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Um pequeno passo...

por Teresa Power, em 08.02.16

Há duas semanas atrás, quase todos os Power estiveram doentes. Os mais pequenos trouxeram para casa uma belíssima virose de vómitos, os mais velhos andaram enjoados e sem forças, e por fim, na noite de sábado para domingo (da outra semana), foi a minha vez.

- Meninos, despachem-se, vistam-se para a missa que hoje a mamã não vos pode ajudar - Disse o Niall, procurando orientar a manhã dos seis filhos.

- Porquê?

- Porque vomitou a noite toda e continua muito aflita - Explicou. - Quando viermos da missa já vai estar melhor. Agora vistam-se!

A Lúcia e o António entraram apressadamente no meu quarto.

- Mamã, que devemos vestir para a missa?

- O que quiserem - Respondi eu sem pensar, procurando controlar as dores de barriga - Vistam o que quiserem, mas deixem-me em paz!

Só na segunda-feira de manhã, quando finalmente saí da cama, é que me dei conta do erro que cometera com esta minha inocente resposta... Pelas camas e cadeiras estava espalhado todo o tipo de roupa, desde t-shirts a vestidos de verão.

- Clarinha, que aconteceu aqui? - Perguntei, desanimada.

- Ora, mãe, não lhes disseste para vestirem o que quisessem? Eles levaram à letra a tua resposta, e deram volta às roupas todas! Não tive como os controlar!

Bem, mas esta conversa foi na segunda-feira de manhã, porque durante todo o domingo eu lutei na cama contra a bela virose que me assaltou de surpresa. "Que perda de tempo!" Pensava, quando conseguia pensar. "Hoje que tencionava corrigir uma turma de testes... Hoje que escolhera cânticos tão bonitos para cantar e tocar na missa... Hoje que prometera à Sara construir um castelo de legos com ela... E em vez disso, estou na cama sem fazer nada!" Mas depois o meu pensamento foi buscar uma outra lógica, a lógica divina, que o Papa Francisco tão bem explicou em A Alegria do Evangelho: "Um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode agradar mais a Deus que a vida externamente correta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar grandes dificuldades." (nº44) E logo exultei de alegria, tanto quanto pode exultar de alegria alguém doente na cama.

De facto, é muito mais fácil ser-se simpático, amável, misericordioso, quando se está saudável, quando se comeu bem e dormiu melhor, quando a vida não nos apresenta grandes dificuldades. Mas como é difícil sorrir quando sofremos! Então é altura de dar esse "pequeno passo", de oferecer ao Senhor um pequeno esforço. Talvez o sorriso seja um pouco "amarelo", mas é de certeza bem valioso! Um dia doente de cama é uma experiência extraordinária de humildade...

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Que desculpa terei eu a dar a Deus por não ter sido santa, quando um dia O encontrar face a face, se tudo na minha vida me facilita o caminho? Sem qualquer mérito meu, nasci e cresci num país do primeiro mundo, longe da guerra, da fome, da violência, numa família onde sempre fui amada e muito bem tratada, numa casa praticamente ao lado de uma igreja... Nunca tive de percorrer quatro quilómetros a pé, debaixo de sol e de chuva, para ir à missa, nem tive de participar em celebrações clandestinas durante a noite sob ameaça de bombas, nem tive de atravessar o Mediterrâneo numa gincana, nem tenho de suportar um marido violento, nem tenho de enfrentar uma família avessa à religião, nem tenho de roubar para comer, nem... Ah, que seria de mim, se a minha vida fosse feita de doença, sofrimento, solidão...? Seria eu a mesma mulher de fé? Seria eu capaz de me esforçar por ser santa e por educar os meus filhos na Lei de Deus? Não seria antes tentada a baixar os braços e a responder "Façam como quiserem", como respondi aos meus filhos naquele único dia de mal-estar?

Recebo muitos e-mails de leitoras deste blogue, confidenciando-me como a sua vida é difícil, e como procuram manter a sanidade mental, a fé, ou simplesmente o seu casamento, no meio de grandes adversidades. Como eu admiro estas pessoas! Algumas partilham comigo terem conseguido, finalmente, levar os filhos à missa, ou rezar em família à hora das refeições. Tenho a certeza de que esta missa esforçada ou esta oração rápida e meio envergonhada tem, diante do Senhor, mais valor que a minha missa confortável e a nossa longa oração diária... Um pequeno passo no meio de grandes limitações vale mais que todo o ouro do mundo. Lembro-me da viúva do evangelho:

 

"Levantando os olhos, Jesus viu os ricos deitarem no cofre do tesouro as suas ofertas. Viu também uma viúva pobre deitar lá duas moedinhas e disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou mais do que todos os outros; pois eles deitaram no tesouro do que lhes sobejava, enquanto ela, da sua indigência, deitou tudo o que tinha para viver.»" (Lc 21, 1-4)

 

Animada com este espírito, procurei aproveitar muito bem o meu dia de sorte, naquele domingo passado na cama, não desperdiçando nenhuma oportunidade para sorrir no meio da dor, ser amável quando apetecia responder torto, calar-me quando apetecia queixar-me. Não consegui corrigir testes, não consegui trabalhar neste blogue durante uma semana inteira (graças a Deus tinha o post sobre o retiro preparado nos rascunhos), mas certamente que os meus pequenos sofrimentos foram mais valiosos que muitos textos aqui escritos, e certamente que Deus sorriu ao ver o meu (vão) esforço.

Já passou... Foram apenas algumas horas oferecidas - pobremente oferecidas - ao Senhor. Agora vem aí a Quaresma, e com ela, o grande convite à mortificação, à renúncia, ao jejum, ao silêncio. Serei capaz de a aproveitar?...

PS - Prometo compensar esta semana a falta de posts da semana passada!

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Coração sem espinhos?

por Teresa Power, em 07.01.16

No início do Advento, um grupo de pessoas amigas, empenhadas na sua paróquia, pediram-nos emprestado o "Sagrado Coração de Jesus" que costumamos colocar à porta de casa, por alturas do mês de junho, mês do Sagrado Coração. Queriam fazer uma representação de Natal para as crianças do seu movimento e este Coração ficava muito bonito na peça que iam construir. Emprestei com todo o carinho, claro.

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Quando, dias mais tarde, mo devolveram, o Coração vinha diferente. Olhei-o com atenção:

- Tiraram as chamas?

- Chamas?

- Sim, as chamas do Sagrado Coração...

As minhas queridas amigas entreolharam-se, preocupadas. Naturalmente não se tinham apercebido que as flores amarelas representavam as chamas do Coração de Jesus, um Coração ardente de amor. Ri-me, para as descontrair, pois sabia que tinham as melhores intenções do mundo. A nossa arte não é muita, e as flores amarelas pareciam tudo menos chamas! Recuperei as flores e guardei-as num saquinho, para mais tarde reconstruir o Coração.

Mas depois reparei noutro pormenor:

- O Coração de Jesus tinha espinhos... Também tiraram os espinhos?

- Tirámos - Assentiram - Não fazia muito sentido por se tratar de uma representação do Natal. Deitámos os espinhos fora... Desculpa!

 

Quando cheguei a casa, entreguei o Coração de Jesus ao Francisco e à Clarinha:

- Meninos, toca a refazer o Coração! É preciso voltar a colocar as flores amarelas no sítio e procurar novos espinhos!

Eles resmungaram:

- Ora bolas! Os espinhos custam tanto a colocar! Picamo-nos todos!

Ri-me para comigo. Ainda bem que os espinhos custam a colocar! Se não custassem, não seriam espinhos... Agradeci interiormente aos meus amigos por nos permitirem meditar de novo no mistério imenso do Sagrado Coração de Jesus, por nos permitirem picarmo-nos novamente em cada um dos seus espinhos.

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 O Coração misericordioso de Jesus é um Coração atravessado de espinhos dolorosos. A misericórdia divina significa que a minha miséria toca o Coração de Deus, ao ponto de o despedaçar. Amor rima sempre, sempre com dor...

Mesmo no Natal? Os meus amigos, que transbordam de amor por Jesus e só Lhe querem agradar, estavam empenhados em não permitir que, pelo menos no Natal, o Coração de Jesus fosse dilacerado pelos espinhos.

Mesmo no Natal. No dia seguinte ao Natal, a Igreja celebra o martírio de S. Estêvão, apedrejado até à morte. Que horror! E dois dias depois, o martírio dos bebés de Belém, mortos por Herodes. Quanto sangue derramado nas ruas de Belém, apenas alguns dias depois do nascimento do Salvador! Ler e meditar nas leituras da missa do dia, no tempo de Natal, não é uma experiência muito... "natalícia"! Mártires, perigos de toda a espécie, a fuga para o Egito durante a noite, a perseguição... 

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Domingo à noite, ao regressar do grupo de oração com a Clarinha e o Francisco, encontrei o Niall sentado diante do televisor. As notícias mostravam uma criança de dois anos morta por afogamento, ainda com o corpinho dentro de água, numa praia na Grécia. Foi o primeiro náufrago de 2016. Vinha numa embarcação pequenina, fugindo à guerra em busca de um pouco de bem-estar. Que imagem chocante! Por que não nos deixam celebrar o Natal em paz?! Hoje, como há dois mil e quinze anos atrás, o Natal continua a ser tempo de contradição. Assim o predisse S. Simeão a Nossa Senhora, na Apresentação no Templo:

 

"Este Menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição. Uma espada trespassará a tua alma." (Lc 2, 34-35)

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Escreveu o Cardeal Kasper no livro que inspirou o Papa Francisco, Misericórdia: "Esta não é a linguagem das sagas nem dos mitos: no início, o estábulo; no final, o cadafalso... Mas é precisamente por causa desta tenção e deste contraste entre o cântico celestial dos anjos e a brutal realidade histórica que todo o relato da Natividade irradia uma magia específica."

Natal é tempo de amor. Misteriosamente, este amor cresce no meio da dor, como as rosas no meio dos espinhos. O mundo está cheio de sofrimento, e a nossa vida também. Mas por uma razão que não conseguimos entender, é neste terreno regado com lágrimas que brotam as sementes da esperança. Sem sabermos como nem porquê, de Natal em Natal o Reino continua a crescer...

 

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Magusto, adoração e uma bebé recém-nascida

por Teresa Power, em 09.11.15

Sábado foi um dia de sol radiante. Tudo brilhava: as gotas de orvalho na relva, a roupa finalmente estendida, o chão lavado de fresco. Depois de uma longa semana de mau tempo, os meninos deliciaram-se no jardim e em Náturia, gritando de entusiasmo.

Também a nossa paróquia estava em festa, celebrando S. Martinho: sábado foi dia de magusto. Assim, depois da catequese, reunimo-nos todos no pátio do colégio salesiano para fazer a festa tradicional. Ora vejam a alegria!

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 No entanto, nos nossos corações nem tudo exultava: as Famílias de Caná presentes no magusto não se esqueciam da pequena Lúcia, a bebé recém-nascida da Olívia, que está a fazer uma entrada no mundo tão dolorosa. Depois de um parto muito difícil, a Lúcia sofreu uma paragem cardio-respiratória e teve de ser levada para uma incubadora e para muitas avaliações. Como podíamos nós alegrarmo-nos enquanto a nossa amiga sofria? Fomos conversando entre nós, partilhando as notícias que tínhamos, e depois, um a um, fomos conversar com Quem tudo pode e tudo conhece:

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Tratava-se do primeiro sábado do mês, o que significa, na nossa paróquia, adoração ao Santíssimo durante todo o dia. Vinha mesmo a propósito! Era mesmo com Jesus que eu queria falar. Queria dizer-Lhe o quanto me custa saber que há bebés a sofrer, saber que os nossos amigos sofrem, saber que a pequena Lúcia não pode ir já para sua casa e aproveitar o colinho bom dos seus papás e maninhas. Queria dizer-Lhe que não concordo nada com este sofrimento, porque a Olívia não merece.

"Achas que Eu mereci?"

Jesus olhava-me do ostensório, carinhoso e firme.

"Achas que Eu mereci?"

Jesus-Eucaristia estava diante de mim, exposto como na Cruz, Pão que primeiro foi grão e que o sofrimento amassou. Eu gosto de fazer adoração eucarística em lugares que tenham um crucifixo por perto, pois ajuda-me a concentrar no mistério que tenho diante dos olhos: Jesus só se pode dar a mim na Eucaristia, como alimento e remédio, como vida e amor, porque morreu na Cruz. O Corpo de Jesus, oferecido na Eucaristia, é o mesmo Corpo suspenso da Cruz... Que fez Jesus para merecer a Cruz? Amou, perdoou, curou, salvou de dia e de noite, sem descanso? Imaginei os anjos de Deus na hora da crucifixão, estarrecidos, em choque perante a loucura do amor divino. Porquê, Senhor? Por que Te deixaste matar? Por que permites que haja dor? Depois lembrei-me de S. Paulo:

 

"Cristo, que era de condição divina,

não Se valeu da sua igualdade com Deus,

mas aniquilou-Se a Si mesmo.

Assumindo a condição de servo,

obedeceu até à morte,

e morte de Cruz!"

 

Mas S. Paulo continua:

 

"Por isso Deus O exaltou

e Lhe deu o nome que está acima de todos os nomes,

para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem

no Céu, na Terra e nos infernos,

e toda a lingua proclame que Jesus é o Senhor,

para glória de Deus Pai.

Amen!" (Fl 2, 6-11)

 

Há uma ligação intensa, misteriosa e profunda entre o sofrimento e a alegria, a dor e a glória, como duas faces da mesma moeda. O sofrimento da pequenina Lúcia é certamente muito mais fecundo do que a menor das minhas orações, e a dor da Olívia e do Álvaro é capaz de converter mais corações do que qualquer das minhas palavras. A Cruz tem um poder que nada mais consegue ter sobre a Terra. Mas estas coisas não podem ser explicadas, apenas vividas. 

Saí da oração para brincar um pouco com os meus filhos. Eles estavam felizes, sujos e transpirados, chutando bolas e enfarruscando a cara. O telemóvel vibrou, e eu li um SMS da Olívia: "A Lúcia está a ficar mais forte a cada hora! Obrigada a todos quantos se preocupam e não desistem de rezar. Nós seremos sempre gratos." Ao telefone, horas mais tarde, a Olívia explicou-me que a Lúcia terá ainda um longo caminho a fazer no hospital, para avaliar o seu comportamento neurológico, mas que já deixou a incubadora, embora continue nos cuidados intensivos neo-natais. Há fortes esperanças de que a bebé não fique com sequelas neurológicas. No mail, esperavam-me  duas lindas fotografias:

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A alegria do magusto e a dor da família Batista... Crianças a brincar e crianças nos hospitais a sofrer... Jesus Ressuscitado e Jesus Crucificado... Dizia Santa Teresinha, pouco antes de morrer: "Não sei como será quando eu chegar ao céu. Deus terá de modificar o meu temperamento, pois eu não consigo imaginar uma felicidade que não tenha uma mistura de dor." Enquanto vivermos neste mundo, nunca encontraremos alegria perfeita. Mas de uma forma misteriosa, esta mistura de dor e alegria é a fonte da nossa felicidade...

 

 

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Felizes os pobres que o são no seu íntimo

por Teresa Power, em 22.09.15

De três em três dias, tenho de fazer o penso pós-operatório. Numa destas "agradáveis" sessões de enfermagem, tive uma interessante conversa com a enfermeira que me atendeu. O assunto vinha a propósito:

- Amamentou todos os seus filhos? - Perguntou-me ela delicadamente. Contei-lhe a minha história:

- Amamentei os três primeiros até eles não quererem mais. Tive três filhos sem nunca comprar um biberão! Tudo mudou com a morte do Tomás. O David nasceu três meses depois, e para minha grande tristeza, não tive nem uma gotinha de colostro para lhe oferecer... Quando a Lúcia nasceu, vibrei de entusiasmo perante a perspetiva de voltar a ter um bebé ao peito. Mas não foi assim: durante vários dias, esforcei-me por amamentar, fiz tudo o que pude, aguentei estoicamente as dores mais fortes, vi o peito ficar inflamado, vi a Lúcia chorar de fome, e por fim, desisti.

- Desistiu?

- Percebi que amamentar a Lúcia se estava a tornar numa fonte de angústia e stress totalmente desnecessária. Chorava ela, chorava eu, e isto dia após dia. A única solução era tirar o leite com uma máquina para lhe dar, o que me parecia bem mais arteficial do que dar um biberão de leite em pó, e sobretudo, impossível de praticar numa casa tão atarefada como a minha. Lembrei-me de uma frase que, muitos anos antes, o pediatra me dissera: "A hora da alimentação é a mais importante na vida de um bebé. É mil vezes preferível um biberão tranquilo que uma mama angustiada." Nunca esqueci aquilo... Decidi optar pelo biberão tranquilo. Foi uma experiência belíssima para todos - para mim, para o Niall, para os nossos outros filhos e, acima de tudo, para a pequena Lúcia. Quando o António e a Sara nasceram, eu já tinha feito as pazes com a minha incapacidade de amamentar, e voltei a dar biberão.

A enfermeira respirou fundo. Depois disse-me:

- Nem imagina o bem que me faz escutar isso! Eu estava no serviço de obstetrícia quando engravidei e tive o meu bebé. Eu não só sabia tudo sobre amamentação, como ajudava as outras mulheres a amamentar. Por isso foi uma imensa vergonha para mim descobrir que não era capaz de amamentar o meu próprio filho... Sofri horrores! Quando desisti de tentar, senti-me tão, mas tão envergonhada! Parecia que falhava no mais importante, e percebi que ninguém ali me compreendia.

Ficámos em silêncio durante uns breves instantes. Depois confidenciei-lhe:

- Nunca senti qualquer diferença, em termos de proximidade com o bebé,  entre o ato de amamentar os meus filhos e o ato de lhes dar o biberão, acredita? Sempre fiz ambas as coisas com total concentração, com total amor, com os bebés bem juntinho a mim e sem cair na tentação de delegar esta doce tarefa a outros. O que alimenta um bebé é, acima de tudo, o amor, e esse não é, de todo, uma questão de biologia! Tentámos, esforçámo-nos, esquecemo-nos de nós para servir o nosso bebé - não conseguimos. Aceitámos o nosso fracasso de cabeça erguida, como um ato de amor, e isso é o que importa!

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De regresso a casa, deparei com a cena do costume: os dois gatinhos bebés agarrados à mãe, mamando sofregamente... Parei a contemplá-los, como de costume também. Há poucas coisas mais bonitas na natureza que a visão de uma mãe a amamentar os filhos!

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Enquanto os contemplava, relembrei a nossa conversa. Pensei na mãe de Santa Teresinha, em breve canonizada, que não conseguiu amamentar vários dos seus bebés, e na forma desprendida e prática como sempre contornou a situação, sem frustrações nem lamentações.

Depois lembrei-me então que também eu, quatro filhos atrás, já estivera do lado daqueles que acham facílimo dar o peito e vergonhoso dar um biberão... Foi a minha própria experiência de fracasso, de vergonha, de pobreza, que me tornou mais humana e mais humilde, capaz de entender as experiências de fracasso, de vergonha e de pobreza dos outros.

Ter partos naturais, amamentar com facilidade, engravidar quando se quer são tudo dons gratuitos do Senhor, que Ele concede de acordo com a sua vontade. No entanto, quantas e quantas vezes nos apropriamos deles como riquezas pessoais, ou pior ainda, os associamos à nossa fé, como se fossem algo merecido pela nossa grande santidade, ou como se a sua falta fosse um castigo pelos nossos pecados... Seremos muito mais felizes fazendo as pazes, sorrindo, com as nossas limitações naturais. Ah, como é triste a vida de quem acha que Deus lhe deve alguma coisa!

"Tu queres, Jesus? Então eu também quero!" Assim rezava a jovem Chiara Luce Badano, perante a doença incapacitante que lhe roubou a juventude. E em vez do dom da saúde, recebeu de Deus o dom de uma alegria perfeita.

"Tu queres, Jesus? Então eu também quero!" Assim podemos nós rezar também perante a nossa vergonha, o nosso fracasso. E descobriremos que o Senhor tem para nós outros dons que não aqueles que tanto desejávamos - dons que nos irão surpreender, quando os quisermos aceitar...

É a experiência de fracasso e de pobreza que nos permite conhecer a verdadeira felicidade, a felicidade da Bem Aventurança que Jesus proclamou um dia, sobre a montanha:

 

"Bem aventurados os pobres que o são no seu íntimo, porque é deles o Reino dos Céus." (Mt 5, 3)

 

 

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A pregação de Jesus

por Teresa Power, em 27.07.15

Oração familiar. Junto ao Canto de Oração, rezamos o terço.

- Quinto mistério doloroso - Enuncio, à espera que um dos mais pequenos o nomeie. Ser o primeiro a dizer o nome do mistério tornou-se, cá em casa, num jogo que todos querem ganhar.

- Eu digo! Eu digo! - Grita a Lúcia, entusiasmada. E continua: - O quinto mistério é a pregação de Jesus.

- Não é nada, Lúcia! - Reage o David, impaciente - É a crucifixão de Jesus. É quando Jesus morre na cruz!

- Foi o que eu disse! - Responde a Lúcia - Eu disse "pregação", e pregação é pôr pregos, não é?

Todos nos rimos com simpatia. Interrompendo a conversa, respondo à Lúcia:

- Lúcia, o que tu dizes nem está assim tão errado. Afinal, a mais bela pregação de Jesus foi mesmo na cruz... Quando esteve suspenso na cruz, Jesus pregou quase sem palavras. Na cruz, Jesus pregou com a sua vida, com o seu olhar, com o seu suspiro, com o seu coração trespassado de amor... Não há maior pregação do que a da cruz!

 

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O trocadilho inocente da Lúcia fez-me pensar no heroísmo de tanta gente que eu conheço, e que dá testemunho da sua fé, não através de palavras, nem de milagres, nem de visões, nem de uma sucessão de acontecimentos festivos, mas precisamente através da sua cruz - uma cruz aceite com cara alegre e total confiança no Senhor.

Talvez a nossa vida não seja como gostaríamos que fosse, a nossa família não nos compreenda, os nossos filhos sigam por maus caminhos, o nosso emprego seja uma desilusão... Talvez estejamos doentes, desempregados, abandonados, traídos, magoados... Então é o momento de pregar sem palavras, carregando  a cruz com um sorriso aberto e um coração atento, transbordando amor. Na verdade, falar de Jesus quando tudo corre bem é simples; mas manter a alegria e recusar a revolta, a cara feia e os queixumes - isso é pregação! Como a de Jesus, também essa se tornará na mais bela pregação da nossa vida...

 

"Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la, mas quem a perder por Minha causa, há-de salvá-la."

(Mc 8, 34-35)

 

 

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Uma dor e um sorriso

por Teresa Power, em 13.07.15

Há cerca de duas semanas, a Clarinha caiu mal durante um exercício de ginástica (em casa...), ficando com uma dor persistente no joelho.  Durante vários dias, a Clarinha continuou a sua vida normal, embora com dor. Mas como não melhorasse, antes se sentisse cada vez pior, teve de ir a uma consulta de fisiatria. A resposta foi clara: a Clarinha tinha uma rotura de ligamentos e não podia fazer ginástica durante, pelo menos, três semanas. Estávamos em vésperas do grande espetáculo de final de ano, que há meses a fazia sonhar...

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 Na noite em que chegou a casa, depois da primeira avaliação do seu problema, a Clarinha chorou, e nós sentimos o coração partido. Sabíamos que ela precisava de deitar cá para fora toda a frustração de não poder participar no espetáculo da Menina do Mar, onde iria dançar como uma alga agitando-se nas ondas azuis.

Mas algumas horas depois, quando se foi deitar, as lágrimas já tinham dado lugar a um sorriso. Não terá sido um sorriso espontâneo, antes o sorriso treinado de quem está habituado a sofrer alguma dor para conseguir os resultados de beleza e ritmo de cada exercício. O sorriso que nasce na dor é certamente bem mais precioso do que o que nasce na alegria... Como Chiara Badano, em situação bem mais grave, também a nossa Clarinha precisava de aprender a dizer: "Tu queres, Jesus? Então eu também quero."

A ginástica foi substituída pela fisioterapia, os treinos por consultas de fisiatria e, para a semana, ortopedia. As férias da Clarinha prometem ser bem mais calmas do que esperávamos, ou pelo menos, com menos saltos e piruetas! A "bilha" do "Nós, Jesus" vai sendo cheia da água dos seus pequenos sacrifícios.

A vida, como o desporto, oferece-nos oportunidades contínuas de lidar com a frustração. Podemos desperdiçá-las, queixando-nos da sorte e resmungando de tudo e de todos; ou podemos agarrá-las com ambas as mãos, forçando um sorriso, oferecendo a Jesus a nossa dor e avançando, com humildade nova, no caminho que se nos abre.

Nestes dias, temos vindo a escutar, na primeira leitura da missa diária, a história de José, filho de Jacob, traído pelos irmãos e vendido como escravo para o Egito, e finalmente tornado poderoso administrador do faraó. Perdoando de coração aos seus irmãos, José faz esta afirmação:

 

"Vós planeastes fazer o mal contra mim. Deus, porém, teve em mente com isso um bem." (Gn 50, 20)

 

Na tarde do espetáculo, em vez de dançar no palco, a Clarinha tocou guitarra sentada no sofá da sala, enquanto os irmãos mais novos dançavam e batiam palmas. Escutando a sua voz alegre e forte, capaz de afastar para longe todos os fantasmas, eu pensava...

Educar os filhos é também ajudá-los a gerir o seu desapontamento e a sua frustração, acreditando que não há mal que Deus não possa transformar em bem, se lho entregarmos com confiança e humildade.  Na vida, nem sempre os ventos nos são favoráveis - e ainda bem, pois o que faríamos nós com ventos favoráveis o tempo todo? Os aviões descolam sempre contra o vento...

 

 

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O abismo

por Teresa Power, em 19.05.15

Faz hoje nove anos que tu partiste para o céu, meu pequeno Tomás. Nesse dia, eu só conseguia pensar na alegria imensa que devias estar a experimentar, liberto do teu corpinho doente como uma borboleta a voar para longe do seu casulo opressor... E a certeza de que estavas bem melhor suavizou a minha dor.

No dia seguinte, na missa, fizemos-te uma festa. Não queríamos, de forma alguma, que a celebração da tua vida eterna fosse uma cerimónia triste. O teu pai e eu escolhemos, com cuidado, os teus cânticos preferidos, e tocámo-los na viola, cantando com quanta força tínhamos. Lembras-te? Cantámos cânticos pequeninos como tu, e que nos falavam do amor com que o Senhor cuida de nós:

"Eis-me aqui, sou criança que procura a mão!

Eis-me aqui, pequenino, nos teus braços!

Dá-me hoje teu amor, teu perdão, Senhor!

Guarda-me pequenino, para Ti!"

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Às vezes, mães que perdem os seus filhos ou que os vêem muito doentes perguntam-me se é possível voltar a ser feliz. É, Tomás, não é verdade? Eu pensei que não, e durante algum tempo convenci-me que não, mas é. O tempo cura tudo? Não, o tempo não cura nada: o que cura é o amor. A tua morte escavou em mim um abismo imenso, e eu deixei que o amor o preenchesse. A felicidade que agora experimento é diferente da que conhecia antes da tua partida, porque é mais profunda, como mais profundo é o abismo da minha vida. Agora, Tomás, não sou feliz porque tenho saúde, porque tenho filhos, porque tenho trabalho, porque tenho sucesso ou por qualquer outra razão... Deixei de ter medo de perder tudo isso, sabes? Que libertação, quando perdemos o medo! Agora, Tomás, sou feliz porque amo e sou amada, infinitamente amada por Deus. Como tu!

Afinal, o que é o Céu senão este tsunami de amor que, de repente, invade o imenso abismo que somos?...

 

"Se subir aos céus, Tu lá estás;

se descer ao abismo, ali Te encontras também.

Se voar nas asas da aurora

ou for morar nos confins do mar,

mesmo aí a tua mão há-de guiar-me

e a tua direita sustentar-me-á.

Se disser: «Talvez as trevas me possam esconder,

ou a luz se transforme em noite à minha volta»,

nem as trevas me ocultariam de Ti

e a noite seria, para Ti, brilhante como o dia..."

(Sl 139/138)

 

 

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Tomás, reza por nós!

 

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publicado às 06:20

Raiz em terra árida

por Teresa Power, em 03.04.15

Até ao ano passado, a D. Isaura ajudava-nos com a lida da casa duas ou três vezes por semana. Este ano letivo já não tivemos esta grande ajuda, mas a D. Isaura continua a visitar-nos regularmente, cada vez que passa de bicicleta diante da nossa casa. Às vezes, levamo-lhe uma galinha para ela fazer o favor de matar e preparar (que nós não gostamos de fazer esse serviço), e pedimos-lhe conselhos sobre a melhor forma de cuidar da nossa horta, que a D. Isaura é muito mais sábia do que nós nessas matérias. Mas acima de tudo, acarinhamos a sua amizade bondosa.

Assim, no sábado, os meninos gritaram de alegria e os cães saltaram de satisfação, e todos - crianças e cães - correram para o portão: era a D. Isaura!

- Bom dia, meninos! Que lindos, a brincar no jardim!

A Sara saltou-lhe para o colo, e o António deu-lhe a mão. Depois, a D. Isaura deu uma volta ao nosso jardim, onde o Niall trabalhava afincadamente.

- Que bonita que está a horta! - Disse-nos.

O Niall sorriu: - Estaria muito mais bonita se não tivéssemos cães, gatos ou crianças. Estes três grupos de seres vivos destroem tudo o que eu tento construir, e pisam onde eu acabo de plantar. Enfim, D. Isaura, cada um tem o que merece!

A D. Isaura deu uma gargalhada e dirigiu-se ao galinheiro. Tal como eu, também ela adora ver as galinhas a esgravatar e escutar o seu cacarejar contínuo.

- Já repararam que têm um pessegueiro a crescer no galinheiro? - Disse-nos a D. Isaura, depois de breves segundos de inspeção.

- Um pessegueiro? - O Niall não conteve o espanto. - Está a falar desta erva daninha?

- Erva daninha qual quê! Um pessegueiro, sim senhor. A terra dos galinheiros costuma ser muito fértil, pois por um lado, atiramos para lá todo o tipo de restos de alimentos, caroços de fruta, etc., e por outro lado, está bem regada de estrume...

Bem, a D. Isaura estava a falar disto:

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E o galinheiro em questão é este:

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 - Ai, D. Isaura, quantas vezes eu me estafo a comprar e a plantar belas árvores, que depois não consigo que floresçam! E este pessegueiro brotou no meio do estrume. Que ironia! - O Niall estava divertidíssimo com o achado - A D. Isaura tem de ir passando por aqui para me dar estas boas notícias!

Todos nos rimos. Ficou combinado transplantarmos o pessegueiro daqui a algum tempo, quando estiver suficientemente forte para aguentar a mudança. Foi também assim que, no ano passado, colhemos os melhores tomates alguma vez produzidos no nosso quintal! A D. Isaura descobriu a dita erva no galinheiro e o Niall transplantou-a para a horta, onde veio a dar muito fruto. Esperemos que o mesmo aconteça agora.

 

Ao fim do dia, muito depois da nossa simpática visita ter ido embora, fui fotografar o pessegueiro e escutar o cacarejar das minhas queridas galinhas. Enquanto observava a natureza, lembrei-me da descrição que o profeta Isaías faz do Messias Doloroso, do Servo de Deus:

 

"O Servo cresceu diante do Senhor como um rebento,

como raiz em terra árida,

sem figura nem beleza.

Vimo-lo sem aspeto atraente,

desprezado e abandonado pelos homens,

como alguém cheio de dores,

habituado ao sofrimento,

diante do qual se tapa o rosto..."

(Is 53, 2-3)

 

Perdoem-me a expressão: na estrumeira deste mundo, Deus plantou a Árvore da Cruz do seu próprio Filho, para que crescesse sem beleza nem esplendor, mas capaz de dar muito fruto... Quanto amor!

Dentro de cada um de nós há certamente "estrume" suficiente para que o amor cresça e frutifique. O sofrimento de cada dia, as dificuldades, os obstáculos, a nossa insuficiência de tudo, a nossa imensa pobreza, e até o nosso pecado assumido e chorado - tudo pode ser terreno fértil! Precisamos de treinar o nosso olhar, para não confundirmos a Cruz que o Senhor nos oferece com qualquer erva daninha...

 

PS - Hoje vamos começar a rezar a Novena à Divina Misericórdia, como expliquei neste post do ano passado. Alinham?

 

 

 

 

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publicado às 06:20

Papagaio de papel

por Teresa Power, em 27.03.15

- Frankie, Frankie! Está muito vento! Vem cá depressa!

- E o que tem o vento, David?

- Está mesmo bom para lançar o meu papagaio! Ajudas-me?

- Vamos lá então. Tens tudo a postos?

- Tenho, olha! O António também quer vir. Corre, antes que o vento páre!

papagaio 1.JPG

 

papagaio 2.JPG

papagaio 3.JPG

Os meus filhos brincaram toda a tarde ao vento, e eu fui escutando as suas exclamações de alegria. Felizes, esforçaram-se por lançar o papagaio, que teimava em cair ao chão. Por fim, tomaram-lhe o jeito e puderam contemplar o seu esforço em tons de azul, sobrevoando Náturia. À noite, na oração familiar, agradeceram o papagaio e o vento.

Podemos queixar-nos do vento o quanto quisermos, mas sem vento, os papagaios de papel não se elevam no ar! Fico a pensar na quantidade de vezes que nos queixamos precisamente daquilo que nos lança no céu de Deus: as dificuldades, os problemas, as humilhações, as críticas, as frustrações, as doenças, o sofrimento... Ultimamente tenho procurado imitar os meninos com o seu papagaio de papel, e aproveitar o "vento" que me é diariamente oferecido para crescer em amor. Ainda não salto de entusiasmo como o David diante deste "vento", mas estou mais perto! 

 Diz o Amado do mais belo Cântico da Bíblia:

 

"Desperta, vento norte!

E tu, vento sul,

Vem soprar em meu jardim,

para que se espalhem seus aromas!"

(Cc 4, 16)

 

Que o vento da vida, ao soprar nos nossos jardins, espalhe os perfumes do Senhor. Ámen!

 

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publicado às 06:24

Jacintos selvagens

por Teresa Power, em 30.01.15

Num destes dias, recebi um mail muito simpático do diretor de uma das minhas turmas de Curso Vocacional: todos os professores estavam convidados a participar numa celebração festiva de "padrinhos e madrinhas" dos alunos!  Que celebração seria esta?

Em conjunto com a psicóloga da escola, cada aluno escolhera um professor com quem se sentia mais identificado, mais à vontade, mais em sintonia. Esse professor iria desempenhar junto do aluno o papel de padrinho /madrinha, ajudando-o a crescer como pessoa. No mail, descobri que fora selecionada por um dos alunos para madrinha. Senti-me particularmente honrada!

O dia da "cerimónia de investidura" chegou. Dirigi-me para a escola com muita curiosidade. Em que sala estariam os alunos do Curso Vocacional? O barulho não me deixou enganar.

Entusiasmadíssimos, os alunos saltitavam entre as carteiras, indicando aos professores o seu lugar. Sentei-me na carteira que me foi atribuída, sentindo-me um bocadinho estranha "deste lado" da sala de aula, e esperei. A psicóloga conduzia a actividade, com um sorriso feliz.

- Podemos começar? - Perguntou. Todos estávamos ansiosos!

Ligando o som do computador, a canção dos Delfins "Nasce Selvagem" percorreu a sala. Sempre adorei esta canção pop, e relacioná-la com as fotografias dos meus alunos, que entretanto iam sendo projectadas na tela, causou-me um arrepio. Cada um daqueles meninos cheios de problemas, cada um daqueles meninos com pouca higiene e nenhuma educação era afinal o protagonista de um vídeoclip musical, e de um filme real, a percorrer lentamente a tela cinematográfica da vida.

"Para ti serás alguém nesta viagem..." Cantavam os Delfins. E os meus alunos, em poses divertidas e fotogénicas, sucediam-se na tela, com sorrisos desafiantes, tentando descobrir para quem seriam eles "alguém"...

"Quando alguém nasce, nasce selvagem..." Viamo-los ali, nascidos mas não amados, "selvagens" desde a primeira hora, à espera de um abraço que lhes ensinasse o sentido de pertença...

 

Depois, na tela surgiu projetado o texto que, com a ajuda da psicóloga, eles tinham escrito para nós:

 

"APELO aos Padrinhos- MESTRES DE VIDA

O peso dum passado
A dor do presente
Que nos impedem de viver e ser homens
E voar……
Quem me dá a mão para não me afundar
Para sobreviver
Respirar.
Me acalma os ânimos
Ouve as minhas lágrimas escondidas?

Quem me dá abrigo
Amizade
Me faz rir
Me ensina a multiplicar
A escrever palavras de amor
A RECLAMAR A VIDA

Preciso que não desistam de mim
Me façam sentir com valor
Me ensinem do aço fazer aviões para voar
Me ajudem a ver e cuidar das flores que não vejo
QUE NÂO CONSIGO VER
Há Mestres de OBRAS
INSTRUTORES
EDUCADORES

Nós requeremos mãos de obra , TÉCNICOS ESPECIALIZADOS em vida pois ás vezes somos material perigoso, explosivo, poluente…
PRECISAMOS de Mestres de Vida: Moldadores de Homens
Mestres Mentores que me ajudem a tirar as vendas, abrir a mente e a ALMA

FAÇA-SE OBRA
DO BARRO SE MODELE VIDA
DO METAL SE GEREM ASAS PARA VOAR"

 

 

Cada "afilhado" ofereceu ao "padrinho / madrinha" um bolbo de jacinto, para plantarmos nos nossos jardins e nos recordamos que devemos ajudar a fazer crescer e a fazer florir. Enquanto dava um forte abraço ao meu "afilhado", recordei-me da Palavra do Senhor:

 

"O meu Amado desceu ao seu jardim.

Foi pastorear nos jardins e colher jacintos..."

(Cc 6, 2)

 

São precisas tantas combinações de elementos, para uma flor brotar e crescer! A minha contribuição é certamente limitada, mas nem por isso menos importante...

Senhor, que eu nunca desista de trabalhar nos canteiros que me ofereces para jardinar! Que eu perceba sempre a Tua presença suave, caminhando no teu jardim por entre as tuas flores...

bolbo.JPG

 

 

 

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publicado às 06:25



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