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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Meninos, estudem o texto para a próxima aula e pensem nas apresentações orais.
- Mas, professora, na próxima aula são revisões!
- Revisões de quê?
- Revisões para o teste.
- Teste? Já vamos ter teste?
- Sim, a professora marcou para dia 4...
Engoli em seco, abri o calendário escolar e confirmei: sim, vão ter teste para a semana - eles e as restantes seis turmas que leciono. O que significa que tenho de o fazer, e depois tenho de o corrigir. Numa fração de segundo, passaram-me pelo pensamento todas as coisas que têm de ser feitas nos próximos dias, para além daquilo que constitui a minha função principal, ou seja, todo o trabalho familiar. Quando, alguns instantes depois, a campaínha tocou e os meus alunos saíram da sala, fui invadida por uma sensação de pânico. Como irei eu ser capaz? Desci as escadas e dirigi-me ao carro.
- Boa tarde - Murmurei apressadamente para as senhoras do bar da escola, ao passar por elas a correr.
- Boa tarde, professora! - Responderam, sorridentes. E uma delas acrescentou: - Estávamos mesmo aqui a comentar que nunca vimos uma professora a correr tanto! Parece um passarinho aos saltinhos, o dia inteiro!
Dei-lhes o meu melhor sorriso e continuei a correr. Sentei-me ao volante, e o meu pensamento voava. Tinha cerca de vinte minutos disponíveis entre uma escola e outra - quase todos os dias dou aulas em três escolas diferentes - vinte minutos que costumo aproveitar para estender uma máquina de roupa ou adiantar o jantar. Mas desta vez, o caso era urgente, e eu precisava de uma solução. A meio caminho, decidi portanto ir ter com a única pessoa capaz de resolver o meu problema: virei para a esquerda e segui pela estrada de campo, até chegar a uma pequena capela, sempre aberta, onde Jesus espera por mim diariamente no sacrário. Estacionei e entrei.
Tudo estava silencioso, e junto do sacrário brilhava tranquilamente uma luzinha vermelha. Ajoelhei-me e contei a Jesus a minha história, desabafando com Ele o meu pânico. É sempre melhor desabafar com Jesus do que cansar os outros com os nossos problemas!
Enquanto falava, contemplava o enorme crucifixo que se elevava sobre o sacrário. Pareceu-me então escutar um diálogo que a Madre Teresa de Calcutá costumava ter com as suas irmãs. Quando as via agitadas, nervosas, tristes ou cansadas, fazia-lhes uma pergunta:
- Irmã, o que é que Jesus disse: para seguirmos à frente da Cruz ou atrás?
- Atrás, Madre - Respondia a Irmã, já com um sorriso.
- Então levante esse ânimo e caminhe atrás da Cruz de Nosso Senhor!
Caminhar atrás da Cruz é realmente bastante mais simples do que ter de abrir o caminho sozinhos. Quem vai atrás não precisa de se preocupar com as direções, pois tudo é decidido por quem vai à frente. O maior esforço de quem segue atrás é não perder de vista o que abre caminho, mantendo fixo nele o seu olhar. Se eu mantiver o meu olhar fixo em Jesus, se eu estiver disposta a colocar os meus pés nas suas pegadas marcadas a sangue no chão, nada me poderá perturbar ou roubar a paz...
"Vinde a Mim, vós todos que andais cansados, que Eu vos aliviarei!
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de Coração
e achareis alívio para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve." (Mt 11, 28-30)
Quando saí da capela, sorri sozinha ao recordar o comentário das senhoras do bar. Agora sim, parecia um passarinho aos saltinhos, de tão leve estava...
O início do ano lectivo cá em casa é sempre muito atarefado, pois coincide com um dos momentos mais atarefados também da minha vida profissional enquanto professora - conhecer as turmas, planificar aulas, adaptar planificações para alunos especiais, preparar materiais, etc etc etc. Se a tudo isto juntar a preparação e a realização de um retiro Famílias de Caná, a preparação da catequese e algumas outras coisas, fico com um volume de trabalho bem mais elevado do que seria desejável. Felizmente que esta montanha de tarefas se irá simplificar nas próximas duas semanas, até me permitir entrar no meu ritmo normal da vida, que é geralmente muito preenchido, mas muito tranquilo. Contudo, entre o "agora" e o "finalmente", ainda ficam uns "entretantos" por resolver...
Quando o volume de trabalho é mesmo demasiado; quando estou tão cansada, que já não tenho forças para continuar a apanhar brinquedos e lixo do chão; quando a paciência parece escoar-se mais depressa do que as birras dos filhos; quando o barulho na sala de aula custa a controlar; quando só me apetece fugir de volta para o verão... - então eu uso uma fórmula infalível: "Nós, Jesus, Tu e eu!"
"Nós, Jesus, vamos juntos dar mais esta aula."
"Nós, Jesus, vamos lavar a louça."
"Nós, Jesus, vamos estender a roupa enquanto a sopa ferve, e dar comida às galinhas enquanto o assado não termina."
"Nós, Jesus, vamos enfrentar o cesto de roupa para passar a ferro, que quase toca o tecto (acho que estou a exagerar, mas só um pouquinho...)"
"Nós, Jesus, vamos procurar na net actividades giras para os alunos daquelas turmas difíceis."
"Nós, Jesus, vamos controlar as birras do António, verificar os trabalhos de casa da Lúcia e do David, limpar o chichi no chão da Sara."
Também os apóstolos falavam sempre no plural, incluindo Deus nas suas decisões e nos seus trabalhos:
"O Espírito Santo e nós decidimos..." (At 15, 28)
Penso que é isto que Jesus nos pede, quando nos convida a rezar sem cessar: Jesus quer que transformemos todo o nosso dia em oração, todas as nossas decisões em oração, todas as nossas actividades em oração. A nossa vida deixa então de estar nas nossas mãos e aninha-se inteira nas mãos do Senhor.
Há por aí tantas propostas de exercícios psicológicos ou oriundos de religiões pagãs, sobre métodos para alcançar a paz interior... Eu ainda não descobri nenhum mais poderoso do que esta simples oração!
- Mãe, o livro de Matemática afinal não dá. O título é igual, os autores são iguais, a capa é igual, mas o do ano passado que me emprestaram já não está actualizado. É qualquer coisa sobre as metas.
- ???????
- Mãe, a afiadeira não presta. A Mariana diz que está farta de me emprestar a dela. Tens de me comprar uma.
- Procura bem nas gavetas, Lúcia, deve haver aí alguma!
- Mãe, as minhas sapatilhas estão rotas. A sério! Rotas mesmo. Não posso fazer Educação Física com elas.
- Mas comprei-tas antes das férias, Francisco!
- Mas já estão rotas. Será que o pai pode ir à Decathlon amanhã comprar aquelas que eu gosto, as mais económicas? Eu gosto mesmo das mais baratas...
- E o livro de Matemática?
- Vou agora mesmo encomendar. Liga o computador, vou encomendar online.
- Telefona ao pai, pede-lhe para passar na Decathlon então.
- Eu preciso de saber o que é Portugal. A Tucha diz que eu tenho de perguntar aos pais porque eu não sabia o que era Portugal. Mamã, o que é Portugal?
- Portugal, António? Bem, Portugal...
- Mamã, a Irmã de Moral diz que tenho de apagar o livro todo. Já está todo pintado! Era do David, não era?
- ...
- Mamã, a Sara fez outra vez chichi no chão!
- Agora não!!!!!! Quem me ajuda a mudá-la? Vais lá, Francisco?
- Posso mandar um mail ao professor? Afinal preciso que me envie um scanner das primeiras páginas do livro de Matemática.
- Mãe, acho que tens mais inscrições no retiro. Ora vem aqui ao computador! Parece-me que sim...
- Mamã, os gatos atiraram com a roupa que acabaste de passar. Eu já apanhei alguma, mas está tudo enrodilhado!
- Não mexas! Por favor, Lúcia, não mexas mais. Ponham-me esses gatos na rua depressa!
- Fogo!!!! Fogo!!!! Mamã, há fogo na cozinha!!!!
É o David aos gritos. Corro para a cozinha. A panela vertera um bocadinho e o lume subira também um bocadinho, o suficiente para causar o pânico no David. Suspiro de alívio. Levo as mãos à cabeça.
Então faço aquilo que costumo fazer quando entro em grande stress: começo a falar em voz bem alta com o Senhor, suplicando-lhe que venha em meu auxílio.
"Invocai o Senhor enquanto está perto!" (Is 55, 6)
- Estás a falar sozinha, mãe?
- Não. Estou a falar com Jesus.
- Ah!