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Telefonemas

por Teresa Power, em 30.08.14

O Niall e eu namorámos por telefone durante dois longos anos, depois de nos conhecermos e antes dele vir definitivamente viver para Portugal. Talvez nem todos os que lêem este blogue tenham noção do que significava namorar por telefone há vinte anos atrás! Na era "pré-telemóvel" e numa situação de "namoro internacional" como a nossa, ambos a viver fora de casa como estudantes universitários, precisávamos de coleccionar muitas moedas e de nos fecharmos naquelas casinhas simpáticas chamadas "cabines telefónicas". Depois falávamos o mais depressa que conseguíamos até a última moeda nos cortar a palavra a meio. Era, no mínimo, um bocadinho stressante...

Hoje, e porque trabalhamos a uma distância de trinta quilómetros um do outro, continuamos a namorar ao telefone, mas temos todas as vantagens da era moderna, com os seus sofisticados meios de comunicação. É, na verdade, raro o dia em que não conversamos à hora do almoço.

Às vezes, na primavera e no outono, quando os dias estão muito azuis, o Niall pede-me que adivinhe de onde está a falar. Então afasta o telemóvel da sua cara, e eu consigo escutar o som cavo do mar e do vento.

- Estás na praia! E deves estar a comer aquelas maravilhosas sandes de bife panado que fizeste esta manhã!

- Adivinhaste! Estou a almoçar na praia, e nem imaginas as conchas que por aqui há!

Ao fim da tarde, quando chega a casa, traz-me uma prova física da sua estadia na praia: uma concha, um búzio, uma pena de gaivota.

Outras vezes, sou eu que lhe faço inveja:

- Estou sentada no nosso jardim, com um gato ao colo, a olhar para as galinhas a esgravatar... Tenho meia hora ainda antes da próxima aula!

Noutros dias, o nosso telefonema é um pedido de perdão:

- Desculpa esta manhã ter-te falado tão mal. Os miúdos não se despachavam e eu estava tão atrasado!

- Desculpa tu. Eu é que estava nervosa. Vamos ser amigos de novo?

- Boa ideia! E tenho uma ideia ainda melhor: fazemos as pazes logo à noite, quando os miúdos estiverem a dormir!

 

E assim, à distância de um telefonema, sem interrupções de crianças, namoramos um pouco à hora de almoço, para nos recordarmos do que é realmente importante na vida. Mesmo que o trabalho esteja a correr mal, os filhos estejam particularmente difíceis, a casa esteja um caos e o mundo esteja ainda pior, eu sei que, à noite, vou poder deitar-me nos braços do Niall e recuperar o dom primeiro do nosso amor, aquele amor que prometemos um ao outro há dezoito anos atrás e que, nesse mesmo abraço conjugal, elevámos à dignidade de sacramento, sinal da presença amorosa de Deus entre nós.

 

"Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher e se tornarão uma só carne." (Gen 2, 24)

 

 

 

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publicado às 06:40


3 comentários

De Paula almeida a 30.08.2014 às 16:51

Olá Teresa . e como são importantes esses momentos. Costumo dizer ao meu marido que as vezes tenho saudades de namorar, pois o amor também tem que ser alimentado, com palavras, gestos ou simplesmente um olhar e com este ritmo de vida nem conseguimos "olhar". Um beijinho.

De Bruna a 09.03.2015 às 17:40

Teresa,
Você e o Niall são faróis para nós, que temos sonhos e decisões tão parecidas com as de vocês, mas estamos 15 anos depois, com apenas três anos de matrimônio!
Obrigada por partilharem detalhes tão preciosos da vida de vocês... Me emocionastes hoje com esse post.
Que Jesus os abençoe!

De Teresa Power a 09.03.2015 às 17:55

É magnífico encontrar casais com os mesmos ideais, realmente! Deus é maravilhoso, criando estes laços entre nós! Bjs Bruna!

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