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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Foi há sete anos atrás. Era o início da quaresma. O Niall foi confessar-se ao seminário de Aveiro. Quando chegou a casa, vinha pensativo.
- Na capela do seminário havia um cartaz com um versículo bíblico - disse-me. - Dizia assim:
"Vou levar-te ao deserto e falar-te ao coração." (Os 2, 16)
- É uma frase do profeta Oseias - disse-lhe eu. - É natural que esteja em destaque durante a quaresma, pois os quarenta dias da quaresma representam os quarenta anos que foram necessários para o povo de Deus encontrar a Terra Prometida, caminhando pelo deserto.
- Não entendeste - continuou ele - Aquela frase era para mim! Deus quis dizer-me qualquer coisa com aquela frase... E eu não consigo descobrir o quê. E isto está a incomodar-me!
- Fica atento - disse-lhe por fim - e descobrirás!
Não foi preciso esperar muito tempo. Dois dias depois, dávamos entrada nas urgências do Hospital Pediátrico de Coimbra com o Tomás, o nosso terceiro filho, na altura com 15 meses. Vomitava sem parar e estava completamente desidratado. Os médicos fizeram-lhe uma TAC e a resposta chegou de imediato: tumor cerebral maligno. O nosso querido menino viveu mais dois dolorosos meses, e por fim, partiu para Casa.
Nunca esquecerei o cuidado com que Deus nos preparou para os tempos difíceis que se avizinhavam, naquela tarde de quaresma. Com que carinho nos falou do deserto, lá onde se testam os limites do ser humano, lá onde se experimenta a fome, a sede, o calor, o frio, o cansaço... O deserto da solidão, da dor, da angústia, do medo, da morte.
Mas em momento algum Deus nos abandonou, ou nos sentou no "banquinho do castigo", como escrevi no meu último post. Em momento algum ficámos sozinhos na nossa dor. Porque no deserto, Deus tomou-nos pela mão e, com uma ternura indizível, falou-nos ao coração...
A voz do Senhor continua a ressoar com poder e majestade na nossa vida, falando-nos ao coração através de toda a Palavra das Escrituras. Do céu, o Tomás continua a ser sinal de que Deus está connosco, como o foi no dia do seu nascimento.
Ainda não chegámos à Terra Prometida. Mas o deserto já se cobriu de flores!
Tomás, reza por nós!