Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Ontem de manhã, na Abertura Solene do Colégio Nossa Senhora da Assunção, onde estão os meus filhos, falou-se de James Foley.
No ecran gigante no ginásio, a sua imagem surgia como uma luz a brilhar nas trevas, ilustrando o tema cultural deste ano lectivo no Colégio: "Enche-te de Luz!" E na escuridão do ecran vazio, brilhou com simplicidade um extracto da carta que James Foley fez o seu amigo memorizar:
«Sei que pensam em mim e rezam por mim e estou agradecido. Sinto a vossa presença, sobretudo quando rezo. Rezo por vós, para que sejam fortes e acreditem. Sinto, de facto, que, quando rezo, vos consigo tocar mesmo nesta escuridão»
Já tive muita ocasião para meditar na fé e na humanidade deste grande homem, que perdeu a vida às mãos de terroristas sem coração; já tive muita ocasião para meditar na capacidade de suportar a dor que Deus parece oferecer-nos quando tocamos o limite, e na serenidade e maturidade que parecem envolver os que atravessam o limiar desta curta passagem pela terra. Mas ali, na escuridão do ginásio, enquanto no ecran brilhavam as últimas palavras de James Foley, o meu pensamento foi para o seu amigo de cativeiro. E enquanto a música de fundo dava relevo às palavras ditadas, eu pensava na concentração, no sentido de dever e no sentido de responsabilidade do amigo de Foley. E sobretudo, na sua capacidade de escuta, abstraindo-se dos barulhos terríveis que os cercavam como cães raivosos. Escutando as palavras que lhe eram entregues como um tesouro, aquele amigo vislumbrou de repente um sentido todo novo para a sua vida. Afinal, ele levava agora na sua memória um testamento espiritual único, que precisava de entregar com urgência. As palavras de Foley tinham sido proferidas para iluminarem as trevas dos que lhe sobreviveriam, e havia uma urgência enorme em fazê-las chegar ao seu destino.
Depois lembrei-me de S. Paulo (outra vez!):
"Trazemos este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não nosso." (2Cor 4, 7)
Antes de morrer, Jesus também deixou aos seus amigos um testamento espiritual. Falava de amor. E nele, Jesus dizia:
"Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei." (Jo 13, 34)
Imagino a concentração, o sentido de dever e o sentido de responsabilidade dos amigos de Jesus... Imagino a atenção com que escutaram, quase que bebendo uma a uma as palavras do mestre, para nunca mais as esquecerem... Também eles levavam na sua memória um testamento espiritual único, que precisavam de entregar com urgência. E a sua missão foi levada tão a sério, que as palavras de Jesus chegaram até nós, de testemunha em testemunha, de amigo em amigo.
As Palavras que Deus confiou ao seu povo foram entregues para serem luz que brilha nas trevas. No mundo árabe, onde James Foley foi cruelmente assassinado, há cristãos que memorizam o Evangelho para poderem meditar nele, pois é perigoso ser apanhado com uma Bíblia. O Papa Francisco sugeriu recentemente aos cristãos ocidentais, que não correm esse perigo, que trouxessem no bolso ou na carteira os Evangelhos, para assim poderem escutar a Palavra de Jesus numa breve pausa durante o dia.
Olhei para aquele ginásio cheio de crianças e jovens, professores, funcionários e pais. Teremos nós o mesmo sentido de urgência e responsabilidade, perante este tesouro que trazemos em vasos de barro? Seremos nós capazes, no corropio do dia-a-dia, de encontrar tempo para a escuta do Testamento de Jesus, que nos foi entregue no dia do nosso baptismo? Seremos nós capazes de o memorizar, de o viver e de o transmitir com fidelidade, como o amigo de James Foley fez com a carta que lhe foi confiada? Se assim fizermos, então a luz brilhará nas trevas...
(A "nossa" praia fluvial da Redonda, anteontem à luz do entardecer...)