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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- David, hoje vais ter um encontro nos Salesianos. Tens aqui o lanche para partilhares com os teus amigos.
- Achas que os meus amigos vão estar lá?
- Alguns, seguramente! E será uma grande oportunidade para fazeres novos amigos. Vamos, que já são horas!
O David saiu para o seu encontro de crianças e pré-adolescentes, entusiasmado e cheio de expetativa. Ainda eu lhe dizia adeus à porta, e já a Clarinha perguntava:
- Mãe, vens comigo esta noite ao concerto-oração? Gostava tanto que fosses tu a acompanhar-me!
Conhecem as músicas da Claudine Pinheiro? Se ainda não, procurem no Youtube algumas, para escutar, porque vale mesmo a pena! A Claudine é leitora deste blogue quase desde o primeiro momento. Já nos encontrámos algumas vezes, não só nos encontros do E-vangelizar, mas também para fazer um belíssimo piquenique, no verão passado. Recordo com saudade os belos momentos que partilhámos no "nosso" lago no Caramulo. Sábado à noite, a Claudine teve mais um momento divino da sua magnífica missão de evangelização através da música. Por mail, convidou-nos a estar presentes, visto ser apenas a trinta quilómetros da nossa casa.
- Vens comigo, mãe? - A Clarinha mal podia esperar pelo concerto.
- Claro que vou. Anda, ajuda-me a arrumar esta casa!
O David regressou a casa ao fim da tarde, feliz, suado, transbordante de alegria.
- Estivemos na barriga da baleia, mãe!
- Da baleia? Qual baleia?
- Aquela que engoliu Jonas! Nem imaginas: o ginásio era a barriga da baleia, e para entrarmos tínhamos de passar pelos seus dentes, a sua boca aberta, bem desenhada na porta. Foi tão giro! E brincámos nos insufláveis. E vimos um filme. E rezámos, cantámos e fizemos muitas coisas!
- Muitas coisas?
- Muitas. Olha, havia uma pizza gigante para comer! Deliciosa! E trago presentes. Livros, postais...
Pouco depois, a Clarinha e eu saíamos para o concerto, rezando juntas o terço na meia hora de viagem. Foi a nossa vez de ficarmos deliciadas, coração cheio, lágrimas nos olhos. A Claudine não canta só com a voz maravilhosa que Deus lhe deu: canta com o sorriso, com os olhos, com os braços abertos, amplos, estendidos, com os gestos, com o coração. E o Miguel toca guitarra com a alma toda a sair-lhe pelos dedos. Não há palavras para descrever tamanha beleza! A pequena igreja paroquial de Valmaior estava cheia, e os aplausos foram sinceros e sentidos.
Domingo de manhã foi dia de primeira comunhão, na nossa paróquia. Vestidos brancos, coroas de flores, velas acesas, crianças. Crianças expectantes, de sorrisos nervosos, de olhar límpido. Jesus que vem e que desce a cada coração pela primeira vez. Ah, o primeiro beijo... A igreja está cheia, os adultos fazem algum barulho e há certamente muita dispersão da atenção. Mas nos corações infantis daqueles meninos e daquelas meninas, o Amado foi recebido num silêncio que nada nem ninguém conseguiu perturbar.
Depois do almoço, o grupo de discernimento vocacional Monte Horeb, de Barcelos, veio a nossa casa. A Paula conheceu-nos a partir deste blogue também quase desde o início, e desde então já nos encontrámos várias vezes, incluindo num retiro Famílias de Caná, em Castelo de Neiva. Como orientadora deste grupo, quis oferecer aos jovens a oportunidade de conhecer o dia-a-dia e a vida de fé de uma família católica, como exemplo possível de vocação matrimonial. Que grande festa foi o nosso encontro! Conversámos a tarde inteira, lanchámos em abundância, cantámos, vimos a magia do Francisco, brincámos com os novos gatinhos e, por fim, rezámos, ao ritmo natural que tem a oração familiar na nossa casa.
Caiu a noite... Já deitada, enquanto faço o meu exame de consciência, revejo os acontecimentos e a festa deste fim-de-semana: o encontro catequético do David, o concerto-oração com a Claudine, a missa festiva, os jovens do Monte Horeb... Encontros paroquiais, encontros de famílias, encontros virtuais que, pouco a pouco, se tornam reais e acontecem em Igreja...
Comunidade. Ser cristão é sempre, sempre, ser comunidade. Somos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e vivemos este sentido trinitário, comunitário, desde o primeiro instante de Igreja. Ninguém é cristão sozinho, porque em Jesus, todos formamos um único corpo, o Corpo Místico, onde todos nos tornamos membros uns dos outros.
Nestes dias pascais, a Igreja tem como leitura favorita os Atos dos Apóstolos, recheados de histórias e aventuras comunitárias. Aí lemos que, apesar de todos os problemas e pecados das primeiras comunidades - tão semelhantes aos problemas e pecados das nossas, e das de todos os tempos - os primeiros cristãos eram já imagem e semelhança deste Deus Trinitário, este Deus-Comunidade:
"A multidão dos que tinham abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles." (At 4, 32-33)
Que o Senhor nos ajude a fazer, cada vez mais, comunidade, uns com os outros, em Igreja, nas nossas casas, nas nossas paróquias, nos nossos movimentos, na Internet... Ámen!
-Meninos, nem imaginam a bela notícia que li hoje no blog da Olívia.
- O que é? É sobre a bebé Lúcia?
- Não, é sobre a Maria.
- A minha amiga?
- Sim, Lúcia, a tua amiga. Imagina tu! Este ano, a mãe está a dar-lhe a catequese em casa, porque na sua aldeia há poucas crianças e ela não tinha oportunidade de caminhar com um grupo. Outro dia, o senhor padre foi lá a casa e disse... Esta é a boa notícia: disse que a Maria estava muito bem preparada, e portanto podia fazer a sua primeira comunhão já no domingo de Páscoa. Não é lindo?
- Que maravilha! Ela deve estar muito feliz!
- Ah, o senhor padre reconheceu o trabalho da Olívia!
- Vai ser um domingo de Páscoa muito bonito!
- E tu, Lúcia? Não dizes nada?
Mas a Lúcia não diz nada. Aliás, de repente, e como acontece com alguma frequência, os seus olhos enchem-se de lágrimas.
- Que se passa? Não ficaste feliz pela Maria?
A Lúcia diz que sim com a cabeça.
- Então...
- Mãe - Desabafa finalmente - Por que é que eu não posso fazer a primeira comunhão também na Páscoa? Não estou tão preparada como a Maria?
A Lúcia senta-se ao meu colo e conversamos um bocadinho.
- Lúcia, tu vais fazer a tua primeira comunhão com o teu grupo de amigos. Não é maravilhoso? E tens dois catequistas tão bons! Vai ser uma festa muito bonita. Não fiques triste!
A Lúcia limpa os olhos com as costas da mão.
- Mas eu queria tanto receber Jesus... Queria ter Jesus no meu coração!
- Já falta pouco, Lúcia! Vais ver...
À noite, sentada ao computador, contei à Olívia a reação da Lúcia. E na quarta-feira passada, ao abrir a caixa do correio, tive uma surpresa.
- Lúcia, olha só o que chegou para ti! Uma carta! - Chamei, entusiasmada.
A Lúcia veio a correr. Com os olhos iluminados, pegou na carta, sentiu o seu peso, cheirou-a, revirou-a entre os dedos.
- É da Maria! - Disse, por fim.
- Não vais abrir?
- Vou. - Com gestos decididos, a Lúcia abriu a carta. Lá dentro, estava este lindo desenho:
O entusiasmo destas duas crianças perante Jesus-Eucaristia emocionou-me. Durante muito tempo, fiquei a pensar na forma relaxada, pouco entusiasmada, frequentemente indiferente com que recebemos Jesus em cada missa. Quando foi que os nossos corações se tornaram dormentes, frios, de pedra? Quando foi que perdemos a fé límpida que o batismo nos deu? Por que permitimos nós que a rotina mate o amor? Teremos realmente fome? Teremos realmente sede? Recordei-me da promessa de Deus, ecoando desde os confins da Bíblia:
"Tirarei do teu peito o coração de pedra e dar-te-ei um coração de carne..." (Ez 11, 19)
Senhor, cumpre hoje de novo a tua promessa, a promessa de transformares os nossos corações de pedra em corações de carne, corações capazes de sentir fome, capazes de sentir sede, capazes de sofrer a tua ausência, capazes de Te desejar loucamente, capazes de pulsar apenas por Ti... Ámen!
No domingo à noite, depois da festa familiar do crisma do Francisco, ligávamos nós pela quinta vez consecutiva a máquina da louça, quando comentei com o Niall:
- O nosso serviço de pratos de ocasiões especiais e as nossas toalhas de linho, bordadas pela minha avó há tantos anos estão a ficar gastos de tanto serem usados! O pó não chega a assentar nesta louça especial, e o linho já tem manchas de chocolate e de vinho que ninguém consegue lavar. Ufa!
- É bom sinal. É sinal de que estamos sempre em festa! - Respondeu-me ele.
A nossa conversa lembrou-me uma passagem de um discurso do Papa Pio XII às Famílias Numerosas, que li há anos mas nunca esqueci. Fui à estante procurar o livro que fala deste discurso, para o poder partilhar aqui:
"Uma família numerosa bem ordenada é como um santuário visível: o sacramento do batismo não é para ela um acontecimento excecional, mas renova por muitas vezes a alegria e a graça do Senhor. A série de alegres peregrinações às fontes batismais ainda não terminou e já recomeça no deslumbramento de idênticas alvuras, a das confirmações e das primeiras comunhões. Mal o mais novo dos irmãos depôs o seu vestido branco entre as mais caras recordações da vida, e já esvoaça o primeiro véu nupcial que reúne ao pé do altar pais, filhos e novos parentes. Seguir-se-ão, como uma sucessão de primavera, outros casamentos, outros batizados, outras primeiras comunhões, como que perpetuando na casa as visitas de Deus e da sua graça." (Pio XII, discurso de 20 de janeiro de 1958)
Na verdade, só este ano celebramos a receção de dois magníficos sacramentos em dois domingos consecutivos; e quase todos os anos temos tido celebrações religiosas familiares, sobretudo batismos! Como bem referiu o Papa, estes dias festivos são para todos nós uma fonte infinita de graças especiais e abundantes. Tenho bem presente na memória a sensação de profunda paz causada por cada um dos batismos dos meus bebés, como se eu mesma tivesse sido visitada por Deus de uma forma nova, luminosa e pura. Essa mesma sensação, experimento-a agora, neste clima festivo da Primeira Comunhão do David e do Crisma do Francisco.
Quando Deus visita um elemento de uma família, visita igualmente a família inteira. Assim o experimentavam os judeus, desde tempos imemoriais, e assim o anunciaram os Apóstolos. Num dos inúmeros episódios de conversões que acompanharam, Paulo e Silas tiveram este belo diálogo:
"«Que devo fazer para ser salvo?» Paulo e Silas responderam: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua família.»"
(At 16, 30-31)
Quantas vezes, numa família, apenas um ou dois dos seus elementos acreditam no Senhor Jesus? Tantas... A Palavra de Deus enche-nos de alegria: pela porta dos que crêem passará, um dia, toda a família; e a visita de Deus a uma casa é como a luz do Sol a entrar por uma janela aberta, iluminando todos os que nela habitam... Ámen. Aleluia!
P.S. - Porque não vêm ao Retiro de Neiva? Será uma oportunidade para abrir a porta da vossa casa ao Senhor Jesus. E mesmo que não venha a família completa, todos receberão a visita! Na coluna direita deste blogue têm o link para o post sobre o retiro, através do qual se podem inscrever.
O dia dezanove de abril está gravado no crucifixo que o David, desde então, traz ao peito; e está gravado no seu peito. Neste post, escrevi sobre a tranquilidade e a alegria pura deste dia. Hoje vou falar-vos um bocadinho daquilo que vivemos na Eucaristia...
Os meninos da primeira comunhão começaram o dia com uma breve procissão diante do santuário. Na mão, levavam uma flor, para no final da Eucaristia oferecerem a Nossa Senhora. O David ia, como costume, muito compenetrado:
A entrada solene no santuário emocionou-me, e foi com dificuldade que continuei a cantar ao microfone. "Vinde e louvai-O!" Cantavamos todos, com voz sonora e decidida. E os meninos vieram e louvaram Jesus, sempre em procissão. Na coxia central, pararam cada um ao lado do banco onde se encontrava a sua família, e depois de uma genuflexão bem feita, mantiveram-se de pé.
Uma das belas surpresas que tive nesta paróquia foi a forma como, na primeira comunhão, as crianças permanecem junto dos pais e da sua família, e não em grupo nos primeiros bancos. Assim, nem elas, nem os pais se distraem, e o momento mais belo das suas curtas vidas acontece a nosso lado e sob o nosso olhar. Estar ao lado do David - como já estive ao lado da Clarinha, que também fez a sua primeira comunhão neste santuário - foi para mim um enorme privilégio.
A Clarinha cantou o salmo, o David leu uma oração dos fiéis, e todos participámos de coração na cerimónia. Às vezes, a voz faltava-me e sentia os olhos molhados, mas acho que ninguém deu conta...
- David e Matilde, querem mostrar a todos o painel que o grupo construiu? - O senhor padre falava aos meninos do encontro profundo com Jesus, o Bom Pastor. - Cada um de vós é uma ovelhinha diferente, especial, única; e cada um de vós quer viver a sua vida nos prados do Bom Pastor, Aquele que dá a sua vida...
Depois da comunhão, as catequistas tinham uma lembrança para os meninos: um livro de orações feito por elas e muito personalizado. Os meninos adoraram! Desde então, todos os dias o David se senta com o seu livro, acompanhando com ele os mistérios do Rosário.
Ao receber o seu livrinho, o David sussurrou à Carla, sua querida catequista: "Também tenho um presente para ti!" O presente era um simples cartãozinho, feito com muito esforço e carinho. Nele, o David escreveu o versículo da Carta de S. Paulo aos Gálatas:
"Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!" (Gl 2, 20)
Depois, nós, os pais, oferecemos às duas evangelizadoras dois lindos ramos de flores, com esta mensagem:
"Queridas evangelizadoras
Hoje, Jesus vive de modo especial no coração dos nossos filhos. A nossa alegria é profunda, e a nossa gratidão imensa: sabemos que este dia aconteceu graças também à vossa fé, ao vosso carinho, às horas que ambas passaram a preparar as evangelizações, a imaginar formas diferentes e interessantes de trabalhar com os nossos filhos as histórias de Jesus. Agradecemos a paciência com que os ensinam todas as semanas. Agradecemos, acima de tudo, o vosso amor por Jesus, pois é esse amor que vos faz trabalhar com os nossos meninos. Por tudo, e sempre, o nosso obrigado!"
E neste obrigado sentido, fica aqui a minha homenagem a todos os catequistas e evangelizadores que trabalham com as crianças cristãs. É um trabalho gratuito, difícil, demorado, às vezes sem ver frutos imediatos, e mais vezes ainda sem ouvir um "obrigado". Mas o Senhor, que vê o que está oculto, não os deixará sem a sua recompensa. Bem-hajam especialmente a Carla, aTeresa, o João e a Isabel, catequistas dos nossos filhos; e a Paula, na Barra, onde o Francisco fez a sua primeira comunhão há alguns anos atrás!
E a comunhão do David? A mesa está posta, o Pão e o Vinho preparados. Jesus já entregou a sua vida. Tudo está consumado. Falta a nossa parte... É preciso deixar o nosso lugar e correr ao manancial da vida, à Fonte de Eternidade. O David dá um passo e fica diante de Jesus. Depois, cheio de felicidade, recebe Jesus em sua casa.
A seu lado,o Niall e eu acompanhamos o David em oração intensa. Depois, também nós comungamos.
De volta ao lugar, o David reza, muito compenetrado.
Regresso ao meu lugar na condução do coro, cantando com emoção um cântico que escrevi há alguns anos, e escolhi de propósito para este dia: "Nada me separará do teu amor, ó Senhor!" Porque como diz S. Paulo,
"Nem a morte, nem a vida,
nem a altura, nem a profundidade,
nem a largura, nem o abismo,
nem o passado, nem o futuro,
nem os anjos, nem os principados,
nem qualquer outra criatura
nos poderá separar do amor de Deus,
manifestado em Jesus Cristo, Nosso Senhor."
(Rm 8, 35-39)
Que nada separe estes meninos do amor de Jesus!
Que cada Eucaristia seja um renovar da comunhão intensa com o Senhor!
Que cada comunhão seja a primeira e a última, a única, a definitiva. Ámen! Aleluia!
E se quiserem ver e escutar a alegria com que cantámos e dançámos o cântico final, vão ao blogue da Lena, nossa acólita e mãe de uma linda Família de Caná. Do altar, onde servia, ela filmou este belo cântico... Cantem connosco!
Há poucos dias mais belos na vida que o dia da primeira comunhão...
A manhã que desponta serena, luminosa e bela.
O jasmim florido e perfumado.
Os meninos transbordando entusiasmo.
A corrida contra o tempo, vestindo crianças e fazendo penteados, voltando a vestir e voltando a pentear, lavando a cara da Sara e do António e evitando as nódoas do leite com chocolate na roupa de festa, tudo isto ao som do salmo, que a Clarinha treina ininterruptamente.
Chegar ao santuário antes das nove e meia da manhã, suspirar de alívio, acalmar.
Levar o David junto da imagem de Nossa Senhora Auxiliadora:
- David, antes de ires ter com os teus amigos, vamos rezar juntos, sim?
- A consagração?
- A consagração...
Assim que tenha as fotografias da missa, falar-vos-ei da Primeira Comunhão do David. Hoje falo-vos da serenidade do seu dia, da alegria com que, toda a tarde, brincou, interrompendo de vez em quando para, discretamente, contemplar o seu novo crucifixo, ler umas palavras nos livrinhos de orações recebidos, beijar a imagem do rosto de Jesus, na pagela que lhe oferecemos.
Almoçámos em casa, na companhia dos padrinhos e da sua linda Família de Caná, da avó, dos tios e dos primos de Coimbra.
Durante a tarde, o sol brilhou, os adultos puseram a conversa em dia, e os mais novos não pararam de correr e saltar:
- Uma joaninha, mamã! E não quer voar! Quer ficar na minha mão!
A meio da tarde, o senhor padre veio visitar-nos. Já tinha percorrido todas as casas e restaurantes onde havia festa, e a casa dos Power devia concluir as suas visitas de Pastor - de verdadeiro e bom Pastor! O David ficou cheio de alegria com a visita. Apressou-se a pedir a bênção para os terços e crucifixos recebidos, e a tirar uma fotografia para recordação:
Antes do jantar, depois de todos irem embora, os meninos viram o DVD "David e Golias", em desenho animado, que oferecemos ao David. A Sara adormeceu no sofá...
- Mamã, acho que Jesus já está a trabalhar no meu coração - Disse-me o David, durante o jantar.
- Ai sim? E como sabes isso?
- Hoje, a jogar futebol no jardim, perdi contra o Martim. Sabes como costumo ficar irritado quando perco... Pois olha: hoje não fiquei irritado, e continuei alegre! Achas que vou ficar cada vez mais alegre, quando fizer a segunda, a terceira, a quarta, a quinta comunhão?
- Acho que sim, David...
À noite, depois de todos estarem deitados, enquanto o Niall e eu esvaziávamos e enchíamos a vigésima quinta máquina da louça (acho que estou a exagerar, mas só um bocadinho...), conversámos sobre a tranquilidade deste dia.
- No blogue temos muitos comentários, e no mail e telemóvel também, de amigos a enviar um abraço ao David - Disse ao Niall.
- Tantos amigos que Deus nos deu!
- Sinto-me a transbordar de gratidão... Gratidão para com tanta gente, gratidão, acima de tudo, para com o Senhor! Que dia tranquilo e belo passámos...
- Sabes, Teresa, neste mesmo dia em que Jesus entrou no coração do David, setecentas pessoas morreram ao largo de Itália. Refugiados, emigrantes, pobres...
- A sério?
- Ouvi na rádio. Setecentas!
Ficámos em silêncio uns instantes. O Jesus que o David recebera em seu coração puro era o mesmo Jesus que morrera nas águas do Mediterrâneo, disfarçado de emigrante; o Jesus ressuscitado e glorioso do Apocalipse é o mesmo Jesus crucificado e abandonado do Calvário.
Mas a grande maravilha do amor de Deus é esta: cada criança que acolhe Jesus em seu coração, aproxima o mundo um bocadinho mais da Luz; cada criança que se santifica, santifica um bocadinho mais o mundo inteiro... O "Nós" da Comunhão, que nos une a Jesus, é a fonte primeira do "Nós" da humanidade, que nos une uns aos outros como filhos do mesmo "Pai Nosso, que está nos Céus"...
"Se dissermos que estamos em comunhão com Deus e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas se caminhamos na luz como Ele está na luz, estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado." (1Jo 1, 6-7)
Que cada Eucaristia e cada Comunhão nos aproximem mais uns dos outros, e todos de Deus. Ámen! Aleluia!
Hora de oração familiar. Na sala, diante do Canto de Oração, rezamos o salmo da missa do dia. Um dos versículos diz assim:
"Saboreai e vede como o Senhor é bom!" (Sl 34/33)
- David, que te lembra este versículo? - Pergunto.
O David fica confuso, depois reage com alegria e surpresa:
- A hóstia! Saborear o Senhor! Ver como Ele é bom...
- Claro! Vais fazer a tua primeira comunhão. Vais pela primeira vez saborear e ver como o Senhor é bom!
- Mas eu já sei que Ele é bom.
- Agora falta saborear o Pão que Ele te dá, o Pão que é a sua carne, o seu próprio corpo entregue por ti.
- Como é saborear? Tenho de deixar a hóstia na boca muito tempo?
- Não. Jesus vai entrar na tua boca, mas Ele quer chegar ao teu coração. Saborear um alimento significa comer com gosto, pensando no que estamos a fazer, não é? Saborear o Senhor significa tomar gosto no seu amor, pensar na sua Palavra, estar consciente da sua presença. Quando Jesus entrar no teu coração, podes dizer com toda a verdade: "Nós, Jesus." Porque a partir desse momento, Jesus e tu estarão para sempre unidos.
O David deitou-se cheio de alegria, a pensar na sua primeira comunhão, tão próxima. Eu fui para a sala e procurei na estante um livro magnífico: O Preço a Pagar por me tornar Cristão, de Joseph Fadelle. Já referi várias vezes este livro. Conta a história verídica e atual de um muçulmano que se converteu ao cristianismo, e as torturas e os tormentos por que teve de passar a partir de então, até finalmente conseguir ser batizado e refugiar-se em França, onde vive com a mulher e os filhos. Na base da sua conversão esteve um sonho, e foi esse sonho que me fez procurar de novo o livro na estante. Passo a citar:
"Este sonho - e lembro-me dele muito nitidamente - coloca-me na margem de um rio, não muito largo. Na outra margem, uma personagem com cerca de quarenta anos, talvez mais velha, vestida com uma roupa bege de uma só peça, à oriental, sem gola. E sinto-me irresistivelmente impelido para aquele homem, desejando passar para o outro lado, para me encontrar com ele.
Quando começo a atravessar o regato, fico suspenso no ar, durante alguns minutos que me parecem uma eternidade. E receio até com algum horror não poder descer à terra.
Como tinha sentido que o meu mal-estar aumentava, o homem da outra margem estende-me a mão, para me ajudar a atravessar o curso de água e aterrar ao seu lado. Nesse instante, posso facilmente observar o seu rosto: olhos azuis acizentados, uma barba rala e cabelos meio longos. Fiquei impressionado com a sua beleza.
Pousando sobre mim um olhar de uma doçura infinita, o homem dirigiu-me suavemente uma única frase, enigmática, com um timbre de voz tranquilizador e convidativo: «Para atravessares o ribeiro, precisas de comer o pão da vida.»"
Nesse mesmo dia, este jovem muçulmano tem pela primeira vez na mão o Novo Testamento (terão de ler o livro para perceber como teve acesso a ele!). Sem saber por onde começar, decidiu-se pelo último evangelho, o de João:
"Quando chego ao capítulo seis, paro repentinamente a minha leitura, atordoado, no meio de uma frase. Tenho o cérebro em ebulição: "Eu sou o Pão da Vida", leio. Então passa-se em mim algo extraordinário, como se repentinamente, uma luz deslumbrante iluminasse a minha vida de maneira inteiramente nova e lhe desse todo o seu sentido. No mesmo instante, compreendo que o meu sonho da noite anterior era mais do que um sonho: sinto, muito nitidamente, que havia nele como que um chamamento ou uma mensagem pessoal que me era dirigida através daquelas palavras..."
Saborear e ver como o Senhor é bom... Comer o Pão da Vida para podermos passar para a outra margem, a margem da eternidade e da perfeita felicidade... É já amanhã, a primeira comunhão do David!
(David e Lúcia ontem de manhã na Gruta de Lourdes, no seu Colégio)
Hoje é dia de S. Pio X. Uma pequena pesquisa na net fez-me perceber a grandeza deste papa, que morreu em 1914 e que imediatamente foi invocado como santo pelo povo: José (seu nome de baptismo) nasceu numa família humilde e numerosa, que fez grandes sacrifícios para o filho poder estudar. Quando se tornou padre e, finalmente, papa, José continuou a viver com simplicidade e pobreza, surpreendendo o mundo de então.
Mas se hoje falo de S. Pio X é por uma razão especial: foi este santo papa que permitiu aos católicos receber a comunhão todos os dias. Decretou ainda que a primeira comunhão fosse ministrada às crianças a partir dos sete anos de idade. A Eucaristia tornou-se, assim, verdadeiramente alimento dos cristãos, alimento quotidiano, frequente, acessível, oferecido gratuitamente aos pequeninos e humildes, como sempre foi desejo de Jesus. Muitos anos antes do Evangelho, no deserto, Deus alimentara o seu povo todos os dias com o pão do céu, o maná. E as suas instruções tinham sido bem claras: o maná devia ser recolhido todos os dias em quantidade suficiente para alimentar toda a família:
"Esse é o pão que o Senhor vos dá para comer. Eis o que o Senhor vos mandou: recolhei a quantia que cada um de vós necessita, de acordo com o número de pessoas; cada um recolherá para os que moram em sua tenda." (Ex 16, 16)
Todas as manhãs, durante quarenta anos, os israelitas recolheram o maná para alimentar as suas famílias. Que alegria, podermos nós também todos os dias, na Eucaristia, "recolher o maná" de que necessitamos para alimentar espiritualmente as nossas famílias!
Cá em casa, é raro conseguirmos ir à missa diariamente, embora esse seja o projecto para quando os bebés finalmente crescerem. Mas ao domingo é a grande festa! Os pequeninos suspiram pelo dia em que, finalmente, poderão receber a Eucaristia, trazendo Jesus no seu coração para casa. Por enquanto, os quatro mais novos limitam-se a ajoelhar e a contemplar a hóstia branca, irrequietos e brincalhões, quando o senhor padre a eleva para podermos adorar Jesus. Em breve o David se irá juntar ao "clube dos grandes" e comungar. Será um grande dia, o da sua comunhão!
Em honra de S. Pio X, que intuiu a necessidade que as crianças têm de receber Jesus-Eucaristia, recordo aqui as fotos da primeira comunhão do Francisco e, dois anos mais tarde, da Clarinha. Ambos viveram esse dia com uma alegria serena e interior...
Desde então, comungam todos os domingos!
Hoje, dia de S. Pio X, rezo para que a primeira comunhão das crianças das nossas catequeses não seja também a última, como infelizmente é tão comum acontecer...
Rezo para que as crianças não sonhem com o dia da sua primeira comunhão por causa das prendas, do dinheiro ou da festa que lhe irão dar...
Rezo para que os pais as continuem a levar à catequese, a rezar com elas e a comungar com elas...
Rezo para que os pais tenham pressa em ver chegar este dia, invertendo assim a tendência triste da sociedade moderna para adiar cada vez mais o baptismo dos filhos, a comunhão e o próprio matrimónio dos pais...
Rezo para que cada família se possa abeirar diaria ou semanalmente da Eucaristia e "recolher" o alimento necessário para todos!
S. Pio X, rogai por nós!