lembro-me bem de assistir a estas reportagens, nos anos noventa, e de chorar com as imagens! Crianças atadas às camas e aí abandonadas dia e noite, ao frio e quase sem alimento... Enfim, o mundo chorou diante do televisor durante alguns dias. E no mundo, alguns decidiram agir. Os primeiros, como sempre, foram as missionárias da Madre Teresa de Calcutá. E de seguida, voluntários de vários países ocidentais.
Pois bem, Beverly também se sentiu chamada a partir como voluntária, oferecendo o seu mês de férias. Quando se viu com os papéis na mão, para fazer a sua candidatura, deparou com várias perguntas sobre o que tinha para oferecer às crianças romenas. Muito desanimada, Beverly viu-se obrigada a responder “não” a todas elas:
“Eu não apenas não possuía as qualidades profissionais que me eram pedidas, como também não possuía as qualidades amadoras: Sabe guiar? Não. Sabe pintar? Não. Sabe tocar um instrumento musical? Não. Não havia uma única questão que eu pudesse responder afirmativamente. Seria eu um fracasso tão grande? Não teria eu mesmo nada para oferecer? Durante a noite, sem conseguir dormir, levantei-me e sentei-me à secretária. Comecei então a escrever o que sabia fazer. Escrevi que estava sempre bem-disposta, que fazia de boa vontade qualquer tarefa que me atribuíssem, que era muito boa a trabalhar em equipa e que gostava de obedecer. No dia seguinte enviei o formulário. E alguns dias depois recebia a resposta: tinha sido aceite.”
Beverly partiu para a Roménia, e a sua vida nunca mais foi a mesma. Na Roménia, onde o mês de férias se estendeu por longos períodos nos anos seguintes, Beverly reencontrou a fé, regressou à religião, descobriu o amor no serviço dos mais pobres, e encontrou um segundo filho a quem amar. Afinal, o pouco que Beverly tinha para dar era mais do que suficiente...
Que tenho eu para dar ao Menino neste ano novo? Uma vida cheia de dons e talentos que todos valorizam? Fantástico! Talvez possa tocar violino na missa, ou ensinar teatro às crianças de um orfanato, ou pintar um quadro para oferecer, ou dar catequese na paróquia... Está na hora de me colocar ao serviço!
Mas talvez eu não tenha talentos que brilham... Talvez eu tenha apenas a minha capacidade de trabalho, os meus braços que gostam de abraçar, a disponibilidade para escutar quem está só e precisa de desabafar...Talvez eu saiba cozinhar, ou fazer arranjos de electricidade, ou acartar tijolos... Não haverá quem precise desta ajuda também?
Talvez eu nem sequer tenha isso para dar: talvez me reste uma dor imensa, a solidão, a tristeza de quem vê ruir todos os sonhos, a doença ou a incapacidade... Também isso é dom que posso fazer ao Senhor.
Como os magos, como Beverly, iremos descobrir que aquilo que damos muda um pouco o mundo que nos rodeia - mas muda por completo o nosso coração...
O dia 25 desponta sempre muito cedo cá em casa. Alguns meninos até acordam a meio da noite, a perguntar se já é de manhã! Quando, finalmente, autorizamos o despertar, lá pelas seis e pouco, todos correm para a sala, onde é preciso aguardar em fila até o pai abrir a porta, que sabiamente fechou à chave...
A alegria do abrir dos presentes, os gritos de excitação perante coisas tão simples, a descoberta de quem enviou o quê a quem, as pequenas surpresas inesperadas que os manos fazem uns aos outros, os papéis de embrulho espalhados por todo o lado e as sentenças da Sara, correndo de brinquedo para brinquedo e repetindo: "É meu!" - independentemente, claro está, de ser ou não... Tudo isto faz da manhã de Natal uma festa.
Mas a festa a sério acontece algumas horas mais tarde, na missa... É Natal!
À tarde, houve tempo para brincar com os primos, estreando jogos, contando histórias e inventando aventuras:
Durante o jantar, acendemos as cinco velas da nossa Coroa de Advento. Ficou tão bonito...
Antes de dormir, a oração familiar à volta do presépio foi de acção de graças. Bendito sejas, Jesus, porque Te fizeste pequenino, para que nós, os pequeninos, Te possamos encontrar! Bendito sejas, Jesus, porque Te fizeste humano, para que nós, os humanos, nos possamos tornar divinos...
"Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu,
a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus;
e realmente, o somos!" (1Jo 3, 1)
"E Deus encarnou, e armou a sua tenda entre nós." (Jo 1, 14)
Como os pastores, apressemo-nos a ir a Belém, no fundo dos nossos corações, para aí adorarmos o Menino recém-nascido. Talvez tenhamos de subir alguns degraus, tropeçando como crianças que ainda mal sabem andar. Que importa? Da sua manjedoura, Pão oferecido para saciar a nossa fome de infinito, Jesus sorrir-nos-á. E de repente, os nossos desertos florirão, e a nossa tenda será habitada...
Deixo-vos hoje com o vídeo do Natal de há alguns anos atrás, e que alguns conhecerão. O nosso pároco filmou, eu escrevi o cântico, o Francisco (ainda com voz infantil), a Clarinha e eu cantámos, e todos juntos construímos o presépio de Jesus. Feliz Natal!
ENCARNAÇÃO
Mi Lá Si7 Mi
E Deus encarnou, e armou a Sua tenda entre nós! (2x) (Jo 1, 14)
Mi Lá Si7 Mi
1 – “Faz-Me uma tenda onde possa habitar
Dó#m Fá#m Si7 Mi
No teu deserto, Eu contigo quero estar!
Faz-Me uma tenda onde venhas adorar
Pois o Meu sonho é Eu contigo caminhar!” (Ex 25, 8)
2 – O povo de Deus o Teu pedido escutou
E uma tenda no deserto ele armou! (Ex 35, 21-29)
Então vieste e com Teu povo acampaste
E peregrino, entre nós Tu caminhaste! (Ex 40, 34-38)
3 – E ao chegar o tempo que só Tu marcaste
Um corpo humano Tu quiseste...e encarnaste! (Heb 10, 5)
Tu és, Senhor, o Deus-connosco, o Emanuel (Mt 1, 23)
Tu és, Jesus, a Nova Tenda de Israel!
4 – E eis que uma porta na Tua tenda Tu fizeste:
Na cruz, por mim rasgaste o Teu coração! (Jo 19, 34)
E eu entrei, e na Tua tenda me acolheste
Em Ti, Jesus, eu encontrei a salvação!
(Cantem connosco: E Deus encarnou...)
O Advento já vai adiantado. Cá em casa, a cortina sobre o presépio está replecta de estrelas luminosas:
No início do Advento, lancei o desafio de me enviarem as fotos do vosso Canto de Oração iluminado com as boas obras dos vossos filhos. Respondendo ao desafio, muitos dos nossos leitores não tardaram em me enviar belas fotografias, que hoje aqui publico com imenso orgulho.
A Paula contou-nos que, na sua casa, durante o Advento os seus seis filhos procuram oferecer a Jesus o maior número possível de "beijinhos", essas conchas pequeninas e enroladas que se encontram em algumas praias mais solitárias. Cada beijinho de concha representa um beijo de amor a Jesus Menino - um pequeno serviço prestado, uma pequena renúncia. Vejam como está lindo o seu presépio:
Em casa da Olívia, o céu azul escuro foi-se cobrindo de estrelas muito sentidas e esforçadas. Para ajudar a concretizar a conversão, a proposta de esforço foi semanal, procurando cultivar uma virtude por semana.
A família Nunes optou por criar um calendário de Advento com uma tarefa para cada dia. Vejam que bela ideia!
A nossa Árvore de Jessé tem sido um sucesso. Todas as noites, durante a oração familiar, conto aos meninos a história da Bíblia proposta, lendo depois a pequena passagem bíblica ilustrativa. Os mais novos lançam-se então ao tabuleiro dos símbolos, tentando cada um ser o primeiro a encontrar o símbolo correspondente à história. À vez, para evitar conflitos, eles penduram o símbolo na Árvore. Digam lá se não está bonita?
Também a Olívia tem a sua Árvore de Jessé bem recheada da Palavra de Deus:
A Árvore de Jessé da Carla vem directamente do Polo Norte, parece-me...
Entretanto, os presépios foram surgindo em muitas casas.
Em casa da Alexandrina, todos trabalharam para construir estas belas figuras, com pasta de moldar. O pai, merceneiro, fez o resto. Fantástico!
No domingo passado, antes da missa, o João, um dos meninos do nosso coro infanto-juvenil, tinha um presente para mim: um presépio miniatura, feito com a ajuda do pai. Achei a ideia muito original, e fácil de imitar aí em casa:
Na casa da família Nunes, por insistência da pequena Margarida, todos construíram as figuras do presépio com muito carinho:
A luz não falta também. A Joana enviou-me uma foto da entrada da sua casa, com duas velas de Advento acesas:
E a família da Helena, que descobriu o blogue há pouco tempo, decidiu neste advento tornar-se... Família de Caná! O seu Canto de Oração está cheio de luz:
Há algumas semanas, descobri uma história da Bíblia que desconhecia e que me encantou: Jacob, filho de Isaac, pôs-se a caminho de Canaã, a Terra Prometida, onde se queria instalar. Com ele, levava os rebanhos, as duas mulheres, as escravas, e todos os seus filhos. Quando Esaú, seu irmão, o desafiou a caminharem juntos, Jacob recusou, por uma boa razão:
“O meu senhor sabe que as crianças são delicadas e que o gado miúdo e graúdo, que ainda mama, exige os meus cuidados; se os apressarem, ainda que só por um dia, todo o gado novo perecerá. Que o meu senhor queira passar adiante do seu servo; eu caminharei devagar, ao passo da caravana que me precede e ao passo dos meninos, até juntar-me ao meu senhor, em Seir.” (Gn 33, 13-14)
Preparar o Natal é, para a maioria de nós, uma longa e árdua caminhada no deserto. Caminhar em família, respeitando os ritmos uns dos outros, caminhar por vezes ao lado de um marido ou mulher não crente, ou ao lado de um esposo difícil, caminhar ao lado de filhos adolescentes com um mundo de perguntas sem resposta, ou de crianças birrentas, ou de bebés exigentes, enfim, não é fácil. As estrelas na cortina, as conchinhas no presépio, as tarefas propostas para cada dia são tudo formas de concretizarmos esta difícil travessia... Somos uma caravana de Jacob.
Ao ler o ensinamento do mês de Dezembro que escrevi para as Famílias de Caná, precisamente sobre a história da caravana de Jacob, a família Nunes sentiu-se desafiada. Lá em casa, a caravana também parece avançar muito lentamente, mas com determinação! Assim, e para minha grande alegria, decidiram criar um novo blogue de Famílias de Caná: Uma Caravana no Deserto. Visitem-no, e deixem-se inspirar!
Ontem, ao contemplar o presépio, algo estranho chamou a minha atenção: misturados com as ovelhinhas, os pastores, as conchinhas da praia e os restantes elementos bucólicos que se espraiam pelo musgo, estavam duas ferozes criaturas...
Como terão o leão e o tigre ido parar ao presépio? Fiquei em pânico, com medo que algo pudesse acontecer ao Menino Jesus, tão frágil, deitado numa manjedoura pequena demais para Ele, e já com um pezinho partido à custa de beijinhos desajeitados... Mas depois lembrei-me de que talvez o leão e o tigre conhecessem a profecia de Isaías, e daí o terem arriscado caminhar até à gruta de Belém:
"Então o lobo habitará com o cordeiro e o leopardo deitar-se-á com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o animal cevado estarão juntos, e um menino os conduzirá. A vaca e o urso pastarão lado a lado, as suas crias deitar-se-ão juntas, e o leão comerá feno como o boi. A criança de peito brincará junto à toca da víbora, e a criança desmamada porá a mão na cova da serpente." (Is 11, 6-8)
Um urso a pastar ao lado de uma vaca e um leão a comer feno como um boi é verdadeiramente uma revolução grandiosa, difícil de imaginar. Num dia da semana passada, conversando com um aluno da minha direcção de turma, perguntava-lhe:
- Como queremos nós que haja paz na Terra, se vocês, jovens, não conseguem relacionar-se no espaço de uma turma? Escrever insultos no Twitter sobre as tuas colegas não parece uma estratégia muito apropriada para se conseguir ser aceite...
Ele ficou pensativo. Depois assentiu:
- Tem razão, professora. - E acrescentou: - Mas mesmo que eu tente mudar e voltar a ser amigo delas, elas já não acreditam em mim. Ninguém, nem os professores nem os meus amigos, me quer dar outra oportunidade!
Quando ele saiu de junto de mim, fiquei a pensar no que significa isto de fazer a paz. Às vezes, somos nós os leões que precisam de aprender a comer feno; outras, somos o menino que precisa de não ter medo de meter a mão na toca da víbora...
Fazer a paz implica trabalhar o nosso carácter, dominar os nossos instintos e converter o nosso coração; mas também implica dar ao outro a oportunidade de provar que está mudado! Precisamos - na família, no casamento, nas amizades - de muita humildade e de muita confiança em Deus para colocarmos a mão na toca da víbora, acreditando que, desta vez, ela não nos morderá.
Ah, a paz de Jesus é tão exigente!...
O inevitável aconteceu: o gatinho descobriu o presépio e... deixou um belo e cheiroso presente no musgo! Tivémos de refazer o presépio...
... e aproveitámos para colocar nele uma "personagem" nova: a nossa família! Não queremos olhar para o presépio como alguém que assiste a uma peça teatral, a uma representação de Natal, sem qualquer envolvimento da nossa parte. Queremos estar lá, a caminho de Belém, desejosos de ver o Recém-Nascido e de Lhe oferecer os presentes que, entretanto, vamos preparando com amor. Assim, a Clarinha lembrou-se de imprimir a nossa fotografia e de a colocar sobre o musgo limpinho:
E com tudo isto, o presépio ficou bem mais bonito do que estava antes do gatinho o destruir! Olhem bem para este rio, as conchas trabalhadas...
Deus é mesmo o Senhor das Novas Oportunidades! Quando lhe confessamos o nosso pecado, através do sacramento do perdão, Ele restaura a nossa vida e o nosso coração, tornando-nos ainda mais belos do que antes. Na verdade, se não fosse o pecado de Adão, Deus não se teria "lembrado" de nascer num presépio pobrezinho, na nossa humilde Terra pecadora! E ainda hoje estaríamos sem conhecer até que extremos vai a loucura do amor de Deus, que por nós Se fez menino! Diz S. Paulo,
"Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8, 28), até o pecado que humildemente confessamos!
Nas suas homilias matinais, o Papa Francisco tem falado muito na mundanidade dos cristãos. Em várias ocasiões, o Papa referiu com tristeza que os cristãos aprenderam a fazer alianças com o mundo, cedendo aos seus costumes e procurando servir a dois senhores ao mesmo tempo. Disse o Papa:
"O espírito do mundo é o inimigo de Jesus" (4 de outubro de 2013)
À medida que o Natal se aproxima, cresce a mundanidade. As lojas estão cada vez mais movimentadas, nos centros comerciais faz-se fila para visitar a casa do Pai Natal, as tags do momento são "descontos", "compras", "prendas".
Onde está o Natal de Jesus? Andaremos, como os magos, às voltas nos palácios de Jerusalém, perdendo o tempo precioso que nos separa do Presépio? Quem é que afinal faz anos - Jesus ou nós? Como se pode rezar e adorar o Menino do presépio no meio de tanto barulho e tanta agitação?
Como pais cristãos, procuramos encontrar as respostas certas a estas perguntas, para educarmos os nossos filhos no verdadeiro sentido do Natal. Assim, durante o mês de dezembro, as crianças não vão connosco às compras (algo que aliás fazem muito raramente). Não queremos que percam o tempo de preparação para o Natal a sonhar com presentes que nunca vão ter. E na manhã de dia 25, esforçamo-nos por trocar prendas simples, diferentes da "prenda grande" do seu aniversário. Queremos que acordem antes do nosso galo cantar (e acreditem que isso é mesmo muito cedo!) e corram para a sala a rebentar de impaciência, queremos que rasguem papel de embrulho por todo o lado, queremos que saltem de alegria, mas não queremos que desviem o olhar do Menino pobre da gruta de Belém.
- Sabes qual é o menino mais importante do mundo, mamã? - Perguntou-me há dias o António.
- És tu? - Pensei ser a resposta adequada...
- Então tu não sabes? É o Menino Jesus! - respondeu ele, muito depressa.