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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Marcámos as nossas férias muito tarde, quando já quase tudo estava reservado. Como sempre, queríamos ir para a montanha – visto termos a praia tão perto durante todo o verão – e pensámos na Serra da Estrela, onde já passámos algumas das melhores férias da nossa vida. Mas os lugares que conhecíamos e que o nosso orçamento familiar permitia já estavam reservados. Então, o Niall e eu fizemos o que costumamos fazer nestas ocasiões: confiámos as nossas férias a S. José. A nossa oração foi mais ou menos assim:
- S. José, na tua vida terrena, tu tiveste uma bela missão: entre muitas outras coisas, coube-te encontrar uma casinha para Jesus nascer, organizar a fuga para o Egito, procurar certamente muitas outras casinhas para viver em terra estrangeira, encontrar o caminho de regresso a Nazaré e, de novo, uma casinha para Maria e para Jesus. Tu sabes que nós precisamos de umas pequenas férias, e sabes também que amamos muito a tua Maria e o teu Jesus… Assim, pedimos-te o grande favor de nos encontrares uma casinha de férias na montanha. O lugar fica à tua escolha! Aceitaremos o que nos ofereceres. Obrigado!
Na verdade, a Escritura guarda uma palavra profética sobre a missão de S. José:
“Não entrarei na minha tenda
nem me deitarei no meu leito de descanso,
não deixarei dormir os meus olhos
nem descansar as minhas pálpebras,
enquanto não encontrar uma casa para o meu Senhor.”
(Sl 132/131)
Nessa mesma noite, o Niall regressou à pesquisa no Google. E nessa mesma noite, encontrou o que não encontrara durante toda a semana anterior: uma casa na montanha, dentro do nosso orçamento, disponível na semana que pretendíamos! Percebi que se tratava da casa que S. José escolhera para nós. Quando fiz o telefonema para reservar e a voz do outro lado não levantou qualquer obstáculo ao facto de termos seis crianças e dois cães, tive a certeza.
A nossa casinha de férias ficava situada numa aldeia minúscula, com esta vista:
A nossa rua chamava-se assim:
A palavra “Mestre” não vos lembra nada? A casa de S. José, na Galileia, foi certamente a casa do único e verdadeiro Mestre…
- Vi que há uma bela igreja nesta aldeia – Comentei eu com a senhora que nos abriu a porta – Será que há missa aqui ao domingo?
- Ao domingo e três vezes por semana! – Respondeu-me a senhora, cheia de alegria – Sempre que há missa, eu vou. Olhe, amanhã é às nove horas da manhã!
Sorri para comigo. Claro, tendo a casa sido arranjada por S. José, não podia faltar a Eucaristia diária!
No dia seguinte, às nove da manhã, lá estávamos nós na igreja, para a Eucaristia. A igreja era lindíssima, cheia de luz, de cor e de vida, com mais fiéis reunidos em oração, em dia de semana, do que muitas igrejas da cidade:
O António gostou particularmente desta imagem…
E eu gostei desta, claro!
S. José, Castíssimo Esposo de Maria e Pai de Jesus, rogai por nós! Ámen.
Hoje é dia de S. José. Cá em casa, a expetativa era grande, construída num crescendo ao longo de todo o mês: hoje de manhã o dia deveria começar com uma pequena festinha no Centro Social, onde o Niall, no meio de muitos outros pais, iria escutar o António e a Sara, no meio de muitos outros meninos, a cantar, a rezar e a festejar S. José. Depois receberia a sua prendinha, preparada pelos filhos com amor. Tudo isto seria logo pelas nove horas, para não atrasar o dia de trabalho dos pais. O António ansiava pelo momento:
- Mamã, posso cantar-te a canção do pai? Mas não digas nada ao papá, que é para ser surpresa!
Foi assim que eu fiquei a saber como era a linda canção. Cúmplice, prometi-lhe que não iria contar nada ao papá, e repeti-lhe que o papá iria adorar escutá-lo.
Mas o papá não vai poder estar na festinha. Ontem recebeu uma convocatória para uma reunião importantíssima, a que não pode faltar de maneira nenhuma, porque é uma reunião extraordinária na Reitoria. E a reunião está marcada para as nove horas em ponto... Sim, as nove horas em ponto do dia do Pai! Pela primeira vez em quinze anos, o Niall não estará presente na Festa do Pai dos meninos.
Tanto eu como o Niall já faltámos a vários compromissos de trabalho e fizemos muito malabarismo com várias "bolas" no ar por causa dos nossos filhos; mas nem sempre é possível, e quando de todo não é, precisamos de aprender a desdramatizar, e de ensinar a desdramatizar: como tudo na vida, também estes momentos passarão, pois só o amor permanece... Triste, o Niall tentou explicar à Sara e ao António que não vai poder estar na festinha, mas que vai estar com eles no coração, e que à noite a festa cá em casa será a dobrar. O António aceitou com simplicidade, e a Sara continuou a brincar.
S. José é um santo muito especial. Ele foi tão importante na vida de Jesus, que as pessoas identificavam Jesus como "o filho do carpinteiro", como nos recordou o senhor bispo no nosso retiro de Famílias de Caná. S. José é modelo de pai, de trabalhador, de cristão. Mas a santidade de José foi toda feita de renúncia, e é por isso que se torna tão bela. Escreveu Hans Urs von Balthasar:
"José atravessa o limiar do Novo Testamento apenas como alguém que renuncia." (Maria, a Primeira Igreja)
José viveu renunciando, renunciando, renunciando. Renunciou ao sonho de ser pai segundo a carne; renunciou ao sonho de ver o Menino Jesus nascer na sua casa e adormecer no berço que, com tanto cuidado, certamente preparara para Ele; renunciou ao sonho de trabalhar e viver na sua terra, para viver alguns anos como emigrante e refugiado; por fim, renunciou ao sonho de ver Jesus partir para a sua vida de pregação, anunciando o Reino de Deus. O Evangelho, na verdade, dá-nos a entender que José terá morrido antes de Jesus sair de casa, e portanto, antes de ver cumpridas as profecias que envolviam a vida do seu querido filho. Mas foi precisamente no meio da sua constante renúncia que José experimentou a alegria infinita de viver lado a lado com Jesus... Que mistério!
O António e a Sara vão fazer a sua festa, renunciando à alegria da presença do pai; o Niall vai fazer a sua reunião, renunciando à alegria de estar presente na festa dos filhos. E os três irão dar imensa alegria a Deus, porque irão ser capazes de oferecer a sua pequena renúncia, em união com as pequenas e as grandes renúncias de S. José, para que o Reino de Deus cresça no mundo.
"Quem quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me.
Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de Mim, esse salva-la-á." (Lc 9, 23-24)
S. José, rogai por nós!
Na quarta-feira passada, a nossa carrinha estava na revisão, e portanto restava-nos o carro de cinco lugares para transportar os meninos. O Niall foi a pé para a estação e de comboio para o trabalho, o Francisco foi de bicicleta até ao colégio, e eu encaixei os restantes cinco no carro - em contra-ordenação, eu sei, porque no banco traseiro viajavam quatro crianças, duas partilhando o mesmo cinto de segurança. Teríamos assim dois quilómetros de apertos até ao colégio, por estradas de campo, e tudo se devia resolver a bem.
Mas não resolveu: a meio caminho, cruzámo-nos com o Francisco, parado ao lado da sua bicicleta.
- Que se passa, Francisco? - Perguntei, descendo a janela do carro.
- Um furo!
Fiquei sem saber o que fazer. Como ia agora conseguir enfiar no carro o Francisco e a sua bicicleta? Entretanto, ao nosso lado iam parando outros carros que se dirigiam para o colégio, preocupados connosco. A fila de carros não parava de aumentar, parecendo uma imensa caravana de amigos.
- Precisam de ajuda? - Perguntou uma mãe solícita.
- Sim! Pode-me levar algumas crianças no carro até ao colégio? Obrigada!
Distribuí os meus atarantados filhos, o Francisco enfiou a bicicleta - com bastante dificuldade - no banco traseiro e sentou-se ao meu lado, no carro, enquanto outros carros iam parando e os condutores perguntando se precisávamos de ajuda. Chegámos ao colégio sãos e salvos, com uma história bastante divertida para contar, e com o coração agradecido por termos tantos amigos e por haver tanta gente boa no mundo!
Nessa noite, sentada no sofá com o Niall, reparei no seu ar pensativo. Ele escutara a nossa história com um sorriso, mas também com bastante preocupação:
- Eu não vos pude valer... Que aborrecimento!
- Já passou, Niall!
- Pois já. Mas eu devia ter lá estado para recolher a bicicleta e ter facilitado tudo. Pensei em todos os pormenores ao levar a carrinha à revisão, e estava convencido de que não me iria escapar nenhum detalhe...
- És um pai e um marido precioso. Tomas muito bem conta da tua família!
O Niall sorriu:
- Sabes, eu procuro ser como S. José: cuidar de ti e das crianças com a mesma atenção ao pormenor e à vontade de Deus com que ele cuidou de Maria e de Jesus, e esquecer-me de mim o mais possível.
Dei-lhe um abraço de gratidão. Na verdade, e mesmo sem nos ter podido valer na quarta-feira, o Niall tem sido mesmo assim...
(Niall carpinteiro...)
S. José foi o guardião da Sagrada Família, como tão bem lhe chamou o Papa Francisco na homilia inaugural do seu pontificado. S. José é a imagem do pai atento, cuidadoso e orante, o pai cristão. Imagino o cuidado de S. José a preparar a caravana que devia levar Maria grávida a Belém... Imagino a preocupação de S. José, levantando-se durante a noite para acordar Maria, que dormia com Jesus nos braços, e a conduzir ao exílio, sem a assustar... Imagino o cuidado contínuo de S. José em fazer com que o sustento nunca faltasse na casa de Nazaré...
"Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor." (Mt 1, 24)
E quando penso em S. José, instintivamente penso no Niall.
Quero hoje rezar para que os pais cristãos não se demitam da missão de guardiães das suas famílias, e saibam sempre, como S. José, escutar a voz de Deus, esquecendo-se de si para servir aqueles que lhes foram confiados.
Rezo também por aqueles que não têm na terra um pai disponível como S. José, para que nunca lhes faltem caravanas de amigos, capazes de parar à beira da estrada das suas vidas e de os socorrer prontamente...
Ámen!
Falei aqui no sonho que marcou a vida do Francisco aos sete anos de idade, transformando a sua visão da morte e convertendo em alegria as suas lágrimas.
Mas o Francisco não foi o primeiro nem o último a receber a Palavra de Deus em sonhos! A Bíblia está cheia de testemunhos de crentes que, atentos de dia e de noite, atentos enquanto trabalhavam e enquanto descansavam, foram capazes de escutar o Senhor em sonhos. Logo no Livro do Génesis, por exemplo, temos José, o jovenzinho que foi atraiçoado pelos irmãos. Os seus sonhos tornaram-se famosos!
Mas talvez o maior sonhador de todos os tempos seja um outro José, o pai de Jesus. O Evangelho de S. Mateus começa precisamente com um sonho!
"Eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo...»" (Mt 1, 20)
E que fez José com o sonho que recebeu? José não hesitou um instante:
"Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu a sua esposa." (Mt 1, 24)
Mais tarde, José recebeu novo sonho:
"Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que Eu te avise, pois Herodes procura o menino para o matar." (Mt 2, 13)
E de novo, que fez José?
"José levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto." (Mt 2, 14)
Haverá maior prontidão do que a deste homem? Haverá maior atenção do que a sua à Palavra de Deus? Só Maria o ultrapassa em santidade!
O Papa Francisco tem na sua casa no Vaticano uma imagem muito especial, que trouxe da Argentina: uma pequena escultura de S. José a, imagine-se, dormir!
(Foto da crónica de Andrea Tornielli)
A dormir, S. José escuta, naturalmente, a voz de Deus. A dormir, S. José escuta também os pedidos de oração do papa e de todos os que vivem a seu lado, contagiados por tal devoção. Os papelinhos vão-se amontoando sob a pequena estátua, formando uma bela "cama" para S. José poder continuar a sonhar - e a rezar!
Talvez hoje o Senhor me fale em sonhos, durante a noite... Ou talvez Ele me fale em sonhos, durante o dia! É preciso, como o Francisco e como S. José, estar desperto, mesmo durante o sono. E uma vez recebida a Palavra, é preciso levantarmo-nos de imediato e pô-la em prática, sem encontrarmos desculpas para nós próprios como a falta de tempo ou de jeito. Quantas vezes nos recusamos a dar a Deus um quarto de hora de oração em família, ou um dia de retiro, ou um dia de serviço aos irmãos, ou uma hora de visita aos doentes, ou uma hora semanal como catequistas, ou até mesmo a hora da missa dominical, por razões tão pequeninas como um cesto de roupa para passar a ferro! S. José levantou-se durante a noite e, com Maria e um recém-nascido, abandonou a sua própria casa sem saber quando a ela regressaria, só porque o Senhor falou...
S. José, pai sonhador de Jesus, ajuda-nos a sonhar como tu, escutando a voz de Deus e dispondo-nos a fazer tudo o que Ele nos disser. Amen!
Oração familiar, Dia do Pai. Sentados no nosso Canto de Oração, lemos as leituras da missa do dia de S. José.
"José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus." (Mt 1, 20-21)
- Que privilégio o de S. José! Conviver diariamente com Maria e Jesus! - Comentei, quando acabámos de ler o Evangelho.
- Sim, deve ter sido fantástico, ensinar Jesus a ler, a trabalhar a madeira, a rezar...
- Foi S. José que ensinou Jesus a rezar? Que giro!
- Ensinou-Lhe a rezar o "Escuta Israel" que nós hoje rezamos?
- S. José teve muita sorte!
- E pensar que a Bíblia fala tão pouco dele... Quando chegarmos ao Céu é que vamos conhecer de verdade este grande santo!
- Sim, a sua humildade é tão grande, que até a Bíblia o esquece!
(Estátua no Centro Social S. José de Cluny)
- S. José não teve privilégios muito diferentes de todos os outros pais... - Disse então o Niall, que escutava os filhos com atenção. - Afinal, cada um dos nossos filhos é em primeiríssimo lugar filho de Deus. E como S. José, nós somos convidados a dar-lhes um nome, a educá-los, a ajudá-los a crescer!
- Claro! - Continuei eu, percebendo o seu raciocínio. -O baptismo faz de nós verdadeiramente filhos de Deus! Quando apresentamos um filho à Igreja para ser baptizado, o sacerdote pergunta-nos: "Que nome dais ao vosso filho?" Deus pede-nos, como pediu a José, que demos um nome e um apelido, o nosso, aos seus filhos! Como a José, Deus confia-nos o que de melhor tem, os seus próprios filhos! Eles não são nossos, mas d'Ele.
- É por isso que ontem Jesus dizia no Evangelho:
"A ninguém chameis pai na Terra, porque um só é o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 23, 9)?
- Sim, David. Os nossos pais da terra são, como S. José, os pais que Deus nos deu para que nos eduquem e nos amem em seu nome, enquanto vivermos. Porque Pai, Pai, só há um, Deus!
Ser pai é uma responsabilidade imensa. Como S. José, também nós, pais e mães cristãos, recebemos um dom imensurável, um tesouro inegualável nesta vida: um filho de Deus para amar! Saibamos responder à altura de tamanho dom, imitando S. José em santidade! Um dia, Deus pedir-nos-á contas da forma como ensinámos ou não, aos seus queridos filhos, o caminho para Casa...
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