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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Ainda ontem escrevia que não iria haver mais nenhum post até segunda-feira, e já aqui estou a quebrar a minha palavra... Mas é por uma boa causa. Certamente já adivinharam qual! Sim, é verdade, a pequena Lúcia, a bebé da nossa querida Olívia, foi ontem para casa! Depois de muitos e complexos exames, a neuropediatra concluiu que a menina não tinha quaisquer sequelas resultantes da paragem cardio-respiratória durante o parto. O susto passou, com a graça de Deus e a oração poderosa de todos quantos se uniram a nós! Aguardamos agora com alegria que toda a família recupere emocional e fisicamente de tão dura batalha, e possamos ter notícias fresquinhas no belíssimo blogue da Família Batista. Tenho a certeza de que a Olívia terá muitas coisas para contar! Que dizem deste sorriso maroto?
Enquanto recebia as notícias de perfeita felicidade da Olívia, pus-me a pensar no que significa isto de estarmos vivos. Talvez não sejam muitos os momentos em que nos damos conta da preciosidade da vida humana, da grandeza do mistério que nos envolve, e simultaneamente, da fragilidade de que somos feitos... O Livro do Génesis oferece-nos esta meditação logo no seu início:
"Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo." (Gn 2, 7)
Somos pó da terra e pó das estrelas, descendentes dos astros e dos mares, habitantes da lama e dos abismos; mas somos também espírito, sopro, Vida. Que mistério! E Deus contém-nos na concha da sua mão...
De revelação em revelação, acordaremos um dia para a notícia mais bela de todas: finalmente, definitivamente, estamos curados! Nesse dia sem ocaso, o Senhor pegará em nós ao colo e, como fez a Olívia ontem à noite à sua bebé, levar-nos-á para Casa. Se os reencontros e as celebrações da Terra podem expressar tamanha felicidade, imaginem as do Céu...
A semana passada, uma leitora deste blogue enviou-me a primeira fotografia do seu bebé:
O anúncio de uma nova vida é sempre um momento que nos transcende e, com maior ou menor intensidade, nos perturba. O ser minúsculo que Deus nos entrega, neste dom que é a maternidade, vem desalinhar a nossa vida, desarrumar as nossas ideias, desiquilibrar o nosso barco. E nem sempre é fácil acolher...
Para a mãe que me enviou esta fotografia, não está a ser fácil! Ainda há em Portugal patrões que despedem as mulheres grávidas, e algumas famílias olham para o futuro com muita apreensão. Que será deste menino? Pergunta-se ela. E a alegria que sente por ser novamente mãe, é toldada por algum receio e algum desalento.
No entanto, mesmo com medo, com perturbação, com dor, esta mãe está decidida a lutar pela felicidade do seu filho. Ela sabe que, antes de ser seu filho, este menino, com oito centímetros de comprimento, é filho de Deus; e antes de ser amado por ela, é amado, imensamente amado por Deus!
Já ouvi, na minha escola, alguns comentários de passagem entre adolescentes: "Se correr mal, sempre se pode fazer um aborto." Mas também já fui testemunha de três adolescentes que levaram a sua gravidez até ao fim, regressando às aulas pouco depois dos bebés nascerem e levando-os consigo. Num dos casos, bem engraçado, o bebé ficava na salinha dos funcionários, num bercinho arranjado pelos professores, com roupinhas também arranjadas por nós, e era cuidado um pouco por todos, durante as aulas da menina. Nos intervalos, o bebé fazia a delícia das amigas da nova mamã (mais até do que da própria mamã...).
A vida é o primeiro dom do amor de Deus. Até que ponto estamos dispostos a defendê-la? Conhecemos as fronteiras da ciência e os atropelos que se vão fazendo no campo da bioética? Embriões congelados, técnicas de reprodução medicamente assistida, aborto, contracepção... Os cristãos merecem ser esclarecidos nestas matérias. Jesus deixou um mandamento muito claro a todos os que, de alguma forma, têm o dever de guiar os outros, sejam pais ou consagrados:
"Seja a vossa palavra sim, se for sim, não, se for não." (Mt 5, 37)
Para ajudar a clarificar a palavra e o pensamento, está a ser apresentado, um pouco por todo o país, o Manual de Bioética para Jovens. A sua leitura, clara e concisa, faz bem também aos menos jovens! E os debates nas sessões de apresentação têm sido muito interessantes. O Francisco irá assistir a esta apresentação no dia 14 de março, aqui em Anadia, feita precisamente pela sua tia, professora na Faculdade de Farmácia de Coimbra. Entretanto, recebi este cartaz, sobre a apresentação do manual em Vila Nova de Famalicão, no dia 20 deste mês de fevereiro. De certeza que haverá ainda outras datas e outros lugares. Informem-se, que vale a pena!
E se quiserem, hoje, depois de ler este post, façam comigo uma oração por esta mãe, agradecida pelo dom do seu filho, e por todas as mães em dificuldade...
"Por vezes, ao contemplarmos a maravilha que somos,
arrebata-nos uma vertigem"
(Jean-Marie Le Méné, Manual de Bioética)
Há uns meses, um aluno meu teve esta conversa comigo:
- Professora, já sei onde mora!
- Ai sim? Vives para aqueles lados?
- Sim, passo de bicicleta na sua rua. A professora vive naquela casa que tem sempre gente no telhado, não é?
- ?????????
- Sim, vivo nessa casa. Há sempre alguém no telhado...
A minha família tem uma tendência inata para as alturas. Conseguem identificar o Francisco e o David neste paredão de rochas, na praia?
Há cerca de um mês, encontrámos a Sara a brincar muito feliz na cama do Francisco. Nada de mais, se não soubermos que a cama do Francisco é no beliche de cima... Depois pedimos-lhe que nos mostrasse como fazia para poder brincar num sítio tão especial. Gravámos assim este perigoso vídeo:
... e desde então o Francisco, todas as manhãs, para além de fazer a sua cama tem também de retirar a escada do beliche!
Bem, esta tendência inata para as alturas significa que os meus filhos se sentem impelidos a levantar os olhos do que é rasteiro e contemplar o céu. Valha-nos isso! A vida na Terra passa tão depressa! Alguns não chegam a nascer, outros vivem um ano e meio, como o Tomás, outros oitenta ou noventa, mas é sempre tão pouco, quando comparado com a eternidade! Diz o salmista:
"Mil anos a teus olhos são como o dia de ontem, que já passou,
e como uma vigília da noite.
Consumimos os nossos anos como um suspiro.
Mas a nossa agitação é fadiga inútil,
porque passam depressa, e nós levantamos vôo..." (Sl 90/89)
Faz-nos tão bem meditar nesta verdade imensa! O Céu, só o Céu é a nossa Casa. Como devemos aproveitar então a nossa breve passagem pela Terra (que pode terminar ainda hoje)? S. Paulo dá-nos o melhor dos conselhos:
"Enquanto dispomos de tempo, façamos bem a todos." (Gl 6, 10)
A isto eu chamo... aproveitar o tempo!
Esta manhã, a mãe-galinha estava a passear sozinha no jardim. Saíra do galinheiro e entretinha-se a comer as couves da horta. Mas onde estariam os seus pintaínhos? Eles costumam andar sempre atrás da mãe, para se esconderem sob as suas asas à mais leve ameaça... Soubemos instantaneamente que só podiam estar mortos. Em silêncio, entrámos no galinheiro, levantámos a casota... Lá estavam os dois pintaínhos, caídos na lama, mortos. Imaginámos a cena da tarde do dia anterior, os pintaínhos a escorregar na lama por causa do temporal, a galinha a tentar retirá-los de baixo da sua casota, em vão... Tinham certamente morrido de frio, longe do alcance das asas de sua mãe.
Para alegrar um pouco a mãe-galinha sem filhotes, deixámo-la passear no nosso jardim com as suas amigas:
Um pouco triste, decidi abrir o meu missal nas leituras do dia. E foi quando percebi que a Igreja celebra hoje os Santos Inocentes, ou seja, os bebés de Belém, que o rei Herodes mandou matar indiscriminadamente, com a intenção de matar também Jesus.
O Natal não é um conto de fadas ou uma historieta para crianças. O nascimento de Jesus esteve sempre rodeado de morte. A gruta onde Jesus nasceu não foi muito diferente da gruta onde depositaram o seu corpo morto, trinta anos mais tarde. O trajecto até Belém, o parto fora de portas, a fuga de Herodes deixaram no Natal um traço de sangue e de morte. Jesus incarnou na nossa vida real, concreta, de todos os dias. Jesus veio habitar todos os nossos abismos, conhecer todas as nossas dores. Assim, três dias depois do Natal, celebramos a morte dos bebés de Belém, que sem o saberem, deram a vida por Jesus.
A morte prematura dos meus pintaínhos e as leituras da missa de hoje deixaram-me a pensar no valor da vida...
A vida é frágil, frágil, frágil. Num momento estamos vivos, no momento seguinte podemos não estar. Nesta quadra de Natal, os noticiários já nos deram a conhecer tantas mortes acidentais de jovens e até de famílias completas! Se viemos no bico das cegonhas, então o pacote que nos embrulhava trazia o letreiro "Frágil" em letras bem marcadas. Diz o salmista:
"O homem não é mais do que um sopro!
Ele passa como simples sombra!" (Sl 39/38)
A vida é dom. Ninguém pede para nascer, todos recebemos a vida de outrém, e acima de tudo, de Deus:
"Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só dia à duração da sua vida?" (Mt 6, 27)
A vida é preciosa, a vida é um verdadeiro milagre. Se um pintaínho escondido nas asas da mãe é uma visão de ternura, quanto mais uma criança o é! Assim, a vida de cada ser humano é intocável, desde o ventre materno, e está nas mãos de Deus. Diz Jesus:
"Não vos preocupeis! Valeis muito mais do que os pássaros." (Mt 6, 26)
Talvez o amanhã nunca chegue. Só tenho o dia de hoje para viver, para disfrutar da companhia do meu marido e dos meus filhos, para os ajudar a crescer, para os ensinar a amar. Por isso, vou deixar a roupa por passar, vou deixar a casa por limpar, vou desligar este computador, e vou até ao parque brincar com a minha família!