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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
E continuamos na série de posts sobre a forma como os Power ocupam os seus tempos livres. Repito que estou a falar dos Power, não estou a formular nenhuma teoria educativa! Se escrevo sobre a nossa experiência é porque adoro ler sobre as experiências dos outros, em variados blogues e livros, e aprender com elas (eu estou sempre a aprender), pelo que calculo que outros queiram ler e aprender, se acharem bem, connosco.
Uma das maiores fontes de prazer e de liberdade cá em casa são... os livros. Quem entrar em nossa casa a qualquer hora do dia, vai de certeza tropeçar em dois ou três livros logo ali à entrada, porque os mais novos esquecem-se de os arrumar depois de os lerem ou de verem as imagens; e vai encontrar livros na sala, na cozinha, no chão dos quartos, na casa-de-banho, livros no jardim e livros na garagem. Todos os nossos filhos adoram livros.
Uma questão de sorte? Pode ser, claro. Como diz a Pipi das Meias Altas - tenho andado a ler a história à Lúcia todas as noites, capítulo a capítulo, e por isso ela é uma referência constante nestes dias - estamos num país livre, pelo que cada um pode pensar como quiser. Mas eu tenho outra teoria, e como ando em maré de revelar segredos, aqui fica:
Na nossa casa, os livros nunca sofreram concorrência desleal. Refiro-me à televisão, aos jogos de vídeo e de computador, aos telemóveis, aos tablets e a tudo o que as crianças desde muito pequeninas manuseiam para terem acesso a aventuras e histórias. Todos os professores sabem que hoje, para conseguirmos a atenção das crianças, precisamos de estímulos constantes de som e imagem. Para quem cresce num ambiente altamente estimulado sensorialmente, um livro é mesmo uma grande sensaboria!
Com a televisão desligada e sem jogos de computador, "livros", cá em casa, significam aventuras, histórias, suspense, enredo, alegria. Aliás, não só significam, como são mesmo essenciais para uma viagem ao mundo da ficção, visto não haver alternativas. Os meus filhos gostam do cheiro dos livros, de virar as páginas, de os meter na mochila e os levar para a escola, para ocupar os "tempos mortos" em sala de aula.
Mas "livros" significam ainda outra coisa: significam tempo de família, tempo de carinho, tempo de atenção privilegiada dos pais. Através da leitura partilhada, cumpre-se também a Palavra do Senhor:
"Farei com que o coração dos pais se aproxime dos filhos, e o coração dos filhos se aproxime dos seus pais..." (Ml 3, 24)
De facto, desde muito pequeninos que os nossos filhos têm direito a pelo menos uma história por dia. Uma história contada enroscados no sofá ao colo dos pais, ou junto da lareira, ou no jardim, ou sob os cobertores da cama, ou à volta da mesa acompanhada de um chocolate quente. Nunca, para nós, os livros foram uma obrigação (bem, com exceção de Os Maias, leitura obrigatória no secundário, que o Francisco, muito embora o 18 a Português, ainda não leu por inteiro); pelo contrário, os livros são uma recompensa: "Se arrumares depressa o quarto, leio dois capítulos da Pipi em vez de um!" "Hoje foste tão lindo, ajudaste tanto a mãe, que tens direito a uma longa história antes de dormir!"
E não, não deixamos de contar histórias em voz alta quando os meninos aprendem a ler. Continuamos a fazê-lo até eles o desejarem, geralmente por volta dos doze anos. Todas as noites? Sim, todas as noites (ninguém disse que alimentar o gosto pela leitura não dava trabalho!): uma história para a Sara, outra para o António e a Lúcia, outra para o David, pois as idades e os interesses são diferentes. E não julguem que os mais velhos já não gostam de ouvir histórias: a Clarinha pousa tudo o que está a fazer para escutar a Pipi, ou a Heidi, ou a Casa na Pradaria, ou a Anne of Green Gables, ou a Princesinha, ou o Pequeno Lord que nós lemos aos mais novos, e até o Francisco tira os auscultadores dos ouvidos quando repara que todos nos rimos à gargalhada com um episódio.
- Oh, mãe, tenho de lavar a loiça agora? Mas tu vais ler a Pipi! Eu queria ouvir! - Disse-me ontem a Clarinha, quando acabámos de jantar.
- Conta lá outra vez como é que o gato que ensinou a gaivota a voar apanhava as moscas! - Pedia o António ao pequeno-almoço.
- Deixa-me contar-te o que lemos ontem na Casa na Pradaria - Diz-me o Niall, às vezes, ao deitar. E vai buscar o livro, que deixou na mesa de cabeceira do David, para me reler uns parágrafos. Também nós parecemos duas crianças, entusiasmados com as histórias que contamos filho após filho até quase, quase as conhecermos de cor. Como em tudo o resto, o Senhor recompensa o nosso esforço dando-nos doses abundantes de verdadeiro prazer nas leituras que partilhamos com eles.
Com tanta carga emotiva associada, é natural que os livros sejam muito amados cá em casa. Para mim - digo-o com humildade, mas com convicção - não me surpreendem cenas como estas, várias vezes ao dia:
Os nossos serões são, às vezes, bastante silenciosos:
E como já contei neste blogue,há dias em que estou tão ocupada a trabalhar ao computador, durante o meu serão, que me esqueço das crianças que deixei a ler na minha cama. Ena, já passa da sua hora de dormir, e ainda ali estão!
Que livros lemos? Sobre isso, já escrevi vários posts, e podem recordá-los com a tag "livros". Não, não lemos tudo o que se publica, e há livros que não entram cá em casa. Sim, fazemos censura :) Mas a boa notícia é que entre os livros bons há suficientes para encher uma vida, segundo a minha própria experiência.
Hoje - e como professora ouço isto quase todos os dias - a grande maioria das crianças e dos jovens não gosta de ler e só lê por obrigação. Dizem-me que gostos não se discutem. Aceito que haja algumas crianças que não gostem de ler, como há crianças que não gostam de ver televisão ou de comer chocolate. Mas estou convencida de que, com outro tipo de abordagem familiar, essas crianças - que existem - seriam uma minoria. Se quiserem discordar de mim, têm de o fazer - para a discussão ser justa - nos mesmos termos que eu o fiz, ou seja: apresentem-me uma criança que ouça histórias, grandes histórias, desde pequenina, todos os dias, envolta em paciência e carinho, até cerca dos doze anos, sem concorrência (desde a primeira infância) da televisão, do tablet, do computador, e mesmo assim não goste de ler. Então eu aceitarei a derrota...
Mas será que os nossos filhos não vão à internet, como todos os outros? E não frequentam qualquer atividade extracurricular? Amanhã continuamos
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