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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Mãe, mãe, vem cá fora depressa! Olha para o céu!
São oito horas da manhã e é suposto os meus filhos estarem todos sentados dentro do carro, prontos para irem à escola. Contudo, quando corro para o pátio, estão todos a olhar para o céu. Levanto também eu os meus olhos, e eis o que vejo:
Um após outro, bandos de andorinhas cruzam os ares. São centenas, talvez milhares de aves que deslizam no céu, como um exército em ordem de batalha. Parece que todas as andorinhas do mundo decidiram partir ao mesmo tempo. Ficamos em silêncio diante da grandiosidade do milagre que a manhã nos apresenta.
- Meninos, agora toca a entrar no carro, para não nos atrasarmos! - Digo, interrompendo a contemplação.
Durante a curta viagem para a escola, e depois da nossa oração da manhã, falamos de andorinhas.
- Mamã, para onde vão elas?
- Para longe, para muito longe, António.
- Vão para África, não é mãe?
- Sim, David.
- O professor explicou-nos! Ele disse que a andorinha da frente tem de aguentar com o vento todo, e por isso o seu trabalho é o mais difícil. Assim, elas vão dando a vez umas às outras.
- Ah, eu consegui ver duas andorinhas a trocar de posição!
- Viste mesmo, Lúcia? Uau, tens visão de águia!
- Estás a mentir!
- Não estou nada!
- Pronto, pronto, deixem a Lúcia em paz.
- Mamã, e como é que elas sabem que têm de ir para África? Quer dizer, como é que elas sabem todas ao mesmo tempo?
- Sendo o Criador de todas as coisas, Deus arranjou formas diferentes para que as suas criaturas pudessem conhecer e fazer a sua vontade. Às andorinhas, como a todos os animais, Deus ofereceu uma coisa chamada instinto. Deus inscreveu nos seus genes a sua vontade, e elas não precisam de pensar, nem de estudar, nem de terem lições para aprender o que quer que seja. Nenhuma andorinha precisa de ir à escola pra aprender a fazer um ninho, ou para saber quando são horas de partir. Elas fazem a vontade do seu Criador simplesmente por instinto.
- Que sorte!
- Nós também temos um bocadinho de instinto, não é, mãe?
- Sim, Clarinha, um bocadinho. Temos por exemplo o instinto maternal, que nos faz ter uma ligação imediata ao bebé que nasce, etc. Mas o ser humano tem uma dose muito pequena de instinto.
- Porquê?
- Porque a nós, Deus deu-nos o maior dos dons: a liberdade. Somos livres de cumprir ou não a sua vontade.
- E podemos saber qual a vontade de Deus?
- Claro! Foi para isso que Deus nos dotou de inteligência e da capacidade de escutar a sua voz.
- Ah!
Chegamos ao colégio. Os meninos saem do carro e correm para as suas aulas, porque são crianças e não andorinhas. Eu continuo viagem até à minha escola e vou pensando nos bandos de passarinhos a cruzar os ares nesta manhã...
Penso na viagem do Povo de Deus através do deserto, e penso na "andorinha da frente", o grande Moisés. Antes de morrer, Moisés falou ao seu povo e deu-lhe as suas últimas instruções. A Bíblia guardou-as nos últimos capítulos do Deuteronómio. Que texto lindo! É, para mim, um dos textos mais belos da Bíblia, e leio-o muitas vezes. Hoje recordo em especial um parágrafo:
"Ponho diante de vós a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe a vida para viveres, tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a Ele, porque Ele é a tua vida e prolongará os teus dias para habitares na terra, que o Senhor jurou que havia de dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacob." (Dt 30, 19-20)
Estaciono na minha escola. Posso, agora mesmo, escolher a bênção, a alegria, a paz, a vida... Posso, agora mesmo, escutar a voz que me desafia a partir, a não fazer aqui morada permanente, a não me deixar perturbar... É o voo de hoje que começa.
- Professora, falta muito para tocar?
- Porquê, João, já estás cansado da aula?
Bocejos - Se calhar...
- Pois eu acho que a aula passou bem depressa!
- Isso és tu, Mariana, que gostas de Inglês!
- Tu já não dizes o mesmo quando estamos em Matemática, pois não?
- Não, Matemática passa devagar...
Mas todas as aulas acabam por passar, mais ou menos lentamente, e o toque da campainha acaba sempre por chegar.
Uma das maiores lições da escola é o toque da campainha. Eu sei que há movimentos contrários, defendendo as aulas de duração variável, e até há quem defenda que se deve apenas estudar o que apetece, quando apetece e se apetece.Também reconheço que todos precisamos de um tempo sem "toques de campainha" - e que bem que sabem as férias! Mas eu continuo a achar que há algo de libertador no toque da campainha.
A campainha liberta-me das tarefas cansativas ou indesejadas; mas também me liberta do excessivo apego às tarefas desejadas. Se é bom ser interrompido a meio de algo aborrecido, é ainda melhor ser interrompido a meio de algo agradável... É que esta interrupção é uma forma magnífica de treinar a vontade, e com ela, a minha liberdade interior. Este treino será extremamente útil ao longo de toda a vida, quando precisar de desligar o televisor para cuidar do recém-nascido, ou ligar o despertador para chegar a tempo ao trabalho, ou pousar o jornal para fazer o jantar.
Deverei, então, acolher com a mesma serenidade os diversos tempos do meu dia, bons ou maus, ao ritmo dos sucessivos "toques de campainha"? Bem, há um "tanto faz" negativo, provocado pela desilusão ou pela falta de criatividade, muito comum em alguns alunos pouco motivados para o estudo; mas há um "tanto faz" cristão, aquele que santificou Chiara Luce e todos os santos: "Tu queres, Jesus? Então eu também quero." Santo Inácio de Loyola chamava-lhe "indiferença".
Este "tanto faz" cristão ensina-me a dar o meu melhor tanto na aula de Inglês, como na aula de Matemática, tanto com professores simpáticos, como com professores antipáticos, tanto com turmas calmas como com turmas barulhentas, tanto com alunos queridos como com alunos problemáticos. Fácil? Para mim, neste ano letivo, tem sido extremamente difícil... Mas tem sido também a forma de me libertar de mim mesma, dos meus gostos e desejos, para experimentar a única felicidade, aquela que vem de cumprir a vontade do Senhor, agora.
A sabedoria do "toque da campainha" percorre a mais nobre tradição monástica, desde as suas origens - para saber o que está uma carmelita a fazer a qualquer hora do dia, basta consultar o horário do seu convento -, e vai ainda mais atrás, ao livro do Eclesiastes:
"Para tudo há um momento
e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu;
Tempo para nascer e tempo para morrer,
tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou,
tempo para destruir e tempo para edificar,
tempo para chorar e tempo para rir..." (Ecl 3, 1-8)
Quatro horas da tarde. Está na hora de ir buscar os meus filhos ao colégio. É o "toque da campainha", a lembrar-me de que devo interromper o trabalho, desligar o computador e desligar os problemas da escola, para toda eu me concentrar nos meus filhos. Pelo caminho, ainda terei outro "toque": quinze minutos na capela perto do colégio, em colóquio a sós com o meu Senhor...
Há cerca de três anos atrás, fizemos uma viagem de carro que ainda hoje nos faz a todos dar uma grande gargalhada. O destino era bastante simples, e até tenho vergonha de o dizer, vivendo eu aqui em Mogofores: era a Praia de Mira. Mas nós conseguimos perder-nos completamente nas ruas paralelas e perpendiculares que circundam toda a área das praias da zona de Aveiro. Finalmente, o Francisco decidiu ligar o GPS no telemóvel do pai, e começou a dar indicações ao Niall:
- Virar à direita a duzentos metros...
- Não pode ser! - Insistia o Niall. - Eu conheço o caminho, não é à direita!
- Mas, pai, já tentaste à esquerda e falhou! Porque não segues as indicações do GPS? - Insistia por sua vez o Francisco.
Mas o Niall virava à esquerda. Então o GPS, com muita calma, lá refazia a rota:
- Virar à esquerda a trezentos metros...
- Não viro! - Continuava o Niall, convicto. - Esse GPS não vale nada. Nem deve estar atualizado.
- Pai, por favor, vira à esquerda!
E o Niall virava à direita. O GPS ia corrigindo a rota, sem se impacientar. A cada recusa do Niall, o GPS refazia as suas indicações, para que pudessemos chegar ao nosso destino. Finalmente, lá encontrámos a tabuleta a indicar: "Praia de Mira". Vitória!
- Se tivesses acreditado no GPS, já cá estávamos há muito tempo - Resmungava o Francisco. E continua a resmungar, até hoje! Porque o Niall continua a desconfiar do GPS e a "seguir o seu instinto", mesmo quando este está claramente errado.
Outro dia, na catequese, servi-me da história do GPS para explicar aos meus catequisandos a forma como Deus nos conduz pela vida. Deus tem um sonho para cada um de nós. A cada "curva", Deus vai-nos dando indicações precisas sobre os passos que precisamos de dar para chegar à paragem seguinte da nossa viagem. Nem sempre escutamos com atenção... Nem sempre o nosso GPS interior está bem sintonizado com o satélite do Senhor! Ou então acontece como aconteceu com o Niall na nossa célebre viagem: recusamos determinadamente as indicações que o Senhor nos dá através, por exemplo, da sua Igreja, da doutrina católica, dos mandamentos, da Palavra da Bíblia, e preferimos o nosso "instinto" que, geralmente, é mais agradável aos sentidos.
Que faz Deus? Deixa-nos entregues a nós mesmos, perdidos no lamaçal deste mundo e vítimas dos nossos próprios erros? Diz-nos "Bem te avisei" e encolhe os ombros? De modo nenhum: tal como o GPS do carro, o Senhor aceita as nossas escolhas, respeita os passos que queremos dar sem se impacientar, e se quisermos, apaga todo o nosso passado com uma só Palavra de perdão. Depois, a partir do ponto em que nos encontramos, refaz a nossa rota, aquela que nos irá levar à meta final, o Céu...
"Irmãos, não me julgo como se já o tivesse alcançado. Mas uma coisa faço: esquecendo-me do que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus." (Fl 3, 11-14)
No sábado, o David participou pela primeira vez num convívio dos acólitos de Mogofores, no Santuário de Schonstatt, perto de Aveiro. Eu estava com algum receio de o deixar ir, porque o David é sem dúvida o acólito mais novo, e eu não queria que ele se sentisse só durante o dia. Mas a Lena, responsável pelos acólitos da nossa paróquia, assegurou-me de que o David não se iria sentir deslocado, e de que todos cuidariam dele. A Vera e a São, as duas educadoras que nos ajudam nos retiros Famílias de Caná (a propósito... Já se inscreveram no Retiro de Viana?) e que são também acólitas, vieram cá a casa de propósito "implorar" para eu deixar o David ir, que "as cotas" tomavam conta dele... A Vera até prometeu fazer um bolo especial caso o David fosse: um bolo que, a cada fatia que se corta, transborda de pintarolas! Bem, perante tanta amizade e tanto entusiasmo, não tive outro remédio senão deixar ir o meu rapazinho.
E que bem que eu fiz! O David chegou a casa felicíssimo, cheio de histórias para contar e de vontade de participar em novo encontro. A Vera, a São e a Lena falaram-me da alegria do David ao longo de todo o dia e, sobretudo, do seu imenso interesse em aprender. O David escutou, observou, fez jogos, comeu o bolo das pintarolas, brincou, rezou, adorou o Senhor na Eucaristia. Como o Menino Jesus no Templo, também o David surpreendeu com as suas imensas perguntas e algumas respostas, que foi buscar ao tesouro das histórias bíblicas que bem conhece. Por fim, participou na Missa Vespertina de Ramos.
Ontem, a Lena enviou-me as fotografias do encontro:
- Mamã, hoje já não preciso de rezar o terço, porque já rezei - Disse-me o David, enquanto jantava.
- Que bom, rezar o terço no Santuário de Nossa Senhora! E que mais rezaste tu?
- Estivemos a fazer adoração. Havia lá uns papelinhos onde podíamos escrever uma oração secreta, e depois deitar num vaso.
- E tu escreveste?
- Sim, escrevi.
- E que escreveste tu?
- Eu não te disse que é segredo?
- Ah, pois disseste. Mesmo para a mãe?
- Se calhar posso contar à mãe. Eu pedi a Jesus que me fizesse santo, e outras coisas assim. Também fomos à missa.
- Ena! Não te cansaste, numa missa tão longa?
- Não foi longa! Foi até curta. Eu gostei muito. Ouvimos a história da morte de Jesus, e tu sabes como eu gosto dessa história. Amanhã, na nossa missa dos ramos, vou levar a caldeirinha da água abençoada.
- E que mais aprendeste tu?
- Aprendi a história do padre de Schonstatt. Sabias que ele esteve num campo de concentração?
- Sabia.
- Oh! Tu sabes tudo!
- Ah, mas já não me lembro bem! Contas-me?
- Conto. Ele esteve preso e sofreu muito, mas depois ele rezou muito a Nossa Senhora e fez-se santo.
Já na caminha, o David tinha outra coisa para me dizer:
- Olha, a Irmã que nos contou a sua história disse que o pai dela não queria que ela fosse Irmã. Mas ela foi! Então eu perguntei: "Quando Deus pede uma coisa e os pais pedem outra, a quem devemos obedecer?" E a Irmã respondeu-me. Ela disse que temos de obedecer a Deus primeiro, porque só quando obedecemos a Deus é que somos felizes.
- A Irmã tem toda a razão, David! Mas eu espero nunca te pedir nada que vá contra a vontade de Deus. Agora dorme!
- Posso ir a outro encontro de acólitos?
- Podes, claro! Boa noite, querido filho!
O David já descobriu o primado de Deus. A sua descoberta lembrou-me a resposta de Jesus a Maria e a José, quando era pouco mais velho do que o meu filho:
"Não sabíeis que Eu devia estar em casa de meu Pai?" (Lc 2, 49)
Nessa noite, já deitada, a minha oração, transbordante de gratidão pelo dom do meu filho, foi assim: Senhor, que os pais e as mães cristãos nunca afastem os seus filhos da Casa do Pai. Ámen!
PS - A Lena, responsável pelo grupo de acólitos de Mogofores, é mãe de uma bela Família de Caná. E sabem que mais? Há poucos dias decidiu começar a partilhar as suas vivências num blogue, que a todos convido a visitar: As surpresas de Deus. Haja muitas Famílias de Caná a inundar de Deus a internet! Para quando, um blogue brasileiro das Famílias de Caná? ...
O António estava a comer com imenso prazer. Entre garfadas, ia conversando com os irmãos e connosco, muito animado.
- Quero mais!
- Se faz favor.
- Quero mais se faz favor!
Coloquei um pouco mais de massa e de carne estufada no seu pequeno prato.
- Mais! - O António manteve o prato estendido.
- Come primeiro essa, depois se ainda tiveres espaço, dou-te mais - Respondi-lhe.
E foi então que a birra começou:
- TANTA POUCA!
- O quê?
- TAAAAANTA POUUUUUUCA!
- António, se quiseres mais eu dou, mas primeiro comes o que tens no prato.
Agora as lágrimas corriam a alta velocidade, e o prato continuava intocado diante do meu filho de quatro anos. Já não havia nada a fazer: era mesmo hora de birra... Os irmãos encolheram os ombros, nós também, e continuámos a tentar conversar por entre os gritos do António, enquanto eu escondia um sorriso diante da sua gramática atabalhoada:
- TAAAAANTA POUUUUUUCA!
Por fim, vendo que ninguém cedia - e porque a carne estava mesmo apetitosa - o António lá limpou as lágrimas e assoou o nariz, e continuou a comer. Afinal o que tinha no prato parece ter sido suficiente, porque não tornou a repetir.
Enquanto escutava os gritos do meu pequeno filho, fui pensando em como tantas e tantas vezes, também nós ficamos com o prato estendido diante do Senhor, fazendo birra:
- Tanta Pouca!
Temos diante de nós um prato, que o Senhor preparou com carinho especialmente para nós, mas raramente estamos satisfeitos: temos filhos a mais, ou filhos a menos; temos trabalho a mais, ou trabalho a menos; temos dinheiro a mais, ou dinheiro ao menos; temos chuva a mais, ou frio a mais, ou calor a menos, ou amigos a menos, ou saúde a menos, ou... Porque não estamos nunca satisfeitos?
Recordo aqui a oração constante da jovem Beata Chiara Badano, que nasceu no mesmo ano que eu e morreu aos dezoito anos de idade. Já falei desta oração várias vezes, e hei-de continuar a falar, porque nela está contido o segredo da verdadeira alegria, essa alegria que nada nem ninguém nem circunstância alguma da vida pode roubar:
"Tu queres, Jesus? Então eu também quero."
Ou como disse Jesus ao longo de toda a sua vida:
"Faça-se a Tua vontade, ó Pai, na Terra como no Céu." (Mt 6, 10)
Ámen!
O António é uma criança doce, terna e bela, por dentro e por fora. Mas o António não tem sido assim muito fácil de "criar"!
- António, queres maçã ou banana para sobremesa?
- Quero quivi.
- Não há quivi.
- Mas eu quero quivi!
- António, vou repetir: queres maçã ou banana?
- Já disse que quero quiviiiiiiiiiiiiiiii!
- António, o pai trouxe-te uma bola.
- Eu queria era um balão!
- Não estás contente com a bola?
- Eu queria era um balão!
- Mãe, quero ir à praia.
- Eu também, mas está a chover, António.
- Quero ir à praia e quero ir agora!
- Está a chover, António!
- Já disse que quero ir à praaaaaaaaaaaia!
Já aqui falei das birras do António, pois são bastante frequentes. Às vezes, perco a paciência, e o resultado é um grito. Outras vezes, contudo, fico simplesmente a pensar...
É que o António é mesmo uma parábola viva daquilo que nós, adultos somos diante de Deus!
O Senhor oferece-nos um emprego - mas nós queríamos mesmo era o outro!
O Senhor presenteia-nos com um filho diferente - mas o que nós queríamos era um filho "normal"!
O Senhor oferece-nos uma casinha na aldeia - mas o bom seria viver num apartamento na cidade!
O Senhor dá-nos dinheiro suficiente para alimentarmos os filhos - mas o que nós queríamos era dinheiro para férias!
E a lista seria interminável... Claro que podemos sempre argumentar: não é Deus que nos envia as doenças, ou que nos faz perder o emprego! Sabemo-lo bem, e temos razão, porque Jesus assim no-lo assegurou. Mas também podemos olhar para a vida de outra maneira, e aceitar tudo, tudo, das suas mãos, como se cada acontecimento da vida, bom e mau - excepto o pecado - fosse um presente seu! É uma proposta de vida... Assim, e ao contrário do António, estaremos sempre felizes, quer tenhamos quivi, quer tenhamos maçã, quer chova, quer faça sol!
Chiara Badano teria quase a minha idade, pois nasceu em 1971, e eu nasci em 1972. Contudo, Chiara morreu aos dezoito anos, e já foi beatificada pela Igreja, numa bela cerimónia que contou com a presença de 25 mil jovens. Chiara adoeceu com cancro no auge da sua juventude. A mãe recorda-se bem do dia em que Chiara chegou a casa, depois dos primeiros tratamentos. Sem dizer palavra, fechou-se no quarto, e aí permaneceu 25 minutos. Foi a luta mais difícil da sua vida - a luta entre a sua vontade e a vontade de Deus. 25 minutos que deram a vitória a Deus... Chiara saiu do quarto a sorrir. Nunca mais se queixou da doença, e morreu feliz, com uma felicidade de fazer inveja ao maior milionário da Terra. Chiara tinha uma oração que repetia a toda a hora, diante de toda e qualquer circunstância da vida:
"Tu queres, Jesus? Então eu também quero."
Talvez o segredo da felicidade seja mesmo este...