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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Hora de oração familiar.
- Mãe, posso desenhar os mistérios?
- E eu também?
O David e a Lúcia olham para mim com esperança.
- Sim, claro. Hoje vamos rezar os mistérios da alegria.
- É a história de Jesus pequenino, não é?
- Sim, é. Agora despachem-se a arranjar os lápis e o papel, para começarmos!
Começamos. Instalados no sofá, almofadas ao colo a servir de mesas, papel e lápis na mão, os meninos vão rezando e vão desenhando... E que desenham eles? A sua meditação. Enquanto nós, adultos, meditamos mentalmente, construindo imagens mentais dos mistérios que contemplamos, os mais pequeninos precisam de materializar o seu pensamento. Que melhor forma do que ir desenhando o que vamos contemplando?
O terço chega ao fim. O David e a Lúcia estendem-me os seus desenhos, orgulhosos. Vou colocá-los no Canto de Oração. Mas antes vou digitalizá-los para que vocês também os possam ver. Conseguem identificar os cinco mistérios da alegria, que o David desenhou? A Anunciação do anjo a Maria, a Visitação de Maria a Isabel, o Nascimento de Jesus, a Apresentação de Jesus no Templo, Jesus entre os doutores... Tudo aí está, desenhado com rigor!
E os mistérios da glória, desenhados também pelo David, no domingo?
Que dizem a esta felicidade estampada no rosto de Nossa Senhora, nos dois primeiros mistérios da alegria que a Lúcia desenhou?
Terei eu estado tão atenta a cada mistério como o David e a Lúcia estiveram? A grande maravilha da oração do terço é precisamente permitir-nos, num ciclo semanal, meditar na vida inteira de Jesus: segundas e sábados, meditamos na sua infância: são os mistérios da alegria; quintas, meditamos na sua vida pública, entre o batismo e a instituição da Eucaristia: são os mistérios luminosos; terças e sextas, meditamos no seu sofrimento e na sua morte: são os mistérios da dor; quartas e domingos, meditamos na sua glorificação, bem como na de sua Mãe: são os mistérios da glória. As famílias que rezam o terço todos os dias têm a graça de, semana a semana, percorrer a vida inteira de Jesus, e não apenas alguns episódios. Afinal, rezar o terço é imitar a Mãe de Jesus... Diz-nos S. Lucas:
"Sua Mãe guardava todas estas coisas em seu coração..." (Lc 2, 51)
- Sara, amanhã é dia de Natal! Não chores!
A Sara estava triste porque não queria ir embora. Estávamos na casa das avós, onde passámos toda a tarde e a consoada de dia 24. Depois de um belo jantar, cantámos cânticos de Natal em volta do presépio e agora chegara a altura de ir para casa. Mas a Sara não queria ir embora.
- Amanhã, Sara, quando acordares é Natal! Sabes o que é Natal?
A Sara sabia:
- Jesus vai nascer.
- Pois é, Jesus vai nascer. E para celebrar tão grande festa, tu vais ter prendas!
Por esta não esperava a Sara.
- Prendas?
- Sim! - Os manos conhecem todos os segredos do Natal: - Amanhã, quando acordares, acordas o papá e a mamã, porque eles têm a chave da sala bem guardada debaixo da almofada...
- Claro! Não queremos correr o risco de ter os presentes todos desembrulhados às duas da manhã, como já quase aconteceu! E não se atrevam a acordar-nos antes das seis horas, que nós só abrimos a porta às seis!
A expetativa das prendas de Natal convenceu a Sara a entrar no carro para regressar a casa. A viagem de regresso, pelas estradas desertas, sob a luz das estrelas e ao som dos cânticos de Natal, é em si mesma uma oração.
Sete da manhã, dia de Natal:
E quando a porta se abriu, que alegria! Papel de embrulho por todo o lado, gritos de excitação, a sala transformada em cenário de fantasia...
Depois, entre exclamações de felicidade, ajoelhámos e agradecemos ao Menino todas as bênçãos deste ano e deste Natal.
E depois de um pequeno almoço de festa, com bolos e panquecas, chegou o momento principal do Natal: a missa.
O dia foi de festa, entre muitas brincadeiras com os primos e tempo de conversa calma para os adultos. Natal é também esta disponibilidade para estar com a família alargada, sem pressas.
- Meninos, vamos rezar o terço - Anunciei, na viagem de regresso de Coimbra até casa. Geralmente, o terço leva pouco mais de quinze minutos a rezar, mas desta vez durou a viagem inteira, cerca de meia hora. É que a cada mistério da alegria, aproveitei para contar a história do Natal com todos os pormenores. Há tantos detalhes que as crianças desconhecem, e que tornam a história tão bela! Porque ficou Maria perturbada com o anúncio do anjo? Como se chamava a terra onde vivia Isabel? Porque teve Maria de ir a Belém? Quem estava no Templo à espera de Jesus, quando Maria e José O foram apresentar?
- Vamos para o último mistério da alegria - Anunciei, já muito perto de casa. - Quem sabe qual é?
- Eu sei! Eu sei!
- Então diz lá, António.
- Jesus e os médicos!
- ???????
Pois... Que outros "doutores" conhece o António? Por entre gargalhadas, fui explicando a diferença entre os médicos e os doutores da Lei. A oração do Rosário é para nós a forma mais simples e eficaz de ensinar a Palavra.
Chegou a noite, e com ela, a hora de oração familiar. O dia foi perfeito, e há que agradecer. Agora temos mais dois belos instrumentos a encher de música esta nossa oração:
E apesar de só terem passado doze horas desde que o David e a Clarinha descobriram os seus presentes de Natal, o som já é maravilhoso!
A Árvore de Jessé está pronta, cada símbolo uma história de amor...
Por sobre o Presépio, as estrelinhas das nossas obras de misericórdia iluminam a noite...
Que segredos de misericórdia guardará cada uma delas?
"Anuncio-vos uma grande notícia: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador!" (Lc 2, 11)
Feliz Natal!
Hora de oração familiar. Sentados no Canto de Oração, rezamos o terço. Primeiro Mistério Luminoso...
- Eu sei qual é! - Grita a Lúcia, entusiasmada. - O Batismo de Jesus!
A avó, sentada ao seu lado, pisca-me o olho. As avós também servem para "Espírito Santo de orelha", claro...
- Muito bem, Lúcia. E queres fazer a meditação?
- Sim. - A Lúcia pensa um bocadinho e diz: - Jesus, ajuda-nos a batizar-Te!
- Que disparate! - Atalha o David, com ar importante - Mamã, eu faço: Jesus, envia sobre nós o teu Espírito, como uma pomba...
- Ah, pois é, tinha-me esquecido da pomba! Uma pomba linda!
- Pronto, Lúcia, fazes a meditação do próximo mistério! Agora vamos rezar: Pai-Nosso...
Mal acabamos de rezar o primeiro mistério, já a Lúcia, depois de alguns segredinhos com a avó, enuncia o segundo:
- As Bodas de Caná!
- Muito bem. Queres fazer a meditação?
- Sim... Deixa-me pensar... Já sei: Jesus, ajuda-nos a transformar a água em vinho!
Gargalhada geral.
- Cá em casa nem dava muito jeito, que ninguém bebe vinho! - Diz a Clarinha.
- Já viste o que era se todos se pusessem a transformar a água em vinho? - Continua o Francisco, divertido.
Valha-nos o David:
- Mãe, eu faço outra vez: Jesus, ensina-nos a fazer tudo o que Tu nos disseres!
E lá rezamos nós mais um mistério.
Terceiro mistério...
- A pregação de Jesus!
- Boa, Lúcia. E agora?
- Jesus com os braços muito abertos, pregado na cruz...
Mais gargalhadas.
- Lúcia, quantas vezes te explicámos que não é essa pregação? É anunciar o Evangelho!
- Ah...
- OK, Lúcia, amanhã tentas de novo fazer as meditações. Ficas dispensada por hoje!
Aprender a meditar o rosário leva o seu tempo. Como tudo na vida, precisa de treino, e o treino implica tentativas falhadas mas corajosas. Já viram alguém aprender a nadar com aulas teóricas? Ou sem engolir água? Ou sem apanhar um susto? Hoje, a Lúcia arriscou muito... Mas dentro de dois anos terá a rapidez mental do David para fazer as meditações - curtas frases que nos ajudam a oferecer o mistério e a oração ao Senhor!
"Procurai e achareis; pedi e recebereis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque todo o que procura, encontra; e o que pede, receberá; e ao que bate, abrir-se-á." (Lc 11, 9-10)
Oração familiar. Junto ao Canto de Oração, rezamos o terço.
- Quinto mistério doloroso - Enuncio, à espera que um dos mais pequenos o nomeie. Ser o primeiro a dizer o nome do mistério tornou-se, cá em casa, num jogo que todos querem ganhar.
- Eu digo! Eu digo! - Grita a Lúcia, entusiasmada. E continua: - O quinto mistério é a pregação de Jesus.
- Não é nada, Lúcia! - Reage o David, impaciente - É a crucifixão de Jesus. É quando Jesus morre na cruz!
- Foi o que eu disse! - Responde a Lúcia - Eu disse "pregação", e pregação é pôr pregos, não é?
Todos nos rimos com simpatia. Interrompendo a conversa, respondo à Lúcia:
- Lúcia, o que tu dizes nem está assim tão errado. Afinal, a mais bela pregação de Jesus foi mesmo na cruz... Quando esteve suspenso na cruz, Jesus pregou quase sem palavras. Na cruz, Jesus pregou com a sua vida, com o seu olhar, com o seu suspiro, com o seu coração trespassado de amor... Não há maior pregação do que a da cruz!
O trocadilho inocente da Lúcia fez-me pensar no heroísmo de tanta gente que eu conheço, e que dá testemunho da sua fé, não através de palavras, nem de milagres, nem de visões, nem de uma sucessão de acontecimentos festivos, mas precisamente através da sua cruz - uma cruz aceite com cara alegre e total confiança no Senhor.
Talvez a nossa vida não seja como gostaríamos que fosse, a nossa família não nos compreenda, os nossos filhos sigam por maus caminhos, o nosso emprego seja uma desilusão... Talvez estejamos doentes, desempregados, abandonados, traídos, magoados... Então é o momento de pregar sem palavras, carregando a cruz com um sorriso aberto e um coração atento, transbordando amor. Na verdade, falar de Jesus quando tudo corre bem é simples; mas manter a alegria e recusar a revolta, a cara feia e os queixumes - isso é pregação! Como a de Jesus, também essa se tornará na mais bela pregação da nossa vida...
"Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la, mas quem a perder por Minha causa, há-de salvá-la."
(Mc 8, 34-35)
No sábado, a nossa catequese foi diferente: tratava-se de celebrar a presença de Maria, nossa Mãe, na vida de cada dia e na vida da nossa paróquia, agradecendo-lhe de coração e suplicando-lhe que permaneça ao nosso lado nesta caminhada. E que forma melhor de celebrar o amor de Nossa Senhora do que a oração do rosário?
Juntámos no santuário todas as crianças e jovens da catequese, com as suas famílias. Cantando, cada uma ofereceu uma flor a Maria (finalmente, David!), que depositámos sobre o altar, enquanto cantávamos alegremente.
Depois, começámos a oração do terço. No sábado anterior tínhamos encarregado cinco grupos de catequese de preparar a apresentação dos cinco mistérios da alegria. Tivemos meninos vestidos de anjos, várias Nossas Senhoras, nenucos a representar Jesus, estrelas de papel, velas acesas, estrelas luminosas. Vejam só esta pequena imagem da cena da Natividade! A Lúcia segura orgulhosamente a estrela mais brilhante de todas, sobre Maria e José com o Menino:
A Vera, educadora e catequista (já experimentaram as receitas que ela partilha no seu blogue, sempre acompanhadas de tão belas reflexões?), fez em casa cinquenta e três flores de esponja, e mais cinco ligeiramente diferentes, para que cada Avé-Maria e cada Pai-Nosso pudessem ser representados por uma flor. Enquanto rezávamos, uma criança, à vez, ia colocar uma flor no chão do altar, formando assim, com as orações de todos, um belíssimo terço. Foi uma oração bastante animada e bastante movimentada, cheia de luz e cor, cheia de alegria!
Embora ainda não frequentem a catequese, o António e a Sara também estiveram nesta tarde de sábado, por ser diferente e lhes ser tão acessível. Afinal, rezar o terço é-lhes familiar!
Os jovens costumam dizer-me que, para eles, rezar o terço faz-lhes lembrar as velhinhas da aldeia dos seus avós, repetindo orações com vozes monocórdicas na igreja. O terço, dizem-me, deixou de fazer sentido. Que fizemos nós da criatividade que Deus nos ofereceu? Na A Alegria do Evangelho, o nosso querido Papa Francisco diz:
"A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cómodo critério pastoral: «fez-se sempre assim». Convido todos a serem ousados e criativos..." (Nº33)
E S. Paulo escreve assim aos romanos:
"Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade..." (Rm 12, 2)
Quando chegarem os dias mais longos de verão, com as crianças em casa sem muito para fazer, porque não experimentam pedir-lhes que façam flores de cartão, esponja ou outro material, para poderem fazer uma oração do terço dinâmica? E porque não lhes sugerem também preparar pequenas representações, ou ilustrações ou outro tipo de construção para um ou vários mistérios do Rosário? Às vezes basta um pouco de criatividade para que a oração familiar se torne atraente para todos. Experimentem! E enviem as vossas fotos para eu as divulgar aqui!
- David, vem rezar o terço!
- Agora? Mas estou a jogar o "quatro em linha"!
- Sim, agora. Logo a Clarinha tem ginástica, e já que estamos de férias, aproveitamos para rezar todos juntos com calma.
Suspiros.
- Tem mesmo de ser? Não podemos rezar no coração? Eu vou rezando ao longo do dia! Estou sempre a falar com Jesus. Não preciso de ir rezar o terço agora!
- Lembras-te quando ontem quiseste jogar o "quatro em linha" comigo?
- Sim...?
- Eu também estou sempre junto de ti, David, não é verdade? Estou cá por casa, a cozinhar, a arrumar, a lavar, a passar a ferro, e vamos conversando. Mas às vezes tu pedes-me para parar com tudo e brincar contigo. É ou não é assim?
- É.
- Ontem, por exemplo, parei tudo para vos contar uma história. E tu ficaste muito contente!
- Pois fiquei.
- Acho que ficavas um bocadinho triste se a mãe nunca parasse tudo para brincar contigo...
- Pois ficava. É que eu gosto de brincar contigo! Gosto muito quando contas histórias. E também gosto porque ganho quase sempre a jogar o "quatro em linha".
- Bem, David, com Deus é a mesma coisa. É muito bom passarmos o dia junto de Deus, falando com Ele no meio dos nossos afazeres, como tu falas comigo. Mas Deus e nós precisamos de um tempo diário juntos, em que não fazemos mais nada senão isso mesmo: estarmos juntos. É isso que acontece quando rezamos, no Canto de Oração, em família!
Silêncio...
- Acho que percebi. Vamos lá rezar o terço!
- Vamos lá então.
"Tu que habitas nos jardins
com companheiros a escutar a tua voz,
deixa-me ouvi-la!"
(Cc 8, 13)
E por falar em tempo para Deus: já decidiram ir ao Retiro do Natal? Na coluna lateral direita, em cima, encontram tudo o que é preciso saber sobre o retiro. Não esqueçam o pormenor de confirmar a sua realização na manhã do próprio dia, antes de sair de casa!
No grupo de oração, depois de louvarmos o Senhor com cânticos, rezarmos o terço e fazermos silêncio, adorando o Senhor-Eucaristia, temos sempre um tempo de meditação bíblica. Na semana passada, a leitura proposta foi tirada do Livro de Neemias. Lemos como todo o povo se empenhou na reconstrução das muralhas de Jerusalém, e como foi necessário estar atento ao inimigo, que queria impedir o trabalho:
"Os trabalhadores faziam assim: com uma das mãos faziam o trabalho, e com a outra seguravam a arma." (Nee 4, 11)
Ao ler a Bíblia - qualquer livro da Bíblia - experimentem substituir a palavra "Jerusalém" pelo vosso próprio nome, e verão como o Senhor vai falar...
Há realmente muito trabalho a fazer nestes dias antes do Natal. É preciso comprar prendas, organizar as festas de família, enviar postais, cozinhar... Nós, os professores, estamos numa das alturas mais exigentes do nosso ano, e pouco tempo sobra para o resto. A imagem dos trabalhadores empoleirados na muralha de Jerusalém, com a pá numa mão e a espada na outra, é uma imagem sugestiva! Sim, nesta altura do Natal, é preciso trabalhar com uma mão, mas vigiar sobre o nosso interior com a outra; é preciso afadigarmo-nos com o exterior, mas manter o interior ocupado com as coisas de Deus. "Ora et labora", dizia S. Bento, o pai do monaquismo.
Ao partilharmos a nossa vivência a partir desta passagem bíblica, uma senhora já de idade, viúva, de belos cabelos brancos e olhar tranquilo, contou-nos como punha em prática a palavra do Senhor:
- Quando estou a passar a ferro, procuro sempre rezar. Como gosto muito de rezar o terço, encontrei há anos uma estratégia muito simples para contar as Ave-Marias e passar a ferro ao mesmo tempo: arranjei dez feijões, e vou pondo de lado um por cada Ave-Maria.
Que belíssima ideia! Fiquei exultante. Quando cheguei a casa, e porque não tenho feijões sem ser de lata, procurei nas minhas tralhas dez belos búzios e duas conchas grandes, que apanhámos numa praia da Irlanda, há vários anos atrás. Ontem, ao passar a ferro sozinha, coloquei junto da roupa uma das conchas recheadas de búzios, e ao lado a outra concha, vazia. Enquanto rezava, fui passando os búzios de uma concha para a outra. Consegui assim rezar um terço inteiro sem me perder na conta das Ave-Marias. Glória ao Senhor!
Este ano, os horários da ginástica da Clarinha vieram complicar o nosso horário de oração. Saindo de casa às sete da tarde e regressando às nove, a Clarinha está fora exactamente durante o nosso tempo de oração familiar, e isto três vezes por semana. Houve assim necessidade de reajustar a nossa vida de oração, porque não faz sentido rezarmos em família sem ela.
Tentámos várias coisas, e fomos experimentando vários horários. Parece-nos finalmente que acertámos: nos dias em que a Clarinha tem ginástica, rezamos o terço às seis e meia da tarde, ou seja, assim que o pai chega a casa e antes da Clarinha sair. Depois do jantar fazemos a nossa costumada oração cantada e dançada e contamos uma história da Bíblia, antes de deitar os mais novos, sem a Clarinha; e por fim, quando a Clarinha regressa às nove da noite, fazemos a meditação das leituras da missa diária, com o pai e a mãe, o Francisco, a Clarinha, o David e a Lúcia. Como o terço já foi rezado antes, a Lúcia e o David não atrasam demasiado a sua hora de dormir, que costuma ser as nove da noite. Complicado? Para nós já foi assumido e resultou!
Três dias por semana, portanto, o António e a Sara estão connosco durante a recitação do terço. E como são muito barulhentos, precisámos de encontrar forma de os “silenciar” para rezarmos com a concentração necessária. Na nossa biblioteca familiar encontrei algumas Bíblias ilustradas, e ofereci-lhas. O António folheou a sua com imensa atenção.
- Qual é a história do terço hoje? – Perguntou, antes de começarmos.
- Hoje são os Mistérios Dolorosos, portanto, a história é aquela em que Jesus morre por nós – Respondi-lhe.
A Clarinha, solícita como sempre, apressou-se a procurar na Bíblia ilustrada do António as imagens correspondentes. E durante toda a oração, o António manteve o olhar absorto no livro, contemplando as imagens da flagelação, da coroação de espinhos, do caminho da cruz, da crucifixão. Sem o saber, o António estava a fazer oração de contemplação ao ritmo das Avé-Marias, que é afinal a grande maravilha do terço...
Quando terminámos, muito sério, perguntou-me:
- Posso ficar com esta Bíblia só para mim? – (Os meus filhos adorariam ter alguma coisa “só” para eles…)
- Não, António, mas pode ser só tua durante a oração do terço – Expliquei. – Amanhã, quando rezarmos os Mistérios Gloriosos, eu procuro a história na tua Bíblia outra vez.
Ele sorriu, muito feliz com o acordo. E nós também sorrimos felizes com o nosso novo acordo de oração…
Encontrar tempo para a oração será sempre uma prioridade. É preciso rearranjar horários, procurar soluções criativas, contornar obstáculos? Façamo-lo! Contente com o nosso esforço, Deus dá-nos sempre a multiplicar...
“Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado.” (Mt 6, 33)
Assim que comecei a trabalhar como professora, comecei a fazer longas viagens de carro a caminho das mais diversas escolas, dispersas por montes e vales no distrito de Aveiro. Neste momento, a distância mais longa que tenho de percorrer demora apenas quinze minutos. Com excepção de um ou outro tractor, não encontro trânsito, e delicio-me a contemplar as vinhas a perder de vista, o recorte do Caramulo no azul da distância, a torre do meu querido Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora. São assim quinze minutos tranquilos, que me permitem fazer a ponte entre a casa e a escola, deixando para trás no meu espírito uma ou outra, conforme a direcção da minha viagem.
Já me dei conta de que estes quinze minutos podem ser um perfeito desperdício se eu deixar a minha mente seguir atrás de qualquer borboleta imaginária e dispersar-se no nevoeiro das ideias. S. Paulo escreveu ao seu querido discípulo Timóteo:
"Evita as vãs conversas profanas" (1Tm 2, 16)
E eu sou bem capaz de ter "vãs conversas profanas" comigo própria durante quinze minutos de viagem! Por isso, e porque o meu tempo vale mesmo muito mais do que ouro, faço um esforço para me manter atenta ao essencial, transformando estes quinze minutos de estrada em quinze minutos de oração. E para que estes quinze minutos sejam mesmo de oração, e a minha mente "hiperactiva" não tente escapar, eu rezo em voz alta. O som das palavras nos meus próprios ouvidos não me dá espaço para as tais "vãs conversas profanas"!
Primeiro canto e louvo ao Senhor, agradecendo-Lhe por ser quem é, por me amar, por me dar a vida, pela natureza em redor, pela minha família e pelos meus alunos e amigos. Depois, peço a bênção do Senhor para aqueles com quem me vou encontrar durante o dia - em especial se me espera uma turma problemática ou barulhenta! Rezo também pela minha família, por todas as Famílias de Caná, todos os meus amigos, conhecidos ou não, e todos os que sofrem no mundo.
Finalmente, rezo um mistério do terço, entregando a Nossa Senhora os meus problemas e todos os problemas do mundo. Rezando o terço em voz alta, saboreio com o coração cada palavra, e deixo que a alegria do Evangelho - "Alegra-te, ó Cheia de Graça!" (Lc 1, 28) desça até ao mais profundo do meu ser. O terço é, por excelência, a oração dos caminhantes, e cada conta, um passo dado em direcção ao Céu. Medindo as distâncias em Avé-Marias, tudo em mim se vai aquietando e pacificando, até nada mais restar que a vontade de Deus. Geralmente, é então que chego ao meu destino...
Na sexta-feira de manhã, o entusiasmo das crianças era enorme: estávamos prestes a partir para Proença, para fazermos o nosso quinto retiro Famílias de Caná!
- Quanto tempo é a viagem, mamã? - Perguntou o David, aos saltos.
- Duas horas. É muito tempo, por isso não vale a pena começar logo a perguntar se já chegámos!
O David foi a correr ter com a Lúcia.
- Então, já sabes quanto tempo demoramos? - Perguntou a Lúcia.
- Duas missas - Respondeu o David...
Começámos a viagem. Como sempre, distribuí terços pelos meninos para rezarmos pelo caminho.
- Dá tempo para rezarmos o terço, mamã? - Desta vez, a pergunta veio do António.
- Dá tempo para rezarmos muitos terços. Olha, dá tempo para dois rosários - Respondeu o Francisco. E acrescentou muito depressa: - Mas não te preocupes, porque só vais rezar um terço!
Na verdade, o terço familiar, na nossa casa, não demora mais do que quinze minutos. Se cada rosário são quatro terços - mistérios da alegria, da luz, da dor e da glória - então cada rosário é uma hora de oração!
Tão bom, quando os nossos filhos medem as distâncias em terços e em missas...
Amanhã conto-vos tudo sobre o nosso retiro em Proença. Bem, tudo não, porque o melhor não dá para contar... Quem lá esteve sabe que é verdade!
Por hoje, deixo-vos com uma imagem da Mãe de Caná feita com feltro, da nossa grande artista Clarinha. Fê-la para oferecer à Rute e ao Serge, em casa de quem ficámos alojados, e tratados como reis! Se quiserem que a Clarinha vos ofereça uma linda imagem da Mãe de Caná, para fazerem um quadro, peçam para o mail!