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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No início do Advento, um grupo de pessoas amigas, empenhadas na sua paróquia, pediram-nos emprestado o "Sagrado Coração de Jesus" que costumamos colocar à porta de casa, por alturas do mês de junho, mês do Sagrado Coração. Queriam fazer uma representação de Natal para as crianças do seu movimento e este Coração ficava muito bonito na peça que iam construir. Emprestei com todo o carinho, claro.
Quando, dias mais tarde, mo devolveram, o Coração vinha diferente. Olhei-o com atenção:
- Tiraram as chamas?
- Chamas?
- Sim, as chamas do Sagrado Coração...
As minhas queridas amigas entreolharam-se, preocupadas. Naturalmente não se tinham apercebido que as flores amarelas representavam as chamas do Coração de Jesus, um Coração ardente de amor. Ri-me, para as descontrair, pois sabia que tinham as melhores intenções do mundo. A nossa arte não é muita, e as flores amarelas pareciam tudo menos chamas! Recuperei as flores e guardei-as num saquinho, para mais tarde reconstruir o Coração.
Mas depois reparei noutro pormenor:
- O Coração de Jesus tinha espinhos... Também tiraram os espinhos?
- Tirámos - Assentiram - Não fazia muito sentido por se tratar de uma representação do Natal. Deitámos os espinhos fora... Desculpa!
Quando cheguei a casa, entreguei o Coração de Jesus ao Francisco e à Clarinha:
- Meninos, toca a refazer o Coração! É preciso voltar a colocar as flores amarelas no sítio e procurar novos espinhos!
Eles resmungaram:
- Ora bolas! Os espinhos custam tanto a colocar! Picamo-nos todos!
Ri-me para comigo. Ainda bem que os espinhos custam a colocar! Se não custassem, não seriam espinhos... Agradeci interiormente aos meus amigos por nos permitirem meditar de novo no mistério imenso do Sagrado Coração de Jesus, por nos permitirem picarmo-nos novamente em cada um dos seus espinhos.
O Coração misericordioso de Jesus é um Coração atravessado de espinhos dolorosos. A misericórdia divina significa que a minha miséria toca o Coração de Deus, ao ponto de o despedaçar. Amor rima sempre, sempre com dor...
Mesmo no Natal? Os meus amigos, que transbordam de amor por Jesus e só Lhe querem agradar, estavam empenhados em não permitir que, pelo menos no Natal, o Coração de Jesus fosse dilacerado pelos espinhos.
Mesmo no Natal. No dia seguinte ao Natal, a Igreja celebra o martírio de S. Estêvão, apedrejado até à morte. Que horror! E dois dias depois, o martírio dos bebés de Belém, mortos por Herodes. Quanto sangue derramado nas ruas de Belém, apenas alguns dias depois do nascimento do Salvador! Ler e meditar nas leituras da missa do dia, no tempo de Natal, não é uma experiência muito... "natalícia"! Mártires, perigos de toda a espécie, a fuga para o Egito durante a noite, a perseguição...
Domingo à noite, ao regressar do grupo de oração com a Clarinha e o Francisco, encontrei o Niall sentado diante do televisor. As notícias mostravam uma criança de dois anos morta por afogamento, ainda com o corpinho dentro de água, numa praia na Grécia. Foi o primeiro náufrago de 2016. Vinha numa embarcação pequenina, fugindo à guerra em busca de um pouco de bem-estar. Que imagem chocante! Por que não nos deixam celebrar o Natal em paz?! Hoje, como há dois mil e quinze anos atrás, o Natal continua a ser tempo de contradição. Assim o predisse S. Simeão a Nossa Senhora, na Apresentação no Templo:
"Este Menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição. Uma espada trespassará a tua alma." (Lc 2, 34-35)
Escreveu o Cardeal Kasper no livro que inspirou o Papa Francisco, Misericórdia: "Esta não é a linguagem das sagas nem dos mitos: no início, o estábulo; no final, o cadafalso... Mas é precisamente por causa desta tenção e deste contraste entre o cântico celestial dos anjos e a brutal realidade histórica que todo o relato da Natividade irradia uma magia específica."
Natal é tempo de amor. Misteriosamente, este amor cresce no meio da dor, como as rosas no meio dos espinhos. O mundo está cheio de sofrimento, e a nossa vida também. Mas por uma razão que não conseguimos entender, é neste terreno regado com lágrimas que brotam as sementes da esperança. Sem sabermos como nem porquê, de Natal em Natal o Reino continua a crescer...
- Já foram lá acima ao Bom Jesus das Mós? - Perguntou-nos um dia a senhora responsável pela casa onde estávamos de férias, na serra do Gerês.
- Não, mas já vimos indicações na estrada para lá chegar! - Respondemos.
- Ah, não percam! Vale bem a pena! Nós vamos lá acima todos os dias, em caminhada. Rezamos o terço e andamos um bocadinho!
Nessa altura, eu já me acostumara à vivacidade destas mulheres serranas, fortes, simpáticas e conversadoras. Decidimos aceitar a sugestão, e lá fomos nós até ao cimo do monte.
Valeu a pena? Oh, se valeu...
As catorze estações da Via Sacra marcavam o caminho, sempre a subir. Esperamos, para o ano, fazer a Via Sacra aqui, porque desta vez pareceu-nos demasiado difícil o percurso para a Sara, o António, a Lúcia e até a mãe e por isso, fomos de carro. Ao chegar ao cimo do monte, esperáva-nos um magnífico monumento ao Sagrado Coração de Jesus, que nos deixou sem palavras:
- Que lindo! Vamos subir lá acima?
- Força! Todos a subir! Cuidado, ninguém se debruça!
- Ah, como é bonita a vista a partir do Coração de Jesus!
- Já espreitaram pela cruz? É bem mais seguro, porque não corremos o risco de cair!
Na igreja mesmo ali ao lado, fomos surpreendidos por um tronco de árvore artisticamente decorado. Aproximámo-nos, e vimos que nele tinham sido gravadas a canivete as palavras da Mãe de Jesus guardadas no Evangelho. Que maravilha!
- Mãe, já viste o que está aqui escrito?
"Fazei o que Ele vos disser" (Jo 2, 5)
No cume da montanha, acariciados por uma brisa quente e em silêncio quase absoluto, não pude deixar de pensar na Mãe... Hoje é a festa da sua assunção, da sua subida ao cume dos cumes, da sua entrada triunfal no verdadeiro santuário, que é o Coração de Jesus. E que melhor forma de a honrarmos do que procurarmos imitá-la?
Como Maria, subamos um a um todos os degraus do amor, acolhendo a Via Sacra de Jesus na vida de todos os dias... Como Maria, coloquemo-nos ali, de pé, diante do Coração donde jorra a fonte da Vida... Como Maria, não hesitemos em contemplar o mundo através da cruz, pois não há vista mais bela do que aquela que a cruz abarca!
Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná,
Ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser.
Ámen!
- Mamã, gostaste do meu teatro da catequese?
- Adorei, Lúcia! Estavas muito bonita, a segurar a letra do nome de Jesus.
- Eu gosto tanto da catequese!
- Tens amigos no teu grupo?
- Tenho. Todos somos amigos! E os meus catequistas são muito bons. Sabem muitas histórias da Bíblia, mamã, assim como tu!
Os catequistas - evangelizadores, como aqui na paróquia preferimos chamar - da Lúcia são pais de uma Família de Caná muito simpática. Este ano foi a sua estreia como evangelizadores, e a experiência foi magnífica, tanto para as crianças, como para eles. No sábado passado, na hora de louvor com que terminamos sempre a catequese, fizeram com as crianças uma breve apresentação, que a todos encantou. O João começou por ler este texto, onde exprime bem aquilo que viveram ao longo do ano:
"Está quase no final este nosso primeiro ano de evangelização.
Foi uma estreia para todos. Para as nossas pequeninas e pequeninos, mas também para mim e para a Isabel…
Para muitos de nós este foi o primeiro contato, mais ou menos elaborado, com a religião e com a fé.
Nem sempre conseguimos, mas estivemos sempre todos com a noção de que não queríamos falhar, o que quer que fosse, nesta grande experiência e nesta responsabilidade de iniciar, mais formalmente, uma caminhada importante. Caminhada esta que esperemos seja longa e não se esvazie com o tempo. Que Deus nos Ajude para que esta fé não deixe de ser alimentada.
Durante esta nossa jornada pedimos ajuda a Nossa Senhora que nos auxiliasse, rezámos, rimos, brincámos, conversámos… e ganhámos todos novos amigos.
Fizemos uma tenda gigante no meio de uma sala de aula no nosso “deserto” e subimos ao monte para rezar, provámos um delicioso e suculento maná, sentimos o espírito santo de uma forma diferente e como ele pode tornar-se efervescente na nossa vida. A ressurreição de Jesus foi explosiva aos nossos olhos fazendo brotar pétalas perfumadas e corações por todos.
Ouvimos, muitos de nós pela primeira vez, nomes como Abraão, Tobias, Moisés, Tobite, Sara, Isabel, Elias e Jeremias, João, Maria, Pedro ou Simão e tantos outros… e até conhecemos de perto um anjo, que carinhosamente foi chamado de Anjo Rafa…. Imaginem! Que como Gabriel protagonizou algumas das nossas “aventuras”.
São pedaços de uma história magnífica e que acreditamos ser verdadeira, que relata muitos dos feitos também de um super-herói, um super-homem, com a vantagem que Este existe e não é ficção. E que é o nosso verdadeiro protector… JESUS
É sobre esse nosso grande amigo que vamos falar hoje.
Em muitas tarefas, pinturas, dinâmicas, musicas e vídeos, houve alguns que momentos que nos marcaram… este que vamos ver é um deles… Quem é Ele Afinal?"
E à pergunta do João, as crianças foram respondendo, uma a uma, com uma palavra: Amor, Paz, Alegria...
Por fim, cada uma segurou bem alta uma letra que apanhou do chão, e juntos formaram a frase:
"Somos todos Jesus".
Lembrei-me da afirmação de S. Paulo:
"Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim." (Gl 2, 20)
E lembrei-me do nosso lema de Famílias de Caná, expresso na primeira "bilha": Nós, Jesus. Ao longo deste mês, as Famílias de Caná foram desafiadas a meditar sobre esta união intensa com Jesus, procurada e vivida em cada circunstância, boa ou má, da nossa vida.
Cá em casa, durante o mês de junho - e hoje é o dia do Sagrado Coração de Jesus - repetimos muitas vezes a oração:
"Jesus, manso e humilde de Coração, tornai o meu coração semelhante ao Vosso."
O João e a Lúcia, catequista e catequisanda, estão convencidos da necessidade de conhecer a Palavra de Deus e todas as histórias da nossa salvação para aprender a ser como Jesus. Ao longo do ano, como o texto do João exprimiu, fizeram destas histórias vida e movimento, encheram-nas de cor, recrearam-nas, representaram-nas, recontaram-nas e trabalharam-nas até que a Palavra descesse da mente ao coração. A vida encarregar-se-á de mostrar se conseguiram...
E nós? Passamos tempo suficiente com Jesus, em oração e meditação, escutando as batidas do seu Sagrado Coração, para aprendermos a ser como Ele?...
Quando me fui deitar, sábado à noite, tinha sobre a cama dois desenhos da Lúcia. Ela costuma oferecer-me um presente artístico com alguma frequência, mas estes desenhos não eram um campo de flores ao sol, uma dança de fadas, uma casa familiar ou meninos a brincar. Eram desenhos especiais, feitos duma mistura de palavras, colagens e recortes:
Deitei-me com estes dois lindos desenhos no pensamento. E como costume antes de adormecer, examinei o meu coração... Estaria ele cheio de alegria, paz e amor? Estaria ele habitado pelo Rei? O que é que o faz bater - o mais importante, ou tanta trivialidade?
Os corações que a Lúcia colou nestes desenhos estão disponíveis no nosso Canto de Oração ao longo de todo o mês de Junho, para os podermos ofertar ao Senhor simbolicamente, cada vez que fazemos alguma coisa difícil "de coração", ou seja, por amor, unidos ao Coração de Jesus - Nós, Jesus...
Na porta da entrada temos uma representação do Coração de Jesus, feita pelos meninos no ano passado, como podem ler aqui. Colocamo-lo à porta, para nunca nos esquecermos de que a Porta do Céu é o Coração de Jesus, pois ninguém entra no Céu sem passar pelo Amor...
Nas nossas veias corre Sangue Real, o Sangue com que fomos redimidos na Cruz... Somos de descendência divina, somos filhos do Rei dos reis, do Deus dos deuses, do Senhor dos senhores!
"Eu lhes darei um coração não dividido e infundirei neles um espírito novo. Extrairei do seu peito o coração de pedra e lhes darei um coração de carne, de modo que andem segundo as minhas leis e observem os meus preceitos." (Ez 11, 19-20)
Obrigada, Lúcia, por me teres conduzido em oração nesta noite! Que os nossos corações sejam todos de Jesus, o Rei, sem divisão... Ámen!
Celebramos hoje a solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Respondendo ao nosso desafio, várias famílias decidiram pôr mãos à obra e construir também uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, para colocar à porta da sua casa. E como prometido, aqui fica hoje, numa grande homenagem ao Senhor, as fotos recebidas:
Da Raposa, a Olívia, mãe de uma Família de Caná fantástica, enviou esta bela montagem:
No mail, dizia assim: "Como prometido mando a foto do nosso Sagrado Coração de Jesus, fruto dos nossos serões e que hoje, depois de eu colocar a parte dos espinhos (encontrada também numa "Náturia" cá perto), ficou pronto para simbolizar a nossa casa! Os vizinhos vão ficar muito intrigados, provavelmente nem vão perceber, a não ser que perguntem! Mas o importante é que as meninas entenderam e ficaram felizes por também nós termos um Sagrado Coração de Jesus que nos guia, nos protege e nos ensina a amar!
O nosso foi feito com: papel "crepe" vermelho para as flores, cartão para a estrutura, restos de cartolina das chamas do Pentecostes, troços de videira para a cruz (como dizia Jesus: "Eu Sou a videira") e silvas com os espinhos dos nossos pecados. Ficou simples, tal como nós!" Simples e belo, Olívia!
A Maria de Jesus, de S. Pedro do Sul, outra maravilhosa mãe de Família de Caná, enviou esta foto:
Também a Maria de Jesus nos explicou o trabalho e o amor depositados neste belíssimo Coração: "Como as meninas ainda são pequenas e eu achei importante que elas participassem na elaboração do coração, este foi feito em cartolina, papel crepom e raminhos secos do nosso quintal. A Margarida ajudou a enrolar o papel vermelho para imitar flores (pequenos gestos de amor que damos a Jesus), a Inês amachucou os papéis amarelos para representar o fogo, ajudando depois a colar ambos, a mãe atou os raminhos e assim se fez um singelo coração de Jesus." Lindo, Maria de Jesus!
Ao longo do mês, esta família pôs também em prática uma ideia muito engraçada: todos os dias, as duas meninas fazem o seu exame de consciência. Se durante o dia foram capazes de fazer boas obras, oferecem um pequeno coração de cartão a Jesus, colando-o no cartaz no Canto de Oração:
Hoje, na missa, a segunda leitura é tirada da 1ª Carta de S. João. Diz assim:
"Caríssimos, amemo-nos uns aos outros porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados." (1Jo 4, 7-10)
Celebrar o Sagrado Coração de Jesus é anunciar esta boa notícia a toda a terra: o Criador do Universo, o Deus que rege o destino do cosmos tem Coração! Somos amados pelo próprio Amor! E tudo o que façamos de bom e de belo na nossa vida, fazemo-lo porque primeiro, Ele nos amou. Que a nossa vida seja então um grande "obrigado" a Jesus...
Num destes domingos, no final da missa, uma mãe muito querida veio ter comigo. Empurrava a cadeira de rodas do seu filho do meio, um menino lindo, de cabelos encaracolados escuros e olhos grandes, com paralisia cerebral profunda. Debrucei-me sobre o menino, acariciei-lhe os caracóis e afaguei-lhe as faces:
- Como estás, Nuno? Há uns tempos que não te via! Lembras-te de mim?
- Claro que se lembra! - Respondeu-me a mãe - Quando a Teresa começa a cantar, na missa, ele bate logo palmas e faz os seus sons de mimo, a querer dizer que reconhece! - Depois a mãe mudou de tom, os olhos cheios de lágrimas:
- Venho pedir-lhe orações... O meu menino vai ser operado novamente, e desta vez com a coluna aberta de alto a baixo... - Chorou durante alguns minutos, enquanto eu acariciava o rostinho do seu filho. E continuou: - Os médicos têm medo que ele não acorde...
Olhei de novo para a criança, e de novo para a mãe. Conheço bem o amor que circula entre os dois! Em silêncio, dei graças a Deus pelo dom magnífico que Ele nos faz da maternidade. Aquela mãe, numa lógica que é tão divina como materna, estava a pedir a Deus que não a libertasse ainda do seu "fardo"... Que lhe devolvesse o seu menino, esse mesmo menino que a prende em casa, que a impede de "tirar férias dos filhos", como tanto se ouve dizer por aí, que não lhe permite sonhar: "Um dia, quando eles crescerem e saírem de casa, ou quando eles deixarem as fraldas e se tornarem independentes, então vou aproveitar a vida!"
Fico a pensar no egoísmo deste nosso mundo ocidental moderno, que aceita com naturalidade as nossas "queixinhas" porque a vida não é fácil e ter filhos é trabalhoso. Lembro-me da mãe sudanesa que tem de cuidar de dois bebés com os pés acorrentados, como referi aqui e aqui. Lembro-me das mães indianas que não têm que dar de comer a seus filhos. Lembro-me das mães sírias, palestinianas, israelitas, que vêem os seus filhos serem mortos na guerra. E lembro-me de todas aquelas que, como a minha amiga, têm filhos diferentes. Com que direito nos queixamos nós?
Depois recordei-me do que Jesus nos disse:
"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de Coração, e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." (Mt 11, 28-30)
Hoje - o amor é um verbo que se conjuga sempre no presente! - não me vou queixar de nada, "pois Deus ama a quem dá com alegria" (2Cor 9, 7).
O amor torna leve os fardos pesados que vão surgindo, e um coração manso e humilde encontra a paz no meio da dor...
Hoje, quarta-feira, é o dia da longa operação do Nuno. Estará na sala de operações o dia inteiro... Rezemos juntos por ele e pela sua família!
O David nasceu três meses depois da morte do Tomás. Nasceu com baixo peso, zangado com o mundo e um bocadinho triste, pois acompanhara a doença do irmão desde as doze semanas de vida, dentro de mim... Instintivamente, percebi que só havia uma maneira de o ajudar a recuperar do seu pequeno trauma, e de me ajudar a mim também: trazê-lo o dia inteiro encostado ao meu peito. Encomendei online um "pano" típico da América Latina, aprendi a usá-lo e "enfiei" o David dentro dele. E assim passávamos o dia!
Com o David no pano, eu cozinhava, aspirava, dava banhos, rezava, escrevia no computador, passeava à beira-mar...
Descobri que não havia melhor remédio para acalmar um choro, para recuperar o peso, para devolver a alegria. No pano, o David foi crescendo...
A nossa experiência com o pano foi tão deliciosa, e deu tantos frutos, que decidi repetir com todos os manos mais novos do David. A Lúcia escutou muitas histórias no pano...
A última bebé com sorte foi a Sara:
Escrevi alguns capítulos de Os Mistérios da Fé com ela assim!
Reparem na foto que eu tirei um dia, ao chegar a casa com os mais velhos, depois de ter deixado o Niall sozinho com a Lúcia recém-nascida e o David com dois anos:
Ele explicou-me que, perante o choro insistente da Lúcia, decidiu experimentar a minha técnica... E resultou! Depois começou o David a chorar com sono e...
Há um ditado africano que diz assim: "As costas da mãe são o remédio do bebé." No meu caso, não terão sido as costas, mas o peito. Escutando o bater do meu coração, os meus bebés acalmavam de imediato. E eu ficava tão reconfortada! Se há coisas de que já tenho saudades, é de trazer um bebé no pano. Recordei-me desta sensação única no outro dia - e por isso escrevo sobre ela agora - ao emprestar o pano a uma amiga, para que também a sua bebé pudesse usufruir deste colo tão especial.
Mas eu não estou a escrever este post apenas para partilhar alguns dos momentos mais intensos da minha experiência materna. Estou a falar do Coração de Jesus! Imaginem todas as consequências práticas da nossa vida se decidíssemos caminhar por ela assim, bem encostados contra o peito do Senhor!
Um dos salmos mais belos que os judeus cantavam nas subidas, a caminho de Jerusalém, é o salmo 130/131. Diz assim:
"Senhor, o meu coração não é orgulhoso
e os meus olhos não são arrogantes.
Não me envolvo com coisas grandiosas
nem maravilhosas demais para mim.
De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma.
Sou como uma criança
recém-amamentada por sua mãe;
a minha alma é como essa criança.
Põe a tua esperança no Senhor, ó Israel,
desde agora e para sempre!"
Pois é... Deixarmo-nos pegar ao colo por Deus, deixarmos que Ele nos aperte contra o seu Coração (quantas vezes fugimos deste abraço?)...
Querermos tudo o que Ele quiser, ir aonde Ele nos levar... Não correr atrás de grandezas (ou de dinheiro, ou de fama, ou de sucesso!)...
Secar as nossas lágrimas no "pano" do seu amor, dispormo-nos a escutar o bater do seu Coração, de ouvidos bem atentos...
A isto, eu chamo Paz!
E já agora... Enviem fotos dos vossos Sagrados Corações!
A "linda" primavera que temos tido tem destas coisas: um dia, o David chegou a casa com dores de cabeça e 39º de febre; no dia seguinte, de manhã, foi a Lúcia quem acordou com dores de cabeça e 39º de febre. Como sempre nestas ocasiões, preparei-me para o próximo doente, pois a minha experiência diz-me que os virus que entram na Família Power percorrem todos os membros da família antes de se despedirem. E assim foi: quando o David e a Lúcia regressaram à escola, adoeceu o António.
Mas olhem bem para esta cara... Parece-vos cara de doente?
Se lhe perguntarem como se sente, ele responde:
- Dói-me a cabeça e tenho febre! Vou ficar em casa e vou ficar com a mamã!
Tenho a forte sensação de que o António está feliz por ter adoecido... Ele sentiu alguma inveja do David e da Lúcia, quando soube que eles iam ficar em casa um dia inteiro. Agora é a sua vez de experimentar os mimos exclusivos da mãe, e como não se havia de alegrar por isso?
No seu Decálogo, S. João XXIII escreveu assim:
"Só por hoje, acreditarei firmemente que, embora as circunstâncias demonstrem o contrário, a providência de Deus se ocupa de mim como se não existisse mais ninguém no mundo."
E a Ana Santos comentou:
"Talvez como uma "tragédia" para uma criança diminui, quando é confortada pela mãe, também nós nos devíamos mais vezes deixar envolver pelo amor do Pai, e abandonarmo-nos no Seu colo."
As dificuldades da vida são a nossa grande oportunidade de experimentar os mimos do Pai! Disse Jesus, numa das Palavras mais belas do Evangelho:
"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de Coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." (Mt 11, 28-30)
Cumpramos então este doce mandamento do Sagrado Coração de Jesus! Lancemos os nossos fardos sobre a sua Cruz e descansemos no seu Amor. E como a febre do António lhe conquistou o meu colo, também a nossa doença, a nossa pobreza, o nosso fracasso, a nossa agonia nos merecerá o colo de Deus...
(Já fizeram o vosso Sagrado Coração? Enviem as fotos para o meu mail, a fim de as publicar!)
- Meninos, dia 1 começa o mês do Sagrado Coração de Jesus. Como vamos fazer para celebrar este mês?
- Diz lá tu, mãe!
- Gostava que espreitassem aqui o post sobre o Sagrado Coração no blogue At the Foot of the Cross. Acham que seriam capazes de fazer alguma coisa parecida?
- Está lindo! Podíamos fazer um Coração de Jesus com flores de plástico, como eu fiz a minha grinalda na festa do colégio.
- Boa, Clarinha! Tu e o Francisco podem pegar na bicicleta e ir à loja comprar as flores. Que mais precisam?
- Arame... Gosto mais de usar arame. Deixa que eu trato de tudo.
- OK, Francisco, confio no vosso gosto. Vamos lá pôr mãos à obra!
Durante os serões, o Francisco e a Clarinha foram trabalhando no Coração. Separaram todas as flores vermelhas de plástico do seu caule e fixaram-nas a fios de arame, que depois moldaram em forma de coração:
Repetiram os mesmos gestos para fazer e moldar o "fogo" que brota do Coração de Jesus, segundo a imagem revelada a Santa Margarida Maria:
O coração de flores esteve durante alguns dias sobre a nossa mesa de trabalho. Ontem à tarde entrei na sala e descobri quem achou este coração mesmo muito confortável:
Parece uma imagem montada para aqueles postais fofos com corações e animais, mas acreditem que foi mesmo assim que encontrei o Pantufa!
Em Náturia (se não conhecem Náturia, cliquem aqui), o Francisco encontrou espinhos suficientes para fazer uma coroa de espinhos, que a Clarinha fixou sobre o coração de flores:
Se virarmos o coração do avesso, vemos o emaranhado de arame e a forma como ele se encaixa para que nada saia do seu lugar:
Finalmente, com duas ventosas e um pouco de bostick para a cruz, fixámos esta bela imagem do Coração de Jesus na porta da entrada.
E chegou então o momento mais importante de todo este trabalho. Chamei os seis, que brincavam no jardim, e reuni-os à porta de casa. Os mais pequeninos sentaram-se imediatamente na relva, pois adoram estes nossos momentos de catequese familiar.
- Alguém sabe por que razão o Coração de Jesus tem espinhos?
- Eu sei! Por causa dos nossos pecados.
- Isso mesmo, David. E o que é o pecado?
- É a maldade.
- Sim, Lúcia, cada vez que fazemos mal de propósito, cravamos um espinho no Coração de Jesus. E as flores?
- As flores são as boas obras.
- Pois é, Clarinha, quando fazemos o bem, Jesus fica feliz e transborda de alegria. Até se esquece dos espinhos que Lhe cravámos!
- Mãe, porque é que puseste flores amarelas em cima?
- É para representar o fogo. O fogo do amor! Jesus disse assim:
"Vim lançar o fogo à Terra; e que ânsias, até ele se atear!" (Lc 12, 49)
- E a cruz?
- Isso é porque Jesus morreu na cruz! Assim, com os braços abertos.
- Jesus morreu na cruz porque o seu amor por nós é mesmo muito, muito grande. E agora, alguém descobre porque é que o Coração de Jesus fica à porta da nossa casa?
- ?
- Bem, qual é a nossa casa verdadeira?
- O Céu!
- O Céu!
- O Céu!
- Sim, isso já vocês sabem bem. É verdade, a nossa Casa verdadeira é o Céu. Para entrarmos na nossa casa da Terra, precisamos de passar pela porta. Para entrarmos na nossa Casa do Céu, precisamos de passar pelo Coração de Jesus! E durante todo o mês de junho, cada vez que entrarmos em casa, lembrar-nos-emos da palavras de Jesus:
"Eu sou a Porta. Se alguém entrar por Mim, será salvo. Há-de entrar e sair e achará pastagem." (Jo 10, 9)
Durante todo o dia, os meninos foram meditando neste mistério imenso do amor de Deus, simbolizado no Coração de Jesus. As flores, os espinhos e a porta ofereceram-nos uma bela catequese...
Façam também vocês aí em casa uma imagem do Sagrado Coração de Jesus e enviem as fotos!