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A Mãe de família

por Teresa Power, em 20.08.15

O dia 15 de agosto é sempre um dia de grande festa para nós - ou não fosse ele o dia da glória da nossa Mãe! E só os filhos que não se sentem amados não festejam as glórias das suas mães. Quando se discutia a diminuição do número de feriados nacionais, o nosso saudoso D. José Policarpo foi muito claro: "Nos dias santos marianos não vamos tocar!" Mãe é mãe.

Por isso, faz-me sempre muita confusão quando, vestidos de festa, cheios de expetativa e de alegria, entramos na igreja em dia 15 de agosto e a encontramos praticamente vazia. Claro, muitas pessoas estão de férias... Mas estarão as igrejas nos locais de férias particularmente cheias? Onde está a alegria da festa mariana?

Ser católico é, acima de tudo, ter a graça de nos sabermos família - família que tem no céu um Pai e uma Mãe. E as famílias gostam de se reunir, para celebrar datas especiais, na casa de família, na casa paterna. É aí que, nas grandes datas, os filhos casados se encontram com os irmãos, os cunhados, os primos, os sobrinhos, os tios, e os pais se alegram com os frutos do seu amor. Assim, não há melhor forma de celebrar os dias santos de Maria do que reunirmo-nos na Casa de Família, a Igreja, em clima de festa e gratidão!

Na véspera do dia 15, fizemos os possíveis por preparar esta grande festa. Começámos por nos confessar no santuário. O senhor padre teve a gentileza de nos confessar "em série" e de esperar pacientemente que o António tirasse os patins ou o David descesse da trotinete para a sua confissão. Só a Sara, que ainda não fez três anos, não se confessou - e olhem que não foi por falta de tentativas da sua parte, pois não há nada que os irmãos façam que ela não imite a seu jeito!

Depois, preparámos o nosso Canto de Oração com as cores marianas. Na verdade, o dia 15 de agosto é apenas o começo de uma série de festas marianas: dia 8 de setembro teremos o aniversário de Nossa Senhora, e durante todo o mês de outubro teremos o mês do rosário. Assim, o Canto de Oração fica bem caracterizado para estes próximos meses. Que vos parece?

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Finalmente, na Eucaristia de dia 15, cantámos os louvores de Maria na companhia das poucas famílias que aí se reuniram também.

No Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, há uma imagem belíssima de Nossa Senhora "em saída", pronta a visitar as nossas casas como visitou Isabel, há dois mil anos atrás. No final da Eucaristia, cantando, convidámos Maria a vir connosco:

"Vem vem connosco a caminhar, Santa Maria vem!"

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Uma das três Famílias de Caná que participaram na Eucaristia foi a família da Olívia e do Álvaro, que fizeram duas horas de viagem para passarem o dia connosco. Assim, durante a tarde, as crianças puseram a brincadeira em dia, os adultos a conversa, e claro, como sempre que duas Famílias de Caná se encontram, rezámos o terço, em honra da nossa Mãe e Rainha, neste dia em que o céu inteiro festejava.

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 O dia foi tão bom, a oração tão bela, o convívio tão simples, que por várias vezes me lembrei do Cântico de Maria, o Magnificat, escutado na missa da manhã:

 

"A minha alma glorifica o Senhor

e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador!

Porque pôs os olhos na humildade da sua serva,

de hoje em diante me chamarão Bem-Aventurada

todas as gerações!

O Todo Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome!"

(Lc 1, 46-49)

 

Maria tem esta forma tão própria de unir em oração as famílias e os amigos, criando comunidade ao redor do terço. À noite, quando me deitei, agradeci-lhe com sinceridade a graça de permitir aos meus filhos crescerem em família de famílias, como certamente Jesus cresceu em Nazaré... Não são precisamente isto, as Aldeias de Caná?...

 

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publicado às 06:26

De Fátima ao Sameiro

por Teresa Power, em 03.08.15

... E a semana sem net já terminou... Tanto, tanto para vos contar! Mas vamos por partes:

 

A nossa partida para férias coincidiu com o nosso 19º aniversário de casamento, dia 27 de julho. Que grande alegria! Os meninos estavam excitadíssimos, e os cães não paravam de pular – desta vez tinham direito a viajar connosco! O destino era uma pequena aldeia junto ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde alugáramos uma casa de férias pequenina e simples.


- Vamos preparar um piquenique para o caminho? – Perguntou o Niall. Nós somos amantes de piqueniques, como já devem ter reparado.
- Bem, se o caminho é para norte, e se vamos passar por Braga, então sugiro o Sameiro…
- O Sameiro?
- Sim. O Santuário de Nossa Senhora, a sua casa no norte do país. Lembras-te? Fomos lá no Jubileu do ano 2000, quando estava à espera da Clarinha…
- Pois fomos!
- E casámos em Fátima… Faz todo o sentido celebrar o nosso aniversário em terra de Nossa Senhora, não achas?
E foi assim que rumámos ao Sameiro. Que maravilhoso santuário! O céu muito azul, a escadaria, a cidade dos homens lá em baixo sob o olhar atento de Maria, a cúpula a apontar para o céu…

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No chão, nas pedras azuis e brancas, uma frase: “Mais bela, só no céu!” Veio-me ao pensamento o texto do Apocalipse:

 

“Depois apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça…” (Ap 12, 1)

 

De joelhos diante do altar, renovámos a consagração à Mãe de Caná, e pedimos a sua bênção para as nossas férias e a nossa vida. O nosso coração transbordava de ação de graças e de louvor perante tantas bênçãos, e perante esta bela prenda de aniversário! A paz e a alegria inundaram-nos a jorros. A vida é tão diferente, quando nos confiamos nos braços da Mãe, como crianças de colo que se abandonam sem medo! Com uma Mãe destas, que mal nos poderá acontecer?

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Depois, enquanto rezávamos o terço e meditávamos nos mistérios da vida de Jesus, retornámos à nossa viagem, a caminho de umas das mais belas férias de sempre.

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 Mas sobre isso falamos amanhã :)

 

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publicado às 06:12

Rosas desfolhadas

por Teresa Power, em 27.05.15

- Mamã, temos de levar uma flor para Nossa Senhora, hoje na missa!

- Não é hoje, David, é no próximo sábado. Hoje será a bênção da imagem de Nossa Senhora Auxiliadora em Saída, e no próximo sábado, na catequese, todos os meninos levarão uma flor. A procissão é só no outro domingo.

- Mas há uma rosa tão bonita no jardim... Tão bonita mesmo!

Sair para a missa ao domingo de manhã é sempre uma grande corrida contra o tempo, e não pude concluir este breve diálogo com o David. Mas durante a Eucaristia apercebi-me de uma curta troca de palavras entre o David, acólito, e o celebrante, o padre Aníbal, que veio expressamente de Lisboa para a ocasião. O padre Aníbal inclinava-se para o David e sorria-lhe. Já em casa, ao almoço, perguntei:

- David, que te disse o padre Aníbal na missa?

- Disse-me para não ficar triste, que no próximo domingo posso trazer a flor.

Engoli em seco.

- Então tu estavas triste?

- Não. Quer dizer, antes da missa eu disse ao senhor padre que queria ter trazido uma rosa muito bonita, mas não tivemos tempo...

- Queres mostrar-me qual é essa rosa?

- Vem cá!

O David levou-me ao jardim, onde uma única rosa vermelha erguia as suas pétalas, triunfante.

- Tens razão. É mesmo bonita! Olha, fazemos assim: mais logo colhemo-la e levamo-la ao santuário. Pode ser?

Os seus olhos brilharam.

- Sim!

Estava eu a deitar a Sara para a sesta, quando o António apareceu a correr junto de mim.

- Mamã, a Lúcia destruiu uma flor vermelha e escondeu as pétalas! E as pétalas eram para os dois!

Senti o coração aos pulos. Uma flor vermelha?

- António, que flor é que ela destruiu?

- Vem ver - E o António levou-me ao jardim. Procurei com o olhar o vermelho brilhante da rosa do David. Mas no lugar da rosa, havia apenas um caule triste.

- Lúuuuuucia! - Gritei, exasperada. Ela apareceu a correr.

- O que foi, mamã?

- Que fizeste à rosa vermelha? QUANTAS VEZES TE DISSE QUE NÃO SE PODEM ARRANCAR AS FLORES DO JARDIM?

Ela ficou muito calada. A minha brusquidão fez surgir duas grossas lágrimas nos seus olhos esverdeados.

- O David queria levar a rosa a Nossa Senhora, Lúcia. - Expliquei-lhe, sempre muito irritada.

- Eu não sabia... A sério, eu não sabia...

- Mas não podes arrancar flores. As flores não são para destruir, são para colher e colocar em jarras. Destruir, não!

- Eu não sabia...

Ficámos as duas em silêncio. Eu procurava acalmar-me, como convém a uma mãe cristã. Depois, abracei a minha filha e pedi-lhe perdão pelos gritos. Não tinham sido necessários. Aliás, raramente são necessários, e geralmente são detestáveis quando os vemos nos outros. A Lúcia sorriu, feliz, perdoando-me de coração - cá em casa, temos um grande treino nestes gestos de pedir e oferecer o perdão - e continuou a brincar.

Agora faltava contar ao David.

- David, tenho uma coisa a dizer-te... Acho que a tua rosa... Bem, acho que temos de levar outra flor a Nossa Senhora.

- Porquê?

- Porque a Lúcia arrancou todas as pétalas. Ela não fez por mal, estava só a brincar...

O David ficou calado, depois o seu rosto iluminou-se:

- Podemos apanhar as pétalas e levá-las a Nossa Senhora! Deitamo-las no chão junto à sua imagem, como se faz nas procissões!

E foi o que fizemos.

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 Enquanto observava a alegria do David, cobrindo de pétalas o chão em redor da imagem de Nossa Senhora, fiquei a pensar...

Também eu tenho um jardim interior, um jardim criado por Deus, lá nos primórdios da criação da minha vida. É nesse jardim onde, como diz o Livro do Génesis, o Senhor gosta de passear pela brisa da tarde:

 

 "Então ouviram o som dos passos de Deus, que passeava no jardim pela brisa da tarde." (Gn 3, 8)

 

No meu jardim interior há muito poucas rosas vermelhas de que me possa orgulhar. Eu gostava de poder escrever aqui que nunca perco a paciência, que nunca ralho sem razão, que sou sempre justa, que nunca me engano, que nunca me distraio na oração, mas nada disso é verdade. Como me escreveu uma simpática leitora deste blogue: "Às vezes tenho dificuldade em me aturar!" Fico com a sensação de passar anos e anos a construir virtudes, como quem faz crescer rosas com cuidado, para depois, numa fração de segundo, o meu pecado arrancar todas as pétalas e deixar à vista de todos apenas um triste caule. Um grito totalmente desproporcionado, e lá cai mais uma rosa por terra... De que valeram anos de esforço, se o meu jardim está cheio de rosas desfolhadas?

Mas dos braços de Maria, Jesus pareceu sorrir-me. E eu pensei escutar...

"Só há pétalas espalhadas pelo chão onde antes houve rosas. O que a Mim importa é que continues, todos os dias, a cultivar as tuas rosas, esforçando-te por praticar a Minha Palavra. O teu esforço cativa o meu Coração! Se depois, num segundo, o teu pecado arrancar todas as pétalas, não te aflijas. Quando não tiveres rosas para Me oferecer, ajoelha-te na poeira do teu chão e recolhe as tuas pobres pétalas, como o David fez. São-me mais agradáveis as pétalas recolhidas com a humildade de quem se sabe pecador do que as rosas oferecidas com o orgulho de quem se julga irrepreensível..."

Senhor, ensina-me a praticar o bem sem vaidade, recomeçando cada dia; e que o meu pecado nunca seja ocasião de desânimo na minha vida, mas antes fonte de humildade. Senhor, são para Ti todas as minhas pétalas...

 

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publicado às 06:20

A pressa de Maria

por Teresa Power, em 26.05.15

O domingo passado, dia 24 de maio, foi um grande dia na nossa paróquia. Para além da enorme festa que é o Pentecostes, celebrámos a Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, naquele que é o Santuário Nacional de Nossa Senhora Auxiliadora. Tal como há dois mil anos atrás, também no domingo o Espírito desceu sobre um povo congregado por Maria, rezando e esperando com Ela. Que dom tão bonito Deus nos fez!

Mas ainda tivemos outro motivo para festejar... Interpelado pela mensagem constante do nosso querido Papa Francisco, que nos desafia a sermos Igreja missionária, Igreja em saída, Igreja que procura as ovelhas perdidas nas periferias da vida, o nosso pároco decidiu mandar fazer uma imagem diferente de Nossa Senhora Auxiliadora. A imagem que temos no Santuário é lindíssima, mas está muito longe do toque e até do olhar de quem ali entra. Assim, o senhor padre decidiu mandar fazer uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora "em Saída", com um pé adiante do outro como quem caminha; decidiu colocá-la ao alcance da mão, do olhar, do beijo de quem a contempla; e decidiu colocá-la perto da saída da igreja. Na verdade, o primeiro gesto de Maria, ao saber que era Mãe do Salvador, foi sair - apressadamente - para visitar Isabel:

 

"Naqueles dias, Maria partiu a toda a pressa para uma cidade nas montanhas..."

(Lc 1, 39)

 

No domingo, na Eucaristia, esta nova imagem de Nossa Senhora Auxiliadora foi benzida solenemente, e no próximo domingo será coroada Rainha.

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"Vem, vem connosco a caminhar, Santa Maria vem!" Cantámos, emocionados, depois da bênção solene. A presença de Maria na Eucaristia era quase palpável. D. Bosco, contou-nos o nosso pároco, conseguia ver  Nossa Senhora a caminhar no meio dos jovens que educava nas suas casas. Seremos nós também capazes de a ver nos caminhos da nossa vida? Tantas periferias a precisar da sua visita... Tantos caminhos a precisar da sua santa pressa!

À tarde, tive oportunidade de rezar sozinha alguns momentos diante desta nova imagem de Maria. De joelhos, pedi ao Senhor, por Maria, que me concedesse também a mim "o dom da pressa", como gosto de lhe chamar, este sentido da urgência do Reino que o Espírito Santo acordou nos Apóstolos, reunidos com Maria.

Na verdade, não há tempo a perder! É preciso atear no mundo o fogo do Pentecostes. É preciso imitar Maria, que ao receber Jesus no seu seio e no seu coração, não O guardou para si, mas partiu a toda a pressa para O dar a todos. É preciso sermos povo "em saída", povo que entra na igreja para sair de novo, bilhas que vão à Fonte para regressarem a casa e saciarem a sede de quem aí vive. É preciso deixar de lado tudo o que nos distrai do essencial e partir para as periferias da vida, visitando os irmãos e levando-lhes Jesus. Que seja esse o grande ideal das Famílias de Caná e de todas as famílias cristãs. Ámen!

 

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publicado às 06:20

Via Sacra e a brincadeira de Deus

por Teresa Power, em 02.04.15

No domingo à tarde, como costume durante a quaresma, fomos juntos ao Santuário fazer a Via Sacra no interior da igreja, contemplando os belíssimos quadros que nos contam a Paixão de Jesus. Esta quaresma demo-nos conta de que rezar a Via Sacra é um exercício magnífico: não é monótono, porque a oração é acompanhada de uma breve caminhada e de muita beleza visual; é rápido - geralmente, demoramos quinze minutos - e centra-nos no mistério da Paixão e Morte do Senhor, o mistério da nossa salvação. Já decidimos que iremos rezar mais vezes a Via Sacra durante todo o ano, e não apenas na quaresma, pois como diz o profeta Isaías:

 

"Pelas suas chagas fomos curados." (Is 53, 5)

 

A oração da Via Sacra pode ser acompanhada simplesmente com a leitura de um dos evangelhos da Paixão do Senhor, ou com a leitura de um dos Cânticos do Servo, de Isaías (Isaías 42, 49, 50 e especialmente 53), ou ainda com algumas passagens de S. Paulo. Existem também muitas meditações da Via Sacra disponíveis em livro ou na internet. E, claro, a Via Sacra que eu escrevi e que já partilhei convosco, mas que de novo aqui deixo: Via Sacra.pdf. Soube por mail que um grupo de escuteiros do nosso país fez a sua Via Sacra a partir deste meu texto, o que me deixou muito honrada. Que o Senhor vos abençoe, querida Aida e queridos escuteiros!

 

- Mãe, podemos ir rezar a Via Sacra ao Santuário? - Pediram-me o António e o David em conjunto, no domingo à tarde.

- Vamos já. Deixem-me acabar de passar esta roupa.

- Agora! Agora!

Nesta altura, já vocês estarão admirados com a santidade dos meus queridos filhos, tão pequeninos e com tanta vontade de rezar. Não se iludam... A Via Sacra demora quinze alegres minutos, mas o Santuário é muito mais do que uma igreja. Na verdade, o Santuário fica no recinto do Colégio Salesiano, que aos domingos está vazio... Reparem nas fotos, e perceberão o que quero dizer:

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 O Francisco não esteve connosco este fim-de-semana, mas se tivesse estado, encontra-lo-iam nos matraquilhos, e depois a fazer parkour sobre os muros... Ups! Isto não é para os senhores padres salesianos lerem :)

Associar a oração familiar a momentos de alegria, partilha e convívio familiares é uma base segura para que a oração faça parte da vida dos nossos filhos. Quinze minutos de oração em família seguidos de três quartos de hora de brincadeira em família pode parecer desproporcionado, mas eu quero acreditar que esteja dentro das proporções de Deus...

Hoje começa o Tríduo Pascal. As cerimónias da Semana Santa são as cerimónias mais impressionantes do ano litúrgico, com uma densidade única de cor, ritual, gestos, beleza: o Lava-Pés, a instituição da Eucaristia, a Adoração da Santa Cruz e, por fim, os belíssimos ritos da luz na Vigília Pascal... Se "atarmos" todas estas cerimónias com o "cordel forte" de um "Tempo de Família" alegre e prolongado, experimentaremos realmente a Páscoa do Senhor!

 

 

 

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publicado às 06:28

Um artista, um pincel e uma tela

por Teresa Power, em 19.12.14

No santuário do Loreto na Moita, aqui bem perto de nós, que visitámos no domingo, está uma pintura magnífica da Virgem da Visitação - Nossa Senhora grávida, descendo à pressa as escadas de sua casa para partir ao encontro da sua prima Isabel, como nos diz a Bíblia:

 

"Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e foi apressadamente às montanhas para uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel." (Lc 1, 39-40)

 

Este quadro foi encomendado pelo pároco, o padre Vitor Espadilha, a uma pintora local, Natália Reis. Durante a pintura, as sombras sob os pés da Virgem não estavam a ficar como a pintora desejava, e por cinco vezes, ela procurou modificar a pintura, em vão. Por fim, desolada, desistiu. Foi então que olhou mais atentamente para a mancha escura que o seu pincel criara e que ela tentara eliminar:

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Sim, é um esboço do perfil de Jesus, coroado de espinhos! Que presente magnífico o Senhor nos fez, através de um pincel singelo nas mãos de uma pintora!

Na verdade, o Cristo que Maria levava dentro de si, cheia de alegria, é o mesmo Cristo que Ela aprenderá também a oferecer ao mundo, trinta e três anos mais tarde, numa dor imensa... Os passos apressados e alegres de Maria, descendo as escadarias de Nazaré, já nos falam de outros passos, passos mais lentos, mais dolorosos, mas igualmente alegres, de Jesus subindo as escadarias de Jerusalém... A salvação que Jesus nos oferecerá na cruz, coroado de espinhos e sangrando, já está operante no seio da Virgem da Visitação.

 

Enquanto contemplava aquele magnífico quadro, veio-me ao pensamento um texto de Santa Teresinha, que conheço de cor desde pequena e que me tem servido de inspiração ao longo da vida:

"Se a tela pintada por um artista pudesse pensar e falar, certamente não se queixaria por ser retocada sempre por um pincel e não teria inveja da sorte desse instrumento, pois saberia que não é ao pincel, mas ao pintor que o dirige, que ela deve a beleza que a cobre. Por seu lado, o pincel não poderia glorificar-se com a obra-prima feita por ele, sabe que os artistas não se apertam, que zombam das dificuldades, que gostam, às vezes, de usar instrumentos vis e defeituosos... Madre querida, sou um pincelzinho que Jesus escolheu para pintar sua imagem nas almas que me confiastes." História de Uma Alma - Manuscrito C

Sejamos dóceis pincéis, completamente abandonados à vontade de Deus! Deixemos que Ele Se sirva do nada que somos para pintar o seu rosto no mundo que nos rodeia... Ámen!

 

 

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publicado às 06:24

Uma casa para o Senhor

por Teresa Power, em 17.12.14

Na tarde de domingo passado, fomos a um sítio muito especial. Eu já tinha ouvido falar dele, e já tinha lido alguma coisa na Internet sobre ele, mas nunca o tinha visitado. Com a chegada do Advento, senti uma vontade imensa de o visitar e de ali rezar. Mas como fazer? Este sítio de que vos vou falar fica numa aldeia pequenina aqui nos arredores de Anadia, e eu não fazia ideia de como lá chegar, pois nem sequer sabia bem que aldeia era... Felizmente, a São teve a mesma lembrança:

- Teresa, gostava de lhe mostrar o Santuário do Loreto... Já ouviu falar?

Com a São por guia, e depois de muitas curvas em estradas apertadas, lá chegámos. Sorri, ao pensar como é típico de Nossa Senhora escolher o mais pequenino lugarejo para habitar...

Os meninos iam excitadíssimos: íamos visitar a única réplica, na península Ibérica, do Santuário do Loreto, em Itália! Existem no nosso país muitas igrejas com o nome de Loreto, ou Nossa Senhora do Loreto, mas nenhuma outra é santuário ou pretende ser idêntica, inclusivamente em dimensões, ao santuário italiano.

- E o que é o Santuário do Loreto? - Quiseram saber.

- Diz-se que, na Idade Média, a Casinha de Nazaré, onde Maria, Jesus e José viveram, corria sérios riscos de ser profanada pelos muçulmanos. Então os anjos pegaram nela e levaram-na até Itália, terra do Papa, onde a depositaram gentilmente no lugar do Loreto...

- E isso é verdade?

- Não sabemos, claro! Terão sido anjos? Terão sido os cruzados? Terá sido uma família, como se diz também, de apelido "Anjos"? Ou não terá sido nada disso? A verdade é que a casinha do Loreto, apenas com três paredes, está pousada realmente sobre o solo do Loreto, sem qualquer alicerce; e em Nazaré, naquele que é considerado o lugar da casinha da Sagrada Família, temos uma parede de gruta e alicerces de outras três paredes, inexistentes... O material da casinha do Loreto e as medidas correspondem em tudo à casinha de Nazaré. O resto são suposições!

 

O Santuário do Loreto, no lugar de Vale de Boi, Moita, fica por detrás da igreja paroquial. Em frente da igreja, vive uma senhora, também de nome São, que está encarregue de cuidar da igreja e do santuário e que possui as qualidades necessárias para fazer de guia aos peregrinos. Foi ela que nos acolheu e nos levou ao interior da casinha da Sagrada Família. Durante toda a visita tivemos ainda a companhia do seu enorme e meigo cão:

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Neste belíssimo santuário encontra-se uma pedra do santuário original, que pudemos contemplar:

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 E uma réplica da estátua da Virgem do Loreto:

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Os meninos observaram tudo com imensa atenção, e aproveitaram para brincar um bocadinho...

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 Depois, de joelhos, rezámos a nossa consagração a Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná, e o Angelus, essa belíssima oração de Advento:

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Finalmente, deixámos a casinha do Loreto e entrámos na noite, bela, luminosa, serena... Ao longe, brilhavam as luzes de Anadia e, para além delas, brilhavam certamente as da nossa casa.

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Deixei o santuário com uma sensação profunda de paz e de alegria, e uma vontade imensa de ali voltar. Os últimos Papas tem repetido, ao visitarem o Santuário do Loreto,  que ali é a Mãe que nos recebe à porta e nos convida a entrar e a ficar!

Santa Teresinha visitou o Loreto numa peregrinação, e na sua autobiografia falou desta visita com imenso carinho. No santuário da Moita, na parede exterior, está uma placa com a transcrição do texto de Teresinha:

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Ao regressar a casa, ao acender a lareira e começar com os banhos, ao preparar o jantar e ao pôr a mesa, ao brincar com os meus filhos e ao dar-lhes um beijo de boas noites, percebi de repente a misteriosa história do Loreto:

A casinha de Nazaré estava ameaçada. Era preciso encontrar um lugar seguro onde a guardar, para que nada se perdesse... Os anjos pegaram nela e transplantaram-na para o Loreto. Só para o Loreto? Não estarão os anjos encarregues de transplantar a casinha de Nazaré para todos os lugares que a quiserem receber? Não poderão os anjos transplantar a casinha de Nazaré para a Moita? Não poderão os anjos transplantar a casinha de Nazaré para a minha casa, para a vossa casa, para a casa de qualquer cristão que queira acolher a Sagrada Família?

Diz o salmo 132/131:

 

"Não entrarei na tenda de minha casa

nem subirei ao leito de meu repouso,

não concederei aos olhos o sono

nem às minhas pálpebras o descanso,

até encontrar um lugar para o Senhor."

 

A casinha da Sagrada Família esteve ameaçada desde sempre, afinal! Imagino S. José a rezar mentalmente este salmo, enquanto batia a todas as portas de Belém, com Maria prestes a ter o Menino... Imagino de novo S. José a rezar este salmo, a caminho do Egipto, e de novo a caminho de Nazaré... Imagino os anjos a deliberar para onde deviam levar a casinha durante os tempos das perseguições islâmicas... Mas acima de tudo, imagino o Senhor agora, à minha porta, desejoso de saber se aqui há lugar para Ele!

O Advento já vai adiantado. Apressemo-nos a fazer espaço para a Sagrada Família nas nossas casas, nas nossas famílias, nos nossos corações! Não podemos descansar enquanto o não fizermos... Então, os anjos pegarão na casinha de Nazaré e deixá-la-ão aqui mesmo. Ámen!

 

 

 

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publicado às 06:37

Um comboio e uma torre branca

por Teresa Power, em 01.09.14

No sábado, enquanto brincava com a Sara debaixo da figueira, como contei aqui, vi passar vários comboios, pois o Santuário fica ao lado da estação ferroviária. A cada comboio que passava, os meninos paravam de comer figos e ficavam a olhar, fascinados com o barulho, a cor e o movimento. Então, na minha mente, recordei-me dos meus tempos de infância, adolescência e juventude...

Por diversas razões, fiz muitas vezes o percurso de comboio entre o Porto e Lisboa. Os meus avós viviam em Aveiro, nós vivíamos em Castelo Branco, mais tarde fui estudar para Coimbra, e a linha do norte acompanhou-me sempre. De tanto fazer a viagem, memorizei as estações e apeadeiros entre Aveiro e Coimbra, bem como o recorte da paisagem. A torre branca e a imagem de Nossa Senhora surgiam mais ou menos a meio, e eu lembro-me perfeitamente de sempre rezar uma Ave-Maria quando por elas passava. E sempre me perguntava: O que farão uma torre tão bonita e uma imagem tão bonita no meio deste descampado? Que igreja tão especial existirá aqui, nesta estação pequenina chamada Mogofores?

Os anos passaram. Nunca descobri o que fazia a torre branca junto à linha do norte, mas pensava nela muitas vezes. Casei, vivi alguns anos em Aveiro, depois mudámo-nos para a Gafanha, nos arredores de Aveiro, e finalmente comprámos a casa que hoje temos, na pequena aldeia de Mogofores. E foi só então que reparei... Estava a viver à sombra da torre branca, com a sua belíssima imagem de Maria! Finalmente iria poder visitar a igreja que me acompanhava desde pequenina e que me fazia rezar uma Ave-Maria nas minhas viagens de comboio. E finalmente iria saber o porquê desta igreja tão bonita junto à linha!

Contei aqui como foi a minha primeira visita ao Santuário. Levei mais algum tempo a conhecer a sua história e a descobrir a devoção do povo e dos salesianos a Nossa Senhora Auxiliadora. Hoje, a Senhora Auxiliadora da torre branca da minha infância é também a Mãe de Caná. A Ela nos consagramos todas as manhãs:

 

Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná,

Consagramos-te hoje e sempre a nossa família.

Confiamos na tua intercessão de Mãe,

para que o vinho da fé, da esperança e do amor

nunca acabe em nossa casa.

Faz de nós servos do Senhor, como tu,

e ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser!

Amen.

 

O Livro do Deuteronómio repete muitas e muitas vezes uma pequena palavra: "Lembra-te":

 

"Lembra-te de todos os caminhos que o Senhor teu Deus te fez andar nestes quarenta anos pelo deserto..." (Deut 8, 2)

 

O Papa Francisco, ao falar da sua oração pessoal, referiu que grande parte dela é feita de memória, no sentido bíblico: recordação das maravilhas de Deus, da forma como Deus conduziu o fio da nossa vida até ao bordado presente:

"A oração para mim é também sempre memoriosa, cheia de memórias, recordações, memória da minha história ou daquilo que o Senhor fez na sua Igreja..." (Entrevista à Revista Broteria, Agosto 2013)

 

A torre branca e a imagem de Nossa Senhora junto à linha de comboio são para mim hoje sinal da presença amorosa de Deus ao longo de toda a minha vida. Imagino o seu sorriso maroto quando eu rezava uma Ave-Maria dentro do comboio, aos dez, aos quinze, aos vinte anos. Imagino o seu olhar pousado sobre mim e o seu pensamento: "Espera e verás... Um dia entrarás nessa igreja, vais ver... As maravilhas que então Eu farei..."

Há alguns anos atrás, a minha família subiu à torre branca, para de lá contemplar a linha de comboio da minha vida, e a imagem da Senhora dos meus sonhos:

 

 

 

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publicado às 06:30

Uma figueira pequenina

por Teresa Power, em 31.08.14

O telemóvel tocou. Era o senhor padre.

- Boa tarde família Power! As nossas figueiras aqui no Santuário estão carregadinhas de figos maduros e bons. São tantos, que nós não conseguimos dar-lhes vazão! Não querem vir até cá com cestos e fazer a apanha?

Os mais novos saltaram de alegria. Adoram ir ao Santuário, porque o espaço é fantástico para praticamente tudo: andar de bicicleta, jogar à bola, trepar às árvores e, claro, apanhar figos, ameixas, uvas e tudo o que é bom. Assim, enfiámo-nos no carro com o Jack e a Winnie e lá fomos nós. Apenas o Francisco não foi, pois está a passar o fim-de-semana no norte, em casa de um grande amigo. Como devem imaginar depois do post que ele escreveu sobre a sua família barulhenta, está muito feliz no seu merecido descanso!

 

As figueiras do Santuário são muito antigas, e sabe bem sentarmo-nos à sombra sob os seus ramos curvados, carregadinhos de frutos. O David, a Lúcia e o António devem ter comido todos os figos que apanharam, pois os únicos que enchiam os cestos eram o Niall e a Clarinha! Eu entretinha-me com a Sara, a subir e a descer degraus, e claro, fui tirando fotografias...

 

 

 

 

- Quem me dera uma figueira assim no nosso quintal - Comentei com o Niall, enquanto me deliciava com um figo.

- Mas tu tens uma figueira! Eu já te plantei uma, como tanto desejavas - Respondeu-me ele, espantado.

- Não tenho uma assim, curvada, carregada de figos, a fazer uma sombra destas - Expliquei.

- Bem, tu querias uma figueira velhinha, com uma longa história para contar! A nossa irá ser assim quando os teus netos e bisnetos vierem visitar-nos.

- Mas eu queria essa figueira agora...

- Fazes-me lembrar Jesus, quando amaldiçoou a figueira! Ele sabia que não era altura de figos, mas insistiu em procurar figos na pobre figueira! Que impaciência!

 

"No dia seguinte, ao saírem de Betânia, Jesus sentiu fome. Viu ao longe uma figueira coberta de folhas e foi ver se encontrava alguma coisa. Mas nada encontrou a não ser folhas, pois não era tempo de figos. Disse, então, à figueira: «Jamais alguém coma fruto de ti!»" (Mc 11, 12-14)

 

Quando cheguei a casa, olhei para a nossa pequenina figueira, com dois anos de vida, e vi como nela cresciam alguns pequeninos figos também. Podia não dar muita sombra, mas já produzia os seus frutos! Depois pensei nas Famílias de Caná...

O movimento das Famílias de Caná ainda não tem um ano de vida. Como a figueira do meu jardim, é muito novo! Mas embora a sua sombra não cubra ainda uma multidão, os seus frutos já são abundantes.  Se Jesus passar hoje sob alguma das pequenas figueiras que são as Famílias de Caná e sentir fome, Ele tem todo o direito de estender a mão e colher até se saciar! Os anos trarão a sombra, o sussurro do vento por entre as folhas, a beleza; mas os frutos têm de estar prontos desde já!

Não há aí por Lisboa, Setúbal e arredores famílias com vontade de se tornarem também "figueiras" no jardim das Famílias de Caná? Inscrevam-se! Na coluna do lado direito deste blogue têm o link directo para o post sobre o próximo retiro e para a inscrição online. Venham, que não se vão arrepender! Nós esperamos por vós!

 

 

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