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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O Domingo da Misericórdia é sempre um dia muito especial para nós. S. João Paulo II instituiu esta festa, dando cumprimento ao pedido de Jesus a Santa Faustina, sua conterrânea. De acordo com o Diário de Santa Faustina - um dos meus livros de cabeceira, que gosto de meditar com muita frequência antes de adormecer - Jesus exprimiu-Se assim:
"Desejo que esta festa seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pobres pecadores. Nesse dia estão abertas as entranhas da minha misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre aquelas almas que se aproximarem da fonte da minha misericórdia. A alma que for à confissão e receber a Sagrada Comunhão obterá remissão total das culpas e das penas. Nesse dia, estão abertas todas as comportas divinas, pelas quais se derramam as graças. Que nenhuma alma receie vir a Mim, ainda que os seus pecados sejam tão vivos como escarlate... A minha misericórdia é tão grande que nenhuma mente - nem humana, nem angélica - alcançará a sua profundidade." (D699)
O céu estava muito cinzento e a chuva ia caindo de mansinho, o vento era cortante e o frio apertava.
- Está um ótimo dia para irmos a Fátima, como fizemos no ano passado! Que dizem? - Perguntei, de manhã.
- Fazer a Via Sacra pelo Caminho dos Pastorinhos? Vai chover de certeza!
- Não, não vai. Vamos arriscar?
- Eu quero ir!
- Eu também!
- Eu digo que vai chover...
- Eu não me importo que chova! Nós sempre gostámos de brincar à chuva!
- Vamos?
- Agora?
- Depois da missa das dez, claro. Temos o compromisso de tocar e cantar na missa. Vamos de seguida! Toca a preparar o piquenique.
E assim foi. Quanta alegria, nesta viagem inesperada!
Fátima estava, realmente, fria, molhada e ventosa. Mas continuava branca, pura e linda. Aquele santuário imenso e silencioso fazia-nos esquecer o desconforto, mesmo aos mais novos.
Almoçámos no passeio no início do Caminho dos Pastorinhos, porque é um espaço amplo onde os rapazes gostam de andar de skate. Depois fizemos a nossa Via Sacra, servindo-nos das meditações retiradas do Diário de Santa Faustina e intercalando cada estação com um mistério do Terço da Divina Misericórdia.
- Isto que nos está a molhar levemente a cara são raios de sol, mãe? Ou talvez seja uma chuva de graças? - Brincava o Francisco, que poucos dias antes tinha feito quase cem quilómetros de bicicleta numa manhã e estava com pouca vontade de caminhar.
- Não sei do que falas. Eu não sinto nada! - Ia eu respondendo. E pouco ou muito cansados, todos nos ajoelhávamos nas estações sobre a pedra fria e húmida.
- Quero colo! - Pedia a Sara, já perto do Calvário Húngaro. Os mais velhos foram-lhe oferecendo as costas, à vez... E até o David levou a mana às cavalitas. Que crescido ele está!
Chegámos ao Calvário Húngaro e entrámos para rezar pelas intenções do Santo Padre.
- Que tal se cantássemos "Misericordes sicut Pater" a vozes? - Sugeri. Assim fizémos, e a acústica da capela devolveu-nos o cântico mil vezes mais belo. Acho que foi o entusiasmo com que cantámos e a harmonia das várias vozes que fez o funcionário de serviço aparecer ao nosso lado:
- Que lindo! Que lindo! Que lindo! - Repetia ele, com os olhos a brilhar. - Podem cantar mais?
Mas não podíamos, porque começava a chover com mais força e ainda era preciso regressar...
Regressar ao santuário para a nossa confissão. Descemos as "escadas da humildade", como gostamos de dizer, e fomos à Capela da Reconciliação, que estava a transbordar de gente.
Dei graças a Deus no meu íntimo: as comportas da misericórdia divina estavam realmente abertas! Mas como podíamos, o Niall e eu, confessar-nos se tínhamos de esperar pelo menos duas horas ali? Olhando mais atentamente, percebi que numa das alas da capela havia confissões para estrangeiros... E o confessionário para falantes ingleses estava livre! Ser casada com um irlandês tem as suas vantagens. Sim, o Niall e eu confessámo-nos rapidamente, e em inglês.
A chuva que caía fez-me recordar o post da Olívia sobre a sua peregrinação a Fátima e sobre umas tais mesas de piquenique cobertas, por detrás da basílica antiga. Foi aí que lanchámos. Que lugar magnífico! Como não o tínhamos descoberto antes? De futuro, quando fizermos em Fátima encontros e retiros das Famílias de Caná, já sabemos onde faremos o nosso piquenique.
Terminámos o dia passando, em família, pela Porta Santa. Na minha mente e no meu coração, ressoavam as Palavras de Jesus a Tomé, segundo o Evangelho do dia:
"Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e mete-a no meu peito." (Jo 20, 27)
Pareceu-me que nesta singela peregrinação à Porta Santa de Fátima, em dia da Divina Misericórdia, tocámos, como Tomé, nas chagas de Jesus e entrámos na Porta Santa do seu Sagrado Coração...
"Ó sangue e água que brotastes do coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!" (D187)
Ontem à noite, pela primeira vez desde que vivemos em Mogofores, a Via Sacra começou à porta da nossa casa. Ena, o entusiasmo com que preparámos tudo ao longo do dia! Haverá maior honra do que fazer parte deste Caminho da Cruz, com a nossa família, com a nossa porta santificada pelo Sangue de Cristo?
Durante a tarde, o Francisco pintou de branco o crucifixo das Famílias de Caná, aquele primeiro, feito pelos jovens no dia da Exaltação da Santa Cruz, e que costumamos venerar na nossa Via Sacra "caseira":
Depois de jantar, reunimos ideias e preparámos a rua em frente da nossa casa:
E a Via Sacra começou...
Como é belo caminhar de noite, à luz das velas, pelas ruas da nossa terra, contemplando o ato de amor mais poderoso da História, ao ritmo dos nossos pequenos passos, ao som das nossas simples orações, às portas das nossas pobres casas... portas que Ele vai santificando com o seu Sangue!
Neste Ano Santo da Misericórdia, e por uma coincidência que só Deus consegue fazer acontecer, a morte de Jesus na Cruz celebra-se, no tempo, no dia da sua Encarnação no seio puríssimo da Virgem Maria. Não é magnífico? 25 de março, nove meses exatos para o Natal. A solenidade da Encarnação foi transferida para depois da Páscoa, mas não podemos deixar de celebrar esta feliz coincidência! Na sua misericórdia infinita - e não tenho qualquer dúvida de que não o fez por acaso -, Deus uniu num só os dois mistérios da nossa salvação. Na verdade, a Encarnação nunca teve outro horizonte senão a Paixão, uma e outra culminando na Ressurreição triunfante amanhã, Domingo de Páscoa. Na Encarnação, Maria tornou-se Mãe de Jesus; na Paixão, tornou-se nossa Mãe. Na Encarnação, Jesus assumiu a nossa condição humana; na Paixão, redimiu-a.
S. Paulo também celebra estes dois mistérios num só, fazendo-os culminar na vitória da Ressurreição, no seu hino cristológico na Carta aos Filipenses:
"Cristo, que era de condição divina,
não se valeu da sua igualdade com Deus,
mas esvaziou-se a si mesmo,
tomando a condição de servo.
Aparecendo como homem,
rebaixou-se ainda mais,
tornando-se obediente até à morte,
e morte de Cruz!
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu o nome que está acima de todos os nomes
para que ao nome de Jesus
todos se ajoelhem nos céus, na terra e nos infernos
e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor
para glória de Deus Pai!"
(Fl 3, 6-11)
Se cada uma destas celebrações - a Encarnação e a Paixão - nos abre de par em par a Porta Santa do Céu, imagine-se as duas unidas! A mim, nesta noite santíssima em que, pelas ruas da minha terra, acompanhámos Jesus ao Calvário, pareceu-me que o céu inteiro se derramava em bênçãos sobre nós...
Todas as quaresmas rezamos a Via Sacra em família, uma vez por semana. Podemos fazê-lo na igreja, podemos fazê-lo em Fátima (esperemos que sim também este ano) e, claro, podemos fazê-lo em casa. No sábado fizemos a Via Sacra em casa, diante do Canto de Oração. No chão deitámos a cruz de madeira que os jovens construíram no Primeiro Retiro das Famílias de Caná, naquele magnífico dia da Exaltação da Santa Cruz de 2013. Este crucifixo tem pois para nós um significado muito especial...
"Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor te conduziu..." (Deut 8, 2)
Assim nos diz o Senhor de cada vez que contemplamos esta tosca cruz. Nela encontramos a obra da salvação de Jesus, que por nós deu a vida; mas também encontramos o chamamento para reunir as primeiras Famílias de Caná e todo o caminho percorrido desde então, caminho de Cruz e de Ressurreição como todos os caminhos do amor. Olhando, pois, para a cruz deitada no chão, nós recordamos as graças que Deus derramou sobre nós, perdoando-nos os pecados, curando-nos as feridas, libertando-nos do poder do mal, fazendo de nós suas testemunhas e enviando-nos em missão pelo país inteiro, congregando as Famílias de Caná. Ena, tantas bênçãos!
Assim, no domingo depois do almoço, acendemos as velas, preparámos as meditações (as mesmas que os ofereci no ano passado e que disponibilizo novamente: Via Sacra.pdf ) e espalhámos pelo chão as imagens da Via Sacra que os meninos recortaram, pintaram e colaram em corações de cartolina, também no ano passado. Depois cantámos um cântico e iniciámos o Caminho da Cruz. À vez, cada menino procurava entre os corações a estação correspondente, e colava-a sobre a cruz. No final, foi diante de uma cruz iluminada e cheia de corações que concluímos a nossa oração da tarde. Dentro de nós, um silêncio contemplativo calava os pensamentos mundanos e subia até Deus como incenso...
Hoje, sábado santo, é dia de imitar Nossa Senhora, que guardava no seu coração todos os acontecimentos alegres, tristes, luminosos ou dolorosos da vida de Jesus, para neles meditar continuamente. Sem quebrar o silêncio deste dia, deixo-vos as fotografias dos momentos mais solenes e dramáticos que vivemos, em comunhão com toda a Igreja, uns com os outros, e todos e cada um de nós com Jesus - "Nós, Jesus":
Quinta-feira Santa, Eucaristia às nove da noite. Celebrámos em comunidade a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Reconhecem o David?
S. João diz-nos que a Eucaristia significa receber em nós a vida de Jesus, deixarmo-nos lavar por Ele e imitar o seu amor. O Lava-pés simboliza isto mesmo. Na nossa comunidade, o senhor padre lavou os pés a uma criança, adolescente ou jovem de cada um dos doze anos de catequese:
Ups! Estas fotografias estão aqui por engano:
Não, não estão! Os dias santos são também dias de muita brincadeira. Sem brincadeira familiar, é difícil explicar aos mais novos o que é isso do amor...
Sexta-feira santa. De manhã, o David foi ao ensaio de acólitos, e nós fizemos o ensaio dos cânticos. Depois, às três horas da tarde, a hora de Jesus, todos nos reunimos no santuário para celebrar a Paixão do Senhor. A cerimónia da Paixão do Senhor é impressionante pela sua densidade dramática e a sua universalidade. Ali, aos pés da Cruz imensa de Jesus, colocamos o mundo inteiro:
À noite, as ruas de Mogofores encheram-se de luz e de povo, para juntos colocarmos os nossos pés nas pegadas de Jesus e seguirmos atrás da sua cruz, como diz o Livro de Job:
"Tenho os meus pés colados às suas pegadas, segui os seus caminhos sem me desviar."
(Jb 23, 11)
O Niall ficou em casa, rezando a Via Sacra na companhia do Papa Francisco, pela televisão, enquanto vigiava o sono do António e da Sara.
O Francisco foi o fotógrafo da noite, a Clarinha cantou sempre a meu lado. O David segurava a sua tocha com extrema atenção, e a Lúcia saboreava a sua "saída noturna" com entusiasmo. "Já saio à noite!" Repetia, de mão dada comigo. E a cada velinha iluminando a rua, dava saltinhos de alegria.
Cá fora, a lua cheia da Páscoa iluminava o céu...
No domingo à tarde, como costume durante a quaresma, fomos juntos ao Santuário fazer a Via Sacra no interior da igreja, contemplando os belíssimos quadros que nos contam a Paixão de Jesus. Esta quaresma demo-nos conta de que rezar a Via Sacra é um exercício magnífico: não é monótono, porque a oração é acompanhada de uma breve caminhada e de muita beleza visual; é rápido - geralmente, demoramos quinze minutos - e centra-nos no mistério da Paixão e Morte do Senhor, o mistério da nossa salvação. Já decidimos que iremos rezar mais vezes a Via Sacra durante todo o ano, e não apenas na quaresma, pois como diz o profeta Isaías:
"Pelas suas chagas fomos curados." (Is 53, 5)
A oração da Via Sacra pode ser acompanhada simplesmente com a leitura de um dos evangelhos da Paixão do Senhor, ou com a leitura de um dos Cânticos do Servo, de Isaías (Isaías 42, 49, 50 e especialmente 53), ou ainda com algumas passagens de S. Paulo. Existem também muitas meditações da Via Sacra disponíveis em livro ou na internet. E, claro, a Via Sacra que eu escrevi e que já partilhei convosco, mas que de novo aqui deixo: Via Sacra.pdf. Soube por mail que um grupo de escuteiros do nosso país fez a sua Via Sacra a partir deste meu texto, o que me deixou muito honrada. Que o Senhor vos abençoe, querida Aida e queridos escuteiros!
- Mãe, podemos ir rezar a Via Sacra ao Santuário? - Pediram-me o António e o David em conjunto, no domingo à tarde.
- Vamos já. Deixem-me acabar de passar esta roupa.
- Agora! Agora!
Nesta altura, já vocês estarão admirados com a santidade dos meus queridos filhos, tão pequeninos e com tanta vontade de rezar. Não se iludam... A Via Sacra demora quinze alegres minutos, mas o Santuário é muito mais do que uma igreja. Na verdade, o Santuário fica no recinto do Colégio Salesiano, que aos domingos está vazio... Reparem nas fotos, e perceberão o que quero dizer:
O Francisco não esteve connosco este fim-de-semana, mas se tivesse estado, encontra-lo-iam nos matraquilhos, e depois a fazer parkour sobre os muros... Ups! Isto não é para os senhores padres salesianos lerem :)
Associar a oração familiar a momentos de alegria, partilha e convívio familiares é uma base segura para que a oração faça parte da vida dos nossos filhos. Quinze minutos de oração em família seguidos de três quartos de hora de brincadeira em família pode parecer desproporcionado, mas eu quero acreditar que esteja dentro das proporções de Deus...
Hoje começa o Tríduo Pascal. As cerimónias da Semana Santa são as cerimónias mais impressionantes do ano litúrgico, com uma densidade única de cor, ritual, gestos, beleza: o Lava-Pés, a instituição da Eucaristia, a Adoração da Santa Cruz e, por fim, os belíssimos ritos da luz na Vigília Pascal... Se "atarmos" todas estas cerimónias com o "cordel forte" de um "Tempo de Família" alegre e prolongado, experimentaremos realmente a Páscoa do Senhor!
Dia do Pai. Pequeno almoço. Os meninos acordam com o doce cheirinho da apple crumble irlandesa.
- Feliz Dia do Pai!
- Feliz Dia do Pai!
As exclamações de alegria repetem-se, enquanto todos correm para a cozinha para um pequeno-almoço esmerado. Entre duas garfadas, o Francisco comenta, em tom de brincadeira:
- Para quaresma, as nossas refeições nem têm sido más!
- Sim, são mais as exceções que a regra! - Acrescenta a Clarinha - Dia do pai, dia de S. Patrício, os meus anos, o retiro...
- Ah, o retiro! A comida do retiro é sempre a melhor comida do mundo! Não sabe a quaresma, não...
- E depois os domingos de panquecas, que o domingo é sempre dia de festa, quaresma ou não quaresma...
- Bem, a alimentação não tem sido a base do nosso sacrifício quaresmal. No entanto, acho que esta quaresma temos rezado muito, não é verdade?
- Sim, mamã, temos rezado muitas vezes a Via Sacra, e feito adoração em silêncio. E temos contado muitas histórias da Bíblia!
- E eu estou sempre a pensar em Jesus, sabes, mãe?
- Ai sim, David?
- Sim. Quando estou na escola penso muitas vezes: "Jesus fica ou não contente com o que eu estou a fazer?" Há uma menina na minha sala que me irrita tanto! Está sempre a implicar comigo. Então eu fico a pensar como é que Jesus fazia se fosse eu.
- Que boa ideia, David! Não estás nunca sozinho nessas lutas. Jesus está sempre a teu lado! Lembra-te de rezar sempre: "Nós, Jesus!"
- E eu lembro.
O pequeno-almoço está terminado. Enquanto os meninos acabam de se arranjar, o Niall e eu arrumamos a montanha de louça espalhada pela mesa. São quase horas de sair para a escola, mas estamos habituados a aproveitar todos os minutos a sós - com ou sem louça pelo meio - para conversar:
- Quando nos acostumamos a rezar a Via Sacra, pensamos mais vezes no que significa realmente o sacrifício de Jesus - Diz-me o Niall.
- Sim, faz-nos bem meditar em cada passo do seu caminho doloroso. Quanto mais meditamos na cruz de Jesus, mais os nossos afazeres nos parecem triviais. Começamos a perceber que realmente, só o amor importa...
- E deixamos de dar importância ao que não tem importância.
- A oração serve mesmo para isso, não é? Rezar não serve para mudar a vontade de Deus, porque a vontade de Deus é perfeita; serve antes para mudar a nossa vontade, converter o nosso coração, assimilar os critérios do Evangelho, aprender a ver a vida através do olhar de Jesus.
- Meditar na Via Sacra e adorar Jesus no Santíssimo Sacramento são duas formas de imitarmos Verónica, que ao enxugar o rosto de Jesus, descobriu os traços do Senhor gravados no seu véu, no seu coração, na sua vida...
- Sim, Verónica é uma bela imagem do que acontece a quem reza! E penso que todos nós cá em casa estamos a experimentar esta união crescente com o Senhor.
Antes de sairmos para a escola, a Lúcia quer oferecer uma flor a Jesus, depois de fazer as pazes com o António. O nosso Canto de Oração cheira a primavera...
"Todos nós, de face descoberta, refletimos a glória do Senhor como um espelho, e somos transformados nesta mesma imagem, sempre mais gloriosa, pela ação do Senhor." (2Cor 3, 18)
Escrito pela Clarinha:
A pedido do Papa Francisco, todas as igrejas tiveram o Santíssimo exposto vinte e quatro horas seguidas, de sexta para sábado. Também no Santuário se adorou o Senhor.
O Francisco e eu assegurámos uma hora de adoração das dez às onze da manhã de sábado. Fomos os dois de bicicleta até ao Santuário e entrámos silenciosamente na capelinha onde Jesus estava exposto. Ajoelhámo-nos e falámos em silêncio com Jesus. Agradeci-Lhe o dom da vida, pois era o dia dos meus catorze anos: "Obrigada, meu Deus, porque me criaste!"
Depois pegámos no texto da Via Sacra que a minha mãe escreveu para as Famílias de Caná e começámos a ler cada estação, à vez e em voz alta, pois não estava ninguém mais na capela. Entre cada estação rezámos uma dezena. Foi muito bom termos ido os dois, porque rezámos juntos, e na meditação eu compreendi e pensei em muitas coisas que nunca antes me tinham ocorrido. Também foi bom poder estar uma hora inteira em frente a Jesus, a falar com Ele. Foi um belo começo de dia de anos!
No domingo à tarde fomos todos até ao Santuário e rezámos a Via Sacra meditando nas estações com palavras da Bíblia. Enquanto isso, olhávamos para uns quadros que estão na parede do Santuário com as estações em relevo. Foi mais barulhento do que no sábado, mas eu gostei muito.
Passei um fim-de-semana de anos "recheado" de Jesus! Obrigada, meu Deus!
Quaresma é altura de meditar mais intensamente na Via Sacra, o Caminho que Jesus percorreu para nos salvar. Cá em casa procuramos tornar esta meditação o mais vivida e concreta possível, para que ninguém se canse ou se distraia enquanto a fazemos, pequenos e grandes. Assim, este ano seguimos as propostas do blogue Familia Católica e construímos a nossa Via Sacra:
Começámos por escolher na net desenhos apelativos de cada estação. Com a ajuda da Clarinha, os mais novos recortaram e coloriram cada desenho, que depois colaram numa cartolina vermelha. Foi a minha vez de trabalhar, cortando a cartolina aos pedaços, com a forma de corações, que plastifiquei. Que alegria, quando a Lúcia, o David e o António apreciaram o seu trabalho plastificado!
Domingo à tarde, colocámos no chão da sala a grande cruz de madeira pintada, feita pelo Niall e os jovens no primeiro retiro de Famílias de Caná, naquele dia feliz da Exaltação da Santa Cruz, 14 de setembro de 2013. Rodeámos a cruz com velas pequeninas, que a Sara se esforçou por agarrar...
Depois de cantarmos, iniciámos a meditação das estações da Via Sacra. Introduzimos cada uma delas com a invocação, em verso:
"Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus!
Que remistes o mundo pela Vossa Santa Cruz!"
À vez, cada um procurava no montinho de corações a estação correspondente, e com um pouco de "bostick", colocava-o sobre a cruz. Houve estações para todos, e alguma brincadeira enquanto se remexiam os corações de papel!
(Cuidado com os dedos, Sara!)
Fizemos as meditações a partir do texto da Via Sacra que escrevi para o nosso encontro no Buçaco, no verão passado, e conversando depois naturalmente sobre cada passo do caminho de Jesus. Todos participaram animadamente na meditação-conversa!
Entre cada estação rezámos um "Glória ao Pai", intercalado com alguns "Não mexas, Sara!" "Não empurres o António, David!" "Senta-te direita, Lúcia!" E outras pequenas interjeições, que deixo à vossa imaginação.
Por fim, junto da cruz iluminada e colorida, cantámos.
- Ficou linda a Cruz, não ficou, mamã?
- Ficou, filhos. As estações estão muito bem pintadas!
- Eu pintei esta. A de cima foi pintada pelo António e é por isso que não está dentro dos riscos!
- Não digas isso, Lúcia!
- Mamã, sabes onde está o véu da Verónica?
- Está num convento em Itália.
- Ah! E as pessoas sabem os sítios onde Jesus caiu, onde Lhe bateram, e tudo isso?
- Sabem, porque desde sempre os cristãos quiseram meditar no Caminho da Cruz! De geração em geração, foram contando uns aos outros como tudo se passou.
- Ah!
Foi uma experiência maravilhosa! Se quiserem meditar também na Via Sacra a partir do texto das nossas meditações (levemente adaptadas a partir do texto já escrito para o Buçaco), ele aqui fica: Via Sacra.pdf.
"Tenho os pés colados às suas pegadas.
Segui os seus caminhos sem me desviar." (Jb 23, 11)
O nosso Retiro em Fátima foi simplesmente fabuloso. Temos tantas, tantas graças a dar a Deus, que nos proporcionou um dia tão cheio de bênçãos, de amizade, de alegria e de sol!
Começámos cedinho, no Centro Pastoral Paulo VI. Foi com alguma emoção que lá entrei. Nunca na minha vida sonhara entrar neste Centro como organizadora seja do que for, eu que tantas vezes, durante a minha juventude e idade adulta, lá entrei para receber ensinamentos!
As condições foram, claro, óptimas. E foi para mim tão engraçado ver chegar as famílias e procurar adivinhar, pelos rostos e pelo tamanho dos filhos, quem eram! Porque se todos os leitores do blogue conseguem reconhecer facilmente a Família Power, eu conheço nomes e comentários, até finalmente nos encontrarmos no mundo real. E acreditem que adoro poder ligar os nomes a um rosto!
Os pequeninos ajudaram muito durante o ensinamento, mantendo-se entretidos com os livros que levámos e com alguns lápis de cor. Em silêncio, ou falando muito baixinho, foram fazendo amizades:
Com a pontualidade que tem caracterizado os nossos encontros, chegámos à missa na Basílica mesmo quando o sino dava as onze horas. Que alegria, podermos participar, com as nossas crianças e a nossa confusão, na missa solene do Santuário de Fátima! O nosso pároco, o padre José Fernandes, salesiano, também lá esteve, a concelebrar. Reconhecem-no?
Depois, foi o piquenique. Tentem imaginar a confusão, a brincadeira, a alegria, a partilha, o barulho e a fome, à volta de uma mesa de piquenique ou sentados em mantas no chão! A comida voava, os pratos passavam de mão em mão, desapareceram copos e trocaram-se talheres, mas todos ficaram saciados. E como no Evangelho, sobejou em abundância!
Às duas horas em ponto começámos a nossa Via Sacra de Natal. Como eramos muitos, os jovens seguiram à frente, com uma estação de avanço, enquanto os adultos e as crianças caminhavam mais devagar...
O tema do ensinamento que fiz de manhã foi a caminhada até ao Presépio. E para falar desta caminhada, servi-me do texto do Livro do Génesis sobre a Caravana de Jacob:
“O meu senhor sabe que as crianças são delicadas e que o gado miúdo e graúdo, que ainda mama, exige os meus cuidados; se os apressarem, ainda que só por um dia, todo o gado novo perecerá. Que o meu senhor queira passar adiante do seu servo; eu caminharei devagar, ao passo da caravana que me precede e ao passo dos meninos, até juntar-me ao meu senhor, em Seir.” (Gn 33, 13-14)
Durante toda a manhã sentimos o peso desta caravana, esta necessidade de caminhar devagar, ao passo dos meninos, procurando que nenhum se perdesse entre o Paulo VI e a Basílica, a Basílica e o local do piquenique; mas foi durante a via sacra que esta Palavra "encarnou" no nosso grupo. As crianças viajavam de trotinete, de carrinho de bebé, ao colo, às cavalitas, ou empoleiradas no muro de pedra que ladeava todo o caminho, e corriam para trás e para a frente, com gritinhos de alegria, apanhando flores e explorando cada árvore e cada recanto:
Quando, por fim, decidimos que eram horas de regressar, vimo-nos e desejámo-nos para as recolher todas! Imaginei os três pastorinhos de Fátima, naquele mesmo local, a tentar recolher as suas ovelhinhas e as suas cabrinhas...
- Cada um recolhe as suas cabritas!
E cada um recolheu as suas cabritas mesmo :)
Na verdade, nessa altura da nossa caminhada, já não eramos estranhos, mas amigos. Conversávamos uns com os outros, partilhávamos experiências e ideias, pedíamos ajuda uns aos outros. As crianças não se queriam separar!
Por fim, visitámos as casas dos pastorinhos de Fátima. Oitenta pessoas a entrar naquelas casinhas minúsculas foi uma aventura! Mas as casas dos pastorinhos são em si mesmas uma lição de simplicidade e desapego. Na casa da família Marto, o quarto dos rapazes, que não é maior do que a minha despensa, abrigava cinco crianças na altura das aparições... Temos tanto, e queixamo-nos tanto!
E foi junto do poço da casa da Lúcia, onde o Anjo de Portugal falou aos pastorinhos, que encerrámos o nosso dia, em oração de acção de graças:
E por fim, uma grande salva de palmas para todos!
Depois de um segundo ou terceiro piquenique à beira dos carros, e porque eram quase seis horas, resolvemos regressar. Mas à despedida, todos, sem excepção, disseram:
- Até a uma próxima!
Sim, até a uma próxima!
Ontem à noite, já na cama, conversava com o Niall sobre esta próxima... E de repente, o sono passou e fiquei muito desperta:
- Vamos para o norte, da próxima vez!
- Para o norte?
- Há tantos santuários no norte! Sameiro, S. Bento da Porta Aberta, Bom Jesus... É isso, Niall: vamos para o norte!
Julgo haver leitores no norte do país, ou estarei enganada?
Por isso, caros leitores, preparem-se... Que nós não tencionamos parar!
A Clarinha lembra-se bem do momento em que surgiu a inspiração: eu estava no carro sozinha com ela, pouco antes das férias começarem, e falávamos do Natal.
- Nossa Senhora e S. José tiveram um início de vida de casados tão difícil! - Comentei eu, ao guiar através da chuva. - Imagina, Clarinha, com um tempo frio assim, Nossa Senhora grávida sobre um burrinho, a caminho de Belém...
- Imagino-te a ti, quando estavas grávida, sobre um burrinho! - Riu-se a Clarinha, divertida - Devias ficar linda!
- Ora! Acho que às vezes se medita pouco nesta caminhada de Maria e de José. O Natal não foi um acontecimento tão romântico quanto o fazemos parecer, nos nossos postais ilustrados! Foi duro. Duro mesmo! Duro para Maria e José, que tiveram tanto que caminhar, e depois tiveram de procurar um abrigo entre o povo de Belém...
- Para terminarem num estábulo... Realmente, não foi fácil!
- E logo depois do nascimento de Jesus, nova caminhada: no meio da noite, José chamou Maria e disse-lhe que tinham de fugir o mais depressa possível, que Herodes queria matar Jesus!
- Parece um filme de acção...
- Foi o começo da nossa salvação. Jesus sofreu ainda antes de nascer!
A Clarinha cantarolava no carro. De repente, gritei:
- Já sei! É isso!
- Isso o quê?
- Vou escrever uma Via Sacra de Natal! Vou escrever catorze estações, para podermos meditar como deve ser em cada um dos pequeninos episódios da vida da Sagrada Família!
- Vais escrever o quê?
- Deixa lá. Depois eu conto!
Habituada aos meus devaneios, a Clarinha encolheu os ombros.
Meditamos pouco nos textos do Natal. Contamo-los às crianças, encenamo-los para elas, mas meditamos pouco neles enquanto adultos. Durante estes dias de férias, decidi escrever uma curta meditação para cada um dos catorze passos desta primeira Via Sacra, esta primeira caminhada da Sagrada Família, onde começou a nossa salvação.
No Retiro de Natal, para o qual todos, todos os nossos leitores estão convidados, no próximo sábado dia 3, em Fátima, iremos fazer o Caminho dos Pastorinhos, meditando nas catorze estações da Via Sacra do Natal. Venham meditar connosco! Deixo aqui o PDF com a Via Sacra, para poderem descarregar e trazer convosco para o retiro - ou para descarregarem e fazerem em casa, na vossa oração pessoal ou familiar. Se alguém quiser ir ao retiro e não tiver oportunidade de imprimir este texto, por favor diga-mo para o mail (ntpower@sapo.pt), para eu tratar disso! Aqui fica: Via Sacra do Natal
E por falar em Natal...
Que dizem deste presépio? Repararam nos anjos pendurados na Árvore de Jessé? A Lúcia pediu ajuda à Clarinha, e as duas presentearam-nos com esta belíssima representação do Natal! Depois veio a Sara, pegou no Menino e declarou: "É meu!" E levou-o consigo.
E fez ela muito bem