Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Tempos livres I

por Teresa Power, em 25.01.16

Outro dia, ao ler alguns comentários no post sobre a nossa festa das Bodas de Caná, apanhei um valente susto: será possível que haja por aí leitores convencidos de que a Clarinha aprendeu comigo a costurar e a cozinhar? Bem, fico muito lisonjeada que tenham pensamentos tão positivos sobre os meus talentos, mas... a sério que acreditam nisso??? Não, a Clarinha não aprendeu comigo. E também não treina ginástica duas horas por dia, ou sequer todos os dias, como alguém me perguntava no retiro de Natal. Socorro! Andam por aí muitas ideias erradas sobre a ocupação dos tempos livres dos Power, e porque eu gosto da verdade acima de tudo, decidi escrever uma semana de posts sobre o tema. Preparem-se!

Nunca o fiz até agora, porque não é objetivo deste blogue a discussão das diferentes perspetivas de educação,  e porque em matéria de educação não me considero mais "expert" que qualquer de vós. Como dizia John Wilmot - e eu posso assinar por baixo - "antes de casar, tinha seis teorias sobre educação e nenhum filho; hoje tenho seis filhos e nenhuma teoria."

De qualquer forma, achamos importante explicar os nossos princípios, sabendo à partida que muitos discordarão deles. Mas porque são um dos pilares da educação dos Power, vou tentar apresentá-los por tópicos, algo que me obrigou a alguma reflexão, pois nunca antes pensei neles de forma tão sistematizada.

DSC05259.JPG

Aqui ficam:

- Nenhuma atividade extracurricular dos nossos filhos os deve fazer passar fora de casa mais tempo do que o que passam connosco, em família. De outra forma, correm o risco de serem educados mais pelos professores e treinadores do que por nós.

- Nenhuma atividade extracurricular os pode ocupar, por norma, ao fim-de-semana e muito menos impedir-nos de irmos à missa todos juntos, em família. Sem o nosso "tempo de família", não seríamos a família unida e feliz que hoje somos.

- Nenhuma atividade extracurricular lhes pode roubar o seu direito inalienável a brincar e a... não fazer nada. O ligeiro aborrecimento de uma criança desocupada, quando acompanhado por algumas palavras de encorajamento dos pais, é o furo na rocha que permite fazer jorrar a fonte da criatividade.

- Nenhuma atividade extracurricular é imposta pelos pais, e ninguém desilude os pais por desistir do que quer que seja.

- Nenhuma atividade extracurricular começa antes dos oito, nove anos, ou seja, antes da criança demonstrar uma vontade específica de experimentar alguma coisa, e antes da criança ter tempo para brincar, brincar, brincar e... brincar.

- Aliás: nenhuma atividade extracurricular é mais importante do que brincar.

DSC05511.JPG

Não, não há competição de basquetebol mais importante que... isto:

E não há competição de ginástica mais importante que... esta, filmada na nossa sala há dois anos atrás:

Não partilhamos a crença de que as crianças trabalham melhor sob stress, ou de que há linguagens, como a música, que é mesmo preciso aprender em profundidade, ou que a única alternativa à televisão é não ter tempo para ela, ou de que os banhos de adrenalina das competições melhoram a personalidade.

Também não achamos que o papel do pai ou da mãe seja fazer de motorista dos filhos, correndo de atividade em atividade para que eles aprendam tudo a que têm direito - há tanta coisa que podem aprender em casa, e que devem aprender em casa!

Por outro lado, e no outro extremo, rejeitamos o papel de professores ou de treinadores dos nossos filhos (tentação que um professor por profissão tem de continuamente combater) por uma razão, para nós, bastante evidente: os nossos filhos têm a oportunidade, na vida, de ter os mais variados professores e treinadores, aprendendo com cada um e crescendo com cada um - quer por empatia, quer por rejeição; mas pais, os nossos filhos só têm dois. Quando os pais se assumem também como professores ou treinadores (não falo de vida ou de fé, mas dos saberes do mundo, claro), correm o risco de serem rejeitados como pais, se por acaso vierem a ser rejeitados como professores ou treinadores. Em que ombro irá então a criança chorar para se queixar do excesso de trabalhos de casa ou da dureza do treino?...

Espero não desiludir demasiado alguns leitores ao afirmar, humildemente, que não tenho outras provas em defesa de todos estes princípios senão o reino de Náturia e seis filhos felizes. Acredito que haja muitos outros filhos felizes com outros princípios, claro. Estes são os princípios dos Power, não os princípios das famílias felizes, ou das famílias católicas, ou das Famílias de Caná. Os próximos posts  vão ser uma partilha singela do que, filho a filho, ano a ano, prece a prece, fomos descobrindo. A nosso favor, temos apenas uma vontade muito grande de nos aperfeiçoarmos continuamente como família. Em nossa casa, não conhecemos a frase: "Sempre se fez assim, e pronto." Preferimos a Palavra da Sabedoria:

 

"A sabedoria facilmente se deixa ver por aqueles que a amam, e encontrar por aqueles que a buscam. Antecipa-se a manifestar-se aos que a desejam. Quem por ela madruga, não se cansará; há de encontrá-la sentada à sua porta. Pois ela própria vai à procura dos que são dignos dela e vai ao encontro deles, em cada um dos seus pensamentos. O princípio da sabedoria é o desejo sincero de ser instruído por ela, e desejar instruir-se é já amá-la." (Sb 6, 12-16)

DSC05277.JPG

 Até amanhã!

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:00


13 comentários

De Teresa Power a 25.01.2016 às 12:43

Sabes, Bruna, não sei como é aí no Brasil, mas aqui em Portugal estamos a viver tempos difíceis para se ser criança... E refiro-me às classes médias e altas, em que as crianças não têm mesmo tempo de ser crianças. Daí o meu alarme no início do texto, pois sei que quem está contra-corrente sou eu :)

De Bruna Bastos a 25.01.2016 às 14:16

Sim, Teresa, mesmo aqui no Brasil, onde a taxa de natalidade ainda é alta se comparada à Europa, há uma grande 'adultização' das crianças... Com agendas mais cheias que a de um adulto empresário do mundo corporativo...

Temos padronizações no numero dos filhos ('mais que dois filhos? estão doidos?'), no tipo de educação (o mais rígida possível, na escola), na catequese (rezar em casa? estudar a Palavra? ah, a catequista já tem esse papel oras!), nas atividades fora da escola (segunda ingles, terça balé, quarta violão, quinta natação, sexta futebol, sabado shopping, domingo televisão, computador, celular e dormir até tarde, ir missa já é demais ne?)...

Também nadamos contra a corrente, e também nos colocam contra a parede, se em uma conversa partilhamos sobre o que acreditamos... pensam que iremos ser negligentes com a formação dos nossos filhos, que eles serão 'bobos' que não saberão viver nesse mundo e na sociedade... (Mas nosso mundo não é esse! Não há quem entenda...)

Tenho aprendido a me calar mais, pois não tenho ainda 6 lindos filhos felizes e bem formados, para que sejam meu testemunho, e não apenas palavras! Muitas vezes vejo que na verdade me falta humildade...

De Olívia a 25.01.2016 às 16:49

Oh Teresa, não é só nas classes mais altas... por aqui vejo que muitas famílias de classe média/baixa estão no mesmo caminho, procuram que os filhos tenham de tudo, para "serem alguém na vida"...

Comentar post




subscrever feeds


livros escritos pela mãe

Os Mistérios da Fé
NOVO - Volume III

Volumes I e II



Pesquisa

Pesquisar no Blog  


Arquivos

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D