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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Assim que comecei a trabalhar como professora, comecei a fazer longas viagens de carro a caminho das mais diversas escolas, dispersas por montes e vales no distrito de Aveiro. Neste momento, a distância mais longa que tenho de percorrer demora apenas quinze minutos. Com excepção de um ou outro tractor, não encontro trânsito, e delicio-me a contemplar as vinhas a perder de vista, o recorte do Caramulo no azul da distância, a torre do meu querido Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora. São assim quinze minutos tranquilos, que me permitem fazer a ponte entre a casa e a escola, deixando para trás no meu espírito uma ou outra, conforme a direcção da minha viagem.
Já me dei conta de que estes quinze minutos podem ser um perfeito desperdício se eu deixar a minha mente seguir atrás de qualquer borboleta imaginária e dispersar-se no nevoeiro das ideias. S. Paulo escreveu ao seu querido discípulo Timóteo:
"Evita as vãs conversas profanas" (1Tm 2, 16)
E eu sou bem capaz de ter "vãs conversas profanas" comigo própria durante quinze minutos de viagem! Por isso, e porque o meu tempo vale mesmo muito mais do que ouro, faço um esforço para me manter atenta ao essencial, transformando estes quinze minutos de estrada em quinze minutos de oração. E para que estes quinze minutos sejam mesmo de oração, e a minha mente "hiperactiva" não tente escapar, eu rezo em voz alta. O som das palavras nos meus próprios ouvidos não me dá espaço para as tais "vãs conversas profanas"!
Primeiro canto e louvo ao Senhor, agradecendo-Lhe por ser quem é, por me amar, por me dar a vida, pela natureza em redor, pela minha família e pelos meus alunos e amigos. Depois, peço a bênção do Senhor para aqueles com quem me vou encontrar durante o dia - em especial se me espera uma turma problemática ou barulhenta! Rezo também pela minha família, por todas as Famílias de Caná, todos os meus amigos, conhecidos ou não, e todos os que sofrem no mundo.
Finalmente, rezo um mistério do terço, entregando a Nossa Senhora os meus problemas e todos os problemas do mundo. Rezando o terço em voz alta, saboreio com o coração cada palavra, e deixo que a alegria do Evangelho - "Alegra-te, ó Cheia de Graça!" (Lc 1, 28) desça até ao mais profundo do meu ser. O terço é, por excelência, a oração dos caminhantes, e cada conta, um passo dado em direcção ao Céu. Medindo as distâncias em Avé-Marias, tudo em mim se vai aquietando e pacificando, até nada mais restar que a vontade de Deus. Geralmente, é então que chego ao meu destino...
Quem, como nós, vive na Bairrada, está acostumado à azáfama que marca estes dias de outono um pouco por todas as casas: é hora de vindimar! As famílias reúnem-se nas quintas, os vizinhos ajudam os vizinhos, as donas de casa afadigam-se na cozinha, preparando o almoço para os trabalhadores, e a vindima começa. São dias grandes, e reza-se para que a chuva não caia até a vindima estar pronta.
Uma das três escolas onde lecciono este ano fica em pleno coração da Bairrada, e a estrada tem estado um pouco congestionada com tractores bem carregados, atrasando a minha viagem de quinze minutos. Em compensação, tenho tempo para tirar belas fotos:
Abrir caminhos por entre as vinhas é abrir caminhos de suor e de convívio, de trabalho e de festa, de alegria e de cansaço. E eu fico a pensar nos caminhos que é preciso abrir na Vinha do Senhor... Dizia-nos o Evangelho no domingo passado, que o Reino de Deus é semelhante a uma bela vinha, onde trabalham todos os que são chamados. Passando perto de cada um de nós, Jesus desafia-nos:
"Ide vós também trabalhar para a minha vinha!" (Mt 20, 7)
Na vinha do Senhor iremos suar, sim; mas iremos também partilhar uma refeição de festa e descobrir a alegria da entreajuda. Há tanto para fazer! E há tantos caminhos diferentes a percorrer...
Em casa, no trabalho, com os vizinhos, com os amigos, na paróquia e na Internet, lancemos mãos à obra! Há lugar para todos - os que conduzem os tractores e os que levam os cestos, os que cozinham o almoço e os que cavam a terra, os que colhem e os que semeiam, os que põem a mesa e os que lavam a louça. Estamos no início de mais um ano lectivo e pastoral - é outono na vinha...