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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Ontem de manhã fomos à praia. Fomos muito cedo, pois a meteorologia anunciava trovoada a partir do meio da manhã, e nós queríamos saborear o calor suave de setembro antes da chuva nos apanhar. Chegámos à praia por entre gritos de alegria e exclamações: a manhã estava luminosa e serena, o areal era inteiro para nós, e o mar desfazia-se em espuma branca e ondas muito pequeninas...
Felizes, os meninos brincaram toda a manhã na água:
Enquanto os observava, dei-me conta da beleza do seu reflexo na areia. A Clarinha apercebeu-se do fenómeno quase ao mesmo tempo, e veio a correr contar-me:
- Mãe, já viste como é bonita a nossa imagem reflectida no chão? Olha só...
Veio-me de imediato à lembrança a Palavra de S. Paulo:
"Todos nós que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor como num espelho, somos transfigurados nessa mesma imagem, cada vez mais gloriosa..." (2Cor 3, 18)
Reflectirei eu a glória do Senhor, como um espelho? Serei eu capaz de espelhar toda a luz, toda a bondade, todo o amor que emanam do meu Deus? Será a minha praia suficientemente mansa, será o meu mar suficientemente transparente...?
Olhei para o céu cheio de luz...
... olhei para a areia iluminada...
... e rezei: "Que eu seja espelho também, meu Deus! Ámen."
As férias estão a chegar ao fim. Enquanto dou banho aos mais novos, apercebo-me da sua cor bronzeada.
- Achas que já estou da cor dos meus amigos castanhos? - Pergunta a Lúcia, ansiosa. Ela gosta muito da pele escura!
- Ainda não, Lúcia. Mas já estás muito mais castanha, lá isso estás!
- Eu sou o mais castanho de todos - Assegura o David, muito orgulhoso do seu bronzeado. - O meu corpo está da cor da Irlanda, mas os meus braços e as minhas pernas estão da cor de África!
E é quase verdade!
O sol queima sem que nos demos conta da sua acção. Brincando no jardim, passeando à beira-mar, mergulhando nas ondas, trabalhando na horta ou andando de bicicleta, vamos ganhando a cor saudável do verão, carregadinha de belas recordações!
Fico a pensar num outro Sol, o Sol divino... Também esse "Sol" queima, se nos expusermos a Ele! E não há melhor "exposição solar" que o tempo de oração. Às vezes perguntam-me: "Teresa, como se faz para rezar?" Eu costumo responder: "Como fazes para te bronzeares na praia?" Na verdade, não importa se estamos a ler na toalha, a mergulhar nas ondas, a jogar à bola ou a construir castelos na areia - se estivermos ao sol, ficamos bronzeados. Assim também com a oração: bem mais importante que a forma como preenchemos o nosso tempo de oração é a decisão de a fazer e o tempo que lhe dedicamos.
Como é que eu rezo? Às vezes leio a Bíblia, procurando escutar nela a voz de Deus; outras, rezo o terço com todo o coração; outras ainda, rezo a Via Sacra, ou o Terço da Misericórdia; também é frequente ficar a "mastigar" uma frase ou um pensamento de um livro de espiritualidade que bateu mais fundo... Costumo conversar com Deus como Moisés fazia, "como um amigo com o seu amigo" (Ex 33, 11); às vezes zango-me, outras peço perdão, outras choro, outras rio; às vezes suspiro, às vezes faço silêncio; às vezes estou distraída e às vezes adormeço. Mas no final sinto cá dentro aquele calor que sentimos na pele depois de uma manhã de praia!
Com o regresso à rotina do ano lectivo, regressará também o meu tempo pessoal formal de oração. Porque no verão, embora o tempo de oração familiar se mantenha intacto, é-me difícil fazer oração pessoal numa casa com seis crianças em férias! Vou conversando com Jesus durante o dia, naturalmente, mas não é suficiente para um "bronzeado bonito"... Assim, à medida que decresce a minha exposição solar, espero aumentar essa outra "exposição solar" diante do Senhor...
(No retiro falaremos bastante sobre oração. Já se inscreveram? Na coluna lateral deste blogue têm tudo o que precisam de saber para o fazer! Esperamos por vós!)
"O passarinho quereria voar para o Sol brilhante que lhe fascina o olhar. Pobre dele! tudo quanto pode fazer é agitar as suas pequenas asas; mas levantar voo, isso não está no seu pequeno poder! Que será dele? Morrerá de desgosto, ao ver-se impotente?... Oh, não! o passarinho nem sequer se vai afligir. Com um audacioso abandono, quer ficar a fixar o seu divino Sol. Nada seria capaz de o assustar, nem o vento nem a chuva; e se nuvens sombrias chegam a esconder o Astro do Amor, o passarinho não muda de lugar, pois sabe que para além das nuvens o seu Sol brilha sempre, e que o seu brilho não se poderia eclipsar nem por um instante sequer.
É verdade que às vezes o coração do passarinho se vê acometido pela tempestade; parece-lhe não acreditar que existe outra coisa, a não ser as nuvens que o envolvem. É então o momento da alegria perfeita para a pobre e débil criaturinha. Que felicidade para ela, permanecer ali, apesar de tudo, e fixar a luz invisível que se esconde à sua fé!..." (História de uma Alma, Ms B 5rº-vº)
A História de uma Alma, a autobiografia de Santa Teresinha, acompanhou-me durante toda a minha adolescência e idade adulta, e continua a inspirar a minha oração. A pequena história do passarinho, que permanece fiel mesmo quando não consegue ver o sol, sempre me fascinou. Quantas vezes me sinto como este passarinho e me pergunto: "E se não existir mesmo mais nada depois desta vida?" Mais frequentemente, a dúvida é esta: "E se Deus não cuidar mesmo de mim com amor absoluto? E se eu estiver mesmo sozinha nas dificuldades da vida? E se em vez de Providência, só existir o acaso?"
Santa Teresinha também teve estes ataques à sua fé. Então recorro à história do passarinho, e lembro-me de que o sol brilha sempre, quer eu o veja, quer não. As nuvens escuras que tapam o sol não o fazem desaparecer, e não é porque eu não o vejo que ele deixa de brilhar. Assim também com o Senhor e o seu amor infinito e absoluto por mim... Nossa Senhora experimentou a tempestade mais dura de todas - a morte violenta de um filho - sempre de pé... As palavras de Teresinha parecem escritas para a Mãe do Céu: "Que felicidade para ela, permanecer ali, apesar de tudo, e fixar a luz invisível que se esconde à sua fé!"
Querem saber porque me lembrei hoje da história do passarinho? Bem, no avião, no voo de regresso, contemplei esta paisagem:
O sol da manhã brilhava no céu, iluminando todo o espaço e reflectindo os seus raios quentes nas nuvens alvíssimas. Mas quando passámos através das nuvens, perto da aterragem, a terra estava escura e triste... Os mais pequeninos não cabiam em si de espanto!
"Se o teu coração te acusar, não desanimes, pois Deus é maior do que o teu coração." (1Jo 3, 20)
A solenidade da Assunção de Nossa Senhora diz-nos que sim, que para lá de todas nuvens, o sol brilha sem cessar. O seu "voo já alcançou a luz sem ocaso. O nosso também a alcançará...
(A terna Mãe de Caná, feita em feltro pela Clarinha)
O sol brilha finalmente. E quando o sol brilha, parece que tudo brilha também! Depois de um fim-de-semana passado entre brincadeiras e trabalhos no jardim, podando as roseiras, cortando a relva, revolvendo a terra para semear e plantar, contemplando os botões de flores a desabrochar, jogando à bola, andando de bicicleta e patins, subindo à oliveira, saltando à corda... até a alegria que partilhamos é maior!
Ontem, segunda-feira, ao acordar, o Francisco disse:
- Tenho a sensação de ter estado de férias, e regressar às aulas depois de muito tempo...
Na escola, os alunos estão mais barulhentos e também mais simpáticos do que é costume, e por todo o lado, do supermercado à sala de professores, os sorrisos abundam. Milagres do sol, pois então!
Todos os domingos à noite, das oito e meia às nove e meia, temos na paróquia uma hora de Adoração Eucarística. Diante de Jesus Sacramentado, um pequeno grupo de cristãos, entre crianças, jovens e adultos de várias idades, cantamos, dançamos, fazemos silêncio, rezamos o terço, partilhamos louvores e súplicas em voz alta, lemos a Bíblia e conversamos sobre a Palavra do Senhor. Tanta coisa numa hora!
Os domingos são geralmente dias muito preenchidos na nossa casa, como em qualquer casa de família numerosa. Há tantas brincadeiras para fazer, tantas crianças para cuidar, tanto lixo para apanhar! Quando chegam as oito e meia da noite, dou-me frequentemente conta de não me ter sentado no sofá um único instante do dia - embora tenha "descansado" em pé, naturalmente, empurrando a Sara no baloiço para a frente e para trás, pois ela quer sempre mais...
É portanto com algum esforço que saio de casa, na companhia do Francisco e da Clarinha, para ir ao Santuário rezar. Sobretudo no inverno, quando lá fora estão quatro graus e na nossa sala quentinha brilha o lume na lareira... Mas nunca faltamos.
E é então que o milagre acontece: depois de uma hora diante de Jesus, rezando não importa o quê, rezando não importa como, sentimo-nos alegres, tranquilos e descansados. Quantas gargalhadas partilhamos entre nós no final daquela curta hora! E até a lareira sabe melhor!
Jesus é o sol da nossa vida. Quando nos damos tempo para estar diante d'Ele, tudo parece brilhar! Depois de uma hora com Jesus, a vida torna-se mais fácil e mais bonita. E mesmo no meio de tempestades, navegamos em paz.
Jesus na Eucaristia é o mesmo Jesus que "passou na Galileia fazendo o bem" ( At 10, 38) e curando, com a sua sombra, todos os que d'Ele se aproximavam. Hoje, como há dois mil anos atrás, basta ir ter com Ele para que tudo se componha, pouco a pouco, na nossa vida...