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"Vou levar-te ao deserto..."

por Teresa Power, em 13.03.14

Foi há sete anos atrás. Era o início da quaresma. O Niall foi confessar-se ao seminário de Aveiro. Quando chegou a casa, vinha pensativo.

- Na capela do seminário havia um cartaz com um versículo bíblico - disse-me. - Dizia assim:

 

"Vou levar-te ao deserto e falar-te ao coração." (Os 2, 16)

 

- É uma frase do profeta Oseias - disse-lhe eu. - É natural que esteja em destaque durante a quaresma, pois os quarenta dias da quaresma representam os quarenta anos que foram necessários para o povo de Deus encontrar a Terra Prometida, caminhando pelo deserto.

- Não entendeste - continuou ele - Aquela frase era para mim! Deus quis dizer-me qualquer coisa com aquela frase... E eu não consigo descobrir o quê. E isto está a incomodar-me!

- Fica atento - disse-lhe por fim - e descobrirás!

 

Não foi preciso esperar muito tempo. Dois dias depois, dávamos entrada nas urgências do Hospital Pediátrico de Coimbra com o Tomás, o nosso terceiro filho, na altura com 15 meses. Vomitava sem parar e estava completamente desidratado. Os médicos fizeram-lhe uma TAC e a resposta chegou de imediato: tumor cerebral maligno. O nosso querido menino viveu mais dois dolorosos meses, e por fim, partiu para Casa.

 

Nunca esquecerei o cuidado com que Deus nos preparou para os tempos difíceis que se avizinhavam, naquela tarde de quaresma. Com que carinho nos falou do deserto, lá onde se testam os limites do ser humano, lá onde se experimenta a fome, a sede, o calor, o frio, o cansaço... O deserto da solidão, da dor, da angústia, do medo, da morte.

Mas em momento algum Deus nos abandonou, ou nos sentou no "banquinho do castigo", como escrevi no meu último post. Em momento algum ficámos sozinhos na nossa dor. Porque no deserto, Deus tomou-nos pela mão e, com uma ternura indizível, falou-nos ao coração...

A voz do Senhor continua a ressoar com poder e majestade na nossa vida, falando-nos ao coração através de toda a Palavra das Escrituras. Do céu, o Tomás continua a ser sinal de que Deus está connosco, como o foi no dia do seu nascimento.

 

Ainda não chegámos à Terra Prometida. Mas o deserto já se cobriu de flores!

 

Tomás, reza por nós!

 

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publicado às 16:53


7 comentários

De Paula Almeida a 13.03.2014 às 21:22

Obrigada pelo texto. Nem imagina como me serviu para falar com a minha filha mais velha. Tem 22 anos e, graças a Deus, juntamente com as outras duas mais novas(uma com 19 anos e outra com 8 anos), é uma filha amorosa. É disléxica, mas está no 2º ano, na faculdade de letras, em Coimbra (vivemos na Lousã), e estuda afincadamente mas os resultados nunca são excecionais. Em comparação a irmã do meio, que estuda na universidade de Aveiro (design) é uma aluna de notas espetaculares, quase sempre tem as melhores notas da turma. Mas eu tenho orgulho de todas.
A do meio, a Catarina, por mais que eu faça, vive mais afastada da igreja, mas sei que tem um comportamento e um grupo de amizades exemplar. Alguns dos amigos(as) são catequistas (e eu conheço todos os pais) e vão todas as semanas à missa, mas ela raramente vai . A mais velha e a mais nova vivem mais a religião, inclusive são escuteiras.
Mas durante o ultimo semestre de aulas as notas da Inês ainda foram mais fracas do que o habitual. Ela revoltou-se de uma maneira que me disse que nunca mais ia à missa e que as conversas que tinha com Jesus acabaram, pois a irmã que raramente vai a missa tem notas espetaculares, ela ia começar a fazer o mesmo. E deixou mesmo de me acompanhar a missa.
Tentei falar, mas ela nem me ouve. Disse-lhe que Ele a estava a experimentar, para ver até onde ia o amor que ela tem por Ele, e ela só se riu, que não acreditava.
Hoje, quando li o texto, dei graças a Deus, chamei-a, li-lho e só lhe disse " vês, Inês, é isto que te tenho tentado dizer. Deus nunca te abandonaria. Não o abandones tu."
Acho que lhe chegou ao coração. Obrigada. E se puder, aconselhe-me em relação a do meio.
(Desculpe o texto tão grande)

De Teresa Power a 13.03.2014 às 21:35

Para que nos pudéssemos encontrar com Ele, Deus fez-Se "homem das dores", como diz o profeta Isaías. Na verdade, é muito mais fácil encontrar o Senhor "de noite" do que "de dia", como eu também escrevi no post "Estrelas nocturnas". Talvez a Catarina tenha dificuldade em encontrar Jesus porque nunca de facto sentiu necessidade d'Ele... Não insista, mas também não desista! O mais importante a fazer é proporcionar-lhe encontros com Jesus - retiros para jovens (faremos vários nas Famílias de Caná), sem forçar - e acima de tudo, rezar por ela todos os dias! Nós cá em casa também o faremos - pela Catarina, pela Inês e por todos vós! Que Deus vos abençoe! E obrigada pela partilha!

De Teresa Power a 15.03.2014 às 18:18

Acabamos de chegar de Fátima. Durante a Eucaristia, rezei por vós. E durante a Bênção das Crianças, Deus falou-me ao coração, dizendo-me tudo é possível para uma mãe que crê... Tem três filhas maravilhosas, cheias de qualidades, uma família onde reina o amor... Se se mantiver firme na Comunhão, todos os domingos, e na oração diária, Deus fará o bocadinho que falta, e que é tão pouco! Um abraço, e lembrem-se também de nós nas vossas orações!

De Paula Almeida a 15.03.2014 às 21:58

Obrigada, é um amor. Também me lembrarei de vocês nas minhas orações. Sei que me compreende pois é Mãe.
Beijinhos

De Sandra Lourenço a 02.01.2016 às 12:48

Olá! É engraçado como a vida nos aproxima das pessoas, de forma tão inesperada... Andava eu a fazer uma pesquisa no Google , que nada tem a ver convosco, e descubro uma foto do vosso filho mais velho. Reconheci-o porque, há dias, na fila da cantina da escola em Anadia, o Francisco me fascinou, com o seu cubo mágico. Conversámos um pouquinho e, na altura, expressei a minha alegria, por ver jovens como ele, que gastam os seus dias em atividades saudáveis, produtivas e humanizadas. Quer o Francisco, quer os amigos que o acompanhavam, deixaram no meu coração um sopro de alegria. Ah...ainda não me apresentei: sou a Sandra, professora do 1º CEB mas, neste momento, não leciono no 1º Ciclo, mas fui convidada para lecionar a disciplina de Educação Moral e Religiosa Evangélica, em Anadia. Temos visões um pouco diferentes, no que respeita a espiritualidade, mas já pude ver, pelo vosso blog, que temos muito em comum também... :) Nem sei se nos encontrámos em alguma das reuniões de avaliação (foram tantas, para mim, que acabo por confundir rostos e nomes dos colegas, ehe !) Bem, há pouco, ao reconhecer o rosto do Francisco, entrei no vosso blog. Mexeu com o meu coração, o fato de relatarem ter um filho no céu...Eu também tenho dois... Aconteceu de forma diferente: os meus filhos não chegaram sequer a nascer, perdi-os no início da gravidez, mas são ambos meus filhos e, sim, estão nos braços de Jesus! Quis saber mais sobre vós. E agora, ao ler quem é o Tomás, o vosso anjo, descobri que a sua história me tocou, na altura em que soube que ele estava doente. Eu tinha sido mãe, há poucos meses, quando ouvi, num estabelecimento comercial da Malaposta , de onde sou natural, o comentário acerca do vosso Tomás. Alguém estava consternado: um bebé, de pouco mais de um ano, estava terrivelmente doente. Talvez por ser mãe recentemente, a juntar ao meu lado emotivo, aquilo mexeu comigo. Chorei desalmadamente, mesmo nem sabendo quem era o Tomás. Mas, ainda que só hoje lhe tenha conhecido o lindo rostinho, o Tomás marcou a minha vida, e Deus usou-o para me ensinar algo precioso. Desde o dia em que soube que ele estava doente, comecei a orar por ele e por vós. Acho que, até aí, nunca o fizera com tanto afinco, muito menos, por alguém desconhecido. Derramei-me diante de Deus. Tinha um amigo a trabalhar na farmácia do Hospital Pediátrico, nessa altura, e pedi-lhe que me tentasse saber quem era o Tomás, e me fosse dando notícias. Sinceramente, esperava um milagre...Mas Deus ensinou, também neste momento, que o Seu querer é soberano, e que o desfecho nem sempre é o que desejamos, porque não é o melhor para nós. No dia 19 de Maio de 2006, exatamente no dia em que o meu Simão fazia 5 mesinhos, o meu amigo envia-me uma sms , dizendo que o Tomás partira para o céu. Chorei muito, nesse dia, abraçando o meu bebé. Não sei porquê, mas desejei abraçar-vos e consolar-vos, mesmo sendo desconhecidos. Passaram muitos anos, mas nunca esqueci esta história. Com o Tomás, Deus ensinou-me a pôr em prática o Seu mandamento de :"Chorar com os que choram". Agora, 10 anos depois, dou de caras com o vosso blog... As lágrimas voltaram aos meus olhos (sou mesmo emotiva...), mas fico feliz por ler o vosso testemunho, e concluir que, em Deus, são uma família de força e fé. Um grande beijinho. Somos colegas, na mesma escola, e é provável que nos encontremos por lá, embora o espaço seja enormeeeee , e eu esteja na escola apenas nas tardes de segunda-feira, sempre na sala de professores do 1º piso. Se nos encontrarmos, será uma alegria poder dar-lhe um abraço. E, mesmo que nestes olhos voltem a rolar lágrimas, serão de gratidão a Deus por vós...























































































































































































De Teresa Power a 02.01.2016 às 21:04

Boa noite Sandra!
Quem se emocionou fui eu, agora... E fiquei cheia de vontade de lhe dar um abraço! Não tenho aulas segundas à tarde, mas irei à escola de propósito para a ver :)
Nós temos certamente muitas coisas em comum na nossa espiritualidade, pois ela foi altamente inspirada, desde o início da nossa vida em casal, por famílias de várias confissões cristãs, sobretudo "Uma Casa na Pradaria" (o livro, história autêntica, na versão original americana) e algumas famílias conhecidas. O amor à Bíblia também vem desta bela influência! Um dia havemos de rezar juntas :)
bjs e até breve!
Teresa

De Sandra Lourenço a 02.01.2016 às 22:29

Espero o nosso encontro! É maravilhoso sentir que não estamos sós, no que respeita ao amor a Deus e à Sua Palavra, a Bíblia, mesmo quando a maioria das pessoas prefere crer em si mesmas, rejeitando a existência do Criador, e o Seu amor por cada uma delas! Agora que conheço os vossos rostos, a minha oração por vós será diferente: mais concreta. Orei muitas vezes pela família do Tomás, mas pouco ou nada sabia acerca dela. Agora sei um pouquinho mis acerca de quem são . Sim, havemos de orar juntas. Eu costumo faze-lo mesmo como referiu num dos sues posts : como uma criança. Falo com Deus como o meu melhor e mais próximo amigo. Digo o que me vai no coração. Já houve momentos de revolta, de questão, de incompreensão, já houve momentos de dor intensa, mas também muitos momentos de alegria e paz. E, no findar de cada oração, de cada cântico, é essa paz, que excede todo o entendimento, que vem reinar em mim. Continuo sem perceber por que razão Deus em amou ao ponto de enviar Jesus para tomar o meu lugar na cruz. Não me vejo merecedora de tal amor...mas deixo-me inundar por ele! Será uma alegria e privilégio conhecer a Teresa pessoalmente! Um beijinho

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