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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No domingo, com a casa cheia de amigos, a Sara caiu no jardim, batendo com toda a força com o cotovelo na esquina da tijoleira. O choro foi intenso, e o cotovelo precisou de um beijinho. No entanto, passado algum tempo, a Sara deixou de mexer o braço. Ficou com o braço rígido ao longo do corpo, imóvel, e choramingava baixinho.
- Sara, o que se passa? Consegues levantar o braço?
Choro cada vez mais forte, acompanhado de lágrimas cada vez mais abundantes. Teria partido o braço? Imaginei a Sara de gesso durante o verão, a areia da praia a fazer comichão... Como o Francisco já foi engessado duas vezes, uma delas durante um mês de verão inteiro, sei bem como é.
- Talvez seja melhor levá-la ao Pediátrico fazer um raio-x - Sugeriu o Niall. Olhámos uns para os outros, os nossos amigos sentados à sombra, no jardim, as crianças a brincar... Que dia para isto acontecer! Mas a Sara continuava a choramingar e o braço continuava bem quieto, encostado ao corpo. Decidiu-se que era preciso tirar a dúvida, e lá foi o Niall com a Sara para o hospital. Entretanto, nós e os nossos amigos fomos até ao Parque da Mealhada brincar e patinar, antes de nos despedirmos.
- Estamos à espera do raio-x - Escreveu-me o Niall em sms. - A Sara continua com o braço imóvel e muito chorosa. Vamos ver!
O que aconteceu depois foi, no mínimo, cómico. Segundo me contou o Niall, a Sara escutou o médico com muita atenção e deixou que lhe fizessem o raio-x, sem refilar. Com o raio-x na mão, o médico concluiu que não havia nada partido. O Niall voltou-se para a Sara e deu-lhe a boa notícia, sorridente:
- Sara, estás boa, não tens doi-dói!
Nesse preciso momento, a Sara abriu um sorriso, esticou o braço como quem se espreguiça, levantou-o bem alto, voltou a dobrá-lo e a esticá-lo, e concluiu em alta voz:
- A Sara não tem doi-dói! A Sara não tem doi-dói!
O Niall e o médico entreolharam-se, divertidos.
- Bem, ela está muito melhor! - Concluíram, a rir.
E foi uma menina risonha e muito feliz que apareceu no Parque da Mealhada, meia hora mais tarde, aos gritos de alegria, a correr para mim de braços abertos e a atirar-se para o meu colo:
- Mamã, mamã, a Sara não tem doi-dói!
A Sara perfeitamente convencida de que não conseguia mexer o seu bracinho fez-me pensar... Conheço várias pessoas perfeitamente convencidas de que nunca serão capazes de ser católicas, porque a Igreja, vista de fora, assusta um bocadinho; ou de rezar em família, porque o tempo não chega; ou de levar os seus bebés à missa, porque vão incomodar... Pessoas perfeitamente convencidas de que não poderão ser Famílias de Caná, porque as "Seis Bilhas" parecem grandes demais; ou de que ser santo está completamente fora do seu alcance... Pessoas perfeitamente convencidas de que nunca conseguirão evangelizar os seus filhos, contar-lhes histórias da Bíblia ou rezar com eles, porque tiveram uma catequese muito rudimentar, e a Bíblia, antes de nela pegarmos, parece um livro imenso e quase codificado...
Conheço muitas pessoas - algumas só através dos comentários deste blogue ou dos mails que recebo - com o "braço" imobilizado ao longo do "corpo", sem coragem para verificar se, de facto, o conseguem "mexer".
No domingo passado, no Evangelho, escutámos como Jesus foi a casa de Jairo, o chefe da sinagoga, e ressuscitou a sua filha de doze anos, acabada de falecer:
"Jesus pegou-lhe na mão e disse: «Thalita kum!» Que significa: «Menina, eu te ordeno, levanta-te!» Imediatamente a menina se levantou e se pôs a caminhar." (Mc 5, 41)
Talvez todos afinal precisemos de um "médico" que nos mostre do que somos capazes, e que nos revele que podemos muito mais do que imaginamos. Talvez todos afinal precisemos de escutar a ordem de Jesus e de nos levantar corajosamente, para ousar o que antes não acreditávamos possível.
Então correremos ao encontro do Senhor, de braços abertos e felicidade estampada no rosto, como a Sara a correr ao meu encontro naquele parque...