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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Um fim de tarde bastante agitado de segunda-feira. O António queixava-se de uma unha que já não tinha, e que lhe deixava o dedo a descoberto; a Sara esqueceu-se de ir ao bacio quando sentiu necessidade (e não foi uma necessidade qualquer...); a Lúcia não se recordava se tinha de fazer um desenho sobre "agonia", "alergia", "alegria" ou outra coisa qualquer terminado em -ia, e tinha lágrimas nos olhos enquanto todos nos afadigávamos a procurar descobrir (como o tema geral era a paz, concluímos por fim, sabiamente, que seria "harmonia"); e de repente, fechada no seu quarto, a Clarinha rompeu em pranto. Chorava tão alto, que a Sara me veio avisar, puxando-me pela mão para me conduzir à irmã.
- Que se passa, Clarinha? - Perguntei, já em pânico, enquanto da cozinha me chegava um cheiro a queimado.
- Não consigo fazer nem um único exercício de matemática, dos que saem amanhã na mini-ficha! - E continuava a soluçar em alta voz.
- Clarinha, claro que consegues, tu sabias tudo no domingo, segundo disseste!
- MAS AGORA NÃO ME LEMBRO DE NAAAAAADA!
Corri à cozinha para desligar o fogão, e ouvi na rua uma buzinadela. Era a Carla, mãe de uma bela Família de Caná, a chamar a Clarinha para lhe dar boleia até à ginástica. A Clarinha soluçou do quarto:
- Diz à Carla que se vá embora, porque hoje eu não posso ir. NÃO POSSO IR! NÃO SEI NADA DE MATEMÁTICA!
Sem refilar, entreguei o recado direitinho. E agora vou reproduzir aqui a conversa que a Carla e eu podíamos ter tido. Podíamos, porque não tivemos. Podia ter sido assim:
- Carla, a Clarinha hoje não vai, está para ali a chorar por causa da matemática.
- Ok, queres que dê o recado à professora?
- Se fizeres o favor! Obrigada! Até amanhã!
- Bom trabalho para a Clarinha!
Este diálogo nunca existiu. Em vez dele, aconteceu isto:
- Carla, a Clarinha hoje não vai, está para ali a chorar por causa da matemática.
- Chorar por causa da matemática? Matemática é comigo! Deixa-me estacionar melhor. Posso entrar? Onde está ela?
- Está no quarto...
- Clarinha, filha, o que se passa?
Soluços e mais soluços - Esqueci-me de tudo!
- Mostra-me lá o que estás a dar. Ah, já vi, estas potências... E o que é que tu esqueceste?
Bem, agora não vos posso contar mais pormenores, porque de matemática do oitavo ano não entendo nada (para ser honesta, desde que Nuno Crato está no governo deixei também de perceber a matemática a partir do terceiro ano, mas isso é outra história).
A conversa prolongou-se durante uns bons quinze minutos, quinze minutos que atrasaram a aula da filhota da Carla, naturalmente; mas que secaram as lágrimas da Clarinha e abriram um sorriso na sua cara molhada.
- Ah, já me lembro! Acho que já me lembro de tudo... Pois é, é isso mesmo!
A Carla regressou ao carro, a Clarinha continuou a trabalhar na matemática, agora muito calmamente, e eu respirei de alívio, enquanto terminava o jantar. Mentalmente, pedi ao Senhor uma bênção dupla ou tripla para a Carla, que nos tinha visitado como Maria visitou Isabel, trazendo-nos a paz, a alegria e o amor de Jesus...
"Maria dirigiu-se a toda a pressa a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel." (Lc 1, 39-40)
Aqui há algum tempo, várias Famílias de Caná disseram-me que tinham alguma dificuldade em viver a quinta "pedrinha" do nosso compromisso, a Visitação. Afinal, como a Carla nos mostrou, pode ser tão simples! Quinze minutos... E as Aldeias de Caná a nascer...
Que o Senhor nos ensine a servi-l'O onde Ele está: no irmão que precisa de nós! Ámen.
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