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Tanta pouca

por Teresa Power, em 14.01.15

O António estava a comer com imenso prazer. Entre garfadas, ia conversando com os irmãos e connosco, muito animado.

- Quero mais!

- Se faz favor.

- Quero mais se faz favor!

Coloquei um pouco mais de massa e de carne estufada no seu pequeno prato.

- Mais! - O António manteve o prato estendido.

- Come primeiro essa, depois se ainda tiveres espaço, dou-te mais - Respondi-lhe.

E foi então que a birra começou:

- TANTA POUCA!

- O quê?

- TAAAAANTA POUUUUUUCA!

- António, se quiseres mais eu dou, mas primeiro comes o que tens no prato.

Agora as lágrimas corriam a alta velocidade, e o prato continuava intocado diante do meu filho de quatro anos. Já não havia nada a fazer: era mesmo hora de birra... Os irmãos encolheram os ombros, nós também, e continuámos a tentar conversar por entre os gritos do António, enquanto eu escondia um sorriso diante da sua gramática atabalhoada:

- TAAAAANTA POUUUUUUCA!

Por fim, vendo que ninguém cedia - e porque a carne estava mesmo apetitosa - o António lá limpou as lágrimas e assoou o nariz, e continuou a comer. Afinal o que tinha no prato parece ter sido suficiente, porque não tornou a repetir.

 

Enquanto escutava os gritos do meu pequeno filho, fui pensando em como tantas e tantas vezes, também nós ficamos com o prato estendido diante do Senhor, fazendo birra:

- Tanta Pouca!

Temos diante de nós um prato, que o Senhor preparou com carinho especialmente para nós, mas raramente estamos satisfeitos: temos filhos a mais, ou filhos a menos; temos trabalho a mais, ou trabalho a menos; temos dinheiro a mais, ou dinheiro ao menos; temos chuva a mais, ou frio a mais, ou calor a menos, ou amigos a menos, ou saúde a menos, ou... Porque não estamos nunca satisfeitos?

Recordo aqui a oração constante da jovem Beata Chiara Badano, que nasceu no mesmo ano que eu e morreu aos dezoito anos de idade. Já falei desta oração várias vezes, e hei-de continuar a falar, porque nela está contido o segredo da verdadeira alegria, essa alegria que nada nem ninguém nem circunstância alguma da vida pode roubar:

 

"Tu queres, Jesus? Então eu também quero."

 

Ou como disse Jesus ao longo de toda a sua vida:

 

"Faça-se a Tua vontade, ó Pai, na Terra como no Céu." (Mt 6, 10)

 

Ámen!

DSC00466.JPG

 

 

 

 

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publicado às 06:32


8 comentários

De Teresa Power a 14.01.2015 às 15:45

Sim, Joana, uma santidade tão perto de nós, não é? Sem auréolas nem milagres, vivida tão recentemente na simplicidade do dever de cada dia... Dá vontade de imitar! Bj

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