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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Segunda-feira começou o mês de maio, e com ele, o mês de Maria.
- Mãe, temos de levar uma flor para Nossa Senhora! - Lembravam os meninos ao sairmos para a escola.
- Sim, vamos ter oração no pátio!
- É tão bom quando temos oração no pátio!
Chegámos ao colégio pelas oito e vinte da manhã, como costume. A manhã estava quente e, pela primeira vez este ano, os meninos iam vestidos com saias ou calções. No ar cheirava a primavera. No pátio do colégio, as crianças e os jovens estavam já agrupados por turmas, em silêncio, e a diretora do colégio, a Irmã Idalina, falava de Nossa Senhora e da forma digna como esperava que este mês fosse vivido. Aproximei-me para escutar e para rezar uma Avé-Maria em conjunto com toda a escola que escolhi para os meus filhos.
Entretanto, no edifício da creche e do pré-escolar, a excitação era muita: os meninos preparavam-se para fazer a sua homenagem à Mãe do céu e à mãe da terra, cantando e rezando. A homenagem do Dia da Mãe acontece, já há alguns anos, na primeira segunda-feira de maio, logo às nove da manhã, para não atrasar a vida das mamãs. Eu consegui trocar as duas primeiras aulas da manhã e, assim, ficar disponível para assistir a esta breve homenagem.
Concluída a oração no pátio, os mais velhos subiram para as suas aulas. Eu tinha cerca de vinte minutos livres até à homenagem dos mais novos, às nove horas. Como ocupar o tempo? Da forma que o faço sempre, ali no colégio, quando tenho de esperar por alguma reunião de pais ou algum espetáculo dos alunos: dirigi-me à capela e rezei. Que graça que é ter uma capela na escola! Em silêncio, agradeci à Mãe este dom.
Nove horas. A Sara e o António, com as suas batas vestidas, procuraram-me com o olhar e, logo que me viram, acenaram-me. Depois cantaram canção após canção, intercalando o tema da Mãe do Céu com o da mãe da terra. Não faltou o Avé de Fátima, nem o Quero ser como tu, Maria. Nas faces da maioria das mães - mesmo aquelas que, como eu, há muitos anos escutam as mesmas canções e são homenageadas da mesma forma - corriam grossas lágrimas de emoção.
Eram dez horas quando, por fim, cheguei à minha escola. Já muitos amigos e colegas me perguntaram, ao longo do tempo: Por que razão não tenho eu os meus filhos comigo no Agrupamento de Escolas de Anadia? Porque não acredito na qualidade do ensino da minha escola? Porque tenho medo das influências dos alunos problemáticos? Por causa da diferença de posicionamento no ranking? Hoje, depois de conhecer ambas as escolas e várias outras pelo país, talvez algumas destas razões tenham o seu peso. Mas a razão principal e, na altura, única que me levou a escolher o Colégio foi esta: o Niall e eu queríamos uma escola católica para os nossos filhos. Esta razão foi suficiente para nos fazer mudar de casa, de Aveiro para Anadia. Em Aveiro há muitas e belas escolas, com ótimos professores e bem posicionadas no ranking (que vale o que vale); mas não há uma única escola católica.
As escolas com contrato de associação são a oportunidade que os pobres e as famílias numerosas de classe média têm de escolher a escola dos seus filhos. Os ricos têm muitos colégios à disposição, claro. As ordens religiosas que se dedicam ao ensino e várias outras instituições laicais têm ótimos colégios em muitas cidades do país para os que podem pagar propinas. Mas não terão os pobres e as famílias numerosas de classe média direito a escolher, de igual modo, a escola dos seus filhos? São estes os valores socialistas de igualdade? "Se queres uma escola diferente da estatal, terás de pagar", ouço dizer frequentemente. Porquê? Onde é que diz na lei que os meus filhos são obrigados a frequentar o ensino laico, estatal, igual para todos? Que mania é esta agora, num mundo cada vez mais plural e diversificado, de obrigar todos os alunos - que não possam pagar - a entrar no mesmo molde e receber o mesmo estilo de educação? Será que igualdade é uniformidade? Subsidiar uma escola já existente, com ótimas instalações suportadas na sua maioria por ordens religiosas autónomas, com corpos docentes estáveis e ótimos resultados escolares parece excessivo ao Estado? Será que fica mais barato ao Estado construir mega-escolas de raiz, empenhando milhões de euros?
Claro que por detrás de tudo isto não estão os fatores económicos nem de sucesso académico, pois as evidências em contrário são muitas: por detrás de tudo isto está o ódio que o mundo tem a Jesus. Já O crucificámos, já Lhe imobilizámos as mãos e os pés com pregos, e Ele continua a incomodar tanta gente...
"Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, Me odiou a Mim. Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Se Me perseguiram a Mim, também vos hão de perseguir a vós." (Jo 15, 18-20)
Se os contratos de associação terminarem, como o governo agora deseja, teremos de retirar os nossos filhos do colégio que escolhemos para eles, há quinze anos atrás. Segunda-feira, naquele pátio, sob aquele sol de primavera, escutando aquela Avé-Maria, percebi que tinha vontade de chorar.
Já assinaram as petições pela liberdade de escolha?
Hora de jantar. Sentados à mesa, conversamos sobre o dia que está a chegar ao fim. Todos têm muitas novidades nestes primeiros dias de regresso à escola. Até o Niall!
- Hoje chegaram à universidade os alunos indianos - Conta-nos ele.
- Indianos? A Índia é muito longe, não é?
- Sim, António, muito mesmo! Fizeram uma longa viagem. Um deles tem apenas dezassete anos, vejam só! Tão novinho, e já tão longe de casa!
- E deve ser tudo tão diferente aqui...
- Sim. Contaram-me que hoje, na sua terra, é a festa de um dos seus deuses. Mostraram-me a imagem e tudo: parece um homem-elefante! É estranho... Conversei um pouco sobre o tema com eles...
- Um homem-elefante?! E eles acreditam mesmo em vários deuses? Isso não foi há muito, muito tempo?
- David, há muito, muito tempo, todos os homens acreditavam em vários deuses. Um dia, Abraão escutou uma voz diferente, a voz de Deus, que ele não conhecia, mas que era tão real, tão bela... Abraão foi o primeiro homem a acreditar no Deus único. A partir daí, o mundo mudou! Mas foi uma caminhada difícil, passar da crença em vários deuses para a adoração do Deus único. Ainda há religiões no mundo que acreditam em vários deuses!
- Não são apenas os Hindus. Há cristãos que também adoram outros deuses, infelizmente!
- Como assim, mamã?
- Por exemplo, o deus-dinheiro. Ou o deus-prazer! Ou o deus-saúde-a-qualquer-preço... Ou o deus-beleza, sucesso, prestígio...
- Isso são tudo deuses?!
- Sim, Lúcia. Se a nossa vida for governada por eles, são!
- Estivemos a falar sobre isso na aula de Francês.
- Sobre deuses, Clarinha?
- Não! - Gargalhadas - Sobre o dinheiro, e sobre os valores bem mais importantes.
Estamos a chegar ao fim da refeição. Penso em Abraão, que deixou o Vale do Ur, penso em Moisés, que deixou o Egito, penso no deserto imenso que ambos precisaram de atravessar para abandonar a idolatria e encontrar a felicidade da adoração do Deus único... Talvez esta travessia nunca esteja feita de uma vez por todas, talvez esta travessia tenha de ser feita por cada geração ao longo da História, talvez esta travessia tenha de ser feita por cada um de nós afinal...
"Escuta, Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor!
Amarás o Senhor com todo o teu coração,
com toda a tua alma e com todas as tuas forças.
E amarás o próximo como a ti mesmo.
Faz isto e serás feliz!"
(Shemá, a partir de Lc 10, 27-28)
Ámen.
Ontem à tarde, ao ajudar o David nos trabalhos de casa de Língua Portuguesa, deixei escapar um grito de indignação que há muito ando a abafar e que agora aqui partilho também: será que o Natal deixou de ser a celebração do nascimento de Jesus, festejada pelos cristãos do mundo inteiro, para ser uma festa branqueada e politicamente correcta, sem conteúdo histórico ou religioso, salpicada de palavras mais ou menos vagas como solidariedade, amizade e partilha?
O livro de Língua Portuguesa do meu filho de sete anos apresenta textos de escritores portugueses contemporâneos. Neles fala-se do Pai-Natal, de feiticeiros, de bruxas, de duendes e de castelos na neve. No livro do ano passado, por esta mesma altura falava-se de extra-terrestres. Em nenhum deles há uma única (única!) referência ao nome de Jesus, à religião cristã ou à Igreja. Folheei avidamente o manual, procurando encontrar os belíssimos poemas de Natal que marcaram a minha infância e juventude e escritos por grandes autores portugueses e estrangeiros. Nem um. Apeteceu-me deitar o livro fora.
Caramba! De que é que os autores dos manuais têm medo? De ofender os que não partilham a fé cristã? E por que razão os ofenderiam? A tolerância não é um branqueamento da História, da origem das tradições ou dos conteúdos religiosos dos diversos credos. Aliás, só pode haver tolerância quando se conhece a fé do outro. É significativo que este branqueamento das festividades religiosas só aconteça em relação à fé cristã, pois em relação às festividades das outras religiões há sempre o cuidado em contextualizar tudo muito bem.
Será que o Menino nascido em Belém, deitado numa manjedoura e aquecido pelo bafo dos animais tem um ar ameaçador?
Herodes achou que sim. Enfurecido, perseguiu todos os recém-nascidos de Belém, na esperança de matar Jesus. O seu medo diante dum recém-nascido parece-nos patético. No entanto, não podia ser mais actual.
Cá em casa, o Natal continua a ser o grande aniversário de Jesus. Para não andarmos distraídos, somos bastante parcos em decorações natalícias. O Menino de Belém merece o primeiro lugar, hoje e sempre, na nossa vida e na nossa casa.