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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
A Inês tem dezassete anos e trissomia 21. Todos os verões a encontramos na praia, sorridente e afável. Há dez anos atrás, o Francisco e a Clarinha brincavam com ela na areia, fazendo castelos e procurando conchinhas. Agora, cabe a vez à Lúcia, ao António, à Sara. Os anos vão passando, os nossos filhos vão crescendo, mas a Inês continua criança, feliz por saltar nas ondas e brincar na areia com qualquer criança que responda à sua simpatia.
Ontem, a Inês deu a mão à Sara para a ajudar a molhar os pés no mar, e conversámos um bocadinho. Então recordei-me de uma conversa que eu tive no verão passado com a sua avó, mulher sábia e forte, de quase oitenta anos, que cuida da Inês como uma filha desde a morte prematura da mãe da menina.
- Quando a Inês nasceu - dizia-me a avó, de olhos fitos na sua menina - o médico pediu desculpa à minha filha. Eu sei, porque ela mo disse. Pediu desculpa... Ele deve ter falhado, realmente, como médico. Se tivesse descoberto o problema da nossa menina antes dela nascer, podia tê-la curado, não é verdade?
- Olhe que não - Respondi eu - A trissomia 21 não tem cura. Não teria adiantado nada saber antes!
A senhora ficou muito surpresa. Sem tirar os olhos da sua menina, que brincava nas ondas, perguntou em voz alta, mais a si própria do que a mim:
- Então por que razão terá o médico pedido desculpa?
Fiquei em silêncio, sem saber o que dizer. Como explicar áquela avó, que vive para que a neta seja feliz, que o médico pediu desculpa por não ter dado à mãe a oportunidade de matar a sua filha antes dela nascer? A Inês dava gargalhadas alegres no mar, ao lado do António e da Lúcia. Não tive coragem de desfazer a ilusão... Seria demasiado doloroso. Encolhi os ombros e fingi não saber a resposta.
Ainda me falta encontrar uma mãe que me diga que teria preferido abortar o seu filho deficiente...
"Teus olhos viam o meu embrião,
e em teu livro foram registados
todos os dias prefixados,
antes que um só deles existisse..."
(Sl 139/138)
O David e a Lúcia foram passar parte da tarde de sábado a casa de uns amigos. É uma casa grande, situada numa magnífica quinta, cheia de terra, areia, árvores, casebres abandonados, torres habitadas por morcegos vampiros (pelo menos eles juram que sim), hortas, silvas, uma eira, e até uma capela em ruínas (já em fase de restauração), onde o David praticou alguns gestos de futuro padre (foi o que ele explicou), como abrir os braços com muita força. A casa é realmente grande, mas o seu tamanho é justificado: lá dentro vivem nove crianças! Quando os fui buscar, levei o António e a Sara, e por lá andaram todos a brincar juntos, enquanto nós, as mães, punhamos a conversa em dia, passeando atrás deles. Ao colo, a minha amiga levava a filha mais nova, uma bebé linda, com trissomia 21.
- Esta bebé é uma verdadeira bênção na nossa vida - dizia-me.
- E uma bênção para os amigos, que têm a oportunidade de conviver com uma criança diferente e de aprender a amá-la - Acrescentei.
Continuámos a caminhar. De vez em quando, a Sara queria colo. Os outros corriam ao longe, gritando de alegria. A minha amiga ainda tinha outra coisa a dizer:
- O que nós desejamos acima de tudo é que os nossos filhos alcancem o céu. E eu sei que esta linda bebé tem o céu assegurado. Isso enche-me de verdadeira alegria! Tomara poder dizer o mesmo para os outros oito! Além disso, desde que esta bebé nasceu deixei de pensar: "Daqui a uns anos acaba-se o trabalho com as crianças e posso ficar descansada no sofá a ver televisão!" O meu horizonte mudou, sei que provavelmente esse dia nunca chegará. E isso também é uma bênção de Deus! É que ficar sentada no sofá não traz santidade!
Encontrar verdadeira alegria na dor é privilégio (não exclusivo!) dos cristãos. A partir da cruz de Jesus, tudo faz sentido. O sofrimento deixou de ser o fim, para ser o início. A morte tornou-se porta da vida; a dor, porta da alegria.
Conheço muitas outras famílias com filhos diferentes, e sei que há quem leia este blogue sentado numa cadeira de rodas. Como eu gostaria de lhes anunciar esta felicidade que Jesus nos traz!
"Na verdade, Ele tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Pelas suas chagas fomos curados!" (Is 53, 4-5)
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