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Trezentos quilos

por Teresa Power, em 05.11.14

Hora de jantar. Aproveito o meio segundo de silêncio que de repente percorre a mesa para contar:

- Sabem o que li hoje no blogue da Bruxa Mimi? Imaginem que, para fazerem o seu Canto de Oração, tiveram de arrastar um piano!

- E isso custa assim tanto?

- Sabes quanto pesa o piano? Trezentos quilos! Sim, trezentos quilos!

- A trabalheira que deve ter sido!

- Parece que ainda lascaram a parede e tudo...

- Bem, tanta coisa por causa do Canto de Oração... Achas que Deus ficou contente, mãe?

- Acho que ficou contentíssimo! Imagino-O a piscar o olho, feliz, a Nossa Senhora... Ver uma família arrastando trezentos quilos para O poder louvar! Quem não ficaria contente?

 

(Imagem do post do blogue Alheia a tudo... ou talvez não!")

 

Depois de nos rirmos com simpatia desta bela aventura da família da "Bruxa Mimi" (os meus filhos não me perdoam eu não lhes ter mostrado quem é a verdadeira "Bruxa Mimi" no Retiro de Almada), fiquei a pensar...

Quantos trezentos quilos muitos de nós não temos de arrastar, para encontrarmos tempo de oração pessoal e familiar?

Alguns têm de arrastar trezentos quilos de actividades extra-curriculares... Todas as actividades extra-curriculares são boas, claro, mas os que querem seguir Jesus não deixam apenas as coisas más para trás. Deixam também as boas, por outras melhores... Lembram-se do que diz o Evangelho? Diz assim:

 

"Atracando em terra os barcos, eles deixaram tudo e seguiram Jesus." (Lc 5, 11)

 

Deixem-me recordar-vos a história do chamamento de Pedro, o pescador, que termina exactamente com o versículo citado: às ordens de Jesus, Pedro acabara de pescar o maior número de peixes da sua vida! As redes quase se rompiam de tanto peixe... Completamente atordoado com o milagre, Pedro atracou então o barco e, como diz o Evangelho, deixou tudo e seguiu Jesus. Tudo? Sim, Pedro deixou sobre a areia todo o peixe que pescara - e o peixe é uma coisa muito boa! Terão sido... trezentos quilos de peixe?...

 

Uma das dificuldades que as famílias apontam para encontrarem tempo de oração e de evangelização familiar é precisamente a correria do seu dia. Porque as actividades extra-curriculares não enchem apenas as vidas dos filhos: enchem também as dos pais, transformados em motoristas, gerando na família níveis de stress e cansaço incompatíveis com a oração. Assim, para termos tempo de rezar, precisamos de arrastar para o lado algumas destas actividades, reduzindo-as a um nível que nos permita encontrar o tempo essencial da vida de oração. Cá em casa somos muito exigentes neste ponto!

 

Outras famílias têm de arrastar um objecto aparentemente bastante mais leve do que um piano, mas talvez lá no fundo seja bastante mais pesado. São trezentos quilos de... televisão! Ou de computador, ou de consolas, ou de telemóveis... Quanto tempo desperdiçado diante das imagens que o mundo nos quer impingir! Quantas horas mal empregues!

Um dos comentários mais frequentes entre pais é este: "Vou inscrever o meu filho em mais uma actividade extra-curricular, para que ele passe menos horas em frente do televisor". Será que a televisão e afins são a única alternativa? Cá em casa temos muito pouco de cada uma destas coisas (refiro-me naturalmente a actividades fora do horário escolar normal), mas um milhão de alternativas! Precisamos de as descobrir com os nossos filhos e de explorar com eles um admirável mundo novo de actividades extra-curriculares que se podem realizar... em casa, com a família ou com os amigos! O "homeschooling" (ensino doméstico) neste campo é fantástico...

 

Enfim, cada família sabe quais os trezentos quilos que tem de arrastar, se quiser encontrar tempo para o Senhor. A verdade é que - e vou usar as palavras com que a Bruxa Mimi concluiu o seu post - vale a pena. Vale mesmo a pena!...

 

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publicado às 06:31

Telefonemas

por Teresa Power, em 30.08.14

O Niall e eu namorámos por telefone durante dois longos anos, depois de nos conhecermos e antes dele vir definitivamente viver para Portugal. Talvez nem todos os que lêem este blogue tenham noção do que significava namorar por telefone há vinte anos atrás! Na era "pré-telemóvel" e numa situação de "namoro internacional" como a nossa, ambos a viver fora de casa como estudantes universitários, precisávamos de coleccionar muitas moedas e de nos fecharmos naquelas casinhas simpáticas chamadas "cabines telefónicas". Depois falávamos o mais depressa que conseguíamos até a última moeda nos cortar a palavra a meio. Era, no mínimo, um bocadinho stressante...

Hoje, e porque trabalhamos a uma distância de trinta quilómetros um do outro, continuamos a namorar ao telefone, mas temos todas as vantagens da era moderna, com os seus sofisticados meios de comunicação. É, na verdade, raro o dia em que não conversamos à hora do almoço.

Às vezes, na primavera e no outono, quando os dias estão muito azuis, o Niall pede-me que adivinhe de onde está a falar. Então afasta o telemóvel da sua cara, e eu consigo escutar o som cavo do mar e do vento.

- Estás na praia! E deves estar a comer aquelas maravilhosas sandes de bife panado que fizeste esta manhã!

- Adivinhaste! Estou a almoçar na praia, e nem imaginas as conchas que por aqui há!

Ao fim da tarde, quando chega a casa, traz-me uma prova física da sua estadia na praia: uma concha, um búzio, uma pena de gaivota.

Outras vezes, sou eu que lhe faço inveja:

- Estou sentada no nosso jardim, com um gato ao colo, a olhar para as galinhas a esgravatar... Tenho meia hora ainda antes da próxima aula!

Noutros dias, o nosso telefonema é um pedido de perdão:

- Desculpa esta manhã ter-te falado tão mal. Os miúdos não se despachavam e eu estava tão atrasado!

- Desculpa tu. Eu é que estava nervosa. Vamos ser amigos de novo?

- Boa ideia! E tenho uma ideia ainda melhor: fazemos as pazes logo à noite, quando os miúdos estiverem a dormir!

 

E assim, à distância de um telefonema, sem interrupções de crianças, namoramos um pouco à hora de almoço, para nos recordarmos do que é realmente importante na vida. Mesmo que o trabalho esteja a correr mal, os filhos estejam particularmente difíceis, a casa esteja um caos e o mundo esteja ainda pior, eu sei que, à noite, vou poder deitar-me nos braços do Niall e recuperar o dom primeiro do nosso amor, aquele amor que prometemos um ao outro há dezoito anos atrás e que, nesse mesmo abraço conjugal, elevámos à dignidade de sacramento, sinal da presença amorosa de Deus entre nós.

 

"Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher e se tornarão uma só carne." (Gen 2, 24)

 

 

 

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publicado às 06:40

O telemóvel e a liberdade dos filhos de Deus

por Teresa Power, em 08.07.14

Cá em casa, só o pai e a mãe possuem telemóvel. O Francisco é o único adolescente de quinze anos que eu conheço que não tem telemóvel, mas também não deseja ter. Para quê? Os amigos conhecem o meu número de telemóvel e de casa, e telefonam quando querem:

- Boa tarde, posso falar com o Power? - Pergunta geralmente uma voz forte masculina (por enquanto...) do outro lado.

- Ó rapaz, Powers há muitos por aqui. Tens de ser mais específico! - Respondo na brincadeira, porque sei bem quem é o "Power" desejado.

 

Ontem, como de costume, o Francisco foi de bicicleta até à quinta onde monta a cavalo, e por lá ficou toda a tarde. Geralmente, costuma regressar entre as seis e as sete, mas ontem eram oito horas e ele ainda não tinha voltado. Confesso que eu já estava com o estômago às voltas, e na minha mente passavam algumas imagens pouco agradáveis, desde acidentes com cavalos, a acidentes com a bicicleta no caminho de regresso. Por fim, não aguentando mais a ansiedade, pedi ao Niall que fosse ver o que se passava. Ele foi de carro e voltou pouco depois, com um sorriso divertido na cara.

- O Frankie está a saltar obstáculos neste momento - Disse-me - Vi-o ao longe, e graças a Deus, ele não me viu. O que iria ele dizer? Portanto, fica descansada que ele há-de regressar.

E regressou!

 

Quando eu tinha a idade do Francisco, e tal como o Francisco, saía de casa para as minhas inúmeras actividades e regressava quando elas terminavam. Antes de sair, escutava os conselhos dos meus pais, e durante as minhas actividades, lembrava-me muitas vezes das suas palavras. No entanto, eu sabia que eles não estavam ali para me salvarem de qualquer situação, sabia que não era possível telefonar se me visse em apuros e sabia também que eles dificilmente iriam saber o que eu estava realmente a fazer com o meu tempo, fossem algumas horas ou alguns dias, como no caso dos campos de férias. Excepção, claro está, para acidentes.

Por outras palavras: eu era livre e, consequentemente, responsável. Livre e responsável para ser santa, e livre e responsável para pecar. A escolha, boa ou má, era minha. Se errasse, talvez a minha única testemunha diante de Deus fosse o meu anjo da guarda! Eu podia então abeirar-me do confessionário, com confiança, pedir perdão a Deus e recomeçar a minha vida com a certeza de que o meu passado estava apagado.

Olhemos agora para os adolescentes de hoje, que geralmente classificamos de livres, independentes e radicais. Que liberdade têm eles realmente? Haverá algum momento do seu dia em que estejam "incontactáveis", verdadeiramente por sua conta e risco? Haverá algum momento em que não se sintam controlados? Onde está a liberdade cristã, se os controlamos à distância através do telemóvel? E a responsabilidade, que só nasce no solo da liberdade? Se errarem, será que podem mesmo recomeçar do zero? E as dezenas de fotos no Facebook e nos telemóveis a guardar (save) para sempre o seu pecado? Que fizémos nós da misericórdia do Bom Pastor?

 

"Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu não me farei escravo de nada." (1Cor 6, 12)

 

Assim explicou S. Paulo, falando da liberdade e da responsabilidade. Outro dia, fiquei agradavelmente surpreendida quando o Francisco me disse:

- Sabes, mãe, às vezes escuto os meus colegas, e dou-me conta de que tu me dás mais liberdade do que eles têm.

Admirei-me, porque objectivamente falando, não me parece verdade! O Francisco não tem Facebook, não tem telemóvel, nunca foi a uma discoteca, e tem uma série de obrigações a cumprir, das tarefas domésticas ao estudo, da missa à oração familiar. O que é que faz com que ele não as sinta como obrigações, mas antes as viva como responsabilidades naturais?

Mas também é verdade que desde os doze anos o Francisco - para grande espanto dos seus amigos e dos pais dos seus amigos - vai para todo o lado de bicicleta, sozinho, e passa tardes inteiras em casa de amigos ou em cima dos cavalos, sem telemóvel...

 

 

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publicado às 07:13

Telemóvel e oração

por Teresa Power, em 03.01.14

Encontrei a Sara a caminhar pela casa, no seu passinho meio trôpego, de telemóvel ao ouvido:

 

 

Fiquei a pensar no quão importante é para uma criança imitar os gestos dos pais. A imitação é na realidade a primeira forma de aprendizagem. Quando me vê a falar ao telefone, a Sara sabe perfeitamente que não estou a falar para o vazio, mas para alguém que ela não vê, e que só eu consigo escutar. De telemóvel na mão, ela vai praticando o gesto, para um dia ser capaz de lhe oferecer conteúdo.

 

Lembrei-me então da oração. Quando a Sara me vê a rezar - e vê todos os dias - ela sabe bem que eu não estou a falar para o vazio, mas sim a conversar com Alguém que não vejo, mas que me esforço por escutar atentamente. Olhando para a mãe em oração, a Sara vai imitando os gestos, o pôr das mãos, o ajoelhar, até ao dia em que, finalmente, oferecerá a Deus a sua própria oração.

 

Aprende-se a rezar ao colo da mãe e do pai, vendo a mãe e o pai rezar. Santa Teresinha do Menino Jesus escreveu na História de Uma Alma:

 

"Bastava-me olhar para o meu pai em oração para ver como rezam os santos!"

 

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publicado às 07:32



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