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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
A Clarinha tem catorze anos e frequenta o nono ano. Desde pequenina que a Clarinha manifestava um talento especial para ginástica. Com cinco anos, e sem qualquer treino específico, a Clarinha fazia rodas, pinos, espargatas e muito mais. Depois, quando no segundo ciclo teve acesso ao desporto escolar, a Clarinha começou a ocupar as tardes livres de quarta-feira (e só as tardes livres de quarta-feira), no colégio, com ginástica artística. Desafiando-se e superando-se a si mesma continuamente, a Clarinha aprendeu a fazer coisas que, a mim, nem em sonhos me ocorriam. Fazer ginástica assim, sem qualquer outro objetivo senão o superar-se a si mesma e o divertir-se, aproveitando ao máximo as possibilidades que o seu corpo treinado lhe permitia, era para a Clarinha uma fonte de alegria e de força interiores.
Para terem uma ideia das coisas que ela aprendeu a fazer, (re)vejam estes doze segundos de flicks, durante um piquenique na Irlanda, há dois anos atrás:
Entretanto, o professor de ginástica da Clarinha saiu do colégio. A Clarinha ficou desolada, pois mais nenhum professor, no colégio, tinha conhecimentos para a fazer evoluir.
Por outro lado, com o seu tablet a Clarinha tinha descoberto um outro tipo de ginástica que a encantava e a fazia sonhar: a rítmica. Na rítmica não se fazem mortais, nem flicks, nem barras, nem traves, mas dança-se com bolas, fitas, arcos, cordas, e fazem-se espargatas bem mais abertas que na artística.
Foi mais ou menos por esta altura que eu esbarrei com aquele cartaz, à entrada da minha escola: a dez minutos da nossa casa, iam pela primeira vez abrir aulas de ginástica rítmica. A Clarinha podia concretizar o seu sonho. Peguei num papel e num lápis e rabisquei um número de telefone, e ali mesmo, antes de entrar para a minha aula, fiz o telefonema que lançou a Clarinha na ginástica rítmica.
Quando cheguei a casa, não consegui conter a minha alegria:
- Clarinha, acabo de te inscrever... Clarinha, vão abrir aulas de ginástica no velódromo! Vais poder concretizar o teu sonho!
A Clarinha saltou de alegria. Depois parou:
- Mas, mãe, como vais fazer para me levar e buscar? Tu sempre disseste que as nossas atividades devem ser na escola ou perto de casa, para estarmos independentes... Tens os manos para tomar conta... Vais conseguir?
A Clarinha conhecia as nossas prioridades. Sabia que a sua ginástica iria perturbar o nosso ritmo de vida e nos iria obrigar a algumas acrobacias de logística e tempo. Mas nesse dia, a Clarinha também ficou a saber que, para nós, cada filho é único, cada filho tem as suas características e necessidades próprias, e em nome da sua felicidade pessoal, podemos fazer cedências, abrir exceções, dar algumas cambalhotas e, talvez, fazer alguns mortais.
Durante os dois anos seguintes, a Clarinha teve treinos duas ou três vezes por semana, ao fim do dia, e obrigou-nos a vários ajustes no nosso tempo de família, sobretudo por causa da oração familiar. Como costume, contámos com a colaboração dos amigos, partilhando boleias para os treinos. E tudo se fez.
A dada altura, a treinadora pediu a nossa autorização para a Clarinha entrar em competição, juntamente com várias outras meninas. Depois de me certificar que não iria ter mais do que três treinos de hora e meia por semana, nem ocupar mais do que cinco sábados por ano, aceitei.
Mal sabia eu que, assinando a entrada da Clarinha para o mundo da competição - em que, descobri mais tarde, o objetivo número um deixa de ser a alegria do desporto, para ser o pódio - eu estava a assinar o fim do seu amor pela ginástica. Mas isso fica para amanhã... Por hoje, deixo-vos com o vídeo da sua penúltima competição, em Dezembro: