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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O Niall e eu namorámos por telefone durante dois longos anos, depois de nos conhecermos e antes dele vir definitivamente viver para Portugal. Talvez nem todos os que lêem este blogue tenham noção do que significava namorar por telefone há vinte anos atrás! Na era "pré-telemóvel" e numa situação de "namoro internacional" como a nossa, ambos a viver fora de casa como estudantes universitários, precisávamos de coleccionar muitas moedas e de nos fecharmos naquelas casinhas simpáticas chamadas "cabines telefónicas". Depois falávamos o mais depressa que conseguíamos até a última moeda nos cortar a palavra a meio. Era, no mínimo, um bocadinho stressante...
Hoje, e porque trabalhamos a uma distância de trinta quilómetros um do outro, continuamos a namorar ao telefone, mas temos todas as vantagens da era moderna, com os seus sofisticados meios de comunicação. É, na verdade, raro o dia em que não conversamos à hora do almoço.
Às vezes, na primavera e no outono, quando os dias estão muito azuis, o Niall pede-me que adivinhe de onde está a falar. Então afasta o telemóvel da sua cara, e eu consigo escutar o som cavo do mar e do vento.
- Estás na praia! E deves estar a comer aquelas maravilhosas sandes de bife panado que fizeste esta manhã!
- Adivinhaste! Estou a almoçar na praia, e nem imaginas as conchas que por aqui há!
Ao fim da tarde, quando chega a casa, traz-me uma prova física da sua estadia na praia: uma concha, um búzio, uma pena de gaivota.
Outras vezes, sou eu que lhe faço inveja:
- Estou sentada no nosso jardim, com um gato ao colo, a olhar para as galinhas a esgravatar... Tenho meia hora ainda antes da próxima aula!
Noutros dias, o nosso telefonema é um pedido de perdão:
- Desculpa esta manhã ter-te falado tão mal. Os miúdos não se despachavam e eu estava tão atrasado!
- Desculpa tu. Eu é que estava nervosa. Vamos ser amigos de novo?
- Boa ideia! E tenho uma ideia ainda melhor: fazemos as pazes logo à noite, quando os miúdos estiverem a dormir!
E assim, à distância de um telefonema, sem interrupções de crianças, namoramos um pouco à hora de almoço, para nos recordarmos do que é realmente importante na vida. Mesmo que o trabalho esteja a correr mal, os filhos estejam particularmente difíceis, a casa esteja um caos e o mundo esteja ainda pior, eu sei que, à noite, vou poder deitar-me nos braços do Niall e recuperar o dom primeiro do nosso amor, aquele amor que prometemos um ao outro há dezoito anos atrás e que, nesse mesmo abraço conjugal, elevámos à dignidade de sacramento, sinal da presença amorosa de Deus entre nós.
"Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher e se tornarão uma só carne." (Gen 2, 24)