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Invernos renovados

por Teresa Power, em 26.04.16

 A primavera chegou! Desta vez é mesmo a sério, pois tropeçamos nela logo ao sair de casa pela manhã: o céu azul, as nuvens brancas, a relva verde, as flores amarelas, vermelhas e laranjas, o cantar das cigarras, as melodias dos pássaros, os gatinhos a brincar na relva... Tudo nos repete, como o Amado no Cântico dos Cânticos:

 

"Levanta-te, minha irmã, minha amada!

Eis que passou o inverno, a chuva já se foi

Aparecem as flores na terra, chegou o tempo das canções

A voz da rola ouve-se na nossa terra.

A figueira já deu os seus figos verdes,

e as vinhas em flor exalam seu aroma..."

(Cant 2, 10-13)

 

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Com a primavera, chegam os dias tranquilos e longos, e renovam-se os encontros com os amigos. A Olívia e a sua família vieram visitar-nos, e encheram a nossa casa de alegria! Que dizem a estas três princesas?

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 Lembram-se da pequenina Lúcia, que tanto sofreu ao nascer? Ora aqui está ela, transbordando saúde e felicidade:

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 Para a festa ser completa, também a Isabel e o João, catequistas da Lúcia, vieram visitar-nos e estar com a família Batista. Ser Família de Caná significa ter amigos espalhados um bocadinho por todo o país, não é verdade? Sentados no jardim, pusemos a conversa em dia. Sentados no jardim, quer dizer, alguns de nós... Outros preferiram as árvores:

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 Segunda-feira foi feriado, e o dia amanheceu cheio de sol. Quem lê este blogue há algum tempo já consegue imaginar onde nos dirigimos de imediato... Ou não?

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 A primavera está a chegar assim de repente, da noite para o dia... Na semana passada ainda acendíamos a lareira, ontem tomaram-se banhos no mar!

De repente? Ah, nós só vemos a superfície das coisas! Porque durante todo o inverno, durante os longos dias de chuva, durante os serões de frio à lareira e durante as tempestades de granizo, a terra preparava-se para esta renovação.

Há dias em que eu olho para a minha vida passada e, no meio de belas recordações, também vejo tempestades, chuva abundante, frio intenso. Por que terá sido tudo tão difícil, meu Deus? Porquê a morte, porquê a dúvida, porquê a luta, porquê a incompreensão, porquê o emprego longe, porquê as turmas complicadas, porquê? Depois contemplo os meus filhos a brincar no jardim que cultivámos, vejo os meus amigos empoleirados nas árvores que ajudámos a crescer, e escuto as gargalhadas da "Bebé de Caná" que a Olívia segura nos braços. Ao longo dos muitos invernos da nossa vida, Deus foi preparando as nossas muitas primaveras. E com o seu vento, espalhou por aí as sementes que nasceram das nossas chuvas, tal como espalha nos nossos jardins interiores sementes que nasceram em outras chuvas.

E assim continuará a ser: as tempestades que hoje experimentamos levar-nos-ão certamente a novas primaveras, e as sementes que cultivamos nos nossos jardins florirão certamente noutros quintais, porque o nosso Deus é o Deus das estações, o Senhor da vida e da morte, Aquele que, no primeiro livro da Bíblia, tudo cria do nada, e no último livro da Bíblia, tudo recria, já não do nada, mas a partir de tudo o que Lhe oferecermos:

 

"Eis que faço novas todas as coisas!" (Ap 21, 5)

 

Ámen!

 

 

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publicado às 06:00

Corpo Místico

por Teresa Power, em 07.03.16

- Meninos, podem ligar a televisão! - Aviso, ao fim da tarde de sábado. Como já todos os leitores devem saber, sábado é dia de televisão para os Power mais novos, que durante a semana nem se lembram dela.

- Ena, que bom! Está a dar Jake e os Piratas! - Anuncia a Lúcia, a primeira a chegar à sala.

- Falta o David! - Reparo, quando a Sara e o António se instalam no sofá. - Quem o vai chamar?

- Hoje eu não vou ver televisão - Diz o David, entrando na sala. - Vou já tomar banho e depois vou ler para o quarto.

- E porquê? Tu adoras Jake e os Piratas!

- Para fazer um sacrifício. Hoje quero fazer um sacrifício dos grandes...

 

- Mãe, quero uma fatia de bolo!

- Já comeste ao lanche, António. Agora esperas pelo jantar. Só depois de jantar é que comes bolo outra vez.

- Mas eu quero agora.

- Já te disse que não. Depois de jantar.

- Agora!

- Não vale a pena, António.

Lágrimas. Parece que as birras ainda não acabaram de todo...

- António, vou explicar-te: não vais comer bolo agora, quer faças birra, quer não. Isso é certo. Mas restam-te duas escolhas: podes não comer bolo e ficar de mau humor, a chorar, zangado, e eu grito contigo e perco a paciência, e só temos tristeza para dar a Jesus; ou podes não comer bolo e sorrir, oferecendo a Jesus o teu sacrifício, e logo à noite pões uma flor no Canto de Oração. A escolha é tua!

O António suspira, e limpa as lágrimas. A escolha está feita.

 

Hora de oração familiar. Sentados no sofá da sala, rezamos o terço como todos os dias. Geralmente, antes de começarmos, precisamos de repetir muitas e muitas vezes: "Meninos, sentados como deve ser!" "Meninos, não se reza de qualquer maneira, é preciso respeito!" "Meninos, costas direitas no sofá!" Mas hoje não parece ser necessário. Antes de começarmos, o Niall ajoelha-se no chão. Duas avé-marias mais tarde, também a Clarinha se ajoelha. Mais duas avé-marias, e é a minha vez... E logo em seguida, o Francisco. Olhamos uns para os outros e rimo-nos: quando um decide oferecer um bocadinho mais a Jesus, ninguém quer ficar atrás! Sem que seja essa a nossa intenção, acabamos por nos desafiar uns aos outros todos os dias neste belo e difícil caminho da santidade.

 

- Mãe, explica-me outra vez o que faz Jesus com todos os nossos sacrifícios!

- Então eu explico: cada vez que tu fazes um sacrifício, Jesus recebe-o nas suas mãos, com todo o carinho. Depois transforma-o numa graça especial para alguém também especial, que só Ele conhece... Assim, talvez Jesus tenha aproveitado o teu sacrifício de não ver televisão para derramar felicidade sobre um menino da tua idade, que estava a chorar no meio da guerra na Síria. Quem sabe? Talvez...

- Mas no céu vou saber, não vou, mãe?

- Sim, no céu vais poder brincar com todos os meninos que receberam graças através de ti. E também vais conhecer todos os meninos que, com os seus sacrifícios, obtiveram graças para ti!

- Nem posso esperar...

Estas conversas surreais acontecem muitas vezes em nossa casa. Podem conter uma ou duas imprecisões teológicas em termos de linguagem, eu sei, mas não encontro melhor forma de explicar às crianças esta maravilha que é a comunhão dos santos, em que nós, católicos, afirmamos acreditar. É deste imenso tesouro dos sacrifícios e sofrimentos de todos os santos, conhecidos e desconhecidos, vivos na Terra e vivos no céu, que cada um de nós recebe graça sobre graça.  Como diz S. Paulo, as nossas vidas individuais são preciosas quando unidas ao sofrimento pascal de Jesus:

 

"Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, pelo seu corpo que é a Igreja." (Col 1, 24)

 

Porque no único Corpo formado por Jesus e pela sua Igreja, circulam de uns para os outros todas as graças, todas as bênçãos, todas as alegrias, todas as dores, como o sangue que percorre todos os membros:

 

"Os muitos que somos formamos um só corpo em Cristo, mas individualmente, somos membros que pertencem uns aos outros." (Rm 12, 5)

 

E de sacrifício em sacrifício, no Canto de Oração é quase primavera...

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publicado às 06:00

Chapins-azuis

por Teresa Power, em 28.03.15

E cá estão eles de novo, como em todas as primaveras!

Ontem, enquanto comíamos umas tangerinas na cozinha, olhei pela janela e soltei um grito: chegaram! Os meninos quiseram logo ver, e empoleiraram-se em cadeiras para conseguirem espreitar. Eles sabem que, no momento em que abrirem a porta da cozinha, os chapins azuis desaparecem à velocidade de um relâmpago, para só regressar quando a "costa" estiver livre... Fui buscar a máquina fotográfica e, sempre através da janela, consegui fotografar a sua azáfama:

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 O papá e a mamã chapim entram e saem do buraquinho da árvore, decididos a reconstruir o ninho dos anos anteriores - ou será o ninho dos pais? Sabemos apenas que é o mesmo ninho e a mesma espécie de aves, e a fidelidade dos chapins azuis encanta-nos. O profeta Jeremias também exaltou a fidelidade da Criação ao seu Criador:

 

"Até a cegonha no céu conhece o seu tempo, a pomba, a andorinha e a garça observam o tempo do seu retorno. Mas o meu povo não conhece o julgamento do Senhor." (Jr 8, 7)

 

 Mas a vida de um passarinho é muito, muito frágil. Todos os anos esperamos ansiosos pelo regresso dos chapins, pois bem sabemos que cada primavera pode ser a última.

A maior e mais bela semana dos cristãos está aí, como todas as primaveras, ano após ano desde há mais de dois mil anos. Talvez sejamos tão frágeis como os passarinhos... Olhando à nossa volta e escutando as notícias do mundo damo-nos conta de que cada primavera pode ser, para nós, a última.

Mas cada primavera pode também marcar o nosso retorno ao ninho do Pai, nas grandes celebrações da Páscoa. Como os chapins-azuis, as cegonhas, as pombas, as andorinhas e as garças, observemos o tempo do nosso retorno, e não deixemos fugir esta bela oportunidade, pois não sabemos se será a última! Na grande árvore da Igreja, o nosso pequeno "ninho" estará vazio enquanto não o ocuparmos e o enchermos de amor...

 

 

 

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publicado às 06:22

Jardinando por amor

por Teresa Power, em 24.03.15

- Quem me vem ajudar a tratar da horta?

- Eu!

- Eu!

- Eu!

- Eu!

Rodeado de quatro crianças, o Niall calça as galochas, pega na enxada e dirige-se para a horta. O trabalho que se segue promete ser árduo, pois a nossa horta tem estado um pouco abandonada, entre tantos trabalhos que todos os dias se nos oferecem.

- Já percebi que a minha tarde vai ser trabalhosa - Diz-me, a sorrir - Quando tenho quatro ajudantes, demoro também quatro vezes mais!

Mas o Niall sabe que o importante não é a qualidade da nossa horta. Felizmente, ela é apenas uma experiência pedagógica e não precisamos dela para comer! O importante é a qualidade do amor que os nossos filhos experimentam na sua tarde de trabalho na horta...

 

Mas se os mais novos adoram ajudar - desajudando -, os mais velhos já não insistem para que os deixemos trabalhar.

- Francisco, não vens comigo?

-...

- Francisco, preciso que retires todas as ervas daninhas.

- Todas, pai?

- Sim. É preciso limpar tudo para depois começar a plantar. Tens ali tudo o que é preciso, e o carrinho de mão está no pátio. Vens ou não vens?

Um suspiro quase imperceptível, o computador que se fecha, e o Francisco vai ajudar o pai.

O Niall sorri, contente. De novo, o que está em jogo é muito mais do que uma horta experimental... Importa ensinar aos nossos filhos o valor do trabalho e oferecer-lhes oportunidades para, também eles, aprenderem a amar, servindo.

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 Ao pôr do sol, encontro o Francisco na horta, três baldes de ervas daninhas a seu lado.

- Estás a fazer um belo trabalho! - Digo-lhe.

- Eu sei. Mas estou estafado! Hoje acordei com dores de costas por ter saltado tanto ontem com os cavalos.

- Todos nós estamos cansados. É natural! Agora importa não desperdiçares o teu trabalho desta tarde.

- Como assim, desperdiçar?

- Fizeste o que tinha de ser feito, porque o teu pai te pediu. Como filho obediente que és, não te passava pela cabeça não o fazer. Para o trabalho ficar feito, é indiferente estares de boa ou de má vontade... Mas para Deus, isso faz toda a diferença! Para Deus, só conta o que for feito por amor. O resto é pura perda de tempo.

- Eu sei. E é por isso que tenho estado a tarde inteira a oferecer a Jesus este trabalho!

 

Oferecer a Jesus o trabalho, por amor. Não é preciso que o trabalho nos faça sentir bem, nem que nos apeteça: basta dirigir a nossa intenção e, como o Niall e o Francisco, oferecer a Jesus o que tem de ser feito, unindo cada gesto à sua entrega na cruz. E de repente, tudo ganha sentido!

Desperdiçamos tantas oportunidades na vida, fazendo o que tem de ser feito por obrigação, contrariados, resmungando, para parecer bem, para não falarem de nós, por vaidade, por orgulho, por submissão... Dizia a Madre Teresa:

"Na nossa vida, não somos chamadas a fazer grandes coisas,

mas antes a fazer pequenas coisas com um grande amor."

E S. Paulo explica, no belíssimo capítulo 13 da sua primeira carta aos Coríntios:

 

"Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos

mas não tiver amor,

sou como bronze que soa ou tímpano que retine.

E se eu possuir o dom da profecia,

conhecer todos os mistérios e toda a ciência

e tiver tanta fé que chegue a transportar montanhas,

mas não tiver amor,

nada sou.

E se eu repartir todos os meus bens entre os pobres

e entregar o meu corpo ao fogo,

mas não tiver amor,

nada disso me aproveita." (1Cor 13, 1-3)

 

 

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publicado às 06:35

Pequenas plantas

por Teresa Power, em 25.04.14

Esta primavera tem sido uma aflição para os agricultores e os jardineiros. E como nós temos um bocadinho dos dois cá em casa, no rectângulo de terra a que chamamos horta, esta primavera tem sido uma aflição para nós. É que, assim que acabamos de plantar, vem uma chuvada forte, e lá se vai tudo literalmente por água abaixo! A cada sábado é necessário recomeçar quase do zero. E se a esta tarefa juntarmos a ajuda que a Lúcia, o António, o David e até a Sara querem dar, dá para imaginar o trabalho...

 

 

 

 

Os mais velhos decidiram fazer um espantalho, para assustar a passarada que insiste em comer o pouco que consegue nascer:

 

Fico a pensar nas plantinhas que crescem em nossas casas e nas nossas escolas: os nossos filhos, os nossos alunos. Quantas chuvadas apanham! Como é difícil crescer nos dias de hoje! Ainda mal despontam da terra, e já os ventos do mundo lhes enchem os olhos e os ouvidos de maldade. Na televisão, nos jogos de computador, nos livros, na moda, em muitos programas de Educação Sexual nas escolas, enfim, na mundanidade que nos cerca, quantos vendavais atacam as suas raízes ainda frágeis! Precisamos de estar muito atentos, construindo cercas, escolhendo o adubo, arrancando as ervas daninhas.

Mas a boa notícia é que os bons ventos e as boas chuvas abundam também hoje em dia como nunca antes! A Água da Vida jorra em movimentos de Igreja, catequeses, grupos de jovens, sites e programas televisivos com conteúdo educativo e religioso.

Diz o Livro de Ben Sira:

 

"Vai ao encontro da sabedoria como quem lavra e semeia, e espera pacientemente os seus bons frutos; porque terás um pouco de fadiga em seu cultivo, mas em breve comerás dos seus produtos." (Sir 6, 19)

 

Como jardineiros caseiros, precisamos de arregaçar as mangas, atirar para longe a fadiga e debruçarmo-nos sobre cada uma das nossas pequenas plantas, protegendo-as do que as pode matar, oferecendo-lhes o que as fará viver. Não temos tempo a perder - a primavera passa depressa e em breve será tempo de colheita...

 

 

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publicado às 08:19

Chegaram!

por Teresa Power, em 21.04.14

Chegaram! Foi a Lúcia a primeira a reparar. Depois foram os irmãos, e finalmente vieram-me contar: chegaram! pusemo-nos todos a olhar... Olhem também connosco: não notam nada de especial?

 

 

Claro que não, pois eles são muito, muito discretos! Só saem quando estamos distraídos e em silêncio, e fazem-no com uma rapidez tal, que não os consigo capturar com a máquina fotográfica. Resta-me filmar o buraquinho onde vivem, e onde ano após ano vêm construir o seu ninho. Estou a falar de um casal de chapins azuis!

Por enquanto, entretêm-se a construir o ninho; em breve estarão ocupadíssimos a alimentar as suas pequeninas crias, entrando e saindo do buraquinho a cada minuto, à vez, com a rapidez de um relâmpago. E finalmente, a família inteira deixará a sua casinha construída com tanto amor para se aventurar em voos ousados pelos campos em redor. 

Uma das mais belas passagens do evangelho, que merece ser memorizada para que dela nunca nos esqueçamos, diz assim:

 

"Olhai as aves do céu: não semeiam nem colhem, e no entanto, o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós muito mais do que elas, homens de pouca fé?" (Mt 7, 26)

 

Quando contemplo a alegria destes passaritos e a confiança ilimitada que eles demonstram ter no Senhor, fico a pensar na minha falta de fé. Se de facto acreditássemos no amor infinito de Deus, este amor que Deus provou na Cruz e que venceu todas as mortes da humanidade, nada nos perturbaria! E, como os passarinhos da minha oliveira, atravessaríamos esta vida esvoaçando alegremente pelos nossos dias...

 

 

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publicado às 10:28

Tempo para plantar

por Teresa Power, em 28.03.14

Chegou a primavera. Continua a chover, continua a fazer frio, mas para lá das aparências de inverno, tudo está diferente: os campos transbordam de cor, a brisa espalha aromas pelo ar, o dia e a noite enchem-se de sons, os corações estão mais leves. 

Diz o Eclesiastes que há um tempo para tudo...

 

"Tempo para nascer e tempo para morrer

Tempo para plantar e tempo para colher

Tempo para matar e tempo para curar

Tempo para destruir e tempo para construir

Tempo para chorar e tempo para rir

Tempo para abraçar e tempo para separar

Tempo para guardar e tempo para deitar fora

Tempo para rasgar e tempo para costurar

Tempo para calar e tempo para falar..." (Ecl 3, 1-8)

 

Pois bem, agora é tempo para plantar!

 

Primeiro é preciso convencer as galinhas a regressar de vez ao galinheiro, que já não está inundado. Enquanto passearem pelo jardim como se tudo lhes pertencesse, não há horta que resista!

Depois é preciso trabalhar a terra. E isso faz-se com a enxada na mão e com força muscular! Há que suar, há que perder tempo, há que dar o litro para que a terra fique macia e pronta a acolher a semente...

 

 

- Que flores tão lindas estas, Niall!

- Flores? Então não sabes que são ervas daninhas?

- Ervas daninhas? Mas são tão bonitas! Não as arranques!

- Se as não arrancar, elas vão alastrar por toda a horta, e não terás uma única couve. O que é que tu queres afinal?

 

A Sara é a melhor ajudante do Niall, claro. Enquanto houver terra para cavar, ei-la disponível! A Lúcia prefere a bicicleta, e o António já se cansou de cavar. É divertido durante um bocadinho, mas depois dói nos braços...

 

O Francisco vai a Náturia (se alguém por acaso ainda não sabe onde fica Náturia, pode ler este post) buscar canas para plantar o tomate. Também ele tem de trabalhar, cortando e limpando as canas!

 

Finalmente, a terra está preparada. Agora sim, podemos começar a semear e a plantar! Ao longo de todo o inverno, o Niall e eu conversámos e tomámos decisões sobre a disposição e o conteúdo da nossa horta este ano. Está na hora de pôr em prática o que decidimos fazer.

Vejam como está bonito o primeiro carreirinho da nossa horta primaveril!

 

Quaresma. É a primavera da Igreja que regressa! No nosso Canto de Oração, multiplicam-se as flores. A cada novo dia, novos gestos de amor brotam no deserto...

Quaresma. Tempo para cavar, suar, trabalhar com coragem e determinação a "terra" do nosso coração. É preciso revolvê-la sem medo da "enxada", trabalhar com persistência sem medo que doa, até ela ficar macia. Diz o Senhor através do profeta Ezequiel:

 

"Eu extrairei do seu corpo o coração de pedra e lhes darei um coração de carne, de modo que andem segundo as minhas leis..." (Ez 11, 19-20)

 

As "ervas daninhas" são atraentes, fáceis, cómodas, mas perigosas. Com que rapidez e eficiência elas alastram na "horta" da nossa vida e da nossa família! Se as colhermos apenas superficialmente, em breve regressarão, e com mais força ainda. É preciso ir ao fundo, cavar a terra com as mãos e arrancar a raíz.

 

Finalmente, podemos plantar.

Quantas conversas em família sobre os frutos que desejamos para este ano! Quantos sonhos, quantas ambições! A quaresma chegou e a Páscoa está quase aí. É preciso pôr em prática tudo o que decidimos mudar, semear, fazer crescer cá em casa...

 

Diz S. Paulo:

"Não vos enganeis. O que uma pessoa semear, também há-de colher. Não nos cansemos de fazer o bem, pois no momento certo havemos de colher, se não desanimarmos." (Gl 6, 7.9)

 

 A primavera chegou também para nós. Mãos à obra!

 

 

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publicado às 08:42

Fitas brancas

por Teresa Power, em 21.03.14

Nos meus tempos de jovem animadora dos Convívios Fraternos, costumava escutar com prazer o padre Armando, que já partiu para Casa, falar-nos do perdão. Contava ele, parafraseando a parábola do Filho Pródigo:

 

Um jovem decidira sair de casa. Depois de gastar todo o seu dinheiro, começou uma vida de indigente, drogado e ladrão. Um dia, por fim, pensou em regressar, mas teve receio da reacção do pai. Então escreveu uma carta, onde dizia: "Pai, lembras-te daquela árvore que plantámos juntos, tantos anos atrás, na entrada da nossa quinta? Lembras-te como eu gostava de nela subir, cheio de alegria? Se tu me perdoaste já o meu pecado, se estás disposto a receber-me de volta, peço-te que ates uma fita branca num ramo, para que eu saiba, ao aproximar-me da nossa quinta, que sou bem-vindo..." E o jovem pôs-se a caminho. Um dia depois, subia nervoso a última encosta do percurso. Estava quase a ver a árvore... E eis que de repente, a mais bela visão da sua vida lhe encheu a alma de gratidão: nos ramos da árvore que plantara com o pai não estavam uma, mas milhares de pequeninas fitas brancas, oscilando à brisa da tarde.

 

Nestes dias de primavera, sempre que olho para o jardim e vejo as árvores de fruto cobertas de minúsculas flores brancas, recordo-me desta história. Deus plantou connosco cada uma destas árvores para nos falar do seu perdão. Como diz o papa Francisco,

 

"Deus nunca se cansa de nos perdoar. Não nos cansemos nós de lhe pedir perdão!" (24/3/13)

 

O salmo 50, escrito pelo Rei David depois de ter cometido dois graves pecados em conjunto - adultério e homicídio - é um hino à misericórdia do Senhor. Cheio de confiança filial, David sabe que Deus tem poder para lavar o seu pecado até ao último grão de poeira:

 

"Lava-me, e ficarei mais branco do que a neve!" (Sl 50, 9)

 

A quaresma, como a primavera, é o tempo das flores novas. E hoje, 21 de março, é Dia da Árvore! Apressemo-nos, com alegria e gratidão, a receber o sacramento do Perdão, e encontraremos a árvore do Senhor coberta de fitas brancas...

 

 (fotografia tirada em Fátima, no jardim da Casa da Jacinta e do Francisco)

 

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publicado às 08:36

Via-Sacra com piquenique

por Teresa Power, em 12.03.14

Nossa Senhora é, sem qualquer sombra de dúvida, a Mãe na nossa casa. Ainda o Niall e eu namorávamos, e já rezávamos o terço em conjunto, ou ao mesmo tempo embora separados por 2000km de distância - ele na Irlanda, eu em Portugal, depois de nos termos conhecido em Erasmus enquanto estudantes... - e assim continuámos a fazer, durante a nossa vida de casados, até hoje. À medida que cresciam, os nossos filhos foram-se associando a esta belíssima oração, que marca o ritmo da nossa vida e nos oferece um encontro diário com Jesus, o filho de Maria.

 

Casámos em Fátima, terra de Nossa Senhora. E no seu cuidado maternal, Nossa Senhora trouxe-nos, há sete anos atrás, de Aveiro para esta sua outra terra, Mogofores, onde se ergue, cheio de simplicidade, o Santuário Nacional de Nossa Senhora Auxiliadora. Lembro-me de ser criança e de passar de combóio, na linha norte, pela estação de Mogofores. Lembro-me de contemplar o pináculo do Santuário, de admirar a imagem de Nossa Senhora nele erguida, e de pensar: "Que bonito! Que igreja será esta, tão bela e tão grandiosa, aqui perdida no meio do campo?" Foram precisos muitos anos para eu descobrir... E sem me dar conta, vim viver à sua sombra! Maria quer-nos bem perto de si, está visto. Afinal, no dia do nosso matrimónio consagrámo-nos a Ela, como propomos hoje a todas as Famílias de Caná. Estamos convencidos de que, no céu, iremos ficar maravilhados ao descobrirmos o quanto Nossa Senhora fez por nós e o quanto Lhe devemos!

 

 

O cheirinho a primavera, o sol a brilhar lá fora, as flores a brotar... Depois de um inverno tão longo e tão chuvoso, não apetece ficar em casa! Assim, decidimos ir fazer um piquenique no próximo sábado, caso o tempo se mantenha. Cá em casa adoramos piqueniques, nem que seja no descampado no fim da rua! Mas desta vez, o destino será Fátima, onde poderemos fazer a Via-Sacra pelos Valinhos, numa bela caminhada a pé!

Pensamos ir de manhã ao Santuário, onde nos confessaremos e rezaremos um pouco; Depois iremos fazer uma visita às casas dos pastorinhos, claro, que é uma grande catequese de simplicidade e alegria para as crianças - e para nós; faremos em seguida um piquenique num lugar bonito perto da Rotunda Sul, e depois de almoçar e brincar, percorreremos o caminho de Jesus, pelos campos floridos, na companhia de Nossa Senhora. Levaremos connosco uma guitarra, uma Bíblia, algumas meditações, e muita alegria. Terminaremos na Capela Húngara, onde faremos a nossa oração familiar final.

 

E agora, o CONVITE: se algum dos nossos leitores e a sua família, ou alguma Família de Caná nos quiser acompanhar, sede muito bem-vindos! Não deve ser difícil localizar uma família barulhenta de oito pessoas em Fátima, ao redor do Santuário, na capela das confissões, na Capelinha das Aparições... Teremos todo o gosto em partilhar convosco o Caminho Sagrado, a nossa oração, as nossas gargalhadas - e a nossa merenda!

 

 

(Imagem retirada do site oficial do Santuário de Fátima)

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publicado às 07:00

Sol

por Teresa Power, em 20.02.14

Quando o inverno se prolonga excessivamente, os primeiros raios de sol inundam a alma de alegria. Que festa! Um dia sem chuva, e logo o estendal se enche de roupa a dançar ao vento, as janelas se abrem de par em par, as crianças sobem de novo às árvores e brincam na relva, rebolando-se no chão e contemplando os desenhos das nuvens. É hora de lavar as galochas e de as deixar secar ao sol!

 

Nos primeiros dias de primavera, diante do milagre da vida que regressa, gosto de abrir a Bíblia no seu mais belo poema de amor - o Cântico dos Cânticos - e meditar no amor de Deus, que nos chama a partilhar a alegria e a festa da Trindade:

 

"Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem!

Eis que passou o inverno: a chuva passou e se foi;

brotam as flores, chegou o tempo das canções,

e a voz da rola ouve-se em nossa terra!" (CC 2, 10-12).

 

Deus tem por nós um amor apaixonado, excessivo, louco. Quantas surpresas Ele nos faz, quantas palavras de amor Ele nos murmura ao ouvido, sem que nós disso nos apercebamos! Pensamos que é inverno, e Ele ali, tão perto...

Mas há dias em que o sol rompe as nuvens e seca a chuva. De repente, tomamos consciência de que Ele sempre ali esteve; de repente, descobrimos sinais do seu amor na nossa vida e apetece-nos saltar de alegria. Olhamos para trás, e apercebemo-nos de que Deus nunca nos abandonou, nunca nos deixou ao relento no frio e na escuridão do mundo, nunca retirou a sua mão nem desviou o seu olhar. Nós é que estávamos distraídos!

 

 

Foi assim no retiro de Famílias. Deus veio ao nosso encontro, segurou a nossa mão entre as suas, e declarou-nos o seu amor. Como disse a Guida no seu comentário ao post sobre o retiro, Deus pegou-nos ao colo. O sol brilhou e tudo pareceu tão simples!

Quando o inverno regressar (porque ele sempre regressa), precisamos de encontrar - de novo - um caminho por entre as nuvens para nos deixarmos - de novo - amar por Deus. Um tempo mais forte de oração, uma hora de leitura intensa da Palavra, a confissão, uma oração familiar mais elaborada...

 

 

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publicado às 08:56



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