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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Um dos passatempos preferidos do Francisco é ir para Náturia fazer tiro com arco. O arco e a flecha, profissionais, foram presente de aniversário há alguns anos. Serviram para grandes viagens imaginárias no tempo e no espaço, que incluiram combates entre tribos de índios e batalhas medievais. Hoje, segundo me parece, são simplesmente uma forma de fazer tiro com arco, procurando que a flecha acerte num dos muitos pedaços de lixo (o Francisco que me perdoe chamar assim aos restos de objectos dispersos por Náturia) atrás da nossa casa. O lixo é especialmente visível agora, pois os donos verdadeiros de Náturia decidiram (finalmente) cumprir a lei e limpar o seu terreno - era ver a escavadora a levantar tendas, bandeiras, bocados de mangueira, bocados de contraplacado, sofás velhos e tantos outros objectos do Reino de Náturia, juntamente com as canas e as silvas... Em breve, tudo voltará a crescer - o Reino e as silvas - e Náturia recuperará o seu "esplendor" (perdoe-me de novo o Francisco pelas aspas).
Numa tarde em que o Francisco praticava tiro com arco no "seu" Reino, eu conversava com uns amigos no nosso jardim. Observando-o, o meu amigo, professor como eu, comentou:
- Fazer tiro com arco é um desporto magnífico. Ajuda tanto na concentração!
- Nunca tinha pensado nisso - atalhei.
- Repara: o Francisco está todo concentrado no alvo, todo o seu corpo está tenso, pronto para lançar a flecha. Ele está alheio a qualquer ruído exterior, e nada parece distraí-lo do essencial! Vê como ele retesa o arco e larga a flecha. Olha que perfeição! E tudo fruto de uma enorme concentração.
De repente, lembrei-me do salmo 127/126:
"Os filhos são uma bênção do Senhor,
o fruto das entranhas, uma verdadeira dádiva.
Como flechas nas mãos de um guerreiro,
assim os filhos nascidos na juventude.
Feliz o homem que deles encheu a sua aljava!
Não será envergonhado pelos seus inimigos,
quando com eles discutir às portas da cidade."
E lembrei-me também de um texto belíssimo de O Profeta, de Kahlil Gibran:
"Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.(...)
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são
arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica
com toda a sua força,
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa
alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável."
Que maravilha! Saber que os nossos filhos não são nossos, mas de Deus, transforma imediatamente a maternidade e a paternidade num privilégio, "uma verdadeira dádiva", e não num direito, como tantas vezes se ouve dizer por aí. E consequentemente, educar uma criança torna-se uma honra e não um fardo!
Como se educa? Mantendo humildemente o nosso "arco" curvado nas mãos de Deus, sem afrouxar, sem facilitar, sem desistir. Eis o segredo: permanecer nas mãos de Deus! Se nos mantivermos curvados nas suas mãos, atentos às suas instruções, veremos a beleza do voo das pequenas flechas. Não tenhamos medo de "encher a aljava" - o Divino Arqueiro sabe bem do que somos capazes, e não nos "curva" mais do que podemos curvar...
Como o Francisco, precisamos de nos concentrar, os ouvidos atentos à voz do Senhor, os olhos fixos no alvo.
Mas que alvo? As melhores notas da turma? A vitória na competição de basket? Uma profissão de sucesso? O dinheiro, a fama, a glória? O alvo de um cristão é o Céu. Só a eternidade nos pode saciar! Não deixemos que o mundo nos distraia, atraindo-nos para alvos sem valor. Não lancemos as nossas pequenas flechas ao acaso, confiados na sorte ou na genética. E não nos esqueçamos nunca de Quem nos sustém em suas mãos!
Lá fora, o meu filho pratica tiro com arco. Que "flecha" tão bonita ele é! Senhor, mantém o "arco" que eu sou sempre curvado nas tuas mãos paternais. Porque este "encurvamento" - muito mais do que o próprio voo das flechas - é a fonte da verdadeira felicidade. Assim o dizem o salmista e Gibran, e assim o sei eu por experiência. Ámen!